Em vez de debater a crise política da UE, o último Conselho Europeu concentrou-se nos dinheiros para 2007-13. Falhou porque Blair não aceitou a armadilha de Chirac quanto ao reembolso britânico - reduzi-lo, sem tocar na "vaca sagrada" da Política Agrícola Comum. Blair quis mostrar que Chirac e Schroeder já não comandam a UE. E que há outras maneiras de olhar a integração europeia vem aí a presidência britânica.
Antes, seis países tinham exigido que o orçamento comunitário não fosse superior a 1% do PIB da UE. Ora esta insistência numa Europa barata, mesmo alargada a 25, indicia fraco empenho numa integração bem sucedida de países mais pobres. O princípio da coesão económica e social, consagrado quando Portugal e Espanha aderiram à CEE, fica assim sem grande conteúdo prático. Os principais sacrificados da ausência de solidariedade europeia serão os novos Estados membros. E já ninguém se atreve a falar em federalismo fiscal, que tão útil seria para o bom funcionamento da zona euro. É que um maior orçamento comunitário deveria levar a compensar automaticamente, com menores impostos (por diminuírem os rendimentos) e maiores despesas (subsídios de desemprego, por exemplo), os países em crise, que não podem desvalorizar por estarem na moeda única.
Quanto a Portugal, receber menos fundos de Bruxelas não parece dramático. Os fundos foram úteis quando financiaram necessidades evidentes. Hoje, as vantagens deste dinheiro fácil já talvez não compensem os seus efeitos perversos investimentos feitos só para aproveitar fundos, promoção de uma atitude subsídiodependente, corrupção, etc. Aliás, investimos mais do que a média europeia. O nosso problema é a fraca qualidade desse investimento. E os juros até estão baixos - o crédito é acessível para quem quiser investir.