Quando franceses e holandeses rejeitaram expressivamente nas urnas o tratado constitucional da UE, Chirac e Schroeder, logo seguidos por Barroso e Juncker (primeiro- -ministro luxemburguês na presidência da UE) apelaram à continuação do processo de ratificações, como se nada tivesse acontecido. Esse absurdo apelo encontrou ampla aceitação entre os nossos dirigentes políticos. Pelo contrário, logo após o "não" holandês, Cavaco Silva sugeriu uma pausa para pensar, assim mostrando a sua diferença face a políticos de vistas curtas. Quinze dias depois, assustados com o "não" a crescer em vários países, todos os que queriam continuar as ratificações deram uma volta de 180 graus e acordaram em parar um ano.
Mas para que será a pausa? Renegociar o tratado está fora de questão, diz Durão Barroso. Não repetiremos o referendo, garante o primeiro-ministro holandês. Então, depois da pausa, as eventuais ratificações de outros Estados membros para nada servirão. É um beco sem saída. Em Bruxelas ignorou-se o "não" francês e holandês, como se apenas de um pequeno incidente de percurso se tratasse, um incómodo da democracia. Em vez disso, falou-se de dinheiro, numa oportuna manobra de diversão para Chirac, que assim não teve de explicar como se ultrapassará o "não" francês. Entretanto, como era previsível, o alargamento da UE foi posto no congelador e falhou o acordo financeiro.
A pausa terá sentido se levar a reflectir sobre as causas do crescente alheamento dos cidadãos em relação à integração europeia. Mas não é para aí que os dirigentes europeus estão virados. Assim, a pausa será apenas uma maneira airosa de disfarçar o óbvio o tratado está morto e a opinião pública afasta-se do projecto europeu. É o faz de conta. Só com outros dirigentes a UE sairá desta crise, se sair.