Mesmo com frio, o mar é sempre um desafio para quem se aproxima. Apreciá-lo, do cimo das dunas virgens, produz, certamente, uma extraordinária sensação de liberdade... Experimentem.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Regresso ao essencial
Desejar o bem do país, antes do seu próprio bem, é um princípio que a todos deveria nortear. A isso chama a doutrina social da Igreja (mas não é exclusivo dela) Bem Comum. Claro que dizer que os interesses do país estão em primeiro lugar pode soar a Estado Novo, mas já vai sendo tempo de deixar tais categorias nas prateleiras da história. Como dizia Mário Soares, há uma diferença clara entre ser nacionalista e ser patriota. Ser nacionalista é negativo, mas ser patriota é um dever de todos para com o país que nos viu nascer ou nos acolhe. Querer o Bem Comum antes do bem particular e pôr este em função daquele é uma forma de ser patriota.
Vem isto a propósito do mal-estar em que Portugal parece ou está mesmo mergulhado e que ciclicamente faz soar alarmes, como foi o caso do documento da Sedes, referido nesta coluna na semana passada. Como país, não sairemos do pessimismo, da estagnação, mesmo económica, da falta de credibilidade, da ausência de perspectivas de futuro, enquanto o Bem Comum não se sobrepuser ao bem particular, enquanto este princípio não for evidente na actuação dos políticos, mas também dos empresários, dos professores, dos jornalistas, enfim, de qualquer cidadão.
J.P.F.
GOVERNO E PROFESSORES NÃO SE ENTENDEM
"Os professores afirmam que são a favor da avaliação, mas contra esta avaliação (declaração da Fenprof de 15 /10/2007). Essa é há séculos precisamente a posição dos alunos. Todos os estudantes são favoráveis às notas e descontentes com a que receberam. Os testes são sempre difíceis, as datas sempre inconvenientes, os professores sempre injustos. Mas é preciso aguentar com cara alegre."
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Concordo com João César das Neves. Entretanto, o tempo passa e os alunos e as famílias não podem sair deste conflito prejudicados. O Governo e os professores têm de pensar nisto. Com urgência.
Bento XVI renova apelos ao diálogo no Médio Oriente
“Encorajo as autoridades israelita e palestiniana no seu propósito de continuarem a construir, através de negociações, um futuro pacífico e justo para os seus povos e a todos peço, em nome de Deus, que abandonem o caminho tortuoso do ódio e da vingança, percorrendo responsavelmente o caminho do diálogo.”
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Como o Papa, tantos e tantos outros líderes têm apelado à paz e concórdia no Médio Oriente. Há imenso tempo que as discórdias entre isrfaelitas e palestinianos deixam marcas profundas naquela zona do mundo. E não há maneira de se entenderem... Será que estes ódios irão perdurar pelos séculos sem fim? Não haverá forma de se resolverem de vez os conflitos? A paz entre aqueles povos é mesmo impossível? Os ódios estarão, realmente, como se diz, no sangue e na alma daquelas gentes que calcorreiam os caminhos de Cristo?
domingo, 9 de março de 2008
Na Linha Da Utopia
A Faixa de Gaza
1. Há pedaços de terra que estão cheios de sangue. Não só da história passada, mas das histórias que se continuam a escrever no presente. E Deus não tem nada a ver com isso. Os homens é que O “usam” como argumento para atingir os seus fins de domínio sobre “o outro”. Os últimos quatro mil anos da história das terras chamadas israelo-árabes espelham, de forma emblemática, esse desconcerto e desentendimento humano, em que a cada século que passa vão-se juntando mais páginas de conflitos, ao que parece, intermináveis. Claro que, de relance, somos pequenos para compreender tanta informação, tantos dados em jogo, tantos cruzamentos de raças, religiões, espaços, locais, sinagogas, mesquitas, igrejas, sentimentos, emoções, razões, cegueiras, justiças, injustiças, verdades, fanatismos… em que cada palmo de terra condensa a luta de uma vida e de muitas vidas. Repetimos, Deus (que é Amor) não tem nada a ver com isto. Ele até tantas vezes sublinhou e reafirma que o único “lugar físico” que “quer” é o “coração” humano, a consciência-ser, «em espírito e verdade».
2. Não compreendendo isso, poderemos nesta geração correr o perigo ignorante de atribuir às religiões e a Deus aquilo que é pura e unicamente obra interesseira e dominadora dos homens, o que resulta que se chame “terra santa” a uma terra nada santa nas incompatibilidades de tanta história em que só mesmo pelo “perdão da memória”, como tanto falava João Paulo II, é que lá iremos ao caminho da paz. A triste história continua e hoje as ONG’s que estão no terreno vêm dizer que se vive na Faixa de Gaza o pior período de crise humanitária desde a guerra de 1967. As culpas da desgraça, “taco a taco” tal como a guerra, vão-se atribuindo reciprocamente entre Israel e o Hamas… No passado recente as razões são que, após os disparos de rockets pelo Hamas em Janeiro, Israel impôs o actual bloqueio a Gaza na data de 17 de Janeiro e raids aéreos frequentes têm feito dezenas de mortos na famosa Faixa de Gaza. Do “bloqueio” de quase-tudo o essencial à vida diária vem um relatório das ONG’s de cenário dramático intitulado «Faixa de Gaza: uma implosão humanitária».
3. Os Estados Unidos, na fronteira da cena internacional e das imagens perturbadoras que vão chegando, pedem um “alívio” do bloqueio para garantir as condições de humanidade. O quarteto de negociadores (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) vai avançando na gestão da mediação do cenário político. As ONG’s no terreno vêem-se e desdenham-se para socorrer não havendo condições de luz eléctrica para fazer intervenções clínicas, água potável para matar a sede, esgotos a irem para o mar, corte de comunicações, tratando-se de uma população bloqueada em que mais de 1,1 milhões dependem da ajuda alimentar. Alguns analistas vão falando de “genocídio”. Os céus de Gaza respiram a pólvora, ar poluído que, independentemente das políticas ou dos grupos atiçados de fanatismo político e/ou religioso, vai mostrando a limitada incapacidade humana. Se a história de séculos o confirma, a história presente continua esse caminho. Nada de novo, porque tudo velho. Nenhuma das razões justifica o injustificável desumano que persiste. Ao menos não sofram as populações. Precisamos de aprofundar o diálogo de civilizações para compreender a história e propor uma nova memória de paz. Ou seguir-se-á indefinidamente a contra-ofensiva?
Alexandre Cruz
1. Há pedaços de terra que estão cheios de sangue. Não só da história passada, mas das histórias que se continuam a escrever no presente. E Deus não tem nada a ver com isso. Os homens é que O “usam” como argumento para atingir os seus fins de domínio sobre “o outro”. Os últimos quatro mil anos da história das terras chamadas israelo-árabes espelham, de forma emblemática, esse desconcerto e desentendimento humano, em que a cada século que passa vão-se juntando mais páginas de conflitos, ao que parece, intermináveis. Claro que, de relance, somos pequenos para compreender tanta informação, tantos dados em jogo, tantos cruzamentos de raças, religiões, espaços, locais, sinagogas, mesquitas, igrejas, sentimentos, emoções, razões, cegueiras, justiças, injustiças, verdades, fanatismos… em que cada palmo de terra condensa a luta de uma vida e de muitas vidas. Repetimos, Deus (que é Amor) não tem nada a ver com isto. Ele até tantas vezes sublinhou e reafirma que o único “lugar físico” que “quer” é o “coração” humano, a consciência-ser, «em espírito e verdade».
2. Não compreendendo isso, poderemos nesta geração correr o perigo ignorante de atribuir às religiões e a Deus aquilo que é pura e unicamente obra interesseira e dominadora dos homens, o que resulta que se chame “terra santa” a uma terra nada santa nas incompatibilidades de tanta história em que só mesmo pelo “perdão da memória”, como tanto falava João Paulo II, é que lá iremos ao caminho da paz. A triste história continua e hoje as ONG’s que estão no terreno vêm dizer que se vive na Faixa de Gaza o pior período de crise humanitária desde a guerra de 1967. As culpas da desgraça, “taco a taco” tal como a guerra, vão-se atribuindo reciprocamente entre Israel e o Hamas… No passado recente as razões são que, após os disparos de rockets pelo Hamas em Janeiro, Israel impôs o actual bloqueio a Gaza na data de 17 de Janeiro e raids aéreos frequentes têm feito dezenas de mortos na famosa Faixa de Gaza. Do “bloqueio” de quase-tudo o essencial à vida diária vem um relatório das ONG’s de cenário dramático intitulado «Faixa de Gaza: uma implosão humanitária».
3. Os Estados Unidos, na fronteira da cena internacional e das imagens perturbadoras que vão chegando, pedem um “alívio” do bloqueio para garantir as condições de humanidade. O quarteto de negociadores (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) vai avançando na gestão da mediação do cenário político. As ONG’s no terreno vêem-se e desdenham-se para socorrer não havendo condições de luz eléctrica para fazer intervenções clínicas, água potável para matar a sede, esgotos a irem para o mar, corte de comunicações, tratando-se de uma população bloqueada em que mais de 1,1 milhões dependem da ajuda alimentar. Alguns analistas vão falando de “genocídio”. Os céus de Gaza respiram a pólvora, ar poluído que, independentemente das políticas ou dos grupos atiçados de fanatismo político e/ou religioso, vai mostrando a limitada incapacidade humana. Se a história de séculos o confirma, a história presente continua esse caminho. Nada de novo, porque tudo velho. Nenhuma das razões justifica o injustificável desumano que persiste. Ao menos não sofram as populações. Precisamos de aprofundar o diálogo de civilizações para compreender a história e propor uma nova memória de paz. Ou seguir-se-á indefinidamente a contra-ofensiva?
Alexandre Cruz
Cadernos biográficos no PÚBLICO
Amadeo
O PÚBLICO iniciou este fim-de-semana a publicação de Cadernos Biográficos, que oferece, aos sábados e domingos, mediante a apresentação de um cupão publicado no dia anterior. Este fim-de-semana, foram publicadas as biografias de Fernando Pessoa e Amadeo de Souza-Cardoso, dois artistas que marcaram o nosso século XX, de forma significativamente original. Lêem-se num fôlego e podemos, assim, recordar ou ficar a conhecer alguns pormenores da vida e obra dos biografados. Seguem-se Natália Correia, Salazar, António Variações, Florbela Espanca, José Carlos Ary dos Santos, Beatriz Costa, Amélia Rey Colaço, José Rodrigues Miguéis, Marcello Caetano, Hermínia Silva, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agostinho da Silva, Guilhermina Suggia e Mário Viegas.
Na apresentação desta colecção, sublinha-se que o denominador comum a estas personagens “é a sua marca distintiva de originalidade”, sendo que “alguns deles foram reconhecidos em vida pelo seu mérito, outros incompreendidos e injustiçados, mesmo marginalizados”.
Na apresentação desta colecção, sublinha-se que o denominador comum a estas personagens “é a sua marca distintiva de originalidade”, sendo que “alguns deles foram reconhecidos em vida pelo seu mérito, outros incompreendidos e injustiçados, mesmo marginalizados”.
FM
Portugal desconhecido dos portugueses
“O país não é grande, mas continua muito desconhecido dos próprios portugueses. Não estou a pensar só em paisagens e monumentos. Refiro-me, sobretudo, ao país que se constrói nas famílias, nas escolas, na agricultura, nas empresas, nas fábricas, nas universidades, nos centros de investigação, na criação artística, nos internatos, nos lares para idosos, mas prisões, nas escolas de polícia, nos serviços públicos, etc. Fazer de um telejornal a apresentação minuciosa de acidentes, desastres, polícias, ladrões e jogadores de futebol não é, de certeza, a única informação que interessa. Um país, para se conhecer a si mesmo, precisa, em primeiro lugar, de ser informado acerca do que está a nascer, a crescer e a desenvolver-se, em todos os sectores da vida e da actividade. A melhor pedagogia não é aquela que só sabe mostrar o que está mal, mas a que ajuda a potenciar o que há de melhor nas pessoas, nos grupos, nas instituições. Com inteligência e boa vontade, com os recursos de que os meios de comunicação podem dispor, é possível fazer mais e melhor.”
NOTA: Faço minhas as palavras de Frei Bento Domingues. Já diversas vezes aqui denunciei esta situação, mas a minha voz não chega tão longe como a deste conhecido colunista do PÚBLICO e padre dominicano. O futebol é rei em Portugal. Tudo quanto diz respeito a clubes e jogadores de topo enche, diariamente, a comunicação social. Tanto nos noticiários como em programas próprios. E quando cheira a mexericos, então há jornalistas que até deliram. O povo, que também gosta destas coisas, vai atrás. Tudo o mais não interessa.
TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 68
AGENTES DE EDUCAÇÃO: CAPELÃES E MESTRAS
Caríssima/o:
Talvez por estarmos na Quaresma ocorreu-me este tema, embora à partida haja muito nariz torcido. A ver com a Escola instituição não tem; contudo, muitos de nós seremos escorreitos pela acção educativa quer de um quer de outra, senão de ambos! Se não estais de acordo comigo, tende paciência e lede mais um pouco do Padre Resende:
«Não devemos esquecer que a pronunciada polidez, que já se nota sobremaneira, nestes povos, se deve atribuir em grande parte ao concurso e ao trabalho persistente e eficaz do sacerdote, que, como condutor e mestre, lhes tem infiltrado na alma, paulatinamente, avultadas parcelas de cultura moral e intelectual. Foi o primeiro mestre que com eles esteve eficazmente em contacto, As máximas vividas do Evangelho, que no mundo e em todos os séculos têm sido o código e a regra por onde se regem os povos que querem viver; a Igreja que o mundo intelectual tem reconhecido como aferidora infalível das civilizações que se redimem e salvam, também na Gafanha deviam fazer sentir os seus salutares e benéficos efeitos. Em todos os séculos, repito, o sacerdote católico, embora aleivosamente caluniado e acusado injustamente como retrógrado pelos mumificados cientistas do século passado, tem sido mais que um educador; tem sido um mestre, que educando também ensina, que instrui quando educa. Não falando nos Institutos em que ele brilhou através dos séculos por todo o mundo, vemo-lo, ainda agora, na escola do seu ministério em que pontifica, acarinhando sempre, como amigas aliadas e inseparáveis, as duas irmãs gêmeas: educação e instrução. [...]
Antes que chegassem, porém, os pioneiros da instrução, ou fosse o professor primário, ou fosse o capelão permanente, depois pároco da Gafanha, como viviam estes povos, isolados do convívio social, entregues à crítica situação de primários, aos seus instintos semi-bárbaros? Viviam no seu deserto, na mais completa rudez.[...]» [MG 207]
Isto quanto aos Capelães e Párocos; quanto às nossas mestras já se escreveu:
«Nos primórdios da Gafanha, a Catequese de crianças era ministrada pelo Capelão com a indispensável ajuda das Senhoras Mestras. Assim continuou depois, com o Prior Sardo e com os que se lhe seguiram [na Gafanha da Nazaré], até à década de 50, sendo já Prior o P.e Domingos.
Embora seja impossível, por falta de registos, fazer referência a todas as que se dedicaram a essa nobre missão, não podemos, no entanto, deixar de citar algumas delas, sobretudo as que mais ficaram na memória do nosso povo.
São elas: Rosa Margaça, do Bebedouro; Joana Rosa Bola, da Cambeia; Rosa Cirino, da Marinha Velha; Maria Gertrudes, da Cale da Vila; Emília do Guarda, da Chave; e, ainda, Celeste Ribau e Esperança Merendeiro.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Nazaré, 262]
Também na Gafanha da Encarnação, «Esta habilitação era feita em casa das "senhoras mestras", o habitual em toda a região. Porém, aqui tinha a particularidade de ser tratada, por todos, com muito carinho, por "Madrinha", madrinha da doutrina. Ainda hoje se recorda com muita saudade a "madrinha" Maria do Céu de Jesus Roque, que exercia a sua acção no Centro e Sul; também Isaura do Ti Amigo (enteada do Ti Frade) é lembrada como "madrinha".
Em 1973, ainda encontramos activas três Mestras: Felicidade Pinto, a Norte, Nazaré Magueta, a Sul, e Carmelinda Cardoso, no Centro da freguesia.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Encarnação, 172/173]
Para mim, nesta caminhada, é gratificante ter encontrado verdadeiros educadores e educadoras nas pessoas amigas dos Priores (os meus Priores: Guerra, Bastos, Saraiva, Domingos, ...) e das Mestras (a minha Mestra Joana Rosa); fica, pois, a minha saudade e a minha profunda gratidão.
Manuel
Caríssima/o:
Talvez por estarmos na Quaresma ocorreu-me este tema, embora à partida haja muito nariz torcido. A ver com a Escola instituição não tem; contudo, muitos de nós seremos escorreitos pela acção educativa quer de um quer de outra, senão de ambos! Se não estais de acordo comigo, tende paciência e lede mais um pouco do Padre Resende:
«Não devemos esquecer que a pronunciada polidez, que já se nota sobremaneira, nestes povos, se deve atribuir em grande parte ao concurso e ao trabalho persistente e eficaz do sacerdote, que, como condutor e mestre, lhes tem infiltrado na alma, paulatinamente, avultadas parcelas de cultura moral e intelectual. Foi o primeiro mestre que com eles esteve eficazmente em contacto, As máximas vividas do Evangelho, que no mundo e em todos os séculos têm sido o código e a regra por onde se regem os povos que querem viver; a Igreja que o mundo intelectual tem reconhecido como aferidora infalível das civilizações que se redimem e salvam, também na Gafanha deviam fazer sentir os seus salutares e benéficos efeitos. Em todos os séculos, repito, o sacerdote católico, embora aleivosamente caluniado e acusado injustamente como retrógrado pelos mumificados cientistas do século passado, tem sido mais que um educador; tem sido um mestre, que educando também ensina, que instrui quando educa. Não falando nos Institutos em que ele brilhou através dos séculos por todo o mundo, vemo-lo, ainda agora, na escola do seu ministério em que pontifica, acarinhando sempre, como amigas aliadas e inseparáveis, as duas irmãs gêmeas: educação e instrução. [...]
Antes que chegassem, porém, os pioneiros da instrução, ou fosse o professor primário, ou fosse o capelão permanente, depois pároco da Gafanha, como viviam estes povos, isolados do convívio social, entregues à crítica situação de primários, aos seus instintos semi-bárbaros? Viviam no seu deserto, na mais completa rudez.[...]» [MG 207]
Isto quanto aos Capelães e Párocos; quanto às nossas mestras já se escreveu:
«Nos primórdios da Gafanha, a Catequese de crianças era ministrada pelo Capelão com a indispensável ajuda das Senhoras Mestras. Assim continuou depois, com o Prior Sardo e com os que se lhe seguiram [na Gafanha da Nazaré], até à década de 50, sendo já Prior o P.e Domingos.
Embora seja impossível, por falta de registos, fazer referência a todas as que se dedicaram a essa nobre missão, não podemos, no entanto, deixar de citar algumas delas, sobretudo as que mais ficaram na memória do nosso povo.
São elas: Rosa Margaça, do Bebedouro; Joana Rosa Bola, da Cambeia; Rosa Cirino, da Marinha Velha; Maria Gertrudes, da Cale da Vila; Emília do Guarda, da Chave; e, ainda, Celeste Ribau e Esperança Merendeiro.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Nazaré, 262]
Também na Gafanha da Encarnação, «Esta habilitação era feita em casa das "senhoras mestras", o habitual em toda a região. Porém, aqui tinha a particularidade de ser tratada, por todos, com muito carinho, por "Madrinha", madrinha da doutrina. Ainda hoje se recorda com muita saudade a "madrinha" Maria do Céu de Jesus Roque, que exercia a sua acção no Centro e Sul; também Isaura do Ti Amigo (enteada do Ti Frade) é lembrada como "madrinha".
Em 1973, ainda encontramos activas três Mestras: Felicidade Pinto, a Norte, Nazaré Magueta, a Sul, e Carmelinda Cardoso, no Centro da freguesia.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Encarnação, 172/173]
Para mim, nesta caminhada, é gratificante ter encontrado verdadeiros educadores e educadoras nas pessoas amigas dos Priores (os meus Priores: Guerra, Bastos, Saraiva, Domingos, ...) e das Mestras (a minha Mestra Joana Rosa); fica, pois, a minha saudade e a minha profunda gratidão.
Manuel
sábado, 8 de março de 2008
A ESPERANÇA MODERNA: O REINO DO HOMEM
É bem possível que Bento XVI tenha conhecido pessoalmente o filósofo Ernst Bloch em Tubinga. De qualquer modo, ao redigir a sua segunda encíclica, sobre a esperança (Spe salvi - Salvos em esperança), de certeza lembrou o grande filósofo, autor da obra filosófica mais consistente de sempre sobre esta temática - O Princípio Esperança - a enciclopédia de todas as esperanças, que, em alemão, tem 1654 páginas. E começa assim: "Quem somos? Donde vimos? O que esperamos? O que nos espera?"
De facto, a ideia de Bento XVI de que a modernidade viveu da ânsia de realizar na História o Reino de Deus sem Deus foi aprofundada por Ernst Bloch. A sua filosofia, no limite, quereria herdar esse Reino de Deus, o Sumo Bem, a Nova Jerusalém de que fala a Bíblia. Se, sendo marxista, acabou por criticar os horrores do estalinismo, foi porque esperava "o Totalmente Outro", como reserva escatológica, ainda que por força da própria Natureza. Bloch é um belo exemplo do homem simultaneamente religioso e ateu. Religioso, porque "onde há esperança, há religião". Ateu, porque não esperava a salvação vinda do Deus pessoal que cria por amor e que vem ao encontro do Homem.
Pergunta o Papa, com razão: como foi possível pensar que a mensagem de Jesus diz respeito apenas ao indivíduo e ao Além, como se a salvação definitiva implicasse o desprezo deste mundo e a esperança se reduzisse à "salvação da alma"?
Em reacção, a modernidade trouxe o Além para o aquém. Mediante a revolução científica, proclamou-se a fé no progresso, que garantiria um mundo totalmente novo, "o reino do Homem".
Na modernidade, "há duas categorias que ocupam cada vez mais o centro da ideia de progresso: razão e liberdade". Pela razão e liberdade e confiando na sua bondade intrínseca, esperou-se a realização de uma comunidade humana perfeita.
A concretização política desta esperança tinha duas etapas fundamentais.
A Revolução Francesa surgiu como projecto de instaurar este reino da razão e da liberdade de modo politicamente real. Depois da revolução burguesa de 1789, outra revolução se pôs em marcha: a proletária. Não bastavam as reformas dos pequenos passos; era precisa a revolução para se realizar o que já Kant tinha chamado o "Reino de Deus" racional. A verdade do Além desapareceu, para ser herdada no aquém. Como disse Marx, a crítica do céu deve transformar-se em crítica da terra e a crítica da teologia em crítica da política e da economia. O progresso para um mundo definitivamente bom não provém exclusivamente da ciência, mas da política, uma política com bases científicas.
Bento XVI reconhece que a promessa de Marx, graças à "agudeza" das análises e à "clara indicação dos instrumentos para a mudança radical fascinou e continua a fascinar".
Que falhou então para que a promessa marxista deixasse atrás de si, na sua concretização histórica, "uma destruição desoladora"? O seu erro consistiu em não ver que não basta solucionar a economia e em esquecer que "a liberdade é sempre liberdade, também liberdade para o mal". O seu erro foi o materialismo. O progresso científico e técnico pode desembocar, como já preveniu Kant, num "final perverso". É ambíguo e tem de ser acompanhado pelo "crescimento moral da Humanidade".
A modernidade precisa, pois, de autocrítica em diálogo com o cristianismo, mas acompanhada de uma autocrítica do próprio cristianismo e do que ele fez da esperança.
Numa obra recente, ágil, sobre O Cristo Filósofo, reflectindo sobre a revolução operada por Cristo e a sua influência ainda actual na Europa, F. Lenoir conclui: "Se, através da sua história, a religião cristã tivesse sido totalmente evangélica, se tivesse conseguido encarnar na sociedade os preceitos de Cristo, os homens não teriam certamente sentido a necessidade de retirá-los do seu contexto religioso para poder torná-los operativos. Constata-se, com efeito, ao observar o percurso do Ocidente, que o recurso à razão e ao direito se tornou necessário pelo facto da opressão exercida em primeiro lugar pelas instituições religiosas."
De facto, a ideia de Bento XVI de que a modernidade viveu da ânsia de realizar na História o Reino de Deus sem Deus foi aprofundada por Ernst Bloch. A sua filosofia, no limite, quereria herdar esse Reino de Deus, o Sumo Bem, a Nova Jerusalém de que fala a Bíblia. Se, sendo marxista, acabou por criticar os horrores do estalinismo, foi porque esperava "o Totalmente Outro", como reserva escatológica, ainda que por força da própria Natureza. Bloch é um belo exemplo do homem simultaneamente religioso e ateu. Religioso, porque "onde há esperança, há religião". Ateu, porque não esperava a salvação vinda do Deus pessoal que cria por amor e que vem ao encontro do Homem.
Pergunta o Papa, com razão: como foi possível pensar que a mensagem de Jesus diz respeito apenas ao indivíduo e ao Além, como se a salvação definitiva implicasse o desprezo deste mundo e a esperança se reduzisse à "salvação da alma"?
Em reacção, a modernidade trouxe o Além para o aquém. Mediante a revolução científica, proclamou-se a fé no progresso, que garantiria um mundo totalmente novo, "o reino do Homem".
Na modernidade, "há duas categorias que ocupam cada vez mais o centro da ideia de progresso: razão e liberdade". Pela razão e liberdade e confiando na sua bondade intrínseca, esperou-se a realização de uma comunidade humana perfeita.
A concretização política desta esperança tinha duas etapas fundamentais.
A Revolução Francesa surgiu como projecto de instaurar este reino da razão e da liberdade de modo politicamente real. Depois da revolução burguesa de 1789, outra revolução se pôs em marcha: a proletária. Não bastavam as reformas dos pequenos passos; era precisa a revolução para se realizar o que já Kant tinha chamado o "Reino de Deus" racional. A verdade do Além desapareceu, para ser herdada no aquém. Como disse Marx, a crítica do céu deve transformar-se em crítica da terra e a crítica da teologia em crítica da política e da economia. O progresso para um mundo definitivamente bom não provém exclusivamente da ciência, mas da política, uma política com bases científicas.
Bento XVI reconhece que a promessa de Marx, graças à "agudeza" das análises e à "clara indicação dos instrumentos para a mudança radical fascinou e continua a fascinar".
Que falhou então para que a promessa marxista deixasse atrás de si, na sua concretização histórica, "uma destruição desoladora"? O seu erro consistiu em não ver que não basta solucionar a economia e em esquecer que "a liberdade é sempre liberdade, também liberdade para o mal". O seu erro foi o materialismo. O progresso científico e técnico pode desembocar, como já preveniu Kant, num "final perverso". É ambíguo e tem de ser acompanhado pelo "crescimento moral da Humanidade".
A modernidade precisa, pois, de autocrítica em diálogo com o cristianismo, mas acompanhada de uma autocrítica do próprio cristianismo e do que ele fez da esperança.
Numa obra recente, ágil, sobre O Cristo Filósofo, reflectindo sobre a revolução operada por Cristo e a sua influência ainda actual na Europa, F. Lenoir conclui: "Se, através da sua história, a religião cristã tivesse sido totalmente evangélica, se tivesse conseguido encarnar na sociedade os preceitos de Cristo, os homens não teriam certamente sentido a necessidade de retirá-los do seu contexto religioso para poder torná-los operativos. Constata-se, com efeito, ao observar o percurso do Ocidente, que o recurso à razão e ao direito se tornou necessário pelo facto da opressão exercida em primeiro lugar pelas instituições religiosas."
Professores protestam na rua
Hoje realizou-se, provavelmente, a maior manifestação de sempre de professores. Diz-se que cerca de 100 mil marcaram presença no desfile, em Lisboa. Quiseram mostrar o seu descontentamento pelas políticas do Governo, na área do ministério da Educação. Há dias, registei aqui a convicção de que já não há capacidade para dialogar. E disse que subscrevia a proposta do neurocirurgião Lobo Antunes, por sinal Conselheiro de Estado, no sentido de se criar uma comissão mediadora, credível e independente, que analisasse o problema e apresentasse soluções. O Governo tem-se mostrado inflexível, pois aceitar a renúncia às reformas seria aceitar a derrota do próprio executivo.
Cavaco Silva, ausente no Brasil, estará a acompanhar o assunto. E pode ser que, no regresso, consiga levar o Governo a aceitar a tal mediação.
Entretanto, constato que, até agora, ainda não sei, concretamente, por que razão não é possível o diálogo. Mais: gostaria que sindicatos e ministério da Educação publicassem as suas propostas de reforma do Ensino, com tudo o que diz respeito a professores, funcionários, alunos e programas. Acho que o povo português tem obrigação de conhecer todas as verdades, para depois concluir de que lado está a razão. Se calhar todos terão alguma razão, mas sempre se verá para que lado se inclina o ponteiro da balança. Que o Governo e os sindicatos apresentem, pois, as suas razões, na perspectiva de que as mudanças fazem parte intrínseca das reformas. Ficar tudo como está, sem adaptações adequadas e justas, é impossível.
Penso que entre os professores (como em qualquer outra classe profissional) há gente honesta, trabalhadora e competente, mas também há o seu contrário. Mais: há muitos que apostam na formação e outros tantos instalados na vida e alérgicos a mudanças; há os que aceitam subir na carreira por mérito e os que querem subir sem qualquer esforço nem trabalho.
A reforma do Ensino é coisa séria e urgente e todos têm de dar o seu melhor para que os alunos, razão de ser das comunidades educativas, possam ser mais tarde pessoas responsáveis, competentes e educadas, numa sociedade mais justa.
FM
:
NB: Para além do que disse acima, gostaria que os protestos incidissem sobre a instabilidade profissional, que obriga os professores a andarem de terra em terra, como saltimbancos, sobre as condições de trabalho e falta de apoios técnicos e sociais, sobre a falta de formação contínua para cada área, sobre a escassez de especialistas para os alunos com dificuldades específicas, sobre a ajuda às famílias mais carentes e sobre a adaptação de programas às necessidades da sociedade dos nossos dias. Só ouvi falar hoje da avaliação dos professores e da progressão nas carreiras. É pena.
FM
Mensagem do Papa para a Quaresma
Hoje de manhã foi dia de reflectir um pouco sobre a Mensagem do Papa para a Quaresma. Trata-se de uma mensagem simples, mas muito concreta, em que Bento XVI, um teólogo e intelectual, com fama de pessoa muito virada para a cultura, sublinha a necessidade de olharmos mais para os pobres, numa dádiva total de nós mesmos. Dele, por isso, talvez muitos esperassem uma mensagem mais direccionada para os homens e mulheres da cultura. Mas não, embora também. A mensagem é extremamente simples, com conselhos e propostas que toda a gente está à altura de compreender, a meu ver. Difícil, para muitos, será pôr em prática o que o Papa recomenda, porque é bastante complicado ultrapassarmos as nossas tradicionais comodidades e a crença de que os problemas são para os outros resolverem. Frequentemente gritamos que é preciso acabar com a fome no mundo, mas que fazemos nós para que isso aconteça?
Fala, direi que essencialmente, de oração, jejum e esmola, a que muitos não dão a devida importância. Para o crente já não será assim. São propostas não só válidas, mas fundamentais. Afinal, oração, jejum e esmola estão, naturalmente, associados.
Diz o Santo Padre que “não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos”, e que, face às multidões que vivem na indigência, “socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade”.
O Papa, citando as Escrituras, diz que “há mais alegria em dar do que em receber”, sendo garantido que “a esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos”.
Bento XVI reafirma que “a esmola educa para a generosidade do amor” e recorda um velho, mas ainda actual, conceito bíblico: ao dar esmola, a mão esquerda não deve saber o que faz a direita.
Fala, direi que essencialmente, de oração, jejum e esmola, a que muitos não dão a devida importância. Para o crente já não será assim. São propostas não só válidas, mas fundamentais. Afinal, oração, jejum e esmola estão, naturalmente, associados.
Diz o Santo Padre que “não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos”, e que, face às multidões que vivem na indigência, “socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade”.
O Papa, citando as Escrituras, diz que “há mais alegria em dar do que em receber”, sendo garantido que “a esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos”.
Bento XVI reafirma que “a esmola educa para a generosidade do amor” e recorda um velho, mas ainda actual, conceito bíblico: ao dar esmola, a mão esquerda não deve saber o que faz a direita.
FM
Dia Internacional da Mulher
Poderá o imperativo da igualdade entre os géneros masculino e feminino conduzir a um empobrecimento grande da condição da mulher? É uma questão pertinente, numa altura em que se fala tanto disso. Nada melhor do que ouvir várias opiniões sobre o assunto, neste Dia Internacional da Mulher.
sexta-feira, 7 de março de 2008
PARTIDOS NÃO MERECEM SER GOVERNO
Um dia destes, o líder do PSD, Luís Filipe Menezes, disse que o PS “já não merece ser Governo”, mas logo a seguir garantiu que o seu partido “ainda não merece ser Governo”. Isto significa que o nosso País está ingovernável. A não ser que, excluindo os partidos da alternância governamental, tenhamos de ir para um dos outros do nosso espectro político, qual deles o mais pequeno. Claro que surgiu, entretanto, o MEP (Movimento Esperança Portugal), mas dele ainda se sabe muitíssimo pouco.
O que impressiona nisto tudo é verificarmos que os mais representativos partidos políticos, com tantos anos de vivência democrática e de experiência no Governo, se tenham afundado tanto, ficando entregues a gente que, afinal, não sabe ser Governo nem esteja, ainda, preparada para o ser.
O que se pode constatar é que hoje os partidos estão cheios de pessoas (estarão?) sem carisma e sem o autêntico sentido das nossas realidades. Daí o desânimo e o pessimismo de muitos portugueses.
FM
O que impressiona nisto tudo é verificarmos que os mais representativos partidos políticos, com tantos anos de vivência democrática e de experiência no Governo, se tenham afundado tanto, ficando entregues a gente que, afinal, não sabe ser Governo nem esteja, ainda, preparada para o ser.
O que se pode constatar é que hoje os partidos estão cheios de pessoas (estarão?) sem carisma e sem o autêntico sentido das nossas realidades. Daí o desânimo e o pessimismo de muitos portugueses.
FM
Fátima, Cidade da Paz
Conforme li na Ecclesia, a Câmara de Ourém vai incumbir a SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana de Cova da Iria, Fátima, de integrar nos seus projectos de requalificação da cidade o conceito de “Fátima, cidade da Paz”.
A ideia é avançada pelo presidente da autarquia, que pretende ver incluída nos arranjos referências à ideia de Paz com que transversalmente se identifica a cidade altar do mundo.
Referencias ao papa João Paulo II, crucial na divulgação da imagem e mensagem de Fátima, e ao diálogo ecuménico são dois dos aspectos pensados e a serem aprofundados pela SRU, no documento estratégico de planeamento dos trabalhos da Sociedade, Fátima 2017, revela o site oficial da Câmara Municipal.
A minha experiência diz-me que o epíteto de “Fátima, cidade da Paz”, fica muito bem àquele local sagrado. Pelo que tenho visto, e conversado, crentes e não crentes sentem-se bem por ali. Como já um dia disse, respira-se paz e até as pessoas se mostram afectuosas para quem chega.
Por vezes há a ideia de que o comércio a descaracteriza, a torna banal. Quem chega e se fica por aí, talvez. Mas quem avança no sentido do encontro com o divino não pode deixar de experimentar uma tranquilidade que nos transcende.
Oxalá “Fátima, cidade da Paz”, possa manter, no essencial, essa transcendência.
FM
A ideia é avançada pelo presidente da autarquia, que pretende ver incluída nos arranjos referências à ideia de Paz com que transversalmente se identifica a cidade altar do mundo.
Referencias ao papa João Paulo II, crucial na divulgação da imagem e mensagem de Fátima, e ao diálogo ecuménico são dois dos aspectos pensados e a serem aprofundados pela SRU, no documento estratégico de planeamento dos trabalhos da Sociedade, Fátima 2017, revela o site oficial da Câmara Municipal.
A minha experiência diz-me que o epíteto de “Fátima, cidade da Paz”, fica muito bem àquele local sagrado. Pelo que tenho visto, e conversado, crentes e não crentes sentem-se bem por ali. Como já um dia disse, respira-se paz e até as pessoas se mostram afectuosas para quem chega.
Por vezes há a ideia de que o comércio a descaracteriza, a torna banal. Quem chega e se fica por aí, talvez. Mas quem avança no sentido do encontro com o divino não pode deixar de experimentar uma tranquilidade que nos transcende.
Oxalá “Fátima, cidade da Paz”, possa manter, no essencial, essa transcendência.
FM
ACORDO ORTOGRÁFICO
O ministro da Presidência, Pedro da Silva Pereira, afirmou ontem que Portugal será "fiel" aos compromissos do Acordo Ortográfico de 1991 e sublinhou que o prazo de seis anos de transição "é razoável" para a adaptação às modificações previstas no acordo. Disse ainda que "O Governo decidiu adoptar medidas de transição por um prazo de seis anos - prazo que julgamos suficiente e razoável para que essa transição possa ocorrer”.
:
Quem já passou por algumas reformas ortográficas, como eu, não pode ver nenhum drama nisto. Daqui a seis anos, já o mundo da Língua Portuguesa estará em sintonia com as alterações previstas, até porque os computadores, devidamente programados para isso, darão a todos uma ajuda preciosa.
Já agora, não vale a pena alinhar com os pessimistas que ficam horrorizados com a ideia de que a Língua Portuguesa está a ceder a influências estranhas às nossas matrizes linguísticas. Não pensem nisso! Língua que não se adapte ao que vem de fora ou que rejeite a inovação está condenada à morte.
FM
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Quem já passou por algumas reformas ortográficas, como eu, não pode ver nenhum drama nisto. Daqui a seis anos, já o mundo da Língua Portuguesa estará em sintonia com as alterações previstas, até porque os computadores, devidamente programados para isso, darão a todos uma ajuda preciosa.
Já agora, não vale a pena alinhar com os pessimistas que ficam horrorizados com a ideia de que a Língua Portuguesa está a ceder a influências estranhas às nossas matrizes linguísticas. Não pensem nisso! Língua que não se adapte ao que vem de fora ou que rejeite a inovação está condenada à morte.
FM
quinta-feira, 6 de março de 2008
Na Linha Da Utopia
Uma mesa comum: «E os alunos?»
1. O que temos verificado no panorama da educação suscita muitas reflexões por este país fora, umas silenciadas outras expressas. Educação, área estruturante e delicada, trabalhada esforçadamente nas últimas décadas por gerações de líderes, professores e famílias, estudantes e entidades. Muitas propostas ou indicativos estimulantes que hoje se consideram pertinentes já são pensados há muitos anos por quem foi abrindo caminhos de uma educação inclusiva e participada pela sociedade a quem, afinal, se destinam os educadores. Da outra face da moeda, muitos défices e limites do “sistema” têm merecido os reparos denunciadores de um consenso na razoabilidade que tarda em chegar. Sem alarmismos, mas sem superficialidades, estas últimas semanas têm sido más demais para ser verdade. Quase um beco sem saída; radicalizaram-se as posições em sector tão fundamental (e alimentador) de uma desejada vida social tolerante, compreensível e comprometida com o essencial da tarefa educativa: os estudantes.
2. Numa simples opinião, talvez ao ponto onde chegámos seja necessária mesmo uma “terceira via”: uma “mesa” onde se recentre o essencial e onde não se sentem as inflexibilidades dos dois lados, mas sim os dois ângulos da questão. Venha e cultive-se uma mentalidade socioeducativa (o “trunfo” dos países desenvolvidos) onde não adianta nada (1º) nem demitir ministros da Educação, (2º) mas onde estes nas políticas que representam saibam construir uma via comum. As inflexibilidades e intolerâncias não conduzem por nenhum caminho, a não ser o pior. A fronteira é ténue, ou já foi mesmo ultrapassada. Quanto mais as versões político-partidárias avançam com as bandeiras dos gritos e das demissões ministeriais (seja de que lado for), mais difícil se tornará a comunidade escolar, a sala de aula, o recreio, o envolvimento dos pais, das autarquias. Para descer basta um instante, para subir a qualidade são necessários anos. Também aqui a noção de reformas que temos carece de uma sustentabilidade que inclua, à priori, a globalidade das expressões.
3. Reformas (como as revoluções) à força, não só no “momento seguinte”, mas, como vemos, “durante”, resulta no panorama caótico impensável. As noitadas dos professores nas ruas do país têm sido estonteantes, no que se diz e no cansaço que gera para ao fim de horas ‘dar aulas’; a “revisão” (natural em processos democráticos) do processo de avaliação de professores tarda demasiadamente, como se fosse algo supradogmático. Queremos buscar razões para a “confiança”, mas, pelo “tesouro” da educação que (não) vemos, só abundam cogumelos desagregadores. Talvez tenhamos de começar do princípio e criar um slogan no ser profundo de cada cidadão: precisamos de nos sentar a uma mesa comum e reflectir sobre «E os alunos?». Não sabendo para onde vamos, sabemos que será pelo que temos visto. Claro, é preciso grandeza de Humanidade para reconhecer que aqui ou ali todos falhámos e queremos melhorar, sem que isso tenha de significar o “atirar pedras” demissionárias. Para quando esta grandeza humana? Conseguiremos mudar esta matriz infeliz da nossa história? Até quando?!
Alexandre Cruz
1. O que temos verificado no panorama da educação suscita muitas reflexões por este país fora, umas silenciadas outras expressas. Educação, área estruturante e delicada, trabalhada esforçadamente nas últimas décadas por gerações de líderes, professores e famílias, estudantes e entidades. Muitas propostas ou indicativos estimulantes que hoje se consideram pertinentes já são pensados há muitos anos por quem foi abrindo caminhos de uma educação inclusiva e participada pela sociedade a quem, afinal, se destinam os educadores. Da outra face da moeda, muitos défices e limites do “sistema” têm merecido os reparos denunciadores de um consenso na razoabilidade que tarda em chegar. Sem alarmismos, mas sem superficialidades, estas últimas semanas têm sido más demais para ser verdade. Quase um beco sem saída; radicalizaram-se as posições em sector tão fundamental (e alimentador) de uma desejada vida social tolerante, compreensível e comprometida com o essencial da tarefa educativa: os estudantes.
2. Numa simples opinião, talvez ao ponto onde chegámos seja necessária mesmo uma “terceira via”: uma “mesa” onde se recentre o essencial e onde não se sentem as inflexibilidades dos dois lados, mas sim os dois ângulos da questão. Venha e cultive-se uma mentalidade socioeducativa (o “trunfo” dos países desenvolvidos) onde não adianta nada (1º) nem demitir ministros da Educação, (2º) mas onde estes nas políticas que representam saibam construir uma via comum. As inflexibilidades e intolerâncias não conduzem por nenhum caminho, a não ser o pior. A fronteira é ténue, ou já foi mesmo ultrapassada. Quanto mais as versões político-partidárias avançam com as bandeiras dos gritos e das demissões ministeriais (seja de que lado for), mais difícil se tornará a comunidade escolar, a sala de aula, o recreio, o envolvimento dos pais, das autarquias. Para descer basta um instante, para subir a qualidade são necessários anos. Também aqui a noção de reformas que temos carece de uma sustentabilidade que inclua, à priori, a globalidade das expressões.
3. Reformas (como as revoluções) à força, não só no “momento seguinte”, mas, como vemos, “durante”, resulta no panorama caótico impensável. As noitadas dos professores nas ruas do país têm sido estonteantes, no que se diz e no cansaço que gera para ao fim de horas ‘dar aulas’; a “revisão” (natural em processos democráticos) do processo de avaliação de professores tarda demasiadamente, como se fosse algo supradogmático. Queremos buscar razões para a “confiança”, mas, pelo “tesouro” da educação que (não) vemos, só abundam cogumelos desagregadores. Talvez tenhamos de começar do princípio e criar um slogan no ser profundo de cada cidadão: precisamos de nos sentar a uma mesa comum e reflectir sobre «E os alunos?». Não sabendo para onde vamos, sabemos que será pelo que temos visto. Claro, é preciso grandeza de Humanidade para reconhecer que aqui ou ali todos falhámos e queremos melhorar, sem que isso tenha de significar o “atirar pedras” demissionárias. Para quando esta grandeza humana? Conseguiremos mudar esta matriz infeliz da nossa história? Até quando?!
Alexandre Cruz
A política da educação e a educação da política
A propósito das manifestações dos professores, dos vários graus de ensino, ocorre-me sugerir que as comunidades educativas reflictam sobre os assuntos que incomodam tantos docentes, no sentido de construírem opiniões credíveis. Luís Filipe Torgal dá uma achegas, questionando-nos: "Ainda que mal pergunte: existe algum país democrático onde um Governo tenha desejado e conseguido instituir uma reforma em qualquer das suas áreas vitais sem a participação maior ou menor dos seus protagonistas?"
PÃO E REMÉDIOS
Os bens do dia-a-dia a que as pessoas são mais sensíveis, quando eles faltam ou o seu preço aumenta e se torna incomportável, são estes bens de primeira necessidade que dão pelo nome de pão e de remédios. De novo se anuncia que o pão vai ser mais caro. Dos remédios nem é preciso dizer, nem anunciar, por estar à vista a dificuldade de os pagar, quando não se pode passar sem eles e os ordenados e reformas permanecem magros. Em relação ao pão, todos sabemos como ele é mesmo alimento necessário, verdadeiramente indispensável sempre, mas sobretudo quando na família há crianças.
Na sabedoria do povo, ouvimos como o pão é sinal de amor e de vida. “Tira-se o pão da boca para o dar aos filhos”, como se tiravam os anéis dos dedos, ao surgir uma doença ou um contratempo que tinha de se enfrentar, sem olhar a gostos e a sacrifícios.
A pobreza aumenta, e agora também a das crianças. Diz-se e verifica-se, cada dia, que assim é mesmo. Que nas crianças não é só de pão, mas para muitas também o é de atenção, de carinho, de amor sensível, de respeito.
Uma pobreza, quando à vista de todos, sempre vai contando com alguma ajuda. Mais ajuda de pobres, que sabem como é não ter o necessário, do que ricos. Fascinados por ter mais, envolvem-se em desculpas para manter o coração e a bolsa fechados. Outra pobreza, não menos dolorosa, encoberta e envergonhada, nem sempre por culpa própria ou da família, em que não é fácil enfrentar a vida de rosto destapado, quando ela foi madrasta e atirou para a valeta quem sempre andou na estrada.
O povo também diz que “quem precisa, precisa todos os dias”, mas quem ajuda nem sempre o pode fazer todos os dias.
Ao lado da pobreza que aumenta, vemos com preocupação definhar a solidariedade de muitos para com quem precisa, tornando-se um desafio inaceitável a sua faustosa ostentação. Quando na sociedade falta a muitos o necessário e a outros sobra aquilo de que dispõem, a ponto de o desbaratar, o espírito de compaixão e de partilha fica tolhido pela insensibilidade que o egoísmo gera e alimenta. Então o mundo caminha para a degradação.
Quem sustenta as relações humanas sadias é o amor mútuo feito partilha, não a ostentação que a uns ensoberbece e a outros humilha.
Pão e remédios, que remédios também são pão!
Sobram computadores, distribuídos em profusão, com televisão atrás, às crianças das escolas. Sobram “viagens de estudo”, já a partir do ensino pré-primário, quando a capacidade de apreciar é ainda pouca. Sobram passeios, jantares e almoços festivos aos idosos, quando se deixam, de lado e sem resposta, necessidades básicas, que todas estas cabem quando se fala de pão e de remédios.
Não que tudo isto seja inútil ou sem sentido, mas porque se torna importante e urgente, num país sem grandes recursos, que não se descuide o essencial, para privilegiar o secundário, muito menos quando o essencial é incómodo e o secundário leva a elogios a quem o proporciona.
A vida do dia-a-dia de muita gente, pessoas e famílias, está-se tornando um problema grave, mormente quando surgem situações de desemprego, de falta de saúde, de urgências inadiáveis, de insegurança constante, quando pela frente surge um futuro fechado a sonhos auspiciosos. Quem não tem dificuldades, ou nunca as teve, nem se apercebe desta dolorosa realidade.
A solidariedade é campo aberto onde todos podem e devem caminhar. O governo, que administra dinheiros que não lhe pertencem, tem de ser sério e realista perante as necessidades concretas das pessoas.
António Marcelino
Na sabedoria do povo, ouvimos como o pão é sinal de amor e de vida. “Tira-se o pão da boca para o dar aos filhos”, como se tiravam os anéis dos dedos, ao surgir uma doença ou um contratempo que tinha de se enfrentar, sem olhar a gostos e a sacrifícios.
A pobreza aumenta, e agora também a das crianças. Diz-se e verifica-se, cada dia, que assim é mesmo. Que nas crianças não é só de pão, mas para muitas também o é de atenção, de carinho, de amor sensível, de respeito.
Uma pobreza, quando à vista de todos, sempre vai contando com alguma ajuda. Mais ajuda de pobres, que sabem como é não ter o necessário, do que ricos. Fascinados por ter mais, envolvem-se em desculpas para manter o coração e a bolsa fechados. Outra pobreza, não menos dolorosa, encoberta e envergonhada, nem sempre por culpa própria ou da família, em que não é fácil enfrentar a vida de rosto destapado, quando ela foi madrasta e atirou para a valeta quem sempre andou na estrada.
O povo também diz que “quem precisa, precisa todos os dias”, mas quem ajuda nem sempre o pode fazer todos os dias.
Ao lado da pobreza que aumenta, vemos com preocupação definhar a solidariedade de muitos para com quem precisa, tornando-se um desafio inaceitável a sua faustosa ostentação. Quando na sociedade falta a muitos o necessário e a outros sobra aquilo de que dispõem, a ponto de o desbaratar, o espírito de compaixão e de partilha fica tolhido pela insensibilidade que o egoísmo gera e alimenta. Então o mundo caminha para a degradação.
Quem sustenta as relações humanas sadias é o amor mútuo feito partilha, não a ostentação que a uns ensoberbece e a outros humilha.
Pão e remédios, que remédios também são pão!
Sobram computadores, distribuídos em profusão, com televisão atrás, às crianças das escolas. Sobram “viagens de estudo”, já a partir do ensino pré-primário, quando a capacidade de apreciar é ainda pouca. Sobram passeios, jantares e almoços festivos aos idosos, quando se deixam, de lado e sem resposta, necessidades básicas, que todas estas cabem quando se fala de pão e de remédios.
Não que tudo isto seja inútil ou sem sentido, mas porque se torna importante e urgente, num país sem grandes recursos, que não se descuide o essencial, para privilegiar o secundário, muito menos quando o essencial é incómodo e o secundário leva a elogios a quem o proporciona.
A vida do dia-a-dia de muita gente, pessoas e famílias, está-se tornando um problema grave, mormente quando surgem situações de desemprego, de falta de saúde, de urgências inadiáveis, de insegurança constante, quando pela frente surge um futuro fechado a sonhos auspiciosos. Quem não tem dificuldades, ou nunca as teve, nem se apercebe desta dolorosa realidade.
A solidariedade é campo aberto onde todos podem e devem caminhar. O governo, que administra dinheiros que não lhe pertencem, tem de ser sério e realista perante as necessidades concretas das pessoas.
António Marcelino
quarta-feira, 5 de março de 2008
ADAMASTOR?
A cabeleira do gigante
O gigante (será o Adamastor?) saiu do mar e pé ante pé veio repousar no areal. Mas não mostrou a face medonha a quem quer desvendar os seus segredos. Nunca a deixou ver, apesar do retrato que Camões dele pintou em versos intemporais. Eu bem vi a sua cabeleira hirsuta, ali na praia do Areão, no passado sábado, quando por lá andei. Quis vê-lo mais de perto, para descobrir nos seus olhos a raiva que tem a quem ousa entrar nos seus domínios e para ouvir a sua voz cavernosa, que tanto medo causou aos nossos navegantes de antanho. Mas o malandro não deixou e apressou-se a entrar nas profundezas do Oceano.
FM
O gigante (será o Adamastor?) saiu do mar e pé ante pé veio repousar no areal. Mas não mostrou a face medonha a quem quer desvendar os seus segredos. Nunca a deixou ver, apesar do retrato que Camões dele pintou em versos intemporais. Eu bem vi a sua cabeleira hirsuta, ali na praia do Areão, no passado sábado, quando por lá andei. Quis vê-lo mais de perto, para descobrir nos seus olhos a raiva que tem a quem ousa entrar nos seus domínios e para ouvir a sua voz cavernosa, que tanto medo causou aos nossos navegantes de antanho. Mas o malandro não deixou e apressou-se a entrar nas profundezas do Oceano.
FM
UMA ACTUALIDADE DESACTUALIZADA
Faz falta ensinar à gente nova, porque agora já não se ensinam, e recordar aos menos novos, que ainda as aprenderam, as catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais.
É uma aprendizagem com consequências na vida de quem sabe e na daqueles que podem beneficiar do seu saber.
O cortejo dos necessitados de misericórdia é grande e aumenta sempre mais, mesmo que se julgue o contrário. Não faltam famintos e sedentos a alimentar, nus a vestir, peregrinos a acolher, cativos a redimir e doentes a visitar e a cuidar. Não faltam ignorantes a ensinar, desviados a corrigir, perturbados a aconselhar, tristes a consolar, gente por quem se tem de ser paciente e muitos, vivos e mortos, a pedir-nos uma memória activa e um coração agradecido.
As obras de misericórdia não perderam a cotação. Elas serão a matéria de exame final sobre o valor que demos à vida e a maneira como a vivemos ao longo do tempo. A Quaresma pode levar-nos a dar-lhes atenção e sentido. Não é tempo perdido.
António Marcelino
É uma aprendizagem com consequências na vida de quem sabe e na daqueles que podem beneficiar do seu saber.
O cortejo dos necessitados de misericórdia é grande e aumenta sempre mais, mesmo que se julgue o contrário. Não faltam famintos e sedentos a alimentar, nus a vestir, peregrinos a acolher, cativos a redimir e doentes a visitar e a cuidar. Não faltam ignorantes a ensinar, desviados a corrigir, perturbados a aconselhar, tristes a consolar, gente por quem se tem de ser paciente e muitos, vivos e mortos, a pedir-nos uma memória activa e um coração agradecido.
As obras de misericórdia não perderam a cotação. Elas serão a matéria de exame final sobre o valor que demos à vida e a maneira como a vivemos ao longo do tempo. A Quaresma pode levar-nos a dar-lhes atenção e sentido. Não é tempo perdido.
António Marcelino
Na Linha Da Utopia
As duas gerações
1. Nas comemorações dos 18 anos de edições, o jornal Público elabora um interessante exercício de ver como estávamos há 18 anos, no confronto contemporâneo dos que nasciam com os que na altura atingiam essa idade. Dos que nasciam no ano do Público (1990) aos que chegavam a considerada maioridade de 18 anos já parece haver uma distância tal como se se tratasse de muitas décadas de diferença. Ajuda-nos este confronto a tomar consciência que desse tempo para hoje as velocidades com que comunicamos aproximaram o particular do universal e o mundo da casa e vida de cada um. Nascendo, em 1989, com a queda do Muro de Berlim uma nova configuração planetária (com o fim do último totalitarismo, soviético), no mundo da época respirava-se de alívio pós-guerra fria na expectativa realizadora e esperançosa de uma verdadeira pacificação global.
2. Nesta nova conjuntura de liberdades abertas (não há liberdades fechadas!), talvez os anos 90 tenham sido a época histórica de uma autêntica “epopeia tecnológica”, com o boom eufórico da universalização das múltiplas formas de comunicar e sentir o mundo presente. Este mega exercitar da globalização, de tendências marcadamente hegemónicas e de domínio do económico em detrimento das diversidades, das ideias, políticas e culturas, sofre um forte revés nos atentados do 11 de Setembro de 2001. Talvez tudo tenha andado depressa demais em termos de tecnologias e de aproximação estratégico-científica e comunicacional, porque talvez tudo tenha andado devagar demais no que se refere ao verdadeiro (re)conhecimento da essência da Humanidade nas suas diversidades e nos seus “porquês”. O incompreensível “grito” do 11 de Setembro traz consigo um arrepiar de caminhos que, nas inseguranças e nos medos, pode reconduzir a história a alguns fechamentos geradores de desigualdade e exclusão.
3. A geração portuguesa que nasceu há 18 anos vive hoje com as mãos cheias de tecnologia mas, não tendo assistido ao seu emergir (algo que quem na altura tinha essa idade foi presenciando), corre o perigo crescente da absolutização das “coisas” deitando a perder o essencial da humanidade pessoal e social que são as relações humanas. Os resultados estão aí: Como refere o estudo do Público: «Acreditam: neles…» e «Não acreditam: no país, no casamento, nos outros». Num país diferente para melhor em muitas realidades mas na mesma em relação a muitas desconfianças espelhadas em mega casos de justiça e a sua continuada incerteza, a geração que está aí confirma os receios de uma (pseudo-)cidadania da indiferença sócio-política que, de quando em quando, costumamos criticar... Talvez tenhamos muito a aprender com as gerações anteriores; mas para isso é preciso o “diálogo de gerações” e mesmo o diálogo intercultural. Nestes diálogos, é certo que usando todas as virtualidades que nos aproximam, mas… preservemos e enalteçamos a presença humana.
Alexandre Cruz
1. Nas comemorações dos 18 anos de edições, o jornal Público elabora um interessante exercício de ver como estávamos há 18 anos, no confronto contemporâneo dos que nasciam com os que na altura atingiam essa idade. Dos que nasciam no ano do Público (1990) aos que chegavam a considerada maioridade de 18 anos já parece haver uma distância tal como se se tratasse de muitas décadas de diferença. Ajuda-nos este confronto a tomar consciência que desse tempo para hoje as velocidades com que comunicamos aproximaram o particular do universal e o mundo da casa e vida de cada um. Nascendo, em 1989, com a queda do Muro de Berlim uma nova configuração planetária (com o fim do último totalitarismo, soviético), no mundo da época respirava-se de alívio pós-guerra fria na expectativa realizadora e esperançosa de uma verdadeira pacificação global.
2. Nesta nova conjuntura de liberdades abertas (não há liberdades fechadas!), talvez os anos 90 tenham sido a época histórica de uma autêntica “epopeia tecnológica”, com o boom eufórico da universalização das múltiplas formas de comunicar e sentir o mundo presente. Este mega exercitar da globalização, de tendências marcadamente hegemónicas e de domínio do económico em detrimento das diversidades, das ideias, políticas e culturas, sofre um forte revés nos atentados do 11 de Setembro de 2001. Talvez tudo tenha andado depressa demais em termos de tecnologias e de aproximação estratégico-científica e comunicacional, porque talvez tudo tenha andado devagar demais no que se refere ao verdadeiro (re)conhecimento da essência da Humanidade nas suas diversidades e nos seus “porquês”. O incompreensível “grito” do 11 de Setembro traz consigo um arrepiar de caminhos que, nas inseguranças e nos medos, pode reconduzir a história a alguns fechamentos geradores de desigualdade e exclusão.
3. A geração portuguesa que nasceu há 18 anos vive hoje com as mãos cheias de tecnologia mas, não tendo assistido ao seu emergir (algo que quem na altura tinha essa idade foi presenciando), corre o perigo crescente da absolutização das “coisas” deitando a perder o essencial da humanidade pessoal e social que são as relações humanas. Os resultados estão aí: Como refere o estudo do Público: «Acreditam: neles…» e «Não acreditam: no país, no casamento, nos outros». Num país diferente para melhor em muitas realidades mas na mesma em relação a muitas desconfianças espelhadas em mega casos de justiça e a sua continuada incerteza, a geração que está aí confirma os receios de uma (pseudo-)cidadania da indiferença sócio-política que, de quando em quando, costumamos criticar... Talvez tenhamos muito a aprender com as gerações anteriores; mas para isso é preciso o “diálogo de gerações” e mesmo o diálogo intercultural. Nestes diálogos, é certo que usando todas as virtualidades que nos aproximam, mas… preservemos e enalteçamos a presença humana.
Alexandre Cruz
SUBSÍDIOS PODEM GERAR DEPENDÊNCIAS
Os jornais disseram que a CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais) recebe, anualmente, milhares de euros para poder desempenhar o seu papel de defensora dos interesses dos pais e dos alunos das nossas escolas. Sempre me repugnou a ideia de instituições como esta receberem subsídios do Estado. Porquê? Pela simples razão de que podem perder a independência face aos poderes instituídos.
Aceito, porém, que possam receber comparticipações para projectos de formação que contribuam para o desenvolvimento dos membros das instituições. Eu acho, no fundo, que as associações, sejam elas quais forem, devem ser o reflexo dos seus membros, os quais têm a obrigação de sustentar aquilo que lhes dá prazer. Sei de uma Câmara, a de Ílhavo, concretamente, que ajuda as instituições mediante contrapartidas ou parcerias, ou projectos de natureza social, cultural ou outra. Dar por dar não está na sua agenda. E nem deve estar, a meu ver.
Se o Estado se habituar a dar subsídios regulares, é certo e sabido que gera dependências, criando nas pessoas o hábito de se acomodarem à facilidade da vida. O Estado pode e deve estimular o associativismo, a solidariedade, o envolvimento das pessoas em acções de âmbito diverso, mas nunca sustentar instituições. Subsídios eventuais, repito, vá que não vá. Mas não mais do que isso.
FM
Aceito, porém, que possam receber comparticipações para projectos de formação que contribuam para o desenvolvimento dos membros das instituições. Eu acho, no fundo, que as associações, sejam elas quais forem, devem ser o reflexo dos seus membros, os quais têm a obrigação de sustentar aquilo que lhes dá prazer. Sei de uma Câmara, a de Ílhavo, concretamente, que ajuda as instituições mediante contrapartidas ou parcerias, ou projectos de natureza social, cultural ou outra. Dar por dar não está na sua agenda. E nem deve estar, a meu ver.
Se o Estado se habituar a dar subsídios regulares, é certo e sabido que gera dependências, criando nas pessoas o hábito de se acomodarem à facilidade da vida. O Estado pode e deve estimular o associativismo, a solidariedade, o envolvimento das pessoas em acções de âmbito diverso, mas nunca sustentar instituições. Subsídios eventuais, repito, vá que não vá. Mas não mais do que isso.
FM
O PÚBLICO faz 18 anos
O PÚBLICO faz hoje 18 anos. Em termos humanos atingiu a maioridade. Sob o ponto de vista jornalístico já nasceu adulto e responsável. É, desde o primeiro número, o meu jornal diário. Só não o leio por motivos de força maior: doença ou outros incómodos. E quando isso acontece, fico com a sensação de um certo vazio. Depois, até chego à conclusão de que, na verdade, aconteceu algo de importante a que não tive acesso.
O PÚBLICO é considerado um diário de referência. No dia-a-dia traz o essencial do País e do mundo. Mas com frequência não me mostra o que aconteceu na minha rua, nem aborda alguns temas de que gostaria. Contudo, o fundamental, o retrato do quotidiano e a perspectiva do futuro próximo, vem lá.
Fico sempre satisfeito com o que publica? Não. Por vezes revolta-me a importância que dá a banalidades, a mexericos, a denúncias não suficientemente esclarecidas, a sensacionalismos… Mas talvez isso seja hoje uma forma de condescender com a (inevitável) procura de novos leitores e mais publicidade, base da sustentabilidade económico-financeira de um qualquer órgão de comunicação social. De qualquer modo, continuo a cultivar o princípio de que nem sempre os fins podem justificar os meios.
Parabéns ao PÚBLICO e a quantos o fazem no dia-a-dia, em luta constante pela qualidade.
FM
O PÚBLICO é considerado um diário de referência. No dia-a-dia traz o essencial do País e do mundo. Mas com frequência não me mostra o que aconteceu na minha rua, nem aborda alguns temas de que gostaria. Contudo, o fundamental, o retrato do quotidiano e a perspectiva do futuro próximo, vem lá.
Fico sempre satisfeito com o que publica? Não. Por vezes revolta-me a importância que dá a banalidades, a mexericos, a denúncias não suficientemente esclarecidas, a sensacionalismos… Mas talvez isso seja hoje uma forma de condescender com a (inevitável) procura de novos leitores e mais publicidade, base da sustentabilidade económico-financeira de um qualquer órgão de comunicação social. De qualquer modo, continuo a cultivar o princípio de que nem sempre os fins podem justificar os meios.
Parabéns ao PÚBLICO e a quantos o fazem no dia-a-dia, em luta constante pela qualidade.
FM
terça-feira, 4 de março de 2008
Na Linha Da Utopia
Vencer o Pessimismo
1. Não se pense que é só em Portugal que o pessimismo vai alastrando, nem se julgue que o factor de crise económica é o ‘cerne’ da questão e a sua raiz. Talvez as ondas das emoções sociais sejam como as bolsas de valores, depois de fases de optimismos em que tudo parece correr às mil maravilhas (dos anos 60-70) vem a crise do reequilíbrio e reajustamento à realidade (em fins e início de milénio). Sublinhe-se, um certo sentir («difuso» ou infuso) de pessimismo só pode ser superado com o compromisso de cada dia, não havendo fórmulas mágicas que solucionem todas as questões em simultâneo na sociedade, hoje, em rede. Normalmente, neste lado do mundo em que nos fomos habituando a uma certa qualidade de vida, só queremos que a “rede” funcione para as coisas positivas, esquecendo que não há bela sem senão e que, talvez, os múltiplos processos de globalização em curso são a origem das novas sensações a reconhecer e integrar.
2. Como em tudo, o primeiro passo é “compreender”. Por isso, não admira que lendo as transformações em andamento, em que por exemplo o emprego para toda a vida é realidade já mesmo do passado, diante das novas inseguranças, a resposta humana não pode ser a resistência da luta contra os moinhos de vento das transformações; a tensão da resposta terá de se projectar no encarar, formar, lutar, procurar, espevitar a esperança na redescoberta dos mecanismos de vida dinâmica, onde a pessoa é, efectivamente, parte das soluções que ela sabe (eticamente) criar e reinventar. Ficar parado, desmotivado, resignado, a ver o mundo passar e perder tempo queixando-se na contínua ‘lamúria’, será afogar-se num pessimismo doentio que nos diz que se vivêssemos em outros séculos ou noutros sofridos continentes da actualidade já há muito teríamos padecido. Talvez na raiz do pessimismo também esteja uma mentalidade de impossíveis expectativas em relação à vida, confundindo muitas vezes (como há tempos dizia D. José Policarpo) felicidade com facilidade.
3. Muitas gerações que nos precederam tinham muito menos para viver. É natural que os tempos são outros, mas muitas vezes os hábitos da fartura (e fartura mal gerida, como o comprovam muitos supérfluos e mesmo o grave problema da hiper-obesidade de muitas crianças) acabam por deixar uma sementeira mais do “deixa andar” do que da palavra de ordem “vamos lá!” É claro que não se podem ocultar os cenários realistas (complicados) que vivemos, estes espelhados em variados relatórios que sempre surgem; mas toda a aposta na mentalidade terá de ser de investimento em ideias, esperança, cultura, formação, valores, ética, compromisso, cidadania, envolvimento (as palavras poderiam não acabar). No fundo, a diferença entre o pessimismo e o optimismo está no património de referências do coração humano... Quem dá valor às pequenas coisas só tem razões para agradecer o dom da vida e redescobrir energias do compromisso diário. Multipliquemos uma confiança realista (esta que não se confunde com muito do optimismo fácil proclamado pelos poderes), sem esquecer as dificuldades, mas não permanecendo nelas; faz mal, até à saúde (pessoal e social) e desmobiliza a reacção em ordem ao compromisso diário.
Alexandre Cruz
1. Não se pense que é só em Portugal que o pessimismo vai alastrando, nem se julgue que o factor de crise económica é o ‘cerne’ da questão e a sua raiz. Talvez as ondas das emoções sociais sejam como as bolsas de valores, depois de fases de optimismos em que tudo parece correr às mil maravilhas (dos anos 60-70) vem a crise do reequilíbrio e reajustamento à realidade (em fins e início de milénio). Sublinhe-se, um certo sentir («difuso» ou infuso) de pessimismo só pode ser superado com o compromisso de cada dia, não havendo fórmulas mágicas que solucionem todas as questões em simultâneo na sociedade, hoje, em rede. Normalmente, neste lado do mundo em que nos fomos habituando a uma certa qualidade de vida, só queremos que a “rede” funcione para as coisas positivas, esquecendo que não há bela sem senão e que, talvez, os múltiplos processos de globalização em curso são a origem das novas sensações a reconhecer e integrar.
2. Como em tudo, o primeiro passo é “compreender”. Por isso, não admira que lendo as transformações em andamento, em que por exemplo o emprego para toda a vida é realidade já mesmo do passado, diante das novas inseguranças, a resposta humana não pode ser a resistência da luta contra os moinhos de vento das transformações; a tensão da resposta terá de se projectar no encarar, formar, lutar, procurar, espevitar a esperança na redescoberta dos mecanismos de vida dinâmica, onde a pessoa é, efectivamente, parte das soluções que ela sabe (eticamente) criar e reinventar. Ficar parado, desmotivado, resignado, a ver o mundo passar e perder tempo queixando-se na contínua ‘lamúria’, será afogar-se num pessimismo doentio que nos diz que se vivêssemos em outros séculos ou noutros sofridos continentes da actualidade já há muito teríamos padecido. Talvez na raiz do pessimismo também esteja uma mentalidade de impossíveis expectativas em relação à vida, confundindo muitas vezes (como há tempos dizia D. José Policarpo) felicidade com facilidade.
3. Muitas gerações que nos precederam tinham muito menos para viver. É natural que os tempos são outros, mas muitas vezes os hábitos da fartura (e fartura mal gerida, como o comprovam muitos supérfluos e mesmo o grave problema da hiper-obesidade de muitas crianças) acabam por deixar uma sementeira mais do “deixa andar” do que da palavra de ordem “vamos lá!” É claro que não se podem ocultar os cenários realistas (complicados) que vivemos, estes espelhados em variados relatórios que sempre surgem; mas toda a aposta na mentalidade terá de ser de investimento em ideias, esperança, cultura, formação, valores, ética, compromisso, cidadania, envolvimento (as palavras poderiam não acabar). No fundo, a diferença entre o pessimismo e o optimismo está no património de referências do coração humano... Quem dá valor às pequenas coisas só tem razões para agradecer o dom da vida e redescobrir energias do compromisso diário. Multipliquemos uma confiança realista (esta que não se confunde com muito do optimismo fácil proclamado pelos poderes), sem esquecer as dificuldades, mas não permanecendo nelas; faz mal, até à saúde (pessoal e social) e desmobiliza a reacção em ordem ao compromisso diário.
Alexandre Cruz
AVEIRO SEM TGV?
Diz-se que o TGV vai passar por Albergaria-a-Velha, preterindo Aveiro. Diz-se, também, que tal acontece por razões técnicas. E o povo de Aveiro, que sempre teve os comboios ao pé da porta, fica deste vez a ver navios, que também já se foram.
Estou a lembrar-me das histórias que me contaram, em menino: Se não fosse o José Estêvão, a Linha do Norte passaria por Águeda, perdendo a cidade dos canais em toda a linha.
Cá para mim, José Estêvão faz muita falta. Ou políticos como ele, que trazia a alma de Aveiro sempre à flor da pele e na ponta da língua, que escrever não era com ele, ao que parece.
Outros tempos, estes que agora vivemos. Nem o TGV seguramos. Será por toda a gente, ou quase, ter automóvel, cá por estas bandas?
FM
Estou a lembrar-me das histórias que me contaram, em menino: Se não fosse o José Estêvão, a Linha do Norte passaria por Águeda, perdendo a cidade dos canais em toda a linha.
Cá para mim, José Estêvão faz muita falta. Ou políticos como ele, que trazia a alma de Aveiro sempre à flor da pele e na ponta da língua, que escrever não era com ele, ao que parece.
Outros tempos, estes que agora vivemos. Nem o TGV seguramos. Será por toda a gente, ou quase, ter automóvel, cá por estas bandas?
FM
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