Um bom guia |
Às vezes ainda falo de férias, como se tivesse tarefas profissionais com horários a cumprir e contas a dar a superiores hierárquicos. Hábitos que vêm de longe e criaram raízes profundas. Depois, caio em mim e até me rio sozinho. É que, realmente, sou um homem livre de compromissos profissionais, embora tenha assumido outros de livre vontade.
Esta sensação de férias também está relacionada com o tempo. Das férias escolares, no meu tempo de mestre-escola, ficámos ligados às férias do Natal, da Páscoa e depois as chamadas férias grandes do Verão. E estes hábitos, curiosamente, ainda estão instalados no meu cérebro, passados que são tantos anos.
Com a proximidade de Agosto, começo a conjeturar as férias. Há bons anos, o hábito instalado na família era a certeza da partida de casa no dia 1 de Agosto, com tenda vistoriada e tudo revisto, o essencial e não só, para carregar o carro com a casa às costas. E lá partíamos, de manhã cedo, rumo a um parque de campismo, algures no país, longe de casa para não sermos tentados a visitá-la por esta ou aquela razão. Alguém ficaria encarregado de cuidar das coisas.
Em tempos sem telemóveis, recorríamos ao telefone fixo existente nos parques para os contactos mais urgentes. Usados com parcimónia que as chamadas eram pagas.
A vida ao ar livre era saudável e a roupa que vestíamos era prática. Comíamos numa sombra, fazíamos amigos, convivíamos com conhecidos de anos anteriores, não havia televisão, ouvíamos rádio e líamos o que calhava. O jornal logo de manhã e os livros que levávamos na bagagem. E registávamos histórias para mais tarde recordar. Também saíamos à descoberta dos arredores. Mas disso falarei de quando em vez no mês de Agosto. O mês de férias por excelência.
Fernando Martins