domingo, 14 de janeiro de 2024

A tempestade das bênçãos

Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

1 Penso que para ninguém faz sentido casar-se por um período determinado de tempo. É perfeitamente claro que não há casamentos a prazo, ele é para a vida toda: “Até que a morte nos separe.” O que se passa é que a vida é o que é e pode acontecer que, de facto, tenha um termo, podendo mesmo chegar a um ponto em que a separação pode ser até obrigatória - quando há violência, por exemplo, e a educação dos filhos está em perigo.
Nestas circunstâncias, como aliás tinha escrito Bento XVI quando era apenas o professor Joseph Ratzinger, desde que tenham sido satisfeitos todos os deveres de Justiça em relação com o primeiro casamento, por exemplo, no caso de haver filhos, e se há um novo amor, com verdadeiro compromisso na dignidade e na fidelidade cristãs, e se os filhos são educados na fé cristã, já me aconteceu dar uma bênção e admitir esses casais à comunhão. Aliás, Francisco já deu orientações para estes casos.

sábado, 13 de janeiro de 2024

Velhas fotos para reviver

A Lita de lacinho com a avó e duas tias 

Rever fotografias é, normalmente, um prazer. E se forem antigas, então o prazer é redobrado. Foi o caso de hoje. Ao abrir uma caixa de cartão, encontrei velhas fotos já muito adulteradas pelo tempo. Sem ser técnico destas artes, nem de outras, dei-me ao gosto de tentar aperfeiçoar algumas, nem sempre com êxito. De qualquer modo, a Lita ficou muito satisfeita ao recordar quem a criou desde que nasceu.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Carismas na Igreja Católica

"Diz-se que se corre o risco, neste momento, de novas divisões na Igreja. Esses movimentos reconhecem as grandes e originais dimensões do espírito reformista do Papa Francisco. O grande empreendimento deste Papa é a promoção de uma Igreja sinodal que implica caminhar juntos na comunhão, na participação e na missão. Isto, ao nível de toda a cristandade, é um longo acontecimento que nunca pode estar resolvido. É uma Igreja em processo de mudança e quem não perceber isto não entende nada da originalidade da intervenção do Papa Francisco. É ele próprio que acaba de nos incitar a “não ter medo da diversidade de carismas na Igreja”. Pelo contrário, devemos alegrar-nos por vivenciar esta diversidade. Os cristãos precisam de compreender e viver o dom da diversidade. Se formos guiados pelo Espírito Santo, a riqueza, a variedade, a diversidade, nunca provocam conflito."

Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

UM POEMA DE SOPHIA


É com o frio que nos lembramos 
mais da Primavera e das Flores

Sophia


As rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

CARNE DE CÃO

A televisão anunciou hoje que a Coreia do Sul pôs fim ao consumo da carne de cão. Não será motivo para grande espanto quando por todo o mundo se  come carne de diversos animais. Para a nossa cultura, porém, carne de cão não está nos nossos hábitos. E logo me lembrei de um livro de José Luís Peixoto — Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte — publicado em 2012, onde o escritor relata o facto de por lá se comer carne de cachorros. Fui confirmar, não fosse dar-se o caso de eu estar enganado. E lá vem na página 107: — “Comi carne de cão de duas maneiras: sopa de cão e cão frito. Frito sabia a pombo. Vinha num pequeno prato uma porção de carne desfiada e fígado. Não trazia temperos fortes. Cortado em tiras finas, o fígado frito sabia a iscas. O montinho de carne desfiada sabia a pombo”. E a descrição continua, mas fico-me por aqui. Já imaginaram se a moda pega?

ÉLIO TAVARES — Um homem bom



O HOMEM DO LEME

Em qualquer navio, que nos mares navega,
vai sempre, firme no seu posto,
o HOMEM DO LEME!
Suas hábeis mãos giram sem cessar a roda,
ora a bombordo, ora a estibordo,
enquanto o seu olhar na bússola se fixa,
para o rumo manter sempre certo.
Lá vai, sempre atento, o TIMONEIRO,
quer navegue em mar chão e sereno,
quer afronte as alterosas vagas.
Leva na alma a mais certa bússola.
— Nossa Senhora dos Navegantes,
e no coração os seus maiores amores,
invisíveis mas sólidas âncoras,
que o prendem à terra distante e querida:
a mulher, os filhos, os pais saudosos!
E murmura, como em prece, o homem do leme:
— Roda que dos meus me apartaste,
leva-me de novo, segura e certa,
para junto daqueles que tanto amo!

Élio Tavares


NOTA: Evoco hoje um amigo que colaborou no TIMONEIRO. Élio Tavares era o seu nome e morava na Praia da Barra. Nunca conheci a sua família e vivia numa solidão serena, apesar de tudo. Morreu há muitos anos e nunca cheguei a saber se tinha espólio literário. Escrevia muito. Prosa e poesia ficava ao meu critério, mas era impossível publicar tudo.
Um dia foi residir para um hospital-Lar na Tocha. Indaguei e fui visitá-lo. Estranhei a sua escolha. Tinha sofrido da doença de Hansen [Lepra] como dizia, mas estava curado.
Estava sentado na cama... a escrever. E lá me deu mais textos para o nosso jornal. Depois faleceu. Há muitos anos. É justo que o evoque com saudade. Paz à sua alma.

Fernando Martins

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

O nosso Cortejo dos Reis

Em memória de uma nossa vizinha que participava
regularmente no Cortejo. Já "vive" com o Menino Jesus  da sua devoção

Desde que me conheço, sempre arranjei tempo para viver por dentro o nosso Cortejo dos Reis. Em menino, levei pela mão o meu irmão Armando, que todos na família tratávamos por Menino… Os nossos presentes, amarrados na ponta de uma cana, eram o nosso orgulho, penso que por causa de um bacalhau com bom aspeto.
O nosso pai, Armando Grilo, foi levar-nos a Romelha (ou Remelha?) para fazermos todo o percurso a pé. O meu irmãozito não falava muito, mas lá me seguia.
Durante o percurso, até à Igreja matriz, vivenciámos a alegria que envolvia toda a gente. Só parávamos na apresentação dos Autos de Natal, nos sítios previamente estabelecidos. E chegámos à Igreja Matriz.
Cansados, mas satisfeitos pelo que pudemos apreciar. Olhámos um para o outro, sem saber que fazer. Os nossos pais não andavam por ali. Que fazer? Rumámos a casa com os presentes.
Quando chegámos, os nossos pais, admirados, atiraram-nos, no meio de gargalhadas:— Então não entregaram os presentes ao Menino Jesus?
Entre ingénuas gargalhadas a minha mãe atirou: — Vai à igreja, Armando, e paga os presentes.

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