Crónica de Anselmo Borges
O Natal, mesmo que alguns já se não lembrem disso, é o aniversário
natalício de Jesus Cristo. Sobre ele deixou escrito Ernst Bloch: Jesus
agiu como um homem "pura e simplesmente bom, algo que ainda não tinha
acontecido".
Tive o privilégio, em Tubinga, de conversar longamente com Ernst Bloch, um dos filósofos maiores do século XX (morreu em 1977). Quando era professor na Universidade de Leipzig, na antiga República Democrática Alemã, Ernst Bloch, filósofo ateu, mas paradoxalmente, ateu religioso, na última aula antes das férias de Natal, desejava Boas Festas aos estudantes, falando-lhes do significado do Natal, e terminava assim: "É sempre Advento".
Com esta expressão - é sempre Advento, ainda é Advento -, Ernst Bloch queria apelar para a esperança. O mundo e a humanidade continuam grávidos de ânsia e possibilidades, e a esperança está viva e há razões objectivas para esperar.
Quando se pensa nas raízes da Europa, é claro que, para quem está atento e não tem preconceitos, um dos fundamentos determinantes da Europa é o cristianismo. É necessário confessar os erros e crimes do cristianismo histórico, mas é indubitável que da compreensão dos direitos humanos e da democracia, da tomada de consciência da dignidade inviolável do ser humano, da própria ideia de pessoa, da história e do progresso, da separação da Igreja e do Estado, de tal maneira que crentes e ateus têm os mesmos direitos, faz parte inalienável a mensagem originária do cristianismo.