A sua memória ficará sempre connosco
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Josué fala da sua coleção |
Acabo de receber a triste notícia do falecimento no IPO de Coimbra do Josué Ribau, depois de tenaz e corajosa luta contra doença que não se deixa vencer. A notícia veio do filho Bruno e trazia a informação de que seu pai «sempre esteve lúcido até ao final e disponível para os seus instrumentos e familiares».
Conheço o Josué desde sempre. Era ele o pequeno, filho mais novo de Madalena Ribau e Manuel Teixeira, que brincava na eira um pouco indiferente às músicas que os irmãos mais velhos (Manuel, Ângelo, Plínio e Diamantino) com os amigos executavam na casa do avô, Manuel Ribau Novo (principal responsável pela nossa primitiva igreja matriz), na altura já falecido.
O Josué cresceu, estudou, valorizou-se, foi professor de Educação Física, casou com a Zinha, foi pai de um rapaz, o Bruno, e de uma menina, a Madalena, pautando a sua vida pelo trabalho, pela dedicação à família, enquanto criou amizades. Cultivou sempre o respeito por todos, mantendo continuamente um espírito sereno. Nunca lhe conheci conflitos e gostava de conversar com ele.
Um dia soube que se tinha apaixonado pela música e pela coleção de instrumentos de cordas. É certo que estranhei estes novos gostos. Um pouco incrédulo, resolvi visitá-lo para ver com os meus próprios olhos como é que ele, o menino e rapaz, que nunca mostrara interesse pelo fascinante mundo da música, mudou tão rapidamente e com tanta vontade.
Na altura, confessou-me que foi fumador durante 40 anos, mas que resolvera cortar radicalmente com o tabaco, canalizando todo o dinheiro então poupado para a aquisição dos instrumentos que constituem a sua coleção. E garantiu-me que vai continuar a investir neste seu prazer, jamais admitindo a ideia de vender o que coleciona, restaura e constrói de raiz.
Durante a conversa, sem nunca mostrar cansaço, foi-me revelando conhecimentos musicais que eu estava longe de imaginar. Procurava literatura que o elucidasse, quer na arte de restauro e construção, quer na área da teoria musical. E sobre a sua coleção de instrumentos contava-me o historial de cada um: país de origem, materiais usados, técnicas utilizadas, diferenças relativas a épocas e a regiões, entre outros pormenores.
A vida é assim. Nascimento, trabalhos, lutas, alegrias e algumas tristezas, paixões, vitórias, sonhos e a morte no final da caminhada terrena. Que Deus o receba no seu coração maternal. A sua memória, porém, ficará eternamente na sua família e nos seus amigos, até ao fim dos tempos.
Fernando Martins