quinta-feira, 1 de novembro de 2007

VIVER A REALIDADE NUM MUNDO COMPLEXO

O desafio para pensarmos em que mundo vivemos e o que é que nele fazemos que seja determinante e válido, para nós e para os outros, é um desafio que nos afecta e, por vezes, nos incomoda. É mais fácil vivermos de ideias feitas e dados pacificamente adquiridos, que viver com interrogações permanentes, prontos a mudar de rumo, se aquele em que navegamos nos leva a becos sem saída, escolhos inesperados e perigosos, águas mornas e paradas que, para nos iludirem, ainda reflectem o sol do Inverno.
Por mais que se publicite o conforto, a verdade é que, para quem quiser permanecer vivo, responsável e actuante, o conforto e a instalação acabaram. A viagem de uma vida activa faz-se agora sobre a crista da onda e de barco a remos contra a maré. Não dá para os que enjoam com facilidade, nem para aqueles que têm lugar cativo no sofá cómodo da sua sala ou de qualquer outra.
Hoje, tanto os responsáveis políticos como os das grandes instituições que venceram ou julgam ter vencido o tempo, correm o risco de viver num passado que já não existe e de olhos fechados a um presente que se vai construindo à revelia de regras e princípios, aos quais não se reconhece grande cotação. Nivelar a vida com a mesma rasoura é um passo curto e fácil, mas ineficaz e perigoso. Predomina o efeito da mudança imparável
O mundo secularizado defende a sua autonomia e as suas regras e não é mais o mundo dependente da religião ou que se inspira nos seus princípios morais. A Igreja, nos tempos que correm e depois de um concilio ecuménico, não é mais a Igreja da gloriosa cristandade ou a Igreja armadilhada contra as diversas formas de oposição, religiosas ou políticas. A família não é mais a família tradicional em que convivem pais filhos e netos e em que o homem é sempre o detentor único da autoridade, mas a família nuclear e dispersa, com relações internas mais difíceis e poderes repartidos. A escola deixou de ser o espaço normal de educação e transmissão de saber e tornou-se uma instituição que já não se entende a si mesma e de que o Estado se apropriou, como dono único de um brinquedo perigoso, provocando nela mudanças a torto e a direito, à revelia de alunos, pais e professores e surdo ao rumor insistente da opinião pública.
Um mundo diferente exige respostas diferentes, gente com sabedoria, acordada para a realidade e capaz de tomar posição equilibrada e séria, ante os problemas que enfrenta. No que toca à Igreja e aos seus responsáveis, nada de mais urgente. Os redutos de persistente cristandade e os grupos de gente azeda que em tudo vê inimigos, não podem travar uma acção pastoral realista que sabe o que programa, o que faz, qual o sentido das suas decisões e sempre aberta à participação dos seus membros, chamados a pensar o caminho que importa andar e a andá-lo em comum. Muitos planos e programas parece darem pouca atenção às pessoas concretas, hoje tão diferentes nas suas experiências humanas e religiosas, que enfrentam mudanças culturais sérias, assimilam critérios e optam por modelos de vida indiferentes a acções apostólicas correntes, que, não raro, vão pouco além da generosidade dos agentes pastorais tradicionais. No nosso espaço religioso coabitam cristãos esclarecidos, pagãos baptizados, gente de muitas crenças e algumas pertenças, muitos indiferentes. E, por vezes, até visitam o templo e seus anexos ou vão passando pelo adro, ateus e agnósticos satisfeitos consigo próprios. Um mundo plural que deve marcar o rumo de uma acção própria que, por sua natureza, não pode ser indiferente ou inócua. Gente que ainda gravita no espaço religioso experimenta no seu mundo secular formas de participação activa, a que a Igreja não pode ficar alheia.
Ao mesmo tempo, a verdade que se propõe tem de casar com a realidade que se vive, de outro modo aumenta a insignificância do que se é e se propugna. Um mundo complexo é para uma Igreja serva um desafio apaixonante, nunca um convite à alienação. A Igreja sempre teve por vocação enfrentar desafios. É esse o seu caminho.

António Marcelino

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GAFANHÃO OU GAFANHONAZARENO?

Gafanhoas (Década de 40 do século passado)


Há dias, alguém perguntou-nos de que lado estávamos: se do lado do gafanhão ou do gafanhonazareno? Respondemos, com toda a naturalidade, que não estávamos de lado nenhum, embora usássemos a falar e a escrever a palavra gafanhão. E acrescentámos que não estávamos de lado nenhum pela simples razão de que não gostávamos de dividir os filhos desta terra que nos viu nascer, e onde sempre vivemos, em dois grupos que se digladiassem, já que muito de bom nos unia e exigia essa mesma unidade, rumo a um progresso cada vez mais saudável.
Justificámos, no decorrer da conversa, a nossa posição, que não tem nada de teimosia nem de fuga a qualquer tipo de evolução no campo da Língua Portuguesa, por nela acreditarmos, quando tal é de aceitar, com a introdução de novas palavras e termos, quando necessário. Assim: usamos o gentílico gafanhão por estar consagrado há dezenas de anos, talvez centenas, no linguajar do povo e em todos os dicionários que conhecemos; por ser esse o que vem em qualquer livro que fala da Gafanha da Nazaré ou de outra Gafanha; por estar consignado no Guia Ortográfico da Língua Portuguesa; por sentirmos que é necessário impô-lo, sobretudo depois de ter sido considerado depreciativo por alguns povos vizinhos; por gostarmos dele (não soa ele tão bem?); por ser, principalmente em Portugal e no Mundo, a palavra que melhor nos identifica, aos olhos dos outros, segundo cremos; e por não vermos qualquer vantagem em criar outro termo que a substitua. As palavras novas só são de aceitar, a nosso ver, quando não há outras para definirem a mesma coisa, ou quando o povo, com toda a sua autoridade, resolve “criá-las” ou adoptá-las. Não foi o povo que criou o “gafanhão”? Ou terá sido, como poucos pensam, algum letrado a fazê-lo? Foi o povo, não há dúvidas, que começou a chamar “gafanhões” aos que por aqui começaram a aparecer para amanhar as terras até aí improdutivas. Sendo assim, deixemos ao povo da Gafanha da Nazaré, sem quaisquer pressões, o direito de seguir o que melhor lhe convier, talvez por gostar mais. Nós não nos oporemos. Só não concordamos é com influências excessivas, como que a querer impor uma qualquer teoria, venha ela de onde vier.
Também não concordamos que se diga ser urgente dignificar o povo com a alteração do gentílico. Aos que dizem que é preciso substituir gafanhão por gafanhonazareno (gramaticalmente correcto, não duvidamos) por o primeiro ter tido uma carga negativa, lembramos que o povo só se dignifica e sai dignificado, não com mudanças de gentílicos, mas com atitudes educadas de todos nós. Assim, se soubermos, como gafanhões, honrar e dignificar o nosso povo, tendo posturas certas na sociedade e em qualquer sítio em que nos encontremos, estamos a elevá-lo e a impô-lo à consideração do mundo que nos rodeia. E isso não passa, necessariamente, por ser gafanhonazareno ou gafanhão, mas por ser gente que se respeita e respeita os outros.
Porém — acrescentámos ao nosso interlocutor —, aceitamos perfeitamente a opção de outras pessoas por outro gentílico, sem vermos nisso razões minimamente aceitáveis para nos ofendermos ou guerrearmos. Cada um é livre de seguir a opção que muito bem entender, sem ser preciso dividir os filhos desta terra em bons (ou que são pelo gafanhonazareno) e maus (ou que defendem gafanhão).
E também lhe dissemos que, já agora, gostaríamos de saber que nomes haveríamos de dar aos filhos das Gafanhas da Boavista, de Aquém, da Encarnação, do Carmo, da Boa Hora e da Vagueira. Talvez gafanhoboavistenses, gafanhodaquemnenses (será assim que se escreve?), gafanhoencarnacenses, gafanhocarmoenses, gafanhoboaorenses e gafanhovagueirenses. O que dirão os entendidos nestas coisas da linguagem, e os próprios interessados, já que a lei deve aplicar-se a casos semelhantes? Aqui deixamos a questão para que outros, sem agressividade, lhe respondam. Nós demos a nossa opinião, como nos solicitaram. E ponto final, por agora, porque a Gafanha da Nazaré tem muito mais em que pensar, para inovar e evoluir, em tantos campos, se é que quer ocupar o lugar a que tem direito na sociedade em que se insere. E não será por causa desta questiúncula que nos vamos dividir, ao ponto de sairmos dos trilhos da sã convivência e da boa educação.

Fernando Martins

ARES DO OUTONO



UM PÔR DO SOL EM PANGALA


Um pôr do sol em Pangala, na fronteira norte de Angola, a uns 50 quilólmetros. para nascente de São Salvados do Congo (hoje M'Banza Comgo), que já foi a Capital do Reino do Congo, actual Zaire Angolano, Congo ex-belga, Congo ex-francês e outros povos congos a que agora mudaram o nome.
NOTA: Foto e informação do leitor e amigo Ângelo Ribau

terça-feira, 30 de outubro de 2007

ARES DO OUTONO



OUTONO

O outono montou a sua tenda branca sobre os montes;
tiraram-lhe o tapete verdejante.
O ramo do jasmim perdeu os seus adornos
e a rósea olaia deixa cair as suas flores.
O pálido marmelo amarelece; a romã cora;
ó surpresa! terá um deles bebido o sangue do outro?
Os jardins estão assombrados por negros saltadores:
os negros corvos, com as suas vestes manchadas de pez.
Esses bailarinos do outono começaram a agitar-se;
as aves da primavera calaram os seus brandos concertos.
Amáveis servidores, para festejar o equinócio,
trazem os seus presentes ao afortunado príncipe.
E o longínquo mar encarregou a nuvem
de lhe lançar no trono, de presente, algumas pérolas.

Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo,

In “A Rosa do Mundo”

Na Linha Da Utopia




As claques e o presidente. É futebol!






1. Há dias, na Assembleia-Geral do Benfica, o caldo entornou-se! No fundo o caldo (das claques do e no futebol) é estruturalmente entornado. Não há muito tempo, até as suspeitas sobre o tráfico de (coisas… e) influências recaíam sobre grandes claques de grandes clubes. Mas tudo passou, como tudo passa, em ambiente de “apitos dourados” e mais apitos (de todas as cores) onde o obscurantismo é o ambiente propício para tudo ser possível. As claques são, hoje, mais um submundo deste mundo social futebolístico onde, tão simplesmente, por exemplo, devemos perguntar “o que fazem”, “onde trabalham”, “como ganham o pão de cada dia”, “como têm todo o tempo do mundo para o futebol”? E ainda: “o que fazem de bom pela sociedade e mesmo pelos clubes para parecer que têm ‘carta livre’”?
2. O caso de que falamos na dita Assembleia (desta como doutras) tem a sua merecida e emblemática apreciação. As claques de futebol que dão tanto jeito aos presidentes na hora de gritar e puxar pelo clube parecem querer “tomar” o poder. O presidente da direcção, na preocupação de uma gestão que tire o clube da bancarrota, vê-se surpreendido com os factos: as claques, como hábito, estão muito pouco (ou nada) importadas na gestão da colectividade e só querem o clube sempre a ganhar, só não querendo que se lhes toque no calcanhar. Quando a claque se sentiu “tocada” na Assembleia, eis que a ordem passou a desordem, a ponto de outro anterior presidente “puxar” (em vão) pelo respeito… Chama-se a polícia, e a Assembleia, à força, terminou. Nem parecia gente do mesmo clube! Parecia mesmo o cenário habitual dos estádios onde, tantas vezes, em jogos chamados “de risco” são às centenas os polícias que procuram dominar a “fera” humana…
3. Pelo andar da carruagem, e como são as emoções que comandam o barco clubístico (e social), qualquer dia os líderes das claques passam a ter um estatuto ainda mais especial; lembramo-nos de há algum tempo o guia da claque “super dragões” ter sido recebido na TV como se de figura ilustre, letrada e genial se tratasse. Tantas vezes alimenta-se o modelo de sociedade que se critica. As claques em Portugal (como afinal na Europa e Américas) são alimentadas pelos senhores da gestão do clube, pois estes precisam daqueles para a emoção ir ao rubro. Mas, no meio de tudo isto, verdade se diga: tanto jogadores, árbitros, treinadores e presidentes passam de bestiais e bestas num instante… E as claques, não merecerão uma análise mais cuidadosa da sua vida, quer do que são por dentro ao que manifestam por fora? Concluindo, em matéria que volta e meia vai sendo refrão de fim-de-semana: é lamentável que tantas vezes essa adrenalina das claques se manifeste em intolerância e em vandalismo com os outros e mesmo com as Estações de Serviço na Auto-Estrada! Mas, cuidado, o assunto tem de ser lidado com pinças, são emoções públicas, e estas são bem perigosas. No fundo, o seu tratamento (determinado ou não) depende sempre do modelo de sociedade que queremos.

Alexandre Cruz

REFERENDOS E DEMOCRACIA

"Por que razão a natureza democrática de umas decisões exige o referendo e nou-tros casos já não depende da consulta popular? Por que razão é “necessário” referendar o Tratado de Lisboa e nunca foi necessário referendar a Constituição portuguesa? Se é tão importante os portugueses dizerem se querem estar na União Europeia, porque não realizar um referendo a perguntar se querem viver numa república ou numa monarquia? Estes exemplos mostram o absurdo do argumento a favor do referendo sobre o Tratado de Lisboa. Não se entende porque nuns casos é necessário “ouvir o povo” e noutros casos já não é." João Marques de Almeida, In Diário Económico

ESCUTAS TELEFÓNICAS




ATENÇÃO, CIENTISTAS,
RESOLVAM ESTE PROBLEMA


Quando o Alexandre Bell inventou o telefone (ou o cientista que reivindicou a mesma descoberta...., na altura), longe estava de pensar que este progresso traria, para além dos imensos benefícios por todos reconhecidos, o crime de tanta gente poder escutar, covardemente, aquilo que estamos a conversar com os amigos.
Lá que haja escutas telefónicas, em situações de guerra ou de crimes graves, devidamente autorizadas, vá que não vá. Mas agora podermos ser escutados sem qualquer regra... vai uma grande distância.
O PÚBLICO de hoje alerta para o facto, real, de uns dez serviços policiais poderem escutar, a seu bel-prazer, o que falamos, pensando nós que em privado.
Aqui fica um alerta para os cientistas investigadores. Descubram uma forma, rápida e eficaz, de ninguém poder aceder aos nossos telefones. Se não descobrirem, será que teremos de atirar para o lixo este aparelhozinho tão importante?

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