DIREITA
E ESQUERDA…
JÁ CHEGA
DE MARCAR PASSO
A prova de que a linguagem “direita e esquerda” é redutora e perde cada dia mais sentido está no facto de que anda tudo baralhado. Agora já se diz que o governo de esquerda faz política de direita, como se titula, com displicência, de direita, o que há socialmente de mais progressivo, como o respeito pela vida e pela família, bem como pela promoção e pela defesa de uma e de outra. Também se teima em rotular a Igreja de direita retrógrada, ela que é a instituição que há mais tempo e de modo mais organizado e persistente, promove a acção social em favor de todos e é quase a única que está viva e activa em campos sociais difíceis, que ninguém quer, nem deseja. Do mesmo modo são de direita conservadora as propostas de cariz ético, indispensáveis no campo da investigação e das novas tecnologias com dimensão antropológica.
Classificar de direita ou de esquerda a actividade social, institucional e humana por razões meramente ideológicas e políticas, quando a realidade contradiz os conceitos e a acção se reduz a palavras fáceis, é inverter todo o sentido de uma responsabilidade social alargada e marginalizar instituições e pessoas, úteis e comprometidas, em favor de amigos e de interesses que surgem logo quando o vento é favorável.
Já chega de marcar passo para ficar sempre colado ao mesmo chão. Ao lado muitas coisas vão desabando, enquanto se discute tudo para se saber o que é de direita ou de esquerda. Ver a sociedade apenas pela janela de uma ideologia de valor relativo ou de uma política limitada nos seus postulados e objectivos, é empobrecer cada vez mais a mesma sociedade, e continuar a levantar muros, onde é urgente derrubar os que restam.
Mais do que discutir o campo da direita ou da esquerda, é importante pensar, correctamente, os problemas que afectam as pessoas e as suas vidas, unir esforços e gerar consensos e compromissos para lhes procurar a solução possível.
Há problemas graves como a educação com sucesso futuro na escola e na família, a marginalidade juvenil, a instabilidade no trabalho, a insegurança de pessoas e bens, a crescente miséria material e moral, o decréscimo acentuado da natalidade, a instabilidade conjugal e familiar, o escandaloso clientelismo partidário, o poder incontrolável da comunicação social, a apatia dos jovens, frente a um futuro cada vez mais fechado, o desencorajamento e o pessimismo generalizados, a situação injusta e deprimente de muitos idosos que a família de sangue já “matou” e esqueceu, a loucura anestesiante do desporto por parte de gente que não o pratica, o aumento do custo de vida e das coisas essenciais, sem outro horizonte de que amanhã será pior, tudo problemas conhecidos, que não se compadecem com o marcar passo de discussões pouco menos que inúteis.
Não há saída para estes problemas se se passar o tempo a pôr rótulos e a aproveitar as situações mais difíceis e problemáticas, para ataques mútuos, sem uma acção conjunta que se enriqueça com as diferentes sensibilidades e propostas. Em quadrantes ideológicos diversos há gente séria e honesta, solidária e generosa, que quer colaborar na procura do bem comum, em aspectos bem concretos e difíceis do mesmo. O tempo é de acção orientada.
Quem tem mais púlpito nos meios de comunicação, sejam políticos ou outros agentes sociais privilegiados, nem sempre parece preocupado em abrir janelas para novos horizontes de vida e de acção. Há quem diga que é incultura. Não o será sempre.