quarta-feira, 15 de março de 2006

Um artigo de Jorge Pires Ferreira, no Correio do Vouga

Para não deixar sabotar o Concílio
"Talvez Bento XVI seja verdadeiramente o primeiro papa pós-conciliar. E isso pode ter várias interpretações: significar que o Concílio está devidamente assimilado, por-tanto não será preciso a ele voltar; ou significar que é preciso esquecê-lo, relegá-lo para um lugar secundário, voltar a trás ou, quem sabe, dar um passo em frente e convocar um Vaticano III." : (Para ler mais, clique aqui) :
"Vaticano II, 40 anos depois"
Organizador: Ângelo Cardita
Textos de: Ângelo Cardita, José Eduardo Borges de Pinho, José Carlos Carvalho e João Duque.
Ariadne Editora
156 páginas

Efeméride aveirense: Convento das Carmelitas

1905: Os aveirenses dirigiram-se a El-Rei, pedindo-lhe que obstasse à projectada demolição do Convento das Carmelitas, "que redundaria em ofensa ao amor com que a cidade quer respeitar as suas tradições e quanto lhas pode lembrar".
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Fonte Calendário Histgórico de Aveiro

Séneca: Citação

A Sabedoria e a Alegria
Vou ensinar-te agora o modo de entenderes que não és ainda um sábio. O sábio autêntico vive em plena alegria, contente, tranquilo, imperturbável; vive em pé de igualdade com os deuses. Analisa-te então a ti próprio: se nunca te sentes triste, se nenhuma esperança te aflige o ânimo na expectativa do futuro, se dia e noite a tua alma se mantém igual a si mesma, isto é, plena de elevação e contente de si própria, então conseguiste atingir o máximo bem possível ao homem! Mas se, em toda a parte e sob todas as formas, não buscas senão o prazer, fica sabendo que tão longe estás da sabedoria como da alegria verdadeira. Pretendes obter a alegria, mas falharás o alvo se pensas vir a alcançá-la por meio das riquezas ou das honras, pois isso será o mesmo que tentar encontrar a alegria no meio da angústia; riquezas e honras, que buscas como se fossem fontes de satisfação e prazer, são apenas motivos para futuras dores. Toda a gente, repito, tende para um objectivo: a alegria, mas ignora o meio de conseguir uma alegria duradoura e profunda. Uns procuram-na nos banquetes, na libertinagem; outros, na satisfação das ambições, na multidão assídua dos clientes; outros, na posse de uma amante; outros, enfim, na inútil vanglória dos estudos liberais e de um culto improfícuo das letras. Toda esta gente se deixa iludir pelo que não passa de falacioso e breve contentamento, tal como a embriaguez, que paga pela louca satisfação de um momento o tédio de horas infindáveis, tal como os aplausos de uma multidão entusiasmada - aplausos que se ganham e se pagam à custa de enormes angústias! Pensa bem, portanto, no que te digo: o resultado da sabedoria é a obtenção de uma alegria inalterável. A alma do sábio é semelhante à do mundo supralunar: uma perpétua serenidade. Aqui tens mais um motivo para desejares a sabedoria: alcançar um estado a que nunca falta a alegria. Uma alegria assim só pode provir da consciência das próprias virtudes: apenas o homem forte, o homem justo, o homem moderado pode ter alegria.
: Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
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Fonte: Citador

Um artigo de Alexandre Cruz

Opas grandes.
E os pequenos?
1. Nos últimos tempos as grandes Opas (operações públicas de aquisição), como estratégia económica dos grandes grupos, têm sido notícia destacada. São mais que milhões em jogo, corridas e silêncios na táctica de surpreender, grandes oportunidades para uns e fim de ciclo para outros. Tem-se ouvido mesmo que “nada será como dantes”, e que tais opas, as maiores de sempre na nossa economia, são sinal de vitalidade, retoma, mobilização criativa do nosso mercado… Duvidamos. Se é certo que o apurar contínuo da qualidade e exigência deverá fazer parte de qualquer instituição ou entidade (também da área financeira), já temos dúvidas que tais “trilhões” em jogo sejam esse sinal de vitalidade e reequilibro de vida dos portugueses. Mesmo pressupondo toda a saudável liberdade que também tem a sua expressão com equilíbrio na área económica, num ambiente em que o mercado corrige os exageros (quer de paralisantes proteccionismos ou de economicismos desumanos) parece-nos que esta crua “lei do mais forte”, qual combate na arena, acabará por criar cada vez “mais fracos”, semeando ainda mais desigualdades sociais. Mesmo para os leigos na matéria económica, para aqueles que nunca pisaram qualquer bolsa de valores e estão distantes na teoria das micro ou macro economias, a forte sensação de que cada vez são menos a terem mais e mais a terem menos é algo que deixa uma profunda inquietação. 2. O saber-se que, para além dos sempre possíveis excessos de endividamento de muitas famílias (também num ambiente de profunda instabilidade, dramática mesmo, no mundo do trabalho), a pobreza de uns é a riqueza dos outros é algo que se parece mais com um jogo de bola que propriamente com a vida e a dignidade das pessoas. Repare-se que no ano 2005 a banca cresceu, enriqueceu fortemente, facto a que não será alheio toda a gama de pormenores, vírgulas aliciantes capazes de captar, tantas vezes, a ilusão do cliente que ficará prisioneiro e altamente “jurado” por toda a sua vida. Opas, serão sinal de dinamismo económico para um progresso humano, justo e social? Não sabemos… Mas o que claramente sabemos é que serão os mesmos a crescerem ainda mais. Onde e como estão os outros, a classe média? É nela que vemos a verdade do país, é nela que percebemos a verdade sobre o desenvolvimento humano e social, e a este respeito as coisas não terão Opa instantânea que resolva. E os “pequenos”? Entre os muitos níveis, os daqueles que o são por própria cabeça (perguiçosamente e mal!) e os que heroicamente tudo fazem todos os dias para avançar na vida…, que dizem as opas de preocupação social com os mais “pequenos”? Que olhar inclusivo há para a verdade total da sociedade, ou trata-se só de ter mais lucro, dinheiro e poder? Os “pequenos” que sobrevivem em muitos dos “grandes” serão só para produzir sem olhar a meios dignos? E os “pequenos” com vícios de grandes ou que se deixaram ficar na praia a ver a vida a passar…sentirão este “safanão” como um forte impulso e desafio a agarrar cada dia presente como uma oportunidade a não adiar? 3. A forte aposta na qualificação e formação contínua de todos, certamente que quererá caminhar a par de uma ética da responsabilidade quer pessoal quer empresarial; só assim os desafios do presente construirão futuro, e os sinais de “impulso” da economia serão mesmo construção social, onde o mínimo de dignidade para cada um seja a realidade. Não é palavra oca, é a crua “outra face da moeda” também: que dirão as bem mais de duzentas mil pessoas que passam fome todos os dias das gigantes Opas. Que dirão as Opas (para além do seu próprio umbigo) da realidade social portuguesa e do seu maior compromisso social? Sem que isso signifique permissividade ao perguiçoso “deixar andar”, e mesmo naturalmente na valorização do mérito, haverá, contudo, mais algum espaço para uma maior distribuição dos bens entre todos na nossa economia? Com uma essencial e futurista finalidade: construir um ambiente sócio-económico onde haja mais equilíbrio entre todos. Se assim não for, a médio / longo prazo, não haverá nem dignidade (para os “pequenos”) nem mérito (dos “grandes”). Hoje, quando falamos de economia, falamos de pessoas, vidas, famílias…e, desse a volta que se lhe der, nunca haverá futuro num país / mundo onde que poucos têm quase tudo. O primeiro sinal de subdesenvolvimento é, precisamente, esse fosso e desequilíbrio entre ricos e pobres. Vale a pena pensar nisto!...

Uma correcta gestão da água

"ÁGUA, fonte de vida, património da humanidade"
Está a decorrer, até ao próximo dia 19 deste mês, a semana Cáritas, que este ano é subordinada ao tema «Água, fonte de vida, património da humanidade». Em declarações à Agência ECCLESIA Eugénio da Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa, sublinhou que esta "é uma ocasião para revitalizarmos a partilha de bens". Cada vez mais, os cristãos "têm a consciência que é um imperativo a atenção aos problemas dos irmãos". E acrescenta: "esta é uma das recomendações de Bento XVI na encíclica «Deus Caritas Est».
"O tema da água está em destaque nesta semana porque "não sei se todos têm consciência que estamos a falar de um recurso esgotável e indispensável à nossa sobrevivência" - disse o presidente da Cáritas.
Na linha de S. Francisco é-nos pedido que "conservemos a criação e a respeitemos". Devido à sua escassez, a água está a ser alvo "da cobiça por parte de particulares", mas esta tem de ser colocada "à disposição de todos" - referiu Eugénio da Fonseca. "Nós defendemos uma correcta gestão deste recurso" - esclareceu.
Comparando com outros países, Portugal é um privilegiado neste campo. Se não fossem os incêndios que têm fustigado o nosso país nos últimos anos e têm criado alguma desertificação, "existia uma maior abundância de água". E lamenta: "temos irmãos de outros países que são vítimas de longas secas".
Durante a semana decorrente, as várias cáritas diocesanas estão a realizar iniciativas: simpósios, assembleias de esclarecimento, recolha benévola de sangue e o peditório público que irá decorrer de 16 a 18 de Março. Actividades para assinalar esta semana que "está no coração da Quaresma" - finaliza Eugénio da Fonseca.
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Fonte: Ecclesia

terça-feira, 14 de março de 2006

FEIRA DE MARÇO

Feira de Março:
a maior festa da região
A secular Feira de Março, a maior festa da região de Aveiro, vem aí, para gáudio de quantos apreciam a alegria. O povo de Aveiro gosta da Feira de Março, com tudo o que ela tem, mesmo que seja quase sempre uma cópia das edições anteriores. A abertura, como habitualmente, é no dia 25 de Março.
Cá por mim, não deixarei de lá ir, quanto mais não seja para saborear uma fartura, já que durante o ano estou privado de doçuras.
Segundo consta, a Feira de Março vai ser animada, esperando-se, como é normal, a adesão das gentes das redondezas, e não só. Quando lá vou, costumo encontrar pessoas de longe, sinal de que a feira, afinal, é de todos.

Um artigo de António Rego

Os merceeiros globais
Ao ouvir eminentes mestres e executantes de economia na Semana Social de Braga, fui acometido duma frase que por vezes me visita: a ciência tem mais dúvidas que a fé. E se algumas vezes isso diz respeito às origens do mundo e evolução do cosmos, outras diz respeito ao homem, selecção única e irrepetível de milhões de hipótese expulsas do carreiro em direcção à vida. E quando o homem se combina, em afecto, em bando, em tribo, em comunidade social ou religiosa, mais complexa se torna - para não dizer impossível - essa ciência rígida sobre comportamentos e previsões.
Ao procurar explicações claras para todas as crises e casas sem pão, enreda-se na sua própria linguagem, mistura certezas com hipóteses, futuros com futuríveis. Mesmo nas barras e nos números. Eis um terreno minado pela surpresa constante dos mercados, pela mala às costas com que andam as empresas – como feirantes de rua – a ver onde se engana mais, se explora melhor, se compra barato e se vende mais caro. Para um sustentado crescimento económico – diz-se.
Tudo isso, segundo os tecnocratas, toma nomes empolgantes, modernos, inglesados, científicos, como se se tratasse da descoberta duma nova fórmula mágica que explica e resolve todos os problemas, menos os dos mais pobres, em todos os países do mundo.
Em grandes linhas, temos a experiência do mercado que cria leis, livremente, segundo o apetite dos compradores – inclusive de dinheiro, e esse outro que, inspirado em Marx, parecia, no papel, apaziguar algumas utopias sociais, mas que teve, como se sabe, um estrondoso desfecho de falência, com estilhaços que ainda andam por aí.
Continuam a esboçar-se mini sistemas. Alguns pedindo à economia o que ela menos gosta de dar: respeito pela pessoa, com ética a preceder a eficácia. O outro caminho é o da sacralização das regras cegas do mercado, salvando a economia e levando na frente quanto e quantos tenha de levar. Com total impotência para oferecer a cada ser humano o digno pão de cada dia.
É volumoso e duro o recente Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Reúne o pensar e o dizer do Evangelho com incursões pela economia de vários tempos incluindo o nosso. Marcando, com clareza, os terrenos da eficácia e as áreas sagradas da ética e do homem: “o destino universal dos bens está na base do direito universal ao uso dos bens… Trata-se dum direito natural, inscrito na natureza do homem… É inerente à pessoa, a cada pessoa, e prioritário a qualquer intervenção humana..” (nº172).
A economia não pode ficar entregue a contas de merceeiros globais… sem escrúpulos.

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