Ao ouvir eminentes mestres e executantes de economia na Semana Social de Braga, fui acometido duma frase que por vezes me visita: a ciência tem mais dúvidas que a fé. E se algumas vezes isso diz respeito às origens do mundo e evolução do cosmos, outras diz respeito ao homem, selecção única e irrepetível de milhões de hipótese expulsas do carreiro em direcção à vida. E quando o homem se combina, em afecto, em bando, em tribo, em comunidade social ou religiosa, mais complexa se torna - para não dizer impossível - essa ciência rígida sobre comportamentos e previsões.
Ao procurar explicações claras para todas as crises e casas sem pão, enreda-se na sua própria linguagem, mistura certezas com hipóteses, futuros com futuríveis. Mesmo nas barras e nos números. Eis um terreno minado pela surpresa constante dos mercados, pela mala às costas com que andam as empresas – como feirantes de rua – a ver onde se engana mais, se explora melhor, se compra barato e se vende mais caro. Para um sustentado crescimento económico – diz-se.
Tudo isso, segundo os tecnocratas, toma nomes empolgantes, modernos, inglesados, científicos, como se se tratasse da descoberta duma nova fórmula mágica que explica e resolve todos os problemas, menos os dos mais pobres, em todos os países do mundo.
Em grandes linhas, temos a experiência do mercado que cria leis, livremente, segundo o apetite dos compradores – inclusive de dinheiro, e esse outro que, inspirado em Marx, parecia, no papel, apaziguar algumas utopias sociais, mas que teve, como se sabe, um estrondoso desfecho de falência, com estilhaços que ainda andam por aí.
Continuam a esboçar-se mini sistemas. Alguns pedindo à economia o que ela menos gosta de dar: respeito pela pessoa, com ética a preceder a eficácia. O outro caminho é o da sacralização das regras cegas do mercado, salvando a economia e levando na frente quanto e quantos tenha de levar. Com total impotência para oferecer a cada ser humano o digno pão de cada dia.
É volumoso e duro o recente Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Reúne o pensar e o dizer do Evangelho com incursões pela economia de vários tempos incluindo o nosso. Marcando, com clareza, os terrenos da eficácia e as áreas sagradas da ética e do homem: “o destino universal dos bens está na base do direito universal ao uso dos bens… Trata-se dum direito natural, inscrito na natureza do homem… É inerente à pessoa, a cada pessoa, e prioritário a qualquer intervenção humana..” (nº172).
A economia não pode ficar entregue a contas de merceeiros globais… sem escrúpulos.