sexta-feira, 8 de julho de 2005

Igreja Católica cresce, mas tem menos padres

O “Instrumentum laboris” do Sínodo dos Bispos de Outubro apresenta os números da Igreja Católica no mundo, mostrando que há mais católicos, mas menos padres.No primeiro capítulo do documento, o balanço estatístico apresentado revela que o número de católicos no mundo aumentou em 15 milhões entre 2002 e 2003, chegando a um total de 1,086 mil milhões. É na África que se regista o maior crescimento, com um aumento de 4,5%, seguindo-se a Ásia (2,2%), a Oceania (1,3%) e a América (1,2%). A Europa não conheceu nenhuma flutuação de relevo, nesta matéria.
Os 250 Bispos que se vão reunir em volta do Papa, de 2 a 23 de Outubro, sabem que o mundo mudou e que o coração da Igreja se deslocou para a América, onde vivem quase metade dos católicos do Mundo - contra 25,8% na Europa, 13,2% em África e 10,4% na Ásia.Apesar de o número de Bispos ter crescido em 27,68% entre 1978 e 2003 (passando de 3. 714 para 4.742), os números distribuídos no “Instrumentum laboris” assinalam uma quebra de 3,69%, no número de padres nesse mesmo período (de 421.000 para 405.000).
Esse dado, quando cruzado com o aumento dos fiéis, mostra que o número de católicos por padre passou de 1.797 para 2.677, quebra de mais de 40%. O número de padres religiosos diminuiu bastante (13,3%) nesses 25 anos, acompanhando a quebra significativa de religiosos e religiosas no mundo (27,94% e 21,65% respectivamente).
No documento base enviado aos Bispos é sublinhado o papel dos missionários leigos e dos catequistas no mundo, representando um total de 172.331 e 2,8 milhões de pessoas, respectivamente.
Outro dado importante é o aumento do número de diáconos permanentes no período de 1978-2003 - 466,7%. A América e a Europa (que conta com um terço dos diáconos permanentes de todo o mundo) são os continentes em que esta realidade eclesial mais se expandiu.
Fonte: ECCLESIA

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Uma visão pessoal de João Paulo II e Bento XVI

À conversa com... a jornalista e escritora Aura Miguel
VP – A primeira questão não pode deixar de ser alusiva ao Papa João Paulo II, por ter estado com ele tantos anos. Conte-nos os conteúdos das conversas privadas com ele...
Aura Miguel (AM) – Os encontros pessoais com João Paulo II aconteceram em contextos muito diferentes. Um deles, a primeira vez, foi inserido numa visita Ad Limina, que os Bispos portugueses fizeram, em 1987, e que fui convidada a acompanhá-los. No final, quando o Papa cumprimentou toda a gente eu tomei a iniciativa de uma coisa que eu não sabia que não devia fazer: pedir um autógrafo ao Papa. Ele ficou muito divertido, pegou na Encíclica e saiu donde estava. Sentou-se, com a minha caneta na mão, aproximei-me e o Papa assinou. Entretanto houve uma série de peripécias: a caneta não escrevia e ele riu-se dizendo que ela estava viciada. Era uma caneta de tinta permanente, lá lhe expliquei como funcionava. Conversas não elevadas para ter com o Papa logo da primeira vez. Mas foi muito divertido porque, no fim, sabendo que tinha acabado de o acompanhar na Viagem à Polónia, disse-me: “Olhe que eu viajei à Polónia, mas viajo pelo mundo inteiro”. E para mim isto foi como uma profecia. Desde aí nunca mais deixei de viajar com ele e fiz 51 viagens. Depois, durante as viagens, voltei a vê-lo porque ele gostava de falar com os jornalistas no avião. Aí não eram encontros privados, mas tive a oportunidade de lhe fazer perguntas, que já estão referidas nos meus livros. São momentos inesquecíveis.
(Para ler toda a entrevista, clique aqui)

Um artigo de D. António Marcelino

Toquem sirenes e repiquem sinos a rebate
Quando há cerca de trinta anos, ainda na euforia de uma revolução mal digerida, a obsessão de nacionalizar tudo chegava a querer nacionalizar também as pessoas, uma assembleia, a nível nacional, de pais de alunos das escolas do Estado, cresceu ao rubro e gritou aos responsáveis da política e do ministério: “Os nosso filhos não são cobaias. Basta. Os pais somos nós, não é o Estado!” O grito de revolta e de indignação fez tremer aqueles a quem se dirigia e as decisões, já anunciadas, pararam por ali.
A tendência estatizante no ensino não terminou, porque a semente ficou lá dentro de casa, ora calada, ora assomando no terreno, como que a experimentar se já pode avançar e impor-se, criando situações de facto, mais ou menos irreversíveis. Vemo-lo todos os dias e, agora, de modo mais concreto e assumido, com a protecção de forças que dão a cara e que, parecendo exteriores, germinaram dentro de um sistema que lhes é familiar.
Caiu-me, ontem mesmo, debaixo dos olhos o relato de uma intervenção do membro mais responsável da Confederação das Associações de Pais (Confap), que dizia, em entrevista a um canal de televisão: “ Temos de assumir, entre todos nós, que os filhos são biologicamente nossos, mas socialmente de toda a comunidade”. Assim parece querer defender que compete, sem mais, ao Estado definir o “modelo educativo” para os cidadãos. Aos pais restará apenas o papel de serem “produtores de crianças”. Uma tal opinião, bem pouco lúcida, contradiz, não apenas o bom senso, porque ninguém pode tirar aos pais o direito de educarem os filhos que geraram, mas, também, a Declaração dos Direitos do Homem e da Criança e, para não ir mais longe, contradiz a nossa própria Constituição.
Que o Estado vele pelo currículo escolar, bem pensado e definido, e o torne paradigma obrigatório para o conjunto da população e para o reconhecimento oficial de competências, está certo, contanto que não asfixie, mas favoreça, a mais séria capacidade inovadora de pessoas, grupos e instituições, testada no seu valor presente e futuro. Definir, porém, um “ modelo educativo” único e sem apelo, impô-lo aos educandos, aos pais e aos cidadãos em geral, é um abuso que se deve denunciar, sem meias palavras.
O Estado nunca foi nem pode ser um bom educador, porque não tem coração; e não há educação sem afecto. Lamentavelmente, muitos a quem se paga para educar, estão eles próprios ressequidos de amor e de afecto e muitos políticos, dos mais responsáveis a todos os níveis, dão, no seu dia a dia, um péssimo exemplo ao país pela sua linguagem, gestos, sentimentos e atitudes, mormente quando se referem aos seus adversários. O teimar em fechar as portas a quem tem o direito de as ter abertas para uma participação pessoal e responsável, denuncia fraqueza do sistema e medo de concorrência. O Estado, enquanto tiver a sua razão apenas na força do poder, não construirá nunca uma comunidade de pessoas livres.
A nacionalização das crianças em Moçambique, enviadas depois para Cuba e para o leste comunista, foi uma experiência infeliz e dolorosa, que deixou feridas que ainda não sararam. A estatização é uma bola de neve que não pára, se não é desfeita a tempo.
A preocupação é maior ao vermos quem tem obrigação de incarnar e defender os direitos dos pais e ajudá-los a capacitarem-se para um missão que não se aliena, reduzir estes a meros reprodutores de crianças. Só falta a recomendação de gerarem poucas, porque os tempos vão maus e o “deficit” não permite desperdícios…Toquem sirenes e repiquem sinos a rebate. É preciso que os pais acordem, vejam o que se está passando e gritem, de novo, que os seus filhos não são cobaias.

A escola pública não traduz o pluralismo educativo

No “PÚBLICO”, Mário Pinto, professor universitário, abordou a questão do Estado Educador, com a frontalidade que lhe é conhecida. Aqui deixo aos meus leitores um excerto do artigo que escreveu, como mais uma achega para a reflexão que se impõe sobre a educação. “Quando a educação se torna monopólio de Estado, sejamos claros, não estamos em democracia civil e cultural, mas sim numa (pseudo)democracia formalmente político-institucional e realmente ideológica. Pode o Estado não se definir às claras como Estado de Cultura ou luta cultural e como Estado-Educador; mas inviamente recusa-nos uma real democracia pluralista cultural e educativa. Não foi o actual Presidente da República que (a meu ver, muito bem) nos deu, no seu discurso do último 25 de Abril, a ideia de que há ilhas de totalitarismo na nossa democracia? Pois bem: em matéria de educação, o monopólio da escola pública não autónoma pode pretender autolegitimar-se em nome do pluralismo, do neutralismo, do igualitarismo ou de outro qualquer ismo, pouco importa. O que sempre será é uma ilha de totalitarismo de Estado na democracia pluralista. Porque uma Administração Pública de um sistema monopolista de escolas públicas não autónomas (como é o caso do ensino básico e secundário obrigatórios) nunca poderá traduzir o pluralismo educativo, porque não pode incluir pela afirmativa projectos pedagógicos de escola que sejam directamente escolhidos pelos cidadãos, únicos titulares constitucionais da liberdade de aprender e de ensinar: pais, alunos e professores.”

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Um artigo de António Rego

A pura perda de tempo
Será patriótico falar de repouso num momento complexo em que todo o trabalho é pouco para a recuperação económica do país? Fará sentido falar de entretenimento quando parece que toda a sociedade mediática se atravessa na vida das pessoas com o livre trânsito do espectáculo e do divertimento, por vezes desbragado, como o primeiro dos bens?
Oportuno foi o tema nas Jornadas Culturais que decorreram em Fátima, onde parecia, de início, travar-se o choque entre cultura e entretenimento. E todavia foi interessante a reflexão trazida por alguns mestres que recordaram as olimpíadas gregas, os teatros romanos, os espectáculos de coliseu com gladiadores, jogos sanguinários, e a lista de divertimentos que, com algumas variantes, se repetem nos tempos modernos com os mesmos mecanismos lúdicos, culturais, massivos, espectaculares e, por vezes, morais e imorais.
E por aí adiante, nos tempos. As tertúlias, as conversas de corte e costura, os contos, fábulas, as acrobacias de circo ou atletismo, os livros, a música, a dança, as viagens, os jogos, a pausa. Há divertimentos nobres e vilões, outros, diferentes no invólucro, e próximos no miolo. O pão e o circo nunca estiveram longe das necessidades primárias do homem, não como interregno dos seus momentos mais nobres, mas como elemento integrante do seu todo. Assim sendo, é tão importante para o homem o lazer como o trabalho. Foi nessa integração que dançou David, ou que os peregrinos entoam canções no seu caminhar, e os soldados se exaltam ao toque das marchas militares e gritos de guerra. Os técnicos chamam-lhe catarse, descarga e impulso para o recomeço... Gostaríamos de mais saber o que foi o descanso de Deus no sétimo dia…
Não se trata duma patologia. O entretenimento, o repouso, o ócio são uma saudável distensão de tempo. Quando falamos de férias, juntamos por vezes uns ligeiros pós de auto-figurino ao interregno do trabalho. O importante é que sejam mesmo diferentes do trabalho. Para não termos de preencher dolorosamente uma agenda que nos tranquilize o laborioso cumprimento do repouso. A pura perda de tempo não é um vício. É uma etapa do recomeço. E um acto de cultura.

terça-feira, 5 de julho de 2005

Sentido de Estado dos políticos

Desde sempre me habituei à ideia de que os governantes devem ter “sentido de Estado”, isto é, gestos e atitudes compatíveis com os altos lugares que ocupam. Infelizmente, nem sempre isso se vê entre nós, com alguns políticos a comportarem-se como banais carroceiros, dando mau exemplo aos governados. Se quem está em cima se porta com grosseria, nunca pode esperar respeito e consideração dos governados. Em Portugal, temos um exemplo deste tipo de políticos que não medem as palavras e os actos, que não pensam no que dizem em público, que não pesam as consequências das afirmações ridículas que proferem perante tudo e todos. É ele o Presidente da Região Autónoma da Madeira, Alberto João Jardim, conhecido como um indivíduo desbocado e inconveniente, sobretudo quando fala Portugal continental e dos políticos do continente. E o mais curioso é que o faz, normalmente com a complacência e cumplicidade das mais altas figuras do Estado, que por norma se calam. Se o que ele diz fosse dito por um normal cidadão, é certo e sabido que seria preso na hora. Alberto João Jardim pode dizer, neste país de brandos costumes (em especial para a classe política), o que quer e o que lhe apetece, que nada lhe acontecerá. Até parece que os mais altos representantes do poder têm medo de o chamar à ordem. Agora, na habitual festa preparada para o Presidente da Madeira mandar as suas “bocas” ridículas e ofensivas, o homem resolveu mostrar que é xenófobo e racista, com um desplante incrível. Não quer na Madeira chineses e indianos, nem os de Leste, que estão a fazer concorrência a Portugal. Seria bonito se os emigrantes madeirenses, às centenas de milhares, fossem expulsos dos países em que se encontram a trabalhar e a viver. Face ao silêncio cúmplice de algumas autoridades políticas, o Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, o padre Vaz Pinto, resolveu repudiar as afirmações ofensivas e baratas de Alberto João Jardim, esperando-se agora que se cumpra a lei portuguesa, que proíbe a discriminação racial e étnica. Todos os portugueses que aprenderam a respeitar toda a gente, independentemente da sua raça ou nacionalidade, ficam à espera de alguém que, no nosso país, chame à pedra o Presidente madeirense. Fernando Martins

Moçambique, Filha-Pátria de Naguib Elias

Entre Nós” é um programa da Universidade Aberta para a 2:. Raquel Santos é o rosto de belíssimos momentos culturais. Por ali têm passado escritores, nomeadamente prosadores e poetas, e músicos, artistas plásticos, investigadores, entre outras pessoas ligadas a variadas formas de expressão. Hoje, assisti ao programa que nos ofereceu o pintor moçambicano Naguib Elias Abdula, já condecorado pelo Presidente Jorge Sampaio. De facto, foi bom ver e ouvir a simplicidade do artista, que não tem ambições de riqueza pessoal, mas cultiva uma certa doação aos outros. Em especial ao seu país, que baptizou de Filha-Pátria. Para o artista, Moçambique foi a sua Mãe-Pátria que tudo lhe deu, em especial de sensibilidade e de cultura que o marcaram para a vida. Agora, que o pintor já tem 50 anos de vida, chegou o momento de lhe retribuir o que dela recebeu, como se fora filha que é preciso ajudar. Gostei desta imagem que o pintor nos ofereceu da sua pátria, velha Nação e jovem Estado, que ainda não deixou a situação de um dos mais pobres países do mundo. E gostei, porque a sua lição pode servir-nos a todos, portugueses, como exemplo, que só exigimos de Portugal, como se exige de um pai ou mãe. O Pai-Portugal, ou Mãe-Portugal, a quem continuamos a pedir tudo e mais alguma coisa, como se não pudéssemos viver a nossa vida, como gente adulta e responsável. O Presidente John Kennedy, num dos seus célebres discursos, recomendou um dia aos americanos que não perguntassem aos EUA o que é que o país lhes poderia dar, mas o que é que eles poderiam oferecer ao seu país. Assim mesmo. Naguib veio mostrar, de forma muito simples mas muito concreta, que nada espera de Moçambique, porque chegou a hora de tudo lhe dar. Por isso, divulga o seu país, apoia jovens na sua fase inicial de criação artística, promove os artistas adultos, seus compatriotas, no mundo que frequenta, avança com iniciativas de ajuda aos que, doentes, não têm meios de subsistência, procura a aproximação entre Moçambique e outros países, lusófonos e não só. Bom exemplo, este de Naguib Elias. Fernando Martins

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