domingo, 8 de outubro de 2017

A nossa gente: Mestre Vareta


Neste mês de outubro, em que se assinala o 16.º Aniversário da Ampliação e Remodelação do Museu Marítimo de Ílhavo, dedicamos a rubrica “A Nossa Gente” a José Rodrigues Vareta, também conhecido por “Mestre Vareta”.
Nascido na Gafanha da Nazaré, a 24 de outubro de 1930, o Mestre Vareta estudou na Escola Primária da Chave, onde estudou até à 4.ª classe. Com apenas 14 anos de idade, começou a trabalhar como ajudante de Carpinteiro Naval nos antigos Estaleiros Mónica, empresa de referência na construção de navios da frota bacalhoeira nacional.
Tornou-se, depois, Carpinteiro Oficial passando pelas suas mãos navios como o “Condestável”, o “Lutador” ou o “Inácio Cunha”, destacando o “Celeste Maria” e o “Ilhavense” como muito especiais. Tempos bons aqueles em que via partir os navios para a Faina Maior, a pesca do bacalhau à linha praticada por homens e navios portugueses durante os séculos XIX e XX, regressando meses mais tarde, abastecidos de bacalhau, ao Cais dos Bacalhoeiros, na Gafanha da Nazaré, onde, sempre que podia, os ia apreciar.
Reformado desde os 65 anos, passou a dedicar-se à construção de miniaturas de barcos e outros apetrechos de madeira, autênticas réplicas de navios bacalhoeiros, dos seus dóris e de diversos utensílios usados pelos pescadores, como o foquim ou a bilha
O Mestre Vareta estará para sempre ligado à Sala da Faina Maior Capitão Francisco Marques do Museu Marítimo de Ílhavo: fez parte do grupo que construiu, em tamanho real, o belo iate da pesca do bacalhau que se encontra no centro daquela sala, representando um navio típico das primeiras décadas do século XX.
Talhado a meia água ou pelo limite inferior do convés, permite aos visitantes ir a bordo e tocar todos os elementos materiais que faziam parte da grande faina. Foi um desafio lançado pelo Capitão Francisco Marques que José Vareta aceitou com muito orgulho, recordando o antigo Diretor do Museu Marítimo de Ílhavo como “um homem com muitos conhecimentos, muito saber e muito simples”.
Com quase 87 anos de uma vida preenchida, o Mestre Vareta continua a fazer aquilo que mais gosta, laborar minuciosamente a madeira, imprimindo arte e amor nas suas peças e recordando, com saudade, histórias da sua vida profissional, tendo sempre como premissa manter-se ativo e útil.

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI, mês de outubro.

Nota: Congratulo-me com a distinção atribuída a Mestre Vareta, que conheço desde sempre. Era eu jovem, quando o mestre veio residir para bem perto da minha família. Sempre o vi e apreciei como um homem sereno, trabalhar e respeitado por toda a gente. O  mesmo fazia ele em relação a todos. 
A vida dá sempre muitas voltas e o Mestre José Vareta mudou-se para o lugar da Chave, onde ainda vive. E reformado, não descurou a seu gosto pela carpintaria naval, construindo agora miniaturas, como refere a agenda "Viver em..." da CMI. Entrevistei-o há meses e gostei de o ver como sempre o vi: feliz com a vida que Deus lhe tem dado. Ele merece. Um abraço de parabéns.

Ler a entrevista que ele me concedeu aqui 

Fernando Martins

sábado, 7 de outubro de 2017

Liga Portuguesa Contra o Cancro anuncia peditório anual


Como tem sido costume, a Liga Portuguesa contra o Cancro – organização não-governamental, declarada de utilidade pública e sem fins lucrativos – vai realizar o seu tradicional peditório público, nos próximos dias 01, 02, 03, 04 e 05 31 de novembro, para prosseguir a sua ação beneficente. O seu principal objetivo é o apoio aos doentes oncológicos e às suas famílias, mas também a promoção da saúde, a prevenção do cancro e o estímulo à formação e investigação em oncologia. Trata-se de uma iniciativa que a todos deve dizer respeito, já que todos, também, direta ou indiretamente, estamos ligados a esta terrível doença, cuja cura tarda em aparecer.

Ares do Outono - folhas secas



O outono da minha infância pouco ou nada me diz. O verão tinha deixado marcas  de calor  que perduravam no corpo e no espírito. Só o inverno nos acordava para a tristeza da vida. Mas hoje já não é assim. Com as folhas caídas e árvores despidas  vem a certeza da finitude  dos seres vivos. 
Hoje pisei a relva com marcas de decadência, mas foram as folhas secas da nogueira que me convidaram registar esta mensagem. Outras se seguirão em Ares do Outono

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

MaDonA — O Dia Mundial do Sorriso


A cada passo, nos cruzamos com pessoas de rosto crispado, que parecem estar de mal com Deus e com o mundo. São incapazes de esboçar um sorriso, ao seu semelhante, (Será que paga imposto?) como se vissem em cada pessoa, um adversário, um inimigo. Por isso, resolvi debruçar-me sobre o tema.  
O Dia Mundial do Sorriso, conhecido como World Smile Day foi criado em 1999, sendo celebrado, na primeira sexta-feira de outubro. Deve-se a Harvey Ball, um artista de Worcester, Massachussets, sendo esta imagem do smiley, reconhecida internacionalmente. Um ícone, profusamente, usado por todos. 
Já que rir é a melhor terapia, a mais económica, ao alcance de todos, o sorriso abre-lhe a porta, de par em par. 
Pode ter múltiplos sentidos: desde o sorriso acompanhado de um piscar de olhos, como o do JRS no Telejornal, ao sorriso de cumplicidade, num aceno/intenção de conquista, ao sorriso amarelo de ironia, desdém, conveniência, até ao sorriso genuíno e cândido de uma criança que cativa e cria, imediatamente, empatia nas pessoas. 

Anselmo Borges — Francisco sobre: 3. a Igreja e a alegria



Continuo com os diálogos do Papa Francisco e de Dominique Wolton: Politique et société. Quando se fala da Igreja, pensa-se logo na instituição e nos dirigentes: papa, bispos, padres... Ora, acentua Francisco, "a Igreja somos nós todos." "Há os pecados dos dirigentes da Igreja, com falta de inteligência ou que se deixam manipular. Mas a Igreja não são os bispos, os papas e os padres. A Igreja é o povo. O Vaticano II disse: "O povo de Deus, no seu conjunto, não se engana." Se quiser conhecer a Igreja, vá a uma aldeia onde se vive a vida da Igreja. Vá a um hospital onde há tantos cristãos que vêm ajudar, leigos, irmãs... Vá a África, onde se encontram tantos missionários. Não para converter - era noutros tempos que se falava de conversão -, mas para servir."

O que é que mais o toca? "Há tanta santidade. É uma palavra que quero utilizar na Igreja hoje, mas no sentido da santidade quotidiana, nas famílias... Quando falo desta santidade ordinária, que já designei como a "classe média" da santidade..., sabe qual é a imagem que me vem ao espírito? O Angelus, de Millet. A simplicidade desses dois camponeses que rezam. Um povo que reza, um povo que peca e depois se arrepende dos seus pecados. Há uma forma de santidade oculta na Igreja. Há heróis que partem em missão. Alguns sacrificaram a sua vida. É isso que me toca mais na Igreja: a sua santidade fecunda, ordinária. Essa capacidade de tornar-se santo sem se fazer notar."

Por isso, Francisco tem medo da rigidez. "Por detrás de cada rigidez há uma incapacidade de comunicar. Pense nesses padres rígidos que têm medo da comunicação, pense nos políticos rígidos... É uma forma de fundamentalismo. Quando me aparece uma pessoa rígida, e sobretudo um jovem, digo imediatamente a mim próprio que está doente. O perigo é que procuram a segurança... Não sabem, sentem-no. Vão, portanto, procurar estruturas fortes que os defendam na vida." Temos então o tradicionalismo, o medo da novidade, do diálogo. Ignoram que a tradição, para ser viva, tem de estar em movimento. "Como cresce a tradição? Cresce como uma pessoa: pelo diálogo, que é como a amamentação para a criança. O diálogo com o mundo que nos rodeia. Se não se dialoga, não se pode crescer, fica-se fechado, pequeno, um anão. Não posso contentar-me com caminhar com palas, devo olhar e dialogar. Dialogando e escutando outra opinião, posso, como no caso da pena de morte, da tortura, da escravatura, mudar o meu ponto de vista. Sem mudar a doutrina. A doutrina cresceu com a compreensão. Isso é a base da tradição. Ao contrário, a ideologia tradicionalista tem uma fé como isto [faz o gesto das palas]: na missa, a bênção deve dar-se desta maneira, os dedos devem colocar-se deste modo, como se fazia antes... O que o Vaticano II fez com a liturgia foi algo enormíssimo. Porque abriu o culto de Deus ao povo. Agora, o povo participa." Aqui, digo eu: o cardeal Robert Sarah que não pense que vai pôr outra vez a missa em latim, com o padre de costas para o povo...

Neste contexto, põe-se a pergunta: os divorciados recasados podem comungar? "Há o que eu fiz, depois de dois sínodos: a exortação "A Alegria do Amor"... É algo claro e positivo, que alguns com tendências ultratradicionalistas combatem, dizendo que não é a verdadeira doutrina. Quanto às famílias feridas, eu digo lá que há quatro critérios: acolher, acompanhar, discernir as situações e integrar. Abre-se um caminho de comunicação. Perguntam-me: "Mas pode dar-se a comunhão aos divorciados?" Respondo: "Falai com o divorciado, falai com a divorciada, acolhei, acompanhai, integrai, discerni!" Infelizmente, nós os padres estamos habituados a normas congeladas, fixas. E ouve-se dizer: "Não podem receber a comunhão." Que não, não e não. Este tipo de proibições é o que encontramos no drama de Jesus com os fariseus. A mesma coisa!"

Neste enquadramento, porque "a misericórdia é um dos nomes de Deus - se eu não aceito que Deus é misericordioso não sou crente" -, todos os padres, incluindo os lefebvrianos, podem agora absolver o pecado do aborto. "Atenção! Isto não significa banalizar o aborto. O aborto é grave, um pecado grave. É o assassínio de um inocente. Mas se há pecado é necessário facilitar o perdão."

O cristianismo "não é uma ciência, uma moral, uma ideologia, uma ONG: o cristianismo é um encontro com uma pessoa. É a experiência da estupefacção, da maravilha espantosa de ter encontrado Deus, Jesus Cristo, é isso que me deixa estupefacto". Por isso, "não se pode ensinar a moral com preceitos como: "Não podes fazer isto, deves fazer isto, tu deves, tu não deves, tu podes, tu não podes." A moral é uma consequência do encontro com Jesus Cristo, uma consequência da fé, para nós os católicos. E para os outros a moral é uma consequência do encontro com um ideal, ou com Deus, ou consigo mesmo, mas com a melhor parte de si mesmo. A moral é sempre uma consequência". Assim, é inconcebível uma Igreja afastada das pessoas. "A Igreja de Jesus Cristo tem de estar ligada ao povo. O contrário seria fazer como alguns políticos que se interessam pelas pessoas durante as campanhas eleitorais e depois as esquecem. Para mim, a proximidade, mesmo na vida pastoral, é a chave da evangelização... Quando quero transmitir algo a alguém, devo esforçar-me por pensar que estou diante do mistério de uma outra pessoa."

Wolton: "Que palavras do seu pontificado quereria ver retidas?" Francisco: "A palavra que mais utilizo é a "alegria". Uso muitas vezes a "ternura", a "proximidade". Aos padres digo: "Por favor, sede próximos das pessoas." Aos bispos digo: "Não sejais príncipes, senhores, sede próximos das pessoas, dos padres." Também a "oração", rezar no sentido de estar diante de Deus" e fazer silêncio e meditar, no meio de uma sociedade do ruído, do "rapidão".

Anselmo Borges, no Diário de Notícias 


Georgino Rocha — Chamados a dar bons frutos na vinha do Senhor

Jesus encontra-se, em Jerusalém, na esplanada do Templo. Vive dias de enorme tensão. Os adversários apertam o cerco para o eliminar. Só o medo da reacção popular serve de contenção. A vinha, figura bem conhecida pelos ouvintes, constitui ponto de partida para nova mensagem, directa e provocante, aos sumos sacerdotes e aos anciãos. A narração de Mateus é sóbria, sem floreados, para evidenciar o que está em causa. E Jesus quer deixar claro o contraste entre o proceder de Deus e a atitude dos dirigentes de Israel, ali representados pelos funcionários do culto.

O rosto de Deus surge bem traçado nos gestos do dono da vinha. Ele faz tudo por ela: prepara a terra e planta-a com cuidado, ergue uma sebe de protecção, constrói um lagar para a recolha das uvas, levanta uma torre de vigia e confia-a a uns trabalhadores vinhateiros. Com esta descrição, Jesus realça a solicitude de Deus para com Israel, o povo eleito. Faz uma leitura dos factos acontecidos ao longo da história. Retoma a perspectiva de Isaías, hoje lembrada na primeira leitura: “A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida”. Retoma e redimensiona o seu alcance. A atitude final do dono da vinha não é de retaliação aos trabalhadores nem de destruição da vinha. Mas da sua opção definitiva: chamar outros para a cuidarem com diligência a fim de darem frutos de qualidade.

O amor à sua vinha surge na paciente espera, na diligente procura, no risco assumido, na clemência usada, na persistência confiante, na vontade positiva de levar por diante o seu projecto de salvação com a colaboração de todos. De facto, Jesus apresenta um Deus que é desconcertante. Como não haveriam de reagir aqueles fiéis judeus habituados a um outro rosto de Deus, a uma outra linguagem religiosa? E nós, sentimo-nos envolvidos na parábola dos trabalhadores da vinha?!

Isaías prossegue, dizendo: “Ele esperava rectidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror”. É uma leitura que, infelizmente, ainda hoje se pode fazer. Em muitas situações, nem sequer são nomeadas estas duas características maiores do agir humano, da ética familiar e social, da moral cristã. E parece campear a mentira, ainda que disfarçada, a corrupção provocada, a desigualdade assumida. “Sede juízes entre mim e a minha vinha”, clama Isaías, dando voz ao dono que se interroga: “Que mais podia ter feito?”.

A carta aos cristãos de Filipos, na Grécia, traça o retrato de quem deixa que Deus seja o dono do seu coração: ama o que é verdadeiro e nobre; justo e puro; amável e de boa reputação; e, em jeito de conclusão, adianta: tudo o que é virtude e digno de louvor é o que deveis ter no pensamento. E para os persuadir ainda mais, Paulo acrescenta: “O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o que deveis praticar”. O apóstolo que havia evangelizado a cidade e gerado para a fé aqueles cristãos, ousa dizer-lhes: segui o meu exemplo, lembrai-vos de como me comportei no meio de vós. Belo testemunho para nós hoje. Oxalá sintamos a provocação que faz ao nosso estilo de vida que devia suscitar desejos de imitação por parte de quem procura a verdade do Evangelho.

A Rede Mundial de Oração, ligada aos Jesuítas, divulga a intenção do Papa Francisco para este mês de Outubro que se pode resumir a “recordar sempre a dignidade e os direitos dos trabalhadores, a denunciar as situações nas quais se violam esses direitos, e a ajudar no que contribua para um autêntico progresso do homem e da sociedade”. E insiste que é um dever de todos. Na vinha do Senhor há lugar para cada um. A importância do trabalho está sobretudo em ser o meio privilegiado de realização humana e fonte de provisão pessoal e familiar, de contribuição para o bem de todos, designadamente a empresa empregadora. O Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa e do Movimento Eucarístico Juvenil (MEJ), padre Fréderic Fornos, jesuíta, lembra que o tema do emprego é “um dos principais desafios para os próximos anos. É algo sobre o qual o mundo da política e a sociedade devem trabalhar em conjunto para encontrar soluções sustentáveis e de longo prazo”. E reforça o pedido do Papa Francisco.

A 7 de Outubro, ontem, ocorreu a Jornada Mundial pelo Trabalho Digno em vários locais de Portugal com um objectivo bem definido: incentivar e consciencializar as comunidades cristãs, autarquias, governo, sindicatos, comissões de trabalhadores e organizações empresariais “a colaborar para colocar no centro a pessoa e a sua humanização”. E como justificação aduz que “o trabalho é um dom e um projeto de humanização imprescindível para a construção da sociedade e para a realização humana e não apenas uma fonte de remuneração”. Objectivo semelhante surge na abertura do Ano Apostólico. Todos têm capacidades a desenvolver para bem das pessoas e das suas associações, dos movimentos, da paróquia e da diocese. A parábola de Jesus afirma que o dono da vinha faz o arrendamento aos trabalhadores durante um certo tempo. Depois quer receber os frutos. Agora é a nossa vez. Este é o nosso tempo. João Almiro, casado e pai de 7 filhos, o fundador da “Casa das Andorinhas” para acolher e recuperar pessoas com toxicodependência, mulheres prostitutas, alcoolizados e outros excluídos sociais, farmacêutico de profissão em Campo de Besteiros, Tondela, deixa um bilhete no bolso das calças como testamento espiritual: “Vivo feliz e tranquilo, aguardando ser chamado ao encontro com Deus, com o coração cheio de amor e serviço que dei e que também recebi, sem me preocupar em demasia com a conta bancária». Escreveu-o aos 89 anos e morre aos 91, no passado dia 28 de Setembro. É a vinha do Senhor no seu melhor.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

5 de Outubro — Independência de Portugal e implantação da República

Tratado de Zamora

Proclamação da República

O 5 de Outubro assinala dois acontecimentos especiais e justificativos de celebração. Em 5 de outubro de 1143 foi assinado o Tratado de Zamora que estabeleceu a paz entre D. Afonso Henriques e seu primo, Afonso VII, rei de Leão e Castela. A partir daí, D. Afonso passa a assumir-se como Rei de Portugal, embora o reconhecimento do Papa tenha surgido somente em 1179. 
O outro acontecimento refere-se à implantação da República, no ano de 1910, que pôs termo à Monarquia. Celebra-se como feriado apenas esta efeméride, mas seria justo evocar festivamente o célebre tratado, pois sem ele talvez fôssemos hoje uma nação integrada na Espanha, tal como aconteceu com a Catalunha. Admito isso como mera hipótese, já que o mundo ao longo dos séculos deu muitas voltas, conseguindo Portugal, afinal, impor a sua identidade e independência. 
Acontece que estas datas passam, por norma, desligadas do quotidiano do nosso povo, que goza tão-só um dia de descanso, sem qualquer celebração promovida pelas entidades oficiais, para além das que se realizam na capital do país. Então, permitam-me que sugira apenas umas leituras alusivas às duas efemérides. Digo duas, porque sem a primeira nunca teria lugar a segunda.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ria de Aveiro em dia de movimento






Ontem, num momento de cavaqueira com um amigo no parque de estacionamento do ferryboat, no Forte da Barra, presenciei o movimento febril de pescadores na laguna que nos separa de São Jacinto. Parecia uma corrida de barquinhos a motor, de um lado para o outro, decerto a arrastarem linhas com anzóis com isco na ponta. A distância não deu para saber se pescaram muito ou pouco, mas pelo número de barcos concentrados bem à vista de todos, posso imaginar que estariam em zona de pesca abundante, talvez pela serenidade das águas ou por tantas razões que eu não sei distinguir. Sei, pelo que tenho ouvido dizer, que a pesca tem muito que se lhe diga, nomeadamente em horas certas das marés. Importa, apesar disso, realçar o espetáculo dos barquinhos a motor num vaivém constante a velocidades aceleradas, muito longe de quem simplesmente passeia. 
Um porta-contentores e outros barcos de porte superior aos de pesca também encheram a paisagem lagunar para delícia dos que, como eu, vibram, nem sei bem porquê, com o espetáculo da nossa cantada Ria de Aveiro, a qualquer hora do dia. Espetadores não faltaram. 

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Vamos libertar o amor que há dentro de nós




Enquanto aguardava a minha vez de votar para as autárquicas na Escola Preparatória da Gafanha da Nazaré, no domingo, 1 de outubro, ao mesmo tempo que cumprimentava quem saía e entrava na sala, apreciei o cartaz que ilustra esta mensagem. Pelo seu peso e medida na educação dos jovens alunos e dos adultos, nomeadamente professores e outros colaboradores, bem como pais e visitantes, resolvi fotografar o princípio básico que toda a gente devia seguir nos relacionamentos humanos, que se consubstancia no respeito integral pela defesa do bem, da verdade e da justiça. De mãos dadas, como grande família, vamos acabar com o ódio e libertar o AMOR que há dentro de nós.

Romagem à Senhora de Vagos em 5 de outubro


Promovida pela ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré), vai realizar-se, no próximo dia 5 de Outubro, feriado nacional, a já tradicional romagem à Senhora de Vagos, em jeito de homenagem aos nossos antepassados que da zona de Vagos vieram para os areais da Gafanha.
A partida, de bicicleta, está marcada para as 10 horas, junto ao Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, agora denominado Fábrica das Ideias. A cerimónia, no Santuário de Santa Maria de Vagos, será pelas 11h30. Nela, atuarão o grupo de Fados de Coimbra “Portas de Água” e o Coral da Universidade Sénior da Gafanha da Nazaré.
A ADIG sugere que os romeiros também podem deslocar-se de carro, facilitando o transporte de pais e avós e de outras pessoas. Aquela associação lembra ainda a todos os participantes que será conveniente levar farnel para almoçar no recinto.

Ler Santa Maria de Vagos na história e na lenda

domingo, 1 de outubro de 2017

Portugal eleito melhor destino europeu

Recanto do Jardim Oudinot

«Portugal ganhou, pela primeira vez, o prémio de melhor destino europeu dos World Travel Awards, os 'óscares do Turismo' numa cerimónia que decorreu hoje, em São Petersburgo, na Rússia.
Presente na cerimónia, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, comentou que receber esta distinção inédita "é uma honra e um grande orgulho" e mostra que "todo o país é um ativo incrível e motivo de visita".
Para a governante, o prémio é resultado do "empenho de todos em tornar Portugal um destino turístico de excelência, com uma diversidade de oferta única e que se estende por todo o território".»


NOTA: Mais uma vez, Portugal é referenciado pelo World Travel Awards como um país de nível superior na área do Turismo, o que representa uma mais-valia para a imagem deste recanto à beira-mar plantado, no dizer do grande Camões. O Turismo prova assim que é, para nós, uma enorme fonte de rendimento e de emprego para imensa gente. Resta saber, contudo, se as remunerações são compatíveis com o esforço despendido pelos trabalhadores. 
Para já, olho com inegável interesse para esta classificação que nos coloca no topo da lista de quem faz turismo. E não me refiro apenas aos endinheirados, porque há zonas de lazer para todos os preços e para todos os gostos. 
Há, realmente, de Norte a Sul de Portugal Continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, paisagens deslumbrantes e estruturas turísticas capazes de ocuparem lugar cativo na memória de quem nos visita, mas também na alma das nossas gentes. 

Tranquilizar ou desassossegar Fátima?



1. Fátima nunca mais é o título de um livro militante do padre Mário de Oliveira. Fátima cada vez mais, passados 100 anos, goste-se ou não, é o panorama do que está acontecer. Porque será
Conheço Fátima desde 1947, onde também vivi, em épocas bastante diferentes. Contactei, muitas vezes, com os familiares dos pastorinhos, a começar pelos pais da Jacinta. Ao longo do tempo, fui lendo o que se escrevia sobre o fenómeno. Já apresentei, até por escrito, as minhas impressões que não foram sempre as mesmas.
O primeiro sentimento foi de algo banal e triste, estranho e inverosímil. Como era possível que Nossa Senhora viesse pedir mais sacrifícios a uns pobres e inocentes pastorinhos, para reparar um Deus ofendido por pecados que não eram deles? Por que não foi ela ter com esses que cometiam pecados tão grandes que deixavam o coração de Deus em sangue? Um colega mais velho respondeu-me: na religião isto é tudo ao contrário. Talvez, mas não é justo!
Tentando, depois, entender o que tudo aquilo tinha, e tem, de assustador e cordial, nos limites das catequeses primárias e dos crescentes movimentos devocionais da época, as perplexidades aumentaram.
Dizer que se trata de um dos fenómenos religiosos mais relevantes do seculo XX, nascido no seio do catolicismo popular português, enquadrado pela hierarquia eclesiástica, desenvolvido no quadro de uma luta católica pela liberdade da Igreja e num quadro mundial de guerras, a abordagem de Fátima dispõe, hoje, além da documentação de propaganda, apologética e contestatária, de documentação crítica e de obras de interpretação, de diversa índole, e fácil acesso. Desse conjunto, saliento: A nível da História, destaco Fátima, do bispo Carlos Azevedo [1]. Com a Senhora de Maio [2], António Marujo e Rui Paulo da Cruz conseguiram uma Fátima, a muitas vozes, dissonantes. O pequeno dicionário de Helder Guégués [3] revela-se muito útil. Ana André e Sara Capelo registaram as vozes dos que percorrem quilómetros e quilómetros, a pé, até ao Santuário [4]. Fátima é diferente para todos.

Dia Internacional do Idoso — 1 de outubro


O Dia Internacional do Idoso, comemorado anualmente a 1 de outubro, foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unida) em 1991, especialmente para sensibilizar a sociedade para as questões relacionadas com o envelhecimento. Pretendia-se, como continua a pretender-se, levar as pessoas a olhar com atenção para os mais velhos, quantas vezes esquecidos pelas famílias, amigos e sociedade em geral. Uns em suas próprias casas, quando as têm, outros em lares. 
Não sei se me fica bem falar do Dia Internacional do Idoso, não vá alguém supor que estou a puxar a brasa para a minha sardinha. Faço-o, contudo, na convicção de que há muitos idosos da minha idade que não usufruem das comodidades e carinho com que eu e a Lita somos brindados pelos que nos cercam, filhos, netos e outros familiares. 
Abordo o tema por dever de consciência e por justiça em favor dos idosos marginalizados ou abandonados por parentes e amigos. Sei que há muita gente emigrada que não pode cuidar dos seus pais, deixando-os entregues a pessoas que cuidam deles, mas não é a mesma coisa. Quem os serve, por muito carinho que lhes dediquem, haverá necessariamente momentos em que os deixam sós e entregues a uma solidão que tem de ser dolorosa.
Os idosos deviam ser ouvidos, apoiados e estimulados para viverem a vida com dignidade até ao fim. Importa que toda a sociedade lhes proporcione condições de paz, de tranquilidade e de amor, sem descurarem os cuidados que lhes são devidos, nomeadamente, alimentação sadia, assistência e tratamentos médicos conformes às suas necessidades, ajuda na descoberta de momentos de lazer e convívio, bem como na participação em passeios e espetáculos.
Todos sabemos que as autarquias e os lares que os acolhem e tratam se esforçam por dar-lhes o melhor que podem e sabem, mas depois da festa vem a noite que gera o isolamento e as sombras da impossibilidade de viverem em pleno no contacto com a natureza, e alguns até ficam sem forças para se aquecerem ao sol e para respirarem o ar puro de ambientes sadios. 
Os velhos não são bonecos que se atiram para um canto nem sacos onde se despejam raivas, ódios, indiferenças e desprezos. São pessoas que geraram vidas, criaram riquezas, indicaram caminhos do bem e do belo, apoiaram filhos e netos nos primeiros passos e nas primeiras palavras. Foram solidários, amigos da partilha, generosos com os sofredores e arautos da paz.
Hoje, se puderem, ofereçam aos vossos idosos ao menos um sorriso, uma palavra de gratidão, um gesto de ternura.

Fernando Martin

sábado, 30 de setembro de 2017

MaDonA — Dia Internacional do Coelho - 30 de setembro


Está no imaginário infantil, a história do coelhinho branco que nos encantava, bem como o cartoon do Bugs Bunny, o Pernalonga que mantinha a miudagem grudada à televisão. O coelho visto como uma bolinha de pelo, sempre despertou nas crianças e até nos adultos uma grande ternura, sendo-lhe atribuído vários significados. Tem um dia no calendário, sendo celebrado todos os anos, no último sábado de setembro. 
O seu objetivo é promover a proteção dos coelhos selvagens e domésticos do mundo. São cobaias do homem, na realização de testes para a indústria cosmética e farmacêutica. A sua pele é usada no vestuário, mas nunca vesti um casaco de pele de coelho, nem de raposa, nem de vison, nem de antílope. Sou contra o abate destes animais. 

Ruth Manus — Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal


Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal.
Dentre as coisas que mais detesto, duas podem ser destacadas: ingratidão e pessimismo. Sou incuravelmente grata e otimista e, comemorando quase 2 anos em Lisboa, sinto que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis que existem aqui  - embora pareça-me que muitos nem percebam.
Não estou dizendo que Portugal seja perfeito. Nenhum lugar é. Nem os portugueses são, nem os brasileiros, nem os alemães, nem ninguém. Mas para olharmos defeitos e pontos negativos basta abrir qualquer jornal, como fazemos diariamente. Mas acredito que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria inspirar-se.
Para começo de conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses. Os franceses aprenderiam que aqueles pratos com porções minúsculas não alegram ninguém. Os alemães descobririam outros acompanhamentos além da batata. Os ingleses aprenderiam tudo do zero. Bacalhau e pastel de nata? Não. Estamos falando de muito mais. Arroz de pato, arroz de polvo, alheira, peixe fresco grelhado, ameijoas, plumas de porco preto, grelos salteados, arroz de tomate, baba de camelo, arroz doce, bolo de bolacha, ovos moles.
Mais do que isso, o mundo deveria aprender a se relacionar com a terra como os portugueses se relacionam. Conhecer a época das cerejas, das castanhas e da vindima. Saber que o porco é alentejano, que o vinho é do douro. Talvez o pequeno território permita que os portugueses conheçam melhor o trajeto dos alimentos até a sua mesa, diferente do que ocorre, por exemplo, no Brasil.

Ler mais aqui 

NOTA: A sugestão de leitura veio do meu amigo João Marçal e eu não a atirei para o lixo. Partilho porque é bom saber o que se pensa de Portugal e dos portugueses.  

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

PORTUGAL - O terceiro país mais pacífico do mundo

Pombal
Torreira
Moliceiros
Santuário de Schoenstatt - Gafanha da Nazaré

Confesso que às vezes fico zangado com certas apreciações, pela negativa, feitas ao nosso país. Eu sei que há muita coisa errada a carecer de correção e de alguns saltos rumo a um futuro risonho para os portugueses, muitos dos quais sobrevivem com míseros ordenados e pensões de reforma que são uma vergonha para um país civilizado. Contudo, fico feliz, quando se diz que Portugal está em 3.º lugar na lista dos países mais pacíficos do mundo. Valha-nos isso.

Vi aqui 

Anselmo Borges — Francisco sobre: 2. O sexo e o casamento




Continuo com os diálogos do Papa Francisco e Dominique Wolton: Politique et société.
1. Francisco atira com a afirmação inesperada de João Paulo II: "O sexo é uma coisa boa e bela." E Wolton: "Reconhece que é complicado para leigos ouvir padres, que renunciaram ao amor físico, dizer que o amor físico, carnal, é belo." Francisco: "Renunciar à sexualidade e escolher o caminho da castidade é toda uma vida consagrada." Mas isso só vale se "este caminho levar à paternidade e à maternidade espiritual. Renunciar para estar ao serviço, para contemplar melhor. Um dos males da Igreja são os padres solteirões e as freiras solteironas. Porque estão cheios de azedume". Foi pena que, aqui, Wolton não tenha perguntado sobre o celibato opcional para os padres.

2. Francisco acrescenta: "Os pecados mais leves são os pecados da carne. Estes não são forçosamente (sempre) os mais graves. Porque a carne é fraca." Os pecados mais perigosos e graves são outros, de que se fala menos: "O ódio, a inveja, o orgulho, a vaidade, matar o outro, tirar a vida... Mas os padres tiveram a tentação - não todos, mas muitos - de se concentrar nos pecados da sexualidade: o que eu chamo a "moral da subcintura" (desculpe). Há alguns que, quando ouvem na confissão um pecado deste género, perguntam: "Como fizeste isso, e quando e quanto tempo e quantas vezes?" Fazem um "filme" na cabeça. Mas esses precisam de um psiquiatra."

Georgino Rocha — Pergunta Jesus: Qual dos dois faz a vontade ao pai?





Jesus recorre à pergunta fechada para envolver os que o seguiam e vigiavam e não os deixar apenas como ouvintes indiferentes ou críticos. Tem consigo a elite de Jerusalém que vivia do templo e para o templo, designadamente os sumos-sacerdotes, os escribas e os anciãos do povo. Estão também os discípulos e numerosa multidão de que faziam parte publicanos e prostitutas, marginalizados e proscritos. O contraste vai ser posto em realce na parábola dos dois filhos que respondem ao convite do Pai de modos diferentes, convite para irem trabalhar na vinha. O primeiro diz espontaneamente que não, mas depois pondera, arrepende-se e vai. O segundo, pelo contrário, mostra-se disponível e afirma que sim, mas não aparece, esquece a resposta dada, não é coerente nem honrado. Dois tipos de reacção que constituem um espelho muito actual para tantas situações.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Museu de Aveiro é o 8.º nos 10 melhores de Portugal



A Tripadvisor revelou a lista dos 10 Melhores Museus do mundo, segundo a avaliação de milhões de viajantes, referente ao ano 2017. E no respeitante ao nosso país, o Museu de Aveiro ocupa um honroso 8.º lugar, como pode ser confirmado pela lista divulgada. 

1. Calouste Gulbenkian, Lisboa
2. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa
3. Museu Coleção Berardo, Lisboa
4. Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra
5. Museu do Ar, Sintra
6. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
7. Navio Gil Eanes, Viana do Castelo
8. Museu de Aveiro, Aveiro
9. Museu Monográfico de Conímbriga, Condeixa-a-Nova
10. Museu Nacional dos Coches, Belém, Lisboa

É óbvio que todos nos devemos orgulhar com esta posição, estando ao nosso alcance contribuir para a sua divulgação junto de todas as camadas sociais, a começar pela nossa juventude. Hoje no 8.º lugar e, quem sabe, no futuro um pouco mais acima.

Ver aqui 

MaDonA — Dia Internacional do Direito ao Saber - 28 de setembro


Longe vão os tempos do obscurantismo, em que manter um povo analfabeto era condição sine qua non para manter o poder instituído e dar-lhe continuidade. Um povo iletrado não contesta, não reivindica não se queixa e aceita passivamente o status quo. 
Até meados do século XX, quando cheguei a este mundo, o ensino obrigatório era o ministrado, até à quarta classe, nas Escolas Primárias. A sua criação começou a ser regulamentada em 1835, pleno século XIX, mas muita gente ainda lhe escapava. 
Já em 1960, quando ingressei no LNA (Liceu Nacional de Aveiro) o prosseguimento de estudos contemplava uma faixa muito restrita da população, quer por razões económicas quer pelo número limitado de estabelecimentos de ensino públicos. A distância a que ficava a escola, apenas nas capitais de distrito era outro óbice. Graças a Deus e à visão larga do Zé da Rosa de dar um bom futuro aos filhos, eu fiz parte dessa minoria. O meu eterno agradecimento a ambos! 
Esta efeméride enaltece o direito de acesso à informação de toda a gente e as vantagens de um governo transparente. Promover a liberdade de informação como condição essencial para a democracia e para a boa governação foi um dos objetivos traçados em 2002, num encontro de organizações mundiais que trabalham com liberdade de informação, em Sófia, Bulgária. Deste encontro resultou o primeiro Dia Internacional do Direito ao Saber. 
Sendo um direito humano fundamental, neste dia, apela-se à partilha de informação governamental a todos os cidadãos. 
Todos os anos se realizam, nesta data, campanhas de sensibilização para o direito à informação e para conseguir sociedades abertas e democráticas onde o cidadão pode efetivamente participar. 
Realizam-se, neste dia, conferências, concertos, competições, peças de teatro, filmes, abertura de novos de sites, lançamento de livros, etc. Podem participar todos os cidadãos, com destaque para os jornalistas, os professores, os ativistas, os funcionários públicos, os membros de organizações não-governamentais e os membros das organizações civis. 
Neste âmbito, os mass media desempenham um papel de relevo na apresentação e divulgação da informação. 
A liberdade de expressão, como veículo da informação, foi uma das conquistas da Revolução de abril. Usemo-la com discernimento e não como arma de arremesso. 

MaDonA, 28 de setembro de 2017 

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

ELEIÇÕES: O futuro está sempre nas nossas mãos




O futuro está nas nossas mãos, mas nem sempre assumimos, com vontade firme e consciente, o direito de escolher quem deve governar o país, o concelho ou a freguesia. Ficarmos alheios na hora de decidir, por comodismo ou por não nos envolvermos no estudo das propostas que nos são feitas em nome dos diversos partidos, é atitude de má cidadania. Ficamos pela rama do que ouvimos aqui ou ali, também não será nada aconselhável. E depois, feitas as escolhas, muitos enveredam por acusações, ofensas, críticas e maledicências, como se tivessem moral para isso. Só têm moral para criticar e contestar as decisões dos eleitos os que tomaram parte ativa nas escolhas dos partidos e pessoas, com  estudo, busca de informação e reflexão. E com o voto depositado nas urnas!
Vem isto a propósito do ato eleitoral para as autarquias que está programado para o próximo dia 1 de outubro, em todo o país. Nesse dia, está nas nossas mãos o dever de votar, livre e conscientemente, nos partidos e nas pessoas que se apresentam a sufrágio. Eu vou votar e a partir daí não deixarei de estar atento às promessas eleitorais que tenho em mãos e que foram amplamente difundidas de porta-a-porta.

Fernando Martins

Museu Marítimo de Ílhavo — Homens e Navios do Bacalhau


Graças às novas tecnologias da comunicação, já temos à nossa disposição, em qualquer parte do mundo, a possibilidade de consultar, à distância de um clique, muito do que diz respeito a Homens e Navios do Bacalhau. O mesmo se diga de outras áreas. Hoje, ajudo quem consulta ou passa pelo meu blogue a pesquisar o que se refere a navios e homens da pesca do bacalhau . Veja aqui.

domingo, 24 de setembro de 2017

Faleceu um grande Bispo — Dom Manuel Martins


“Nascido em Matosinhos, no norte de Portugal, D. Manuel Martins sempre manteve a fidelidade aos princípios e valores distintivos daquela região do país: o sentido de serviço aos outros, a dedicação ao trabalho e a preocupação permanente com a justiça social”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa, num texto divulgado pela Presidência da República.

Diz assim o registo do Presidente Marcelo:

«O senhor Dom Manuel Martins, representou, para a Igreja Portuguesa, a projeção da linhagem do senhor Dom António Ferreira Gomes no mundo do trabalho, em áreas sociais particularmente complexas, sempre atento à luta pela liberdade contra a opressão e pela igualdade contra a injustiça. Em homenagem ao princípio da dignidade da pessoa.
Como já referido na mensagem por ocasião dos seus 90 anos, o seu testemunho foi particularmente impressivo à frente da Diocese de Setúbal. Mas, ao dar vida aos princípios evangélicos, em tempos de crise e de enormes desafios comunitários, não serviu apenas a Igreja Católica, serviu Portugal.
O Presidente da República evoca, com saudosa e respeitosa amizade, uma personalidade singular, que tudo fez na sua vida para contribuir para um Portugal mais livre e mais justo, e, por isso, mais democrático»

Mais uma tristeza para todos os que defendem ou defenderam, ao longo dos tempos,  os valores da justiça social, da liberdade  e da paz. Disse um dia, D. Manuel Martins que o mundo era o verdadeiro altar da Igreja (estou a citar de cor),  onde sofre imensa gente que espera gestos de fraternidade. O Senhor de todos os dons já o tem junto de Si, como prémio pela frontalidade de um Bispo perante os poderosos deste mundo.
Paz à sua alma. 

FM

Bento Domingues — Um Deus distraído?



1. Não têm conta as vezes que me fizeram, e fazem, a pergunta do título desta crónica. Sei que não tenho o exclusivo.
Não escondo que me divertem as pessoas religiosas e teólogas que dão a ideia — pelo que dizem e escrevem, pelo que aconselham ou mandam — que conhecem a vontade de Deus e os seus misteriosos caminhos. A tudo dizem: foi a vontade de Deus, mesmo quando essa expressão, pretensamente piedosa, é o pior insulto que Lhe podem fazer.
Por outro lado, são, por vezes, as mesmas pessoas que, pelas suas repetidas e abundantes orações, supõem que Deus ande mal-informado. As chamadas orações dos fiéis nas Celebrações Eucarísticas, mais ou menos gemidas, tentam lembrar a Jesus a sua responsabilidade pela péssima situação mundial.
Parece que todas as religiões, ou a maioria, têm fórmulas e livros de orações. Basta ir ao Google e, a partir da palavra oração, podemos ficar minimamente referenciados acerca desse mundo, ora sublime ora ridículo.
A nossa ligação fervorosa a Deus deveria estar atenta à nossa radical ignorância. Nunca me posso esquecer que S. Tomás de Aquino, depois de expor a sua epistemologia teológica e de apresentar as razões que tinha para afirmar que Deus existe, empenhou-se em mostrar, imediatamente, que não podemos saber como é Deus. A teologia dele é, sobretudo, uma luta contra as idolatrias que se insinuam em todas as atitudes e discursos religiosos.
Julgo que a religião — embora seja uma palavra de origem latina — nasce da consciência, mais ou menos explicita, do ser humano como realidade limitada. Precisa do outro para nascer, para crescer, para viver e para morrer. Não é auto-suficiente. É, por natureza, carente de cultura e de afectos. É uma realidade em permanente processo. Vai sendo através dos mil contactos cultivados ao longo da vida. É, estruturalmente, um ser aberto. Neste mundo multicultural e multirreligioso desenvolve-se bem ou mal, na recusa ou na aceitação. Quando se fecha aos outros, perde-se e afoga-se em si mesmo.
As boas relações humanas são as de acolhimento e cooperação. As más são as de dominação psicológica, económica, política e religiosa. Por isso, a pergunta mais sagrada, mais religiosa, em todas as situações, talvez seja esta: em que posso ajudar?
Não é por acaso que a primeira grande pergunta que Deus faz, logo no Génesis [1], seja esta: que fizeste ao teu irmão, e seja também a última que julgará a nossa história, segundo o Evangelho de S. Mateus [2].
Mas, então, devemos ou não rezar?

2. Não faltam, mesmo no Novo Testamento, recomendações de que devemos rezar sempre e em toda a parte. Não de qualquer maneira. Nem foi a primeira preocupação de Jesus. Consta, no Evangelho de S. Lucas, que os discípulos se sentiam um grupo um bocado abandonado, nesse aspecto. “Estando [Jesus] num certo lugar a rezar, ao terminar, um dos seus discípulos pediu-lhe: Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou aos seus discípulos.” [3] Daí, resultou uma longa conversa e uma parábola que termina de forma paradoxal: a única coisa garantida é que o Pai dos Céus dará o seu Espírito aos que o pedirem. S. Mateus põe na boca de Jesus a recomendação: “Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como fazem os gentios, porque entendem que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade, antes de lho pedirdes.” De facto, deixou-nos apenas pistas muito gerais, no Pai-Nosso [4].
Estas indicações básicas atribuídas a Jesus deveriam merecer mais atenção. A Liturgia das Horas, rezadas em coro em muitas congregações religiosas, serve-se da recitação dos Salmos do Antigo Testamento. É precisa uma grande dose de paciência para aguentar a divisão entre o povo de Deus e os outros povos que não sabemos de quem são, geralmente inimigos. Esse Deus tem o encargo de defender e ajudar o seu povo e de atacar os outros povos. É um mundo pouco edificante de amigos e inimigos. É preciso, depois de Jesus Cristo, estar sempre a fazer descontos na oração.
Fazem parte de cenários em que se põe na boca do Senhor, Deus de Israel, uma narrativa na qual, depois de muitas bem-feitorias ao seu povo, que, finalmente, atravessou o Jordão e chegou a Jericó, faz esta declaração fantástica, coroa de muitas outras: “Combateram contra vós os que dominavam a cidade — os amorreus e os perezeus, os cananeus e os ititas, os girgasitas, os hevitas e os jebuseus — mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. [...] Não foi com a vossa espada nem com o vosso arco que tudo isto foi feito. Dei-vos uma terra que não cultivastes, cidades que não construístes e onde agora habitais, vinhas e olivais que não plantastes e de que vos alimentais.” [5]
Pode um cristão rezar a um Deus destes?

3. Anda o Papa Francisco a dizer que não se pode matar em nome de Deus e, depois, louvá-Lo por ser um terrorista, porque eterno é o seu amor?
O diálogo inter-religioso, para não ser um teatro de mau-gosto, deve incluir a crítica das expressões religiosas que ofendem a Divindade maltratando os seres humanos.
Em Assis, já diversas vezes, os representantes de diferentes religiões foram rezar juntos. Nenhum tem o direito de criticar a forma de rezar dos outros, mas todos se deveriam sentir responsabilizados a contribuir, no âmbito da sua religião, para reverem as respectivas formas de rezar.
Por outro lado, se o ser humano é religioso pela interpretação que faz do seu limite, tem de cuidar de não transpor para Deus a sua responsabilidade. Quando se diz, de forma metafórica, que Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança, isso significa que o ser humano, por ser livre, é responsável pelo seu mundo, pela casa comum.
O Papa Francisco não se cansa de repetir que já estamos, de modo fragmentado, na terceira guerra mundial. Existem sistemas económicos que devem fazer a guerra para sobreviver. Ao fabricar e vender armas sacrificam, nos balanços económicos, o ser humano no altar do deus dinheiro.
Gosto da sua forma de rezar: Queridas irmãs e irmãos, eleva-se de todos os lugares da terra, de cada povo, de cada coração e dos movimentos populares, o grito da paz: guerra, nunca mais! [6]
Não é a um Deus distraído que ele reza. Reza para diminuir o mundo dos distraídos.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Gn 4, 1-15
[2] Mt 25, 31-46
[3] Lc 11, 1-13
[4] Mt 6, 5-15
[5] Cf. Js 24, 1-13
[6] Politique et société, du Pape François (Rencontres avec Dominique Wolton), Editions de L’Observatoire/Humensis, 2017, p. 11.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

No Outono da vida



Estamos no outono da vida sem cansaços nem desânimos. A vida continua em nós e irradia, indelevelmente, para os que nos cercam. A primavera e o verão deram-nos o aconchego necessário para mantermos o sorriso da felicidade vivida com esperança de continuidade. Eis-nos no outono do calendário com a mesma disposição de sempre, de espírito aberto a quem nos ouve e quer bem. Também a tantos com quem nos cruzamos nas inquietudes dos tempos incertos, porém enriquecidos pelos encantos que a natureza se encarrega de matizar os nossos dias. Não há nem pode haver pessimismos entre nós. O otimismo é norma de vida constante.
A natureza dá-nos lições extraordinárias que nem sempre captamos com a pressa dos dias. Floresce na primavera, frutifica no verão, fica depenada no outono e adormece em sono semelhante ao da morte no inverno. E depois, como que por milagre, salta para a luz do dia... 
Os seres vivos são assim. Nascem, crescem, reproduzem-se, envelhecem e morrem. Os humanos, contudo, preservam memórias e deixam rastos de luz ou de sombras nos que lhes sucedem. Bom seria que todos deixássemos apenas luz. 
No outono da vida os humanos têm a sua riqueza: revivem o passado, sentem-se membros ativos da família e da sociedade, oferecem experiências, partilham saberes e sabores, recomendam atitudes benfazejas, estabelecem uniões, constroem pontes, dão e recebem amor. E esperam pacientemente o inverno, com a grata certeza de que fizeram o melhor que souberam e puderam durante a longa existência. 
Bom outono para todos.

Fernando Martins

Anselmo Borges — Francisco sobre: 1. si próprio


Quem é e o que pensa e quer verdadeiramente o Papa Francisco para a Igreja e para a humanidade?
Durante mais de um ano, na discrição, Dominique Wolton, um intelectual francês, laico, director de investigação no CNRS (Centro Nacional de Investigação Científica), especialista em comunicação, e o Papa Francisco encontraram-se 12 vezes para diálogos sobre os temas mais candentes do nosso tempo e da existência humana: a paz e a guerra, a política e as religiões, a Europa e os imigrantes, a mundialização e a diversidade cultural, os fundamentalismos e a laicidade, a ecologia, as desigualdades, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, a alteridade, a família, a ideologia do género, o tempo, a alegria. Desses encontros resultou uma obra inédita e surpreendente. Acaba de ser publicada com o título: Politique et Société e a que dedicarei algumas crónicas. Hoje, a primeira, precisamente sobre Francisco, que se confessa.

O que é que mais o marca? "Há algo que, mesmo quando era criança, sempre me fez sofrer. É o ódio, a guerra." O que é que mais o comove? "Os actos de ternura fazem-me sempre bem, a compreensão, o perdão... Mas não só no campo religioso. Em toda a parte. A ternura é qualquer coisa que me traz muita paz." Por isso, fala do "analfabetismo afectivo". O que é que lhe provoca cólera? "A injustiça. As pessoas egoístas. E eu próprio, quando estou nessa situação. Preciso de muito tempo para convencer-me de que o Senhor me perdoou, depois pedir perdão à pessoa e fazer alguma coisa para reparar essa injustiça. Mas há o irreparável." O seu maior defeito? "É um pouco o oposto do que se julga de mim. Tenho uma certa tendência para a facilidade e para a preguiça." E a qualidade principal? "A qualidade... eu diria simplesmente que gosto de escutar os outros. Porque descubro que cada vida é diferente. E que cada pessoa tem o seu caminho." É feliz? "Sim. Sou feliz. Eu sou feliz. Não por ser Papa, mas o Senhor deu-me isto e rezo para não cometer asneiras... Mas cometo."

Para comunicar humanamente, é preciso "baixar-se, colocar-se ao nível do outro. Baixar-se, não porque o outro é inferior, mas por humildade..., trata-se de um acto que consiste em "ir à casa do outro". Sou eu que devo ir lá."
Em casa ouvia-se ópera e "comecei a falar de música tinha eu 15, 16 anos... Pus-me a sonhar como gostaria de ser chefe de orquestra".

E o papel das mulheres na sua vida? "Agradeço pessoalmente a Deus por ter conhecido verdadeiras mulheres na minha vida. As minhas duas avós eram muito diferentes, mas ambas verdadeiras mulheres... Depois, a minha mãe. A minha mãe. Era uma mulher, uma mãe. Depois, as irmãs. É importante para um homem ter irmãs, muito importante... Depois, houve as amigas da adolescência, as "namoraditas"... Estar sempre em relação com as mulheres enriqueceu-me. Aprendi, mesmo na idade adulta, que as mulheres vêem as coisas de um modo diferente do dos homens. Porque, perante uma decisão a tomar, perante um problema, é importante escutar os dois."

Depois da adolescência houve alguma mulher que o tenha marcado particularmente? "Sim. Houve uma que me ensinou a pensar a realidade política. Era comunista. Foi morta durante a ditadura. Era química, chefe do departamento onde eu trabalhava, no laboratório de bromatologia. Esther Ballestrino de Careaga. Deu-me livros, todos comunistas, mas ensinou-me a pensar a política. Devo tanto a essa mulher."

Qual o lugar das mulheres na Igreja? "É muito importante. Com a reforma da Cúria, haverá muitas mulheres que terão um poder de decisão, não apenas de aconselhamento." Qual é o problema da reforma da Cúria? "O poder." Vai conseguir? "Sim... ouvi um velho cardeal dizer-me: "Não desanimes, porque o caminho da reforma da Cúria é difícil. E que a Cúria não deve ser reformada, ela deve ser suprimida [risos]. No gozo, evidentemente. É impensável, a Cúria é indispensável."

E consultou uma psicanalista. "A um dado momento da minha vida em que tive necessidade de consultar. E consultei uma psicanalista judia. Durante seis meses fui a casa dela uma vez por semana para esclarecer certas coisas. Ela foi muito boa. Muito profissional como médica e psicanalista. Manteve-se sempre no seu lugar. Depois, quando estava já para morrer, chamou-me. Não para os sacramentos, pois era judia, mas para um diálogo espiritual. Durante seis meses, ajudou-me muito, tinha eu na altura 42 anos."

Bem-aventurada a pessoa que, como Francisco, pode dizer: "Sou livre. Sinto-me livre. Isso não quer dizer que faço o que quero, não. Mas não me sinto prisioneiro, na gaiola. Na gaiola aqui, no Vaticano, sim, mas não espiritualmente. Não sei se é assim... A mim nada me mete medo. Talvez seja inconsciência ou imaturidade! Sim, as coisas são assim, faz-se o que se pode, as coisas assumem-se como são, algumas andam para a frente, outras não... Talvez seja superficialidade, não sei. Não sei como chamar a isso. Sinto-me como um peixe na água."

P.S. Quando foi nomeado para bispo do Porto, escrevi aqui que até no nome era Francisco: António Francisco dos Santos. Um homem humilde, afável, próximo, discreto. Um cristão. Há prioridades, alertou, aquando da sua entrada na diocese: "Os pobres não podem esperar." Contou-me como uma vez, após uma missa pontifical, lhe apareceu um sem-abrigo a pedir dinheiro para comer. Convidou-o para almoçar com ele no paço episcopal. No fim, também lhe pediu dinheiro para cortar o cabelo. Mandou-o ao barbeiro dele, um conterrâneo, que um dia lhe telefonou: "Está aqui um mendigo a dizer que foste tu que lhe disseste para vir aqui, que tu pagavas..." "É verdade, faz como se fosse para mim!" Morreu inesperadamente, também por causa da sua inexcedível bondade incompreendida e não correspondida.

Anselmo Borges no DN 

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