Na hora na partida
Milhares de pessoas viveram
a festa da Senhora dos Navegantes
A Ria em festa foi um espectáculo. Foi e é sempre, como válvula de escape para as agruras da vida de cada um. Milhares de pessoas encheram as margens da laguna aveirense durante a procissão da Senhora dos Navegantes que hoje se realizou entre o porto de Pesca Longínqua, na Cale da Vila, e o porto Comercial, no Forte da Barra. Mas do outro lado, em S. Jacinto, o entusiasmo não foi menor, também com milhares de pessoas com fanfarra e música, o que levou, segundo a tradição, o barco “Jesus nas Oliveiras”, de mestre Adelino Palão, que transportava o andor de Nossa Senhora dos Navegantes, a fazer uma aproximação oportuna, com o cortejo de todas as embarcações acompanhantes, para que a Mãe de Deus abençoasse aquela gente toda. E dela e de quantos estavam nos barcos não faltaram os aplausos.
A procissão em andamento moderado
A Ria, com todos os seus encantos, de águas límpidas e serenas e paisagens únicas, merece que esta alegria perdure no tempo. Gente houve que fez o seu baptismo de laguna, em ambiente de alegria. Olhos fixos em horizontes diferentes, ilhas desertas e sem vida humana de um lado, e vida industrial e urbana do outro, com secas, casario, Porto de Aveiro, Forte da Barra e Farol a ver tudo, lá ao longe, assim viveram os que em boa hora aproveitaram a oportunidade de conhecer melhor esta riqueza ímpar que possuímos.
Barcos cheios com gente feliz
Manuel Serra e Margarida Alves, presidente da Junta e presidente da Assembleia de Freguesia, respectivamente, manifestaram o seu regozijo pela festa que estavam a reviver e a experimentar , enquanto chamaram a atenção para a riqueza inexplorada que é a Ria de Aveiro.
O presidente da Junta ainda lembrou que toda esta festa se deve ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré e ao seu fundador, Alfredo Ferreira da Silva, repetindo o que tantas vezes tem dito que urge «valorizar as potencialidades da nossa Ria», aproveitando turisticamente as «ilhas que têm estado ao abandono». Também referiu que o povo participou activamente nesta procissão «com intensidade, sem que fosse intimado a vir».
S. Jacinto presente
Paulo Costa, vereador da CMI, frisou «a espontaneidade do povo de S. Jacinto ao associar-se a esta festa», sublinhando que «só a religião consegue esta unidade». Conhecedor da Ria que usufruiu desde menino, Paulo Costa adiantou que, de facto, esta movimentação e esta partilha são extraordinárias.
O Farol viu tudo
No Forte da Barra, na missa campal que se celebrou frente à Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, o Padre Francisco Melo, prior da Gafanha da Nazaré, assentando a sua homilia nos textos deste domingo, afirmou que «vivemos num mundo em que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, indefesos e incapazes de saírem da sua miséria». Denunciou que os sistemas financeiros e económicos deixaram de ter rosto e nome neste mundo globalizado, permitindo que «em qualquer gabinete do outro lado do mundo se possa decidir o destino de milhões de pessoas», cuja dor e miséria nunca irão conhecer.
Povo em todo o lado
O Prior da Gafanha da Nazaré fez a apologia «da revolta da solidariedade e da fraternidade», alicerçada «no trabalho e na responsabilidade pessoal e colectiva», não na praça pública, mas no «coração e na vida de cada um de nós».
Nossa Senhora dos Navegantes chega à sua residência
A mole de gente, bem visível em terra, em todos os recantos possíveis voltados para a laguna, e nos barcos que se incorporaram na procissão, mostrava frequentemente a sua satisfação. E tenho cá para mim que no próximo ano todos e outros voltarão à procura de um lugar para esquecer mágoas ou para partilhar emoções temperadas pelos odores salinos da Ria de Aveiro. Tudo sob a bênção de Nossa Senhora dos Navegantes.
Depois da missa, houve música pela Filarmónica Gafanhense, seguindo-se o Festival de Folclore, como havia sido anunciado. O arraial estava em marcha, com bolos festeiros a despertarem-nos o apetite. Um folar e uma regueifa mostraram-me em casa que estavam saborosos. No Jardim Oudinot os farnéis abriram apetites, até mais não. Para o ano há mais...
Fernando Martins