“Fernando Oliveira – Um Humanista Genial”
“Fernando Oliveira – Um Humanista Genial” é uma brochura de 82 páginas da autoria de João Gonçalves Gaspar, publicada como separata da Universidade de Aveiro, coordenada por Carlos Morais. Inserido no enquadramento do V Centenário do nascimento do autor da primeira gramática da linguagem portuguesa, este trabalho de João Gaspar oferece aos estudiosos e demais interessados por personagens históricas uma súmula muito bem documentada sobre um dos nossos maiores, com raízes aveirenses.
Como é timbre do autor, João Gaspar não escreveu de cor, mas buscou fontes credíveis, onde se baseou para nos caracterizar, passo a passo, com transcrições sempre oportunas, este padre e humanista, que se destacou «como pioneiro na sistematização dos princípios gramáticos da nossa linguagem, na descrição da táctica militar marítima, na divulgação da arquitectura náutica e na história portuguesa». E diz mais: «Se a sua vida de sacerdote dominicano, de escritor, de filólogo, de cartógrafo, de historiador, de diplomata, de marinheiro, de soldado, de aventureiro e de perseguido é tão cheia de episódios díspares e de aventuras diversificadas, os seus conhecimentos surgem-nos multiformes e manifestam uma invulgar sabedoria, com base tanto em conhecimentos humanistas e cristãos, como na experiência vivencial, colhida de muitas maneiras.»
Posto isto, que seria o suficiente para nos levar à leitura de mais este trabalho de Mons. João Gaspar e ao aprofundamento do estudo de tão rica personalidade da nossa história pátria, vamos sublinhar mais umas passagens da brochura, que merece maior divulgação.
Apesar de se dizer de Aveiro, há dúvidas sobre isso, já que foi baptizado em Couto do Mosteiro, actual concelho de Santa Comba Dão. Certo é que foi gerado em Aveiro, aventando o autor a hipótese, provável, de residir em terras aveirenses e de ser educado «no convento dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia, que existia na localidade». Depois, Fernando (ou Fernão) Oliveira saltou de terra em terra e de país em país, onde foi adquirindo uma cultura humanista multifacetada, que levaria os inquisidores a prestarem-lhe uma atenção especial. E veio, naturalmente para a época, a ser «acusado de ter proferido afirmações consideradas heterodoxas no ponto de vista da fé cristã, de ter elogiado certos aspectos da política anti-católica de Henrique VIII e de escandalizar com o traje e espada de piloto, em nada condizente com a qualidade de sacerdote, que aliás nunca renegou».
Noutra passagem do seu bem elaborado trabalho, João Gaspar considera Fernando Oliveira um «Homem invulgar do tempo do Humanismo renascentista e aberto a ideias avançadas, eminente representante de uma geração dourada de eruditos, conhecedor de fontes do mundo antigo, sem olvidar o bíblico, e do saber medieval, que soube confrontar com os dados hauridos na experiência e nos autores da modernidade», aceitando «as achegas provenientes das navegações planetárias portuguesas e espanholas.»
Fernando Martins