BOM APETITE SE DESEJA!
Nesta época estival, já alta, a um terço do fim, a meteorologia tem vindo a contentar, satisfatoriamente, os banhistas, que a esta zona balnear acorrem à procura de retempero para as suas fadigas. Vem mesmo a calhar este tempo ameno, que, no dizer do presidente do município, se deve, em parte, ao conluio/intercessão do pároco da freguesia. Este, num sorriso de bonomia, admite a sua quota parte de “culpa”, nesta tão agradável condição climática.
Com efeito, foi agradecido a ambos, S. Pedro e prelado, a concessão de favoráveis condições meteorológicas, para a abertura/inauguração do festival do bacalhau. Tanto se tem trabalhado em prol deste fiel amigo, que por toda a parte se vêem sinais e motivos decorativos, alusivos ao pescado.
Foi ele o mote para a realização dum convívio alargado a todo o município, nas famigeradas tasquinhas do bacalhau. Aí se degustam várias receitas do referido alimento, fazendo jus à tradição gastronómica portuguesa que sintetiza a sua riqueza e diversidade na parangona -100 maneiras de cozinhar bacalhau.
À volta dele, se confraterniza em são e alegre convívio, onde, à mistura também aparecem salpicos de discórdia e inimizade. Aparece de tudo como na farmácia e apenas se comprova como as relações humanas são algo complexas.
Neste contexto do bacalhau, que ocorre num tempo de descontracção e revigoramento da memória, em férias, vem à tona uma cena relacionada com o fiel amigo.
Conta-se em círculos docentes, nomeadamente entre professores de Português, um episódio hilariante, que passo a narrar. Numa aula de Português, em que a professora abordava, pela rama, o texto poético, introduzindo noções muito elementares de métrica, rima, etc., deu como trabalho de casa a procura de uma frase poética. No dia seguinte, o Manelinho apresenta a frase: “O sol é grande, caem co’a calma as aves!” Muito bem! disse a professora. - Escolheste o poeta Sá de Miranda, do Cancioneiro Geral! E tu, Joãozinho, que dizes? "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”! Muito bem, menino Joãozinho, a tua frase vem a talho de foice, pois é altamente poética! - Ora muito bem, vamos agora ouvir o menino Zequinha.
Com a fama que já vem de longe, retorquiu o aluno: "O canguru tem pelos no cu!"
A professora, contrariamente, aos comentários feitos aos colegas, apenas disse: - Queres, sempre, ser diferente e disseste uma frase da tua lavra! Quiseste mostrar originalidade, mas não passaste de um engraçadinho! Não aceito a tua frase que viola as regras do decoro e boa educação!
O menino Zequinha, cabisbaixo, ouve o raspanete e lá obedece à professora. No dia seguinte, toda a turma aguardava impaciente a grande revelação! A frase poética do menino Zequinha. Quando a professora o interpela, responde prazenteiro, na ponta da língua.
O canguru
tem pelos na beiça;
Só não tem pelos no cu,
porque a professora não deixa!
Dispensa-se qualquer comentário à resposta brejeira do puto.
Numa situação semelhante, em que a autora se encontrava a dar o texto poético, numa turma desta idade irreverente, segue as pisadas da sua colega e também solicita o mesmo trabalho, como aplicação dos conteúdos leccionados.
O aluno x, no seu fervor poético e querendo dar provas de que apreendera bem a lição, saiu-se com esta:
É Natal. É alegria.
Vamos comer bacalhau
Anda daí, ó Maria
Se não, levas com o pau!
Para sua tranquilidade, não tinha ainda abordado, na aula, a polissemia da palavra... e ao puto, na casa dos 10 anos, nem sequer lhe perpassara pela cabeça... aquilo que certamente aconteceu com o leitor, de idade madura, brejeira e que numa de linguagem coloquial, sem carácter ofensivo, se designa de “mente poluída!
Mas... nos Jardins Oudinot... há uma atmosfera limpa, com cheiro a maresia e... a bacalhau fantasiado de várias roupagens. Bom apetite se deseja!
M.ª Donzília Almeida
21 de Agosto de 2009