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E não disse alguém que
o melhor do mundo são as "adoráveis criancinhas"?
Foi num dos seus habituais passeios de bicicleta, nesta planície, ensolarada e abraçada pela ria, que se encontraram. Uma lojinha do comércio local, onde as pessoas ainda contam como tal e estabelecem relações de boa convivência, foi o cenário deste insólito episódio.
Deparou com aquela cliente a procurar as peças de joalharia que mais lhe convinham, como souvenirs da sua estadia na terra natal. Os seus entes queridos que haviam ficado em terras de Sarkozy/Carla Bruni, o casal mediático que anda nas bocas do mundo, decerto aguardavam com expectativa, as surpresas que iriam de avião, para chegarem mais depressa ao seu destino.
Sem qualquer assunto específico ou importante, entabularam conversa e sem mais nem p’ra quê, o tema versava a preservação do ambiente. Ouvia-a deliciada, defender com unhas e dentes, o ambiente e as formas como colaborava e se empenhava para fazer valer os seus princípios. Pasmava como aquela criatura preconizava a utilização mínima dos sacos plásticos, que, na sua opinião, deveriam ser pagos nos supermercados. Era uma posição vanguardista e, também, algo polémica, mas arrebatava o anuimento desta veraneante. Era tal a convicção com que debatia e defendia as suas posições que até, numa sugestão ali dada, para reduzir o consumo dos famigerados sacos plásticos, declarava que usava uma bacia para trazer o peixe, quando o comprava à beira de sua casa. Dentro da carteira, havia sempre um saquinho desdobrável para o que desse e viesse e num ímpeto de demonstração da sua eficácia, pega nele e oferece-o àquela ilustre desconhecida! Admirável, como encontrava uma pessoa que partilhava, tão cabalmente, os seus princípios ecológicos. Palavra puxa palavra, até que se identifica como professora e mais... como tendo sido aluna da sua interlocutora. Um abraço bem apertado selou e fez reviver a amizade de outros tempos, numa época em que eram ambas muito jovens, com apenas 3 anos de diferença na idade.
Depois de uma troca efusiva de palavras, num revivalismo de épocas passadas, nos bons velhos tempos em que caminhavam na construção e realização dos seus sonhos, dá-se um flash de memória. Aquela cliente, residente em França, faz a retrospectiva da sua vida passada, relatando os passos mais marcantes do seu percurso docente. Encontra-se em França, a leccionar Português aos filhos dos emigrantes, numa licença concedida para o efeito. Aqueles Portugueses, apesar do enorme esforço de aculturação, ainda conseguem ter disponibilidade mental para transmitir aos filhos a língua pátria que os viu nascer. Mérito, muito mérito nesta atitude de transmissão da sua língua-mãe, que, apesar de já não ser a dos seus filhos, ainda tem peso de bilinguismo. E... não está provado que quantas mais ferramentas um jovem possuir para enfrentar a vida, mais probabilidades tem de sucesso? O acervo de línguas também entra nesse cômputo. E... poliglota é a ambição de muitos e foi, durante algum tempo, um sonho acalentado pela autora destas linhas. Que bom é podermos compreender os nossos irmãos de paragens exóticas, no seu linguajar, sem precisarmos de intérpretes ou de qualquer ajuda exterior.
Revelam, apenas, um sinal de inteligência, estes emigrantes, que se demarcam daqueles, que noutras épocas vinham passar as vacanças a Portugal e construir a maison dos seus sonhos numa evidência de novo-riquismo balofo. Falavam Francês, em público, com os seus rebentos, como forma exibicionista de demonstrarem que já tinham andado por outras paragens e, quiçá, fazerem crer do sucesso alcançado na vida.
Revelou à sua antiga teacher, no tom brejeiro e decidido, marca da sua personalidade, que em breve iria para a retraite. Comungava da opinião de muitos docentes que estão desencatados com as políticas educativas, praticadas neste país e que nos últimos tempos têm feito correr rios de tinta.
Que não, que ainda não sentira vontade... de lhe seguir os passos para a retraite..., apesar da onda de descontentamento que varre a classe. Ainda se sente com genica e vai desfrutando do lado pitoresco da profissão, no contacto com uma faixa etária irreverente, sim, mas também muito espontânea e que lhe alimenta o seu espírito jovem.
E... não disse alguém que o melhor do mundo, são as “adoráveis criancinhas”?
Mª Donzília Almeida
27.08.09