sexta-feira, 14 de março de 2008

Prenúncio de Primavera


Quem há por aí que não sonhe já com a Primavera? Quem há por aí que não se delicie com as flores que desabrocham por todos os cantos? Quem há por aí que não aprecie a natureza na sua fase, maravilhosa, de ressurreição? Quem há por aí que não sinta os cheiros frescos e doces deste prenúncio da espação das flores? Há muitos, com certeza. Então, saiam de casa e casem-se com o novo ambiente que nos bate à porta e entra, até nós, por todos os interstícios que nos rodeiam.
FM

Ainda a marcha da indignação

Filomena Mónica

A conhecida socióloga, escritora, investigadora e professora universitária Maria Filomena Mónica participou, a convite da revista SÁBADO, na marcha da indignação. Foi para observar, para depois comentar. O que fez, para a SÁBADO desta semana.
A dado passo das suas considerações, muitas delas pertinentes e justas, disse que “a Educação é o maior falhanço do actual regime”, e que, a seu ver, “as reformas educativas deveriam começar pelo topo, introduzindo-se o numerus clausus nas univeridades”. A seguir referiu que, “diante da pressão das classes médias, o Estado corria o risco de abrir demasiado as portas ao ensino superior”. E acrescentou: “Foi o que aconteceu. As faculdades passaram a receber mais alunos do que os professores doutorados (os únicos competentes para ensinar) tinham capacidade para leccionar. Os resultados viram-se: todos os anos foram lançados no mercado licenciados analfabetos. Entre a multidão reunida no Terreiro do Paço havia provavelmente quem (como a ministra) tivesse sido meu aluno. Apesar do meu esforço em preparar bem as aulas, tenho consciência de que muitos acabaram as suas licenciaturas sem competência para ensinar.”
Tenho dificuldade em aceitar esta generalização. Há muito este hábito entre nós. Por um lado, nada nos garante que só os doutorados é que têm competência para ensinar. Alguns até - admito - podem saber muito e não ter capacidade para transmitir o muito que sabem. Ensinar, se é uma ciência, também é uma arte, a meu ver.
Por outro lado, custa-me aceitar que o nosso mercado de trabalho tenha assim tantos licenciados analfabetos. Acredito, e conheço, licenciados que pouco ou nada lêem, para além do específico da sua profissão, que não vão ao cinema nem a exposições, que não frequentam concertos nem livrarias, que nada sabem, em resumo, do mundo em que se inserem. Mas há outros, com certeza, que se valorizam no dia-a-dia, que lêem e vêem o que possa contribuir para a sua formação integral. Como há licenciados trabalhadores, competentes e esforçados a par de outros que se baldam. Há de tudo, afinal, como em qualquer profissão. Por exemplo, também conheço doutorados que, para além da sua especialidade, não passam de uns ignorantes, direi mesmo analfabetos, sobre muitas expressões culturais, sociais, artísticas e religiosas que existem à sua volta.

FM

quinta-feira, 13 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


Educar “em” Direitos Humanos

1. A Comissão de Solidariedade Social da Associação Académica da Universidade de Aveiro (ORIGAMI), na sua organização do Ciclo de Tertúlias para a Tolerância, levou nestes dias a efeito importante iniciativa sobre «Educação para os Direitos Humanos». Um apelo e um convite fundamental aos estudantes na reflexão continuada sobre as preocupações do mundo em geral (em que continuam a ser tantas as violações dos direitos humanos); mas numa dinâmica da “transferência” dessas preocupações globais para as visões do compromisso diário no âmbito do estudo, investigação e trabalho. A dinamização esteve a cargo da Amnistia Internacional, instância de referência no zelo e promoção dos direitos humanos e na denúncia de situações de seu desumano incumprimento. Conhecer “o que falta” é sempre o primeiro passo para que não falte; a este nível a Amnistia Internacional transfere o “grito” de situações silenciadas para a visibilidade global. Um impulso decisivo em ordem à dignificação da pessoa humana no mundo actual.
2. Felizmente que hoje são muitas as sensibilidades nesta área, no esforço de proporcionar o encontro do «ideal comum a atingir por todos os povos» com às práticas concretas, em todo o tempo e lugar. São também muitas e diversificadas as instâncias e organizações que vivem e promovem esta causa de todos. Também se sublinhe que, hoje, falarmos correntemente de «educação para os direitos humanos» já é por si um sinal de conseguida e múltipla abertura; tanto da educação como tarefa abrangente e por isso que estabelece ponte com as realidades a transformar, como do referencial da Declaração Universal dos Direitos Humanos que quer chegar a todas as áreas do conhecimento (mesmo técnico-científico) para que ele seja e esteja, sempre mais, ao serviço da Humanidade. Este horizonte de diálogo transdisciplinar é, afinal, o caminho que corresponde a concepção plural e inclusiva da dignidade da pessoa humana.
3. Pese, embora, os caminhos já percorridos como eco histórico do dia «10 de Dezembro de 1948» (em que simbolicamente estamos), uma consciência mais efectiva e participada, motivada e sensibilizada está sempre em reconstrução. Enquanto o desejado desenvolvimento humano dos povos continuar a escrever páginas de sangue e indignidade este quadro de referência sócio-educativo não pode esperar. Talvez, nos tempos em que estamos, onde convivemos todos os dias as notícias da miserabilidade correndo o perigo de nos habituarmos, nestes contextos, a aposta decisiva será mesmo na qualidade da proposta como educação «em» direitos humanos, onde estamos totalmente envolvidos naquilo que comunicamos. Felizmente que hoje uma multidão vive este caminho e dá por ele a vida, o tempo, a esperança. Mas ainda falta sempre tanto para este ideal descer ao coração de cada um, e, talvez até mesmo na educação, a começar pelo filme dos brinquedos para crianças (muitos carregados de “guerra”)! O “refrão” dos “direitos humanos”, por si, tem vida curta; para ir mais longe precisa de incluir a “dignidade humana” na sua raiz aberta à Totalidade que cultive e aprecie o que é SER e existir no mundo com os outros. O caminho longo da dignidade!

Alexandre Cruz

Batalha em campo aberto, sem vencedores à vista

O que se está a passar no mundo do ensino e da educação escolar é altamente preocupante. Ministério, professores, pais, cidadãos, porque também estes têm palavra, parece que já ninguém se entende. Todos falam de todos, todos atiram pedras, todos se queixam, todos dizem que não cedem, todos se consideram vencedores numa batalha que, já por si, mais parece de vencidos, antecipados ou a curto prazo.
Se há acção em que toda a gente se deve entender para colaborar sem preconceitos, sendo pressuposto, como é normal e legítimo, o diálogo em que se discutam abertamente os problemas em campo, bem como o modo possível de os ir resolvendo, com mérito e civilidade, é a acção educativa, que se espera da escola e de todos os seus mais directos intervenientes. Neste mundo concreto, o mais importante são os alunos, que querem e têm direito a aprender, com pais, professores, governantes e cidadãos em geral, a preparar-se para a vida e a capacitar-se para serem cidadãos responsáveis, conscientes e participativos. O livro que lhe abrem com toda esta batalha, que podia ser dispensável, não traz lição apetecível que se possa aprender.
Os professores de há muito se vêm desmotivando, por razão das contínuas medidas do Ministério, unilaterais e não admitindo réplica, dando a impressão de que quem governa lá de longe tudo resolve com ordens e papeis, parecendo não ter em conta, nem a natureza do trabalho de quem ensina, nem a realidade de muitas escolas que hoje, em muitos casos, são campo difícil, que só o conhece bem quem vive e actua lá dentro.
Os educadores escolares são agentes necessários na escola e na missão que a esta compete. Há que contar sempre com eles e não entrar em conflitos evitáveis, que deixam muitas vezes marcas difíceis de apagar.
Há, em ligação à escola, problemas urgentes a resolver. Todos o sabemos. Não são sempre boas as condições de trabalho. O ambiente, dentro e fora da escola, deteriorou-se. Em muitos casos, deparamos com gente que está no ensino porque não teve outra saída e se mostra incapaz de criar relações propícias para comunicar vida e saber aos seus alunos e proporcionar boa colaboração aos seus colegas.
Gente que parece ter feito da escola um apêndice do seu dia a dia. Mas, se são estes agentes que o Ministério quer atingir, deve saber que se trata de uma minoria, que não pode constituir motivo ou ocasião para se esquecer a grande maioria dos professores das escolas do Estado, que fazem esforços heróicos para serem fieis à sua missão, gente com direitos adquiridos e vidas organizadas, gente séria, competente e sabedora, que vai marcando vidas e gerações, colegas amigos e fiéis aos outros colegas, profissionais que se gastam, diariamente, numa tarefa que constitui para si uma autêntica paixão. Não o reconhecer, se for o caso, é ser injusto, exacerbar e irritar, por menosprezo, um mundo de gente de que o país precisa. Está na rua e em luta o que nunca deveria ser preciso levar à rua.
O governo assume-se como reformador e, quando há que reformar, está no seu direito e cumpre o seu dever. Nunca, porém, a ditar sozinho do palanque alto e distante do poder. Diz a técnica jurídica que, para que as leis sejam aceites e eficazes, se deve procurar, antes da sua promulgação, que sejam desejadas e esperadas. Isto não se faz sem auscultação aberta e pedagogia adequada. O poder emanado do povo nunca pode dispensar o povo e os que o servem nas bases. A fidelidade de quem faz do governar um serviço, não é simplesmente fidelidade a um programa eleitoral, mas ao serviço a prestar, em cada momento e circunstância, ao conjunto nacional.
Parece urgente acabar-se com esta batalha em campo aberto, entre o Ministério e os professores, com manifestações e contra manifestações. Há batalhas muito graves e urgentes na vida e no agir da escola e no campo da educação. Elas não se podem adiar e aí todos fazem falta. O importante não pode apagar o essencial. Na escola está o futuro.

António Marcelino

quarta-feira, 12 de março de 2008

Professores e educadores decisivos para o futuro

“Os professores e educadores neste país são um grupo decisivo para o futuro, porventura mais decisivo que os políticos, financeiros ou técnicos.” Cardeal-Patriarca de Lisboa

Na Linha Da Utopia


Memória e vida, para que seja Páscoa

1. Muitas vezes ouvimos gente adulta e influente nas sociedades a recordar com nostalgia os tempos idos em que as festividades mobilizavam os lugares, as ruas e as famílias em torno de valores esperançosos e em ordem à renovação de ideais e princípios estimulantes ao bem comum. Naturalmente os tempos são outros, e importará nem ter uma saudade como se antigamente fosse tudo bom, nem simplesmente esquecer o passado como se esse nas suas tradições não tivesse razão de ser. Talvez este seja um dos eixos da encruzilhada da civilização actual, onde se procura dar um “salto em frente” de tal maneira amplo que acabamos por não saber em que se alicerça a própria vida; em contrapartida, verifica-se essa memória gratificante (hoje) das memórias do passado, considerando-se o quanto elas nos constroem na nossa própria identidade. Mas neste contexto a maior interpelação é sentir a completa indiferença de quem tem essas memórias e não vive qualquer preocupação em “passar” um certo testemunho aos seus vindouros, até na preocupação cultural de que vão apreendendo “sentido”em todo o património (e muito dele é religioso) que os rodeia.
2. Não admira, por isso, a dificuldade em fazer passar a mensagem da cultura, da vida e da espiritualidade. Até da própria dimensão pessoal mais básica (diríamos) aconfessional, humana, sem ligação a qualquer igreja ou religião, pois a “menoridade cultural” ou o preconceito ideológico ou, ainda, muito do peso institucional das religiões e igrejas, afastam o ser humano contemporâneo da sua caminhada existencial mais profunda. Ninguém dá o que não tem. E é certo que para ler e partilhar toda a panóplia de significados que as festividades e celebrações comportam como “história viva” e actual é preciso um grande caminho de busca de sentido. A Páscoa (passagem) de há cerca de três milénios para cá, e numa dinâmica aperfeiçoada pessoalmente há 2000 anos, inscreve-se nesta mesma fronteira. Quem a conhece “por dentro” vê nela o centro de referência no qual alicerçar um sentido a dar à vida; quem a lê no imaginário público sente um resto interessante de tradição curiosa com sentido sociabilizante; quem não a conhece, não quer conhecer e não quer que ela se partilhe (esquecendo que dela derivam mesmo os valores sócio-democráticos da tradição judeo-cristã) então vai mesmo procurando apagar da memória colectiva as centelhas da sementeira de significado e sentido…
3. É o tempo das opções, entre um “Algo/Alguém” que nos estimule positivamente ou um “quase-nada” de ausência de fundamentação do sentido da vida. Neste erguer-se-á o “ter”. Até como significado cultural (se já não na essencialidade altíssima do que a Páscoa é enquanto fonte de “vida nova”) torna-se essencial o compreender a memória histórica (e seus valores) que nos precedeu. Será isto importante? Que memória queremos que perdure no coração nos nossos filhos? Serão só as coisas da Páscoa?


Alexandre Cruz

Clube Stella Maris vai celebrar jubileu



Ontem à noite, a direcção do Stella Maris de Aveiro celebrou o segundo aniversário da sua tomada de posse. Foi agradável sentir o empenhamento de quantos, de há dois anos até hoje, têm desenvolvido esforços no sentido de recolocar a Obra do Apostolado do Mar em sintonia com as exigências do nosso tempo, tendo em conta que os marítimos do presente nada têm a ver com os da fundação daquele clube, na Gafanha da Nazaré. Os portos de Aveiro e as políticas das pescas, hoje, são completamente diferentes dos que existiam há um quarto de século, como é sabido.
O porto de Pesca Costeira está instalado no canal de Mira, na zona da Marinha Velha, o porto Comercial está no Forte da Barra, o porto Industrial na Chave e o porto de Pesca Longínqua na Chave e Cale da Vila. Todos, afinal, na Gafanha da Nazaré. Há 25 anos quase tudo se concentrava na zona do porto de Pesca Longínqua. Nessa altura foi lançada a primeira pedra do edifício que ainda se mantém aberto aos homens do mar e suas famílias, bem como a toda a gente, directa ou indirectamente identificada com a ria e com o mar.
D. António Francisco, Bispo de Aveiro, na conversa informal que manteve com a direcção do Stella Maris, sublinhou que durante 2008 importa celebrar este jubileu, em espírito bíblico. Mas logo recordou que 25 anos de trabalho “obrigam-nos a pensar numa celebração que recorde quantos se deram à Obra do Apostolado do Mar”.
Defendeu a implementação de projectos que se estendam “a todas as paróquias ligadas ao mar e à ria”, desenvolvendo uma “pastoral específica”, sem esquecer o “entrosamento com as outras dioceses marítimas do nosso País”.
O Bispo de Aveiro frisou a dedicação, a generosidade e o espírito de comunhão vivenciados pelos dirigentes e seus familiares no Stella Maris, durante os dois anos decorridos, razões principais do equilíbrio financeiro conseguido e das esperanças num futuro melhor.
O encontro serviu ainda para se falar sobre acções a desenvolver nos próximos tempos, em especial sobre uma participação significativa do Stella Maris de Aveiro no Encontro das Praias, a ter lugar em Sines, em 25 de Maio próximo.

FM

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