domingo, 24 de fevereiro de 2008

Na Linha Da Utopia



Património de Aveiro no Moliceiro

1. (Aceitámos o repto lançado...) Há breves dias ocorreu mais uma oportuníssima tertúlia promovida pela Associação dos Antigos Alunos da Universidade de Aveiro (http://www.aaaua.ua.pt/), entidade atenta na dinâmica da mobilização nas mais variadas áreas de iniciativa, sempre aberta à comunidade em geral tendo como especial referência os antigos alunos da academia aveirense. O local destas iniciativas de periodicidade (sensivelmente) mensal é o Hotel Moliceiro. Um espaço ex-libris da cidade que, numa visão de “hotel como cultura”, acolhe esta habitual linha programática de reflexão e debate sobre assuntos que dizem respeito a todos os cidadãos, quer da cidade e região quer da “aldeia” do mundo actual. Desta vez o tema era «o património aveirense»; e que melhor local para o acolher que um (Hotel) Moliceiro!...
2. Sempre que esta reflexão vem à ribalta juntam-se muitas vozes de zelo cuidadoso a par dos sentimentos de ansiedade sobre o que vai ficando por cuidar. Passado, presente e futuro entrecruzam-se neste reconhecimento admirável aos que “deram a vida” (e em que lutas!) por um património aveirense mais preservado e amado. Mas também se reconhece a continuada carência de elos de ligação potenciadores de uma comunidade que viva, conheça, estude, aprecie e se identifique com o seu património cultural. Dos canais (sempre adiados) da Ria de Aveiro, aos canais das comunicações articuladas e programáticas entre todos os “agentes” ainda paira “ruído” no ar, não chegando um cómodo dizer-se que “estamos disponíveis” como se o futuro se fizesse de uma simples “boa vontade” sem o agarrar determinado dos processos de forma concreta, parceira e objectiva.
3. Até quando as causas do património terão de ser uma “luta”? Não corresponderá ele ao que de melhor temos para viver com qualidade e partilhar com quem nos visita? A história dos que edificaram no tempo entidades como a ADERAV (Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro: http://www.aderav.com.sapo.pt/) mostra-nos que a determinação do “agarrar” a causa salvou Aveiro de “cegueiras” contra o património. Os esforços contemporâneos também são muitos. Alguns, seja sublinhado, como a Rota da Luz, surgem mesmo como plataforma de visibilidade nunca vista para Aveiro. Mas, cá dentro, numa mesma “mesa”, a “rede” poderá despertar as 1001 potencialidades… O primeiro passo é sempre o querer, valorizando o essencial que une a região e suas gentes. Embarcar num mesmo “moliceiro visionário” pode multiplicar caminhos e rentabilizar estratégias. Ninguém que pense a cultura, que “tenha” património e que ame a região pode ficar de fora (do que é público, da sociedade civil ao religioso ou privado). E podem uns ovos-moles ajudar a criar pontes!...
4. Agora só pessoalmente: das coisas que lançam grande interpelação é o facto de em Portugal existirem muitas redes de turismo espanholas a organizar os nossos roteiros do património regional / nacional… Sem palavras, pena. Claro, a nossa menor visão ou o desentendimento são (lhes) um presente caído do céu! (E depois, em Portugal, falta-nos a auto-estima!...)

Alexandre Cruz

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A fome de peixe

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Será que alguém duvida da esperteza das aves marinhas? Elas sabem que a traineira leva peixe e do bom. E como a fome aperta...

Museu de Ílhavo no PÚBLICO de hoje



Na pesca do bacalhau

Inaugurado em 1937, o museu situa-se desde 2001 em novas e modernas instalações, desenhadas pelos arquitectos Nuno e José Mateus. Dedica boa parte do seu espaço à relação dos habitantes locais com a água. Duas exposições permanentes evocam dois dos eixos centrais desse tema: a pesca do bacalhau nas águas da Terra Nova (em lugres à vela, de madeira, servindo de base a flotilhas de dóris a remos, tripulados por um só homem) e a faina da ria de Aveiro (pesca e apanha do moliço). Um pólo exterior do museu acolhe o antigo arrastão Santo André, lançado à água em 1948 e que correspondeu à fase seguinte da pesca ao bacalhau, já mecanizada. Este navio-museu inaugurado em Janeiro de 2007 vale bem uma visita: podem ver-se a casa das máquinas, a cozinha e refeitório, os camarotes e até o grande porão do bacalhau.

Museu Marítimo de Ílhavo, Av. Dr. Rocha Madail, Tel. 234 329990
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Fonte: PÚBLICO de hoje

GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS

Não é todos os dias que encontramos homens íntegros no exercí-cio de funções relevantes e mesmo na vida de todos os dias. Sei que os há. Mas na política, área mais visível, embora haja pessoas respeitáveis, são mais, na minha opinião, as que agora dizem uma coisa e amanhã o seu contrário.
Guilherme d’Oliveira Martins é uma personalidade polivalente e multifacetada. É socialista, escritor, foi ministro dos Governos de António Guterres e deputado, é docente universitário, confe-rencista, militante católico, presidente da Centro Nacional de Cultura e Presidenta do Tribunal de Contas.
Fala sobre literatura, história, direito, filosofia, política, arte e religião, entre outros assuntos, sempre com elevação. Já Eduardo Prado Coelho, que o admirava, sublinhava a sua cultura global. Quando foi nomeado para o Tribunal de Contas, logo surgiram vozes de protesto pelo facto de ele ser socialista. Que iria pactuar com o Governo, era o mínimo que dele se esperava. Mas esses arautos da desgraça, que vêem nos outros aquilo que são, enganaram-se.
Guilherme d’Oliveira Martins, como pessoa honesta, não perdeu tempo com esses críticos. E uma vez no Tribunal, começou a exercer as suas funções com a independência que o caracteriza. Na sequência de outras decisões, em que reprovou contas do Governo de José Sócrates, também o Tribunal a que preside não deu luz verde a um empréstimo que a Câmara Municipal de Lisboa queria contrair para pagar dívidas. Choveram os protestos. Mas Guilherme d’Oliveira Martins já respondeu que se limitava a cumprir a lei. E disse mais: se não concordam com ela, os legisladores que a alterem.

FM

Fiquei tranquilo no mar



Deixei a floresta de cimento
que me incomodava
e fugi para o mar
que ali perto bramia
e me desafiava
com seu rugido
cadenciado

Senti que o frio do cimento se foi
paulatinamente

Veio então o calor das águas revoltas
que batiam forte
contra as pedras sofredoras

E com o bater do mar e o sofrer das pedras
fiquei tranquilo
e feliz
a ver passar o tempo

Fernando Martins

SOMOS LIVRES? DETERMINISMO E LIBERDADE


Esta é a pergunta decisiva. De facto, se não somos livres, o que se chama dignidade humana pode ser uma convenção, mas não tem fundamento real.
Mas quem nunca foi assaltado pela pergunta: a minha vida teria podido ser diferente? Para sabê-lo cientificamente, seria preciso o que não é possível: repetir a vida exactamente nas mesmas circunstâncias. Só assim se verificaria se as "escolhas" se repetiam nos mesmos termos ou não.
Não há dúvida de que a liberdade humana é condicionada. Mas ela existe ou é uma ilusão? Não vêm agora neurocientistas dizer que, mediante dados da tomografia de emissão de positrões e da ressonância magnética nuclear funcional, se mostra que afinal as nossas decisões são dirigidas por processos neuronais inconscientes?
De qualquer modo, em 2004, destacados neurocientistas também tornaram público um "Manifesto sobre o presente e o futuro da investigação do cérebro" - cito Hans Küng, no seu Der Anfang aller Dinge (O princípio de todas as coisas) -, revelando-se prudentes no que toca às "grandes perguntas": "Como surgem a consciência e a vivência do eu?
Como se entrelaçam a acção racional e a acção emocional? Que valor se deve conceder à ideia de 'livre arbítrio'? Colocar já hoje as grandes perguntas das neurociências é legítimo, mas pensar que terão resposta nos próximos dez anos é muito pouco realista." É preciso continuar as investigações, no sentido de perceber o nexo entre a mente e o cérebro. "Mas nenhum progresso terminará num triunfo do reducionismo neuronal. Mesmo que alguma vez chegássemos a explicar a totalidade dos processos neuronais subjacentes à simpatia que o ser humano pode sentir pelos seus congéneres, ao seu enamoramento e à sua responsabilidade moral, a autonomia da 'perspectiva interna' permaneceria intacta. Pois também uma fuga de Bach não perde nada do seu fascínio, quando se compreende com exactidão como está construída."
A liberdade não é desvinculável da experiência subjectiva, da "perspectiva interna". Essa experiência é transcendental, no sentido de que se afirma até na sua negação. De facto, se tudo se movesse no quadro do determinismo total, como surgiria o debate sobre a liberdade?
Essa experiência coloca-se concretamente no campo da moral e da responsabilidade. Neste contexto, há um célebre exercício mental de Kant na Crítica da Razão Prática, que é elucidativo e obriga a pensar. Suponhamos que alguém, sob pena de morte imediata, se vê confrontado com a ordem de levantar um falso testemunho contra uma pessoa que sabe ser inocente. Nessas circunstâncias e por muito grande que seja o seu amor à vida, pensará que é possível resistir. "Talvez não se atreva a assegurar que assim faria, no caso de isso realmente acontecer; mas não terá outro remédio senão aceitar sem hesitações que tem essa possibilidade." Existem as duas possibilidades: resistir ou não. "Julga, portanto, que é capaz de fazer algo, pois é consciente de que deve moralmente fazê-lo e, desse modo, descobre em si a liberdade que, sem a lei moral, lhe teria passado despercebida."
O que confunde frequentemente o debate é a falta de esclarecimento quanto ao que é realmente a liberdade. Ela é a não submissão à necessidade coactiva, externa e interna, mas não pode, por outro lado, ser confundida com a arbitrariedade e a pura espontaneidade - não implica a espontaneidade a necessidade?
A liberdade radica na experiência originária do Homem como dom para si mesmo.
Paradoxalmente, é na abertura a tudo, portanto, no horizonte da totalidade do ser, que ele vem a si mesmo como eu único e senhor de si. Então, agir livremente é a capacidade de erguer-se acima dos próprios interesses, para pôr-se no lugar do outro e agir racionalmente.
É preciso distinguir entre causas e razões. Quando se age sob uma causalidade constringente, não há liberdade. Ser livre é propor-se ideais, deliberar e agir segundo razões e argumentos, impondo limites aos impulsos, inclinações e desejos, o que mostra que o Homem pode ser senhor dos seus actos e, assim, responsável, isto é, responder por eles.

Anselmo Borges
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A Conversa Aberta do Fórum::UniverSal vai ter como convidado o antigo Presidente da Assembleia da República, Barbosa de Melo. O tema, "Os (esc)olhos da Justiça, é por demais oportuno. Será no CUFC, no dia 5 de Março, pelas 21 horas. A entrada é livre.

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