O recuo da liberdade
1. Claro está que a liberdade não recua por si pois é sempre sinal de “relação”, e não se dizer esta afirmação sem a sua devida comprovação. A tese é demonstrada por factos concretos no relatório anual da Freedom House, sobre a situação da liberdade e democracia no mundo. Esta entidade foi fundada há 60 anos por Eleanor Roosevelt, a par de outros membros, no aprofundamento dos inúmeros tratados de paz e da democracia. Este relatório começa com a ideia de que «o ano de 2007 foi marcado por um recuo assinalável da liberdade global» (Público, 23 Janeiro). Nomeando países e situações concretas, dando especial destaque à Rússia e à China, o relatório chega à conclusão de que é a primeira vez que nos últimos 15 anos se verifica o segundo ano consecutivo de perca nos índices da liberdade global.
2. Desde a liberdade de imprensa às novas tecnologias da comunicação, das situações mais variadas na sociedade civil às corrupções de estados, o estudo elaborado mostra-nos as tendências do futuro da liberdade. Como sabemos, após a queda do muro de Berlim (1989) pensava-se que, corrigidas as fronteiras do liberalismo económico, entraríamos finalmente numa era global de desenvolvimento justo e pacífico em que a liberdade e a democracia, propostos como valores ocidentais, teriam a sua abertura exponencial a todo o planeta. Tal facto não se concretizou, havendo hoje claramente retrocessos que questionam os modelos futuros, provindo uma fatia desta perca de credibilidade democrática dos simbólicos unilateralismos da última (quase) década norte americana.
3. A conclusão, parece, vai-se tornando clara. Com o emergir em força fulgurante dos impérios orientais da China (com Japão e Índia), os designados valores do Ocidente que se pensava virem a ser hegemónicos, vão perdendo a força capaz de modelar a globalização em curso. Vai sendo um facto de “perda” que também se pode observar no emergir de novas autoridades (e mesmo autoritarismos) diante da indiferença democrática em libertinagem… Que força de impressão sócio-política virão a ter no mundo os paradigmas orientais (na sua visão do trabalho, da sociedade, da pessoa e dignidade humana)? Eis a questão do futuro! Nesse novo cenário é…por um lado, uma riqueza pois temos sempre tanto a aprender dos outros; por outro lado, a (dúvida) certeza que começa mesmo a revestir-se de significado essencial o sabermos que “identidade” de valores assumimos como referenciais comuns. As obras sobre as raízes do ocidente continuam a proliferar; na encruzilhada, saberemos melhor para onde vamos!
Alexandre Cruz