1. As medidas anunciadas pelo Governo da Nação, em ordem a resolver o problema do défice das contas públicas do Estado, originam um período de austeridade e exigência, geram contestação social, suscitam visões particularistas de pessoas e grupos na defesa dos próprios interesses, ameaçam penalizar ainda mais aqueles que já são mais sacrificados, pela situação de pobreza ou de falta de trabalho, pela doença e pela desajustada carga fiscal.
Não compete aos bispos pronunciar-se sobre questões técnicas de política económico-financeira. Mas porque se trata de um problema grave que afecta toda a comunidade nacional, que condiciona o presente e compromete o futuro, de incontornáveis dimensões éticas, parece-nos oportuno relembrar alguns aspectos da doutrina social da Igreja, que devem inspirar o comportamento dos cristãos e de quantos procuram o melhor para o país.
2. Antes de mais parece-nos claro que estamos num momento em que é preciso realçar as exigências do bem comum, isto é, a prevalência do bem de toda a colectividade sobre interesses pessoais ou corporativos. A busca do bem comum supõe lucidez de discernimento e generosidade de comportamentos. Essa salvaguarda do bem comum sublinha a responsabilidade de todos, na consciência de que a harmonia da sociedade será irremediavelmente comprometida pela defesa de interesses particularistas.
As soluções encontradas e propostas têm de ser globais e não particulares, privilegiando aquelas que não se limitam a resolver aspectos imediatos do problema, mas são portadoras de solução a médio e longo prazo, como o são, por exemplo, o investimento na inovação tecnológica, uma economia geradora de emprego, uma educação para a liberdade responsável, a análise aprofundada das causas da pobreza e a responsabilização social. O contributo de todos para o desenvolvimento colectivo, faz de cada cidadão protagonista das soluções, quer pagando os impostos justamente distribuídos, quer empenhando-se criativa e solidariamente no implementar de soluções.
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