domingo, 18 de junho de 2017

POESIA DE TOLENTINO MENDONÇA PARA ESTE TEMPO



Existem palavras por nós ignoradas
vivem ao lado das que mais usamos
e nunca sabemos quando
uma delas em fuga
com a calibração precisa
surgirá para transtornar a neutralidade

a língua arrasta a noite ancestral
um vento de neve
cheio de folhas mortas
a idade que possuímos em segredo
sem que nenhuma documentação civil 
a detecte

as línguas são portas
que se abrem rangendo
para coisas que não existem

José Tolentino Mendonça.
“Bocca della Veritá.
In “Teoria da Fronteira”
Assírio & Alvim, maio de 2017


Nota: Proposta do caderno Economia do EXPRESSO

À SOMBRA DO PRIOR SARDO FOI CELEBRADO O DIA DA COMUNIDADE




Realizou-se hoje, sábado, 15 de junho, no Jardim 31 de Agosto, o Dia da Comunidade Paroquial, junto à estátua do Prior Sardo, fundador e dinamizador da paróquia de Nossa Senhora da Nazaré. A Eucaristia, fonte da nossa fé, foi presidida pelo nosso prior, Padre César Fernandes, que à homilia deixou um apelo, no sentido de todos assumirmos a tarefa da evangelização, que não é exclusiva «dos bispos e dos padres». 
Mais de 500 pessoas participaram no Dia da Comunidade, apesar de o sol escaldante se fazer sentir, número que excedeu as expetativas, talvez por ser o Jardim 31 de Agosto o verdadeiro centro cívico da Gafanha da Nazaré. Os trabalhos de organização estiveram a cargo dos Conselhos Económico e Pastoral e contaram com a colaboração sempre disponível do Agrupamento n.º 588 do CNE, todos dinamizados pelo prior César Fernandes, que no final da missa agradeceu os contributos dos que trabalharam com afinco, para que tudo corresse bem. E depois da Eucaristia veio o convívio com bifanas, rojões, caldo verde, doces, cerveja, vinhos, águas e sumos.
Os participantes ouviram do presidente da celebração propostas de uma maior envolvência na missão salvadora que nos veio de Jesus Cristo, sobretudo através do testemunho de vida e pela nossa dedicação em favor do próximo. Temos de ser «pessoas que perdoam, como o Senhor nos perdoou». 
Frisou que «é preciso estar sempre na linha da frente com as nossas vidas lúcidas e cheias de humildade e de simplicidade», neste tempo «cada vez mais materializado, mais paganizado e mais agnóstico», procurando ser «os apóstolos do século XXI».
Perante os mais fragilizados da vida, temos de assumir, «cada vez mais e melhor, as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres dos nossos dias». 
João Lagarto, Chefe do Agrupamento n.º 588 da Gafanha da Nazaré, disse-nos, entre bifanas, caldo verde e bebidas, com tudo coordenado como máquina afinada, que é com gosto que colaboram com a paróquia, mas lembrou que é missão do escutismo contribuir para a educação e formação cívica e religiosa dos membros das diversas secções. Desta feita, como noutras ocasiões, estão sempre disponíveis para colaborar com a paróquia. 
João Lagarto considerou que o Dia da Comunidade corre «sempre melhor quando se faz junto da igreja matriz». «Aqui torna-se tudo mais simples; as pessoas não têm que se deslocar», disse.
O chefe adiantou, entretanto, que a equipa, na qual os escuteiros se envolveram, era constituída pelos membros dos Conselhos Económico e Pastoral, não faltando as experiências colhidas noutras tarefas semelhantes. E na sua opinião, o número de pessoas ultrapassou as expetativas, «obrigando a equipa a procurar reforços», porque, doutro modo, «não conseguíamos alimentar toda a gente».
Carlos Rocha, Presidente da Junta de Freguesia, achou «extraordinária a ideia de realizar o Dia da Comunidade Paroquial» neste jardim, «mais próximo da população». E também conseguimos perceber «quanto é bom estar aqui».
Levantada a questão do aproveitamento do Jardim Oudinot, outra zona de lazer privilegiada da nossa terra, o autarca adiantou que aquele parque «tem solicitações variadas e demasiadas até, sendo bom apostar no Jardim 31 de Agosto, mais central e de fácil acesso para as pessoas». 
O Presidente ainda referiu que a Câmara Municipal de Ílhavo quer valorizar a Fábrica das Ideias, «virando-a para o exterior», numa perspetiva de «dinamizar este espaço com diversas iniciativas, envolvendo as nossas associações em projetos de interesse para as populações.

Fernando Martins

sexta-feira, 16 de junho de 2017

PAPA FRANCISCO — ÂNCORAS DA REFORMA DA IGREJA

Reflexão  de Georgino Rocha


O Papa Francisco é um ítalo-argentino, engenheiro de formação, jesuíta por vocação e franciscano por opção. O contexto em que vive antes de ser escolhido para a cadeira de Pedro em Roma, leva-o a enfrentar enormes desafios que enriquecem a sua dotada personalidade, credenciando-o para o desempenho de missões de “risco”. O estilo que transparece da sua presença e intervenções em público marca indelevelmente todos os que se preocupam com a humanidade e a criação, com a Igreja e sua missão na sociedade. A mensagem decorre transparente, como a água cristalina, e revela o sentido profundo do que está a acontecer como “rosto” histórico do amor de Deus misericordioso. Os contactos pessoais e os encontros de ocasião criam uma rede de comunicações que o fazem próximo e amigo. O seu estilo de vida irradia a alegria da fé que ilumina a caminhada em que se vê envolvido e que, de algum modo, protagoniza.
Tendo em conta o que de mais saliente se pode captar, a partir da periferia em que me encontro, desejo partilhar algumas observações breves que podem servir para fazer uma leitura crítica do que está em curso e das âncoras de esperança que darão consistência e estabilidade à reforma pretendida e a tornarão irreversível com o impulso do Espírito Santo.

1. Primeira âncora: a renovação do episcopado e do colégio cardinalício. Esta renovação constitui uma linha muito clara do agir do Papa Francisco. Nela explicita a sua intenção e com ela dá suporte sustentável ao que pretende. São bispos em profunda sintonia com o novo espírito reformista que deseja implementar, colocados em dioceses significativas ou serviços especiais; são cardeais que garantirão uma sucessão apostólica consequente.

2. Segunda âncora: a constituição do G9 (grupo de nove cardeais escolhidos pessoalmente pelo Papa) que reflecte com ele a reforma da Cúria Romana, o perfil dos bispos a nomear, a situação da Igreja, os projectos de renovação a implementar, os critérios a observar, e, certamente outros assuntos prementes, os dramas da humanidade e as forças em presença na conjuntura mundial, designadamente nas zonas em conflito.

3. Terceira âncora: a valorização do estatuto do bispo da Igreja diocesana, dos órgãos colegiais de discernimento e decisão como as conferências episcopais ou dos religiosos, dos conselhos presbiterais, dos organismos laicais ou afins. É o estilo sinodal que reforça a comunhão entre todos e responsabiliza cada um. É o apelo insistente aos presbíteros a que sejam “pastores” ao jeito do Bom Pastor, que cultivem o “cheiro a ovelha”. É a exortação solícita aos diáconos a que se dediquem às “novas periferias” no exercício da sua diaconia. É a indicação clara aos religiosos e leigos para que assumam os desafios actuais e façam avançar o relógio da hora histórica que vivemos.

4. Quarta âncora: o processo da reforma da Cúria romana. Este processo vai dando passos significativos: responsáveis de dicastérios são renovados e competências redefinidas; valorização de outros órgãos de serviço que agilizam o funcionamento, criam maior familiaridade e favorecem a descentralização.

5. Quinta âncora: o agir irradiante do Papa Francisco e as suas viagens apostólicas. Este agir abre novas dimensões à Igreja em saída missionária e, mediante a conversão pastoral, aviva o espírito e lança as estruturas indispensáveis, especialmente os espaços de acolhimento e de encontro, a Cúria diocesana, o cartório paroquial e os templos. A visão da Igreja, “a partir de baixo”, vai fazendo o seu caminho; a convicção séria de que o povo de Deus está dotado do sentido da fé manifesta-se progressivamente.

6. Sexta âncora: o povo humilde “das periferias” que tem um lugar especial no coração do Papa. E lhe corresponde, afluindo em grande número. Mobilizado para participar e deixar de ser multidão esquecida, sente o que está chamado a ser; portador de uma missão histórica, “viveiro” dos dons de Deus, sempre em renovação pela força do Espírito Santo. Os encontros com os movimentos populares apontam claramente para uma alternativa, bem como o apoio à dinâmica de partilha solidária das escolas de educação/formação; os Dias Mundiais dos Jovens lançam sementes de esperança que tendem a germinar e a crescer. A instituição do Dia Mundial dos Pobres, além do valor em si mesmo, é um símbolo das novas prioridades. 

7. Sétima âncora: a memória das experiências e os textos do magistério. O sonho profético de Francisco vai sendo escrito no coração das pessoas de boa vontade e dos cristãos, em homilias e discursos, mensagens, encíclicas e sobretudo exortações apostólicas pós-sinodais. Em todas elas sobressai o desejo de fidelidade crescente ao projecto de salvação do nosso bom Deus e de presença solícita e próxima a uma humanidade ferida que aspira à cura integral.

8. Oitava âncora: a atenção à diplomacia do Vaticano. A convicção do Papa, enraizado no Evangelho e em alguns períodos da história da Igreja, é a de que a sua missão de pastor universal comporta a intervenção na grande política, na mediação da paz entre os contendores, na criação de uma consciência alternativa à acomodação da ordem estabelecida. Sua e dos bispos, sobretudo a nível local onde as pessoas pobres mais sofrem. A renovação da Secretaria de Estado e a nomeação do Cardeal Parolin dão rosto institucional a esta vontade positiva do Papa Francisco, bem como a relação amiga e a concórdia gerada com os responsáveis das Igrejas e de outras instituições culturais e religiosas.

Em síntese, a dinâmica da reforma da Igreja conta com algumas âncoras de segurança. Outras poderão estar a surgir. O Papa Francisco, sempre aberto ao Espírito de Deus renovador, é homem de surpresas. Também os opositores à sua visão reformista parece que não abranda a obstrução crítica. Oxalá a tensão verificada seja salutar e faça surgir novos impulsos de fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo e aos desafios dos sinais dos tempos messiânicos.

ILHA TERCEIRA — CAIS DE ANGRA

Crónica de Júlio Cirino 

Cais de Angra

Igreja da Misericórdia 

Vasco da Gama

O Cais de Angra do Heroísmo é um lugar histórico muito frequentado pelos turistas que visitam a ilha Terceira. Os barcos que por aqui aproam provêem das mais diversas nacionalidades.
No socalco superior do Cais existe a Igreja da Misericórdia, erigida no Séc. XVIII, ladeada pelo Pátio da Alfândega, onde se encontra uma estátua em honra de Vasco da Gama que por aqui passou para enterrar o seu irmão no regresso de uma viagem que fizeram à Índia:

Paulo da Gama hu dos capittães que
acompanharão no descobrimento da Índia Oriental
seu irmão o heróico Dom Vasco da Gama
no ano de 1497 e voltando no de 1449, faleceu o
dito Paulo da Gama na Ilha Terceira e jaz sepultado
nesta capella mór de São Francisco.

O Cais de Angra, agora tão calmo, no passado foi alvo das pilhagens dos piratas e corsários que tentavam apoderar-se das riquezas trazidas pelas naus que aqui aproavam vindas da África, da Índia e do Brasil.

Angra do Heroísmo, 15 de Junho de 2017

Francisco não tem razão? (1)

Crónica de Anselmo Borges no DN 


Não tem razão o Papa Francisco quando, ele que acredita no Evangelho de Jesus enquanto notícia boa e felicitante para todos da parte de Deus e que segue os seus ensinamentos e prática, apela a que todos os católicos, começando por cardeais, bispos, padres, se convertam e sigam também o Evangelho?
Não tem razão quando proclama tolerância zero para essa tragédia que é a pedofilia do clero e estabelece regras claras, internacionalmente reconhecidas, para que acabem as máfias no banco do Vaticano e a lavagem de dinheiro e haja total transparência?
Não tem razão quando exige uma reforma profunda na Cúria Romana, que tem de estar ao serviço da Igreja universal? Não tem a Igreja de respeitar no seu seio os direitos humanos, que não pode pregar apenas para fora, nomeadamente o direito à liberdade de pensamento e de expressão? Não tem razão ao deixar campo livre à missão dos teólogos para poderem investigar?
Não tem razão ao querer que a Igreja enquanto instituição siga um caminho sinodal, isto é, um caminho que se trilha em conjunto, com a participação de todos, uma vez que a Igreja são todos os seus membros? Não tem razão ao declarar que os leigos têm de participar activamente nas decisões da Igreja e que às mulheres tem de ser dado o seu lugar, também em postos cimeiros de decisão, não podendo, como Jesus exigiu, ser discriminadas? De facto, enquanto organização, a Igreja, se quiser seguir o exemplo de Jesus e não ficar cada vez mais atrasada em relação ao mundo, tem dois problemas fundamentais a resolver: por um lado, a democratização e, por outro, a integração das mulheres, sem discriminação.
Não tem razão quando afirma que o celibato obrigatório não é dogma e que é preciso começar a pensar em ordenar homens casados, modelos de virtude e de participação activa na vida da Igreja?
Não tem razão quando denuncia o clericalismo e o carreirismo como "peste" na Igreja? E quando chama a atenção contra os "bispos-príncipes" e os "bispos de aeroporto"?
A Igreja Católica é hoje a única instituição verdadeiramente global. Contra a uniformidade, não tem razão Francisco quando pede uma Igreja que não funcione à maneira de esfera, mas que se realize segundo o modelo do poliedro, isto é, uma só Igreja, mas inculturada nos diferentes continentes e atendendo às várias culturas? Quando se entenderá que a Igreja já não é eurocêntrica e que o Papa não pode ser um monarca absoluto, mas sinal de unidade na caridade? Neste sentido, não tem razão Francisco ao não se referir a si mesmo como Papa, mas como bispo de Roma?
Não tem razão ao propor caminhos de progresso no ecumenismo, apelando por palavras e obras à unidade das diferentes Igrejas e confissões cristãs? Não tem razão ao seguir para Lesbos acompanhado do patriarca de Constantinopla, ao encontrar-se com o patriarca de Moscovo em Havana, ao querer que os 500 anos da Reforma sejam celebrados conjuntamente por católicos e protestantes e ao declarar que Lutero tinha razão e que não queria dividir a Igreja?
Não tem razão ao promover o diálogo inter-religioso de todas as religiões, mais concretamente com o islão moderado? De facto, ele sabe que o número de cristãos e muçulmanos juntos é superior a mais de metade da humanidade, de tal modo que faz sentido a pergunta: se nos entendêssemos todos, não haveria nessa compreensão uma força excepcional a favor da paz no mundo todo? Mas Francisco não tem igualmente razão quando denuncia como blasfema a violência em nome de Deus? E não tem razão também quando apela à comunidade internacional a favor dos cristãos, concretamente no Médio Oriente, vítimas de uma perseguição brutal? Não é verdade que, ainda antes das invasões ocidentais, estava já a caminho uma política de extermínio do cristianismo no Médio Oriente, onde, no início do século XX, os cristãos constituíam ainda um quinto da população? Não é hoje o cristianismo a religião mais perseguida do mundo?
Francisco é hoje um líder político-moral global, dos mais amados, senão o mais amado, dos mais influentes, senão o mais influente. E está ao serviço da paz mundial. Não tem razão, quando diz que a terceira guerra mundial está em curso, embora aos pedaços, às fatias, e o que mais teme é que essa guerra de repente expluda e se torne mesmo global e até nuclear, ameaçando a sobrevivência da humanidade?
Não tem razão quando escreve uma encíclica - "Laudato si" - sobre o meio ambiente e a ecologia integral, para que a humanidade toda tome consciência de que precisamos de salvar a nossa casa comum, pois podemos estar em vésperas de um cataclismo ecológico de dimensões imprevisíveis e irreversíveis? Não tem razão, ele que não é comunista nem marxista, quando proclama, com Jesus, que não é possível servir ao mesmo tempo a Deus Pai e Mãe de todos os homens e mulheres, sem excepção, e ao deus Dinheiro? Que a economia tem de estar ao serviço da pessoa humana, de todas as pessoas, e não da financeirização especulativa, que faz milhões de vítimas? Não é urgente a constituição de instâncias políticas globais, para a regulação dos mercados e da economia global?
Não tem o Papa Francisco razão quando afirma, por palavras e obras, que a Igreja não pode ser auto-referencial, já que a razão da sua existência é o serviço da humanidade? Não era o famoso bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que, com razão, dizia que "uma Igreja que vive para si morre por si"?
Então, porque é que Francisco tem opositores e inimigos? Mesmo sem querer canonizá-lo, a resposta é simples: se se quiser ser honesto, exactamente pelas mesmas razões que Jesus também os teve.

Nota: Imagem da Ecclesia

CHAMADOS E ENVIADOS A ANUNCIAR O EVANGELHO DA MISERICÓRDIA

Reflexão de Georgino Rocha


O entusiasmo das multidões em seguir Jesus contrasta radicalmente com a hostilidade dos fariseus. Aquelas, desde o início, seguem-no encantadas com os seus ensinamentos; estes chocados com o seu proceder, desconfiam cada vez mais da novidade que anuncia e das pretensões que revela. A situação daquelas desperta em Jesus sentimentos de compaixão benevolente; e a reacção destes provoca em Jesus uma atitude de atenção vigilante. Ninguém fica indiferente. Cada um, a seu modo, vai tomando partido. E hoje? A realidade dá-nos sinais contrastantes que muito nos interpelam.

O movimento espontâneo da Galileia surge a partir da acção missionária de Jesus que percorre cidades e aldeias e ensina nas sinagogas, anuncia a boa nova do Reino de Deus e cura toda a espécie de doenças. Mateus, o autor que narra os factos, faz-nos advertir num modo original de proceder: Ver a realidade, sentir compaixão, agir no presente, prevendo e acautelando o futuro. O cansaço e o abatimento das multidões estavam relacionados com a falta de pastores, de serem como rebanho abandonado e esquecido. O amor compassivo torna-se criativo e nasce o projecto de prover a que haja quem cuide do povo de Deus e tenha em conta o exemplo de Jesus, o Bom Pastor, como ele mesmo afirmará mais tarde. Cuide e sirva.
A poetisa chilena, Gabriela Mistral, 1889-1957, (aaldeia.net) dá rosto literário «à imensa alegria de servir» em versos cheios de realismo e de verdade. Transcrevem-se alguns:

Há a alegria de ser sincero e de ser justo; há, porém, mais do que isso, a imensa alegria de servir. Como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito, se não houvesse uma roseira para plantar, uma iniciativa para lutar! Não te seduzam as obras fáceis. É belo fazer tudo o que os outros se recusam a executar. Não cometas, porém, o erro de pensar que só tem merecimento executar as grandes obras; há pequenos préstimos que são bons serviços: enfeitar uma mesa, arrumar uns livros, pentear uma criança… Deus, que nos dá fruto e luz, serve. Poderia chamar-se: o Servidor. E tem os seus olhos fixos nas nossas mãos e pergunta-nos todos os dias: Serviste hoje?

O primeiro passo do projecto de Jesus, que se manterá para sempre, consiste em pedir ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara. É feito em linguagem rural e agrícola, mas que se alarga a todas as culturas, Mateus apresenta duas verdades sublimes: a seara/o povo é de Deus; a primeira atitude do discípulo/cristão é a oração humilde e confiante. Verdades que servem de referência constante à acção apostólica de todos os tempos. Em sintonia afectiva com o único Senhor da missão, aferida no diálogo de oração insistente, encontra o trabalhador da messe a verdade do seu pensar e a norma do seu agir.

A esta recomendação primeira, segue-se o chamamento daqueles que já tinham alguma familiaridade com Jesus. Mateus dá-lhes o nome de apóstolos e indicam que são doze. Esta precisão é significativa: Não há gente anónima, cada pessoa tem nome próprio e, às vezes, apelido; o número doze dos escolhidos simboliza todo o povo de Deus, como outrora as doze tribos de Israel. A familiaridade será crescente e amadurecerá no dia-a-dia com surpresas agradáveis e com fracasso rotundos. Alguns, como Pedro, Tiago e João, terão momentos especiais de proximidade e de confidência. Em toda a caminhada por vilas e aldeias, os apóstolos sentem o apelo a centrarem as suas atenções na novidade de Jesus: o Reino que anuncia e está em realização. Apelo que é de sempre. Especialmente numa época, como a nossa, marcada pela cultura do egoísmo e da acomodação, da indiferença e do “descarte”. O cultivo do ego acentua a avareza dos sentimentos e da relação. 
“Tem-se muitas vezes a tentação de negar ao próximo não tanto o dinheiro (um gesto de caridade por vezes não custa muito e põe a consciência em paz) mas sobretudo o próprio tempo na escuta, na proximidade, na ternura, afirma o Cardeal Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura. Paradoxalmente esta avareza é muito mais séria porque recusa não tanto um bem material, ainda que importante, mas uma realidade íntima e profunda que não pode ser adquirida. Todos, creio, devemos confessar termos dito não a quem queria apenas ouvir-nos ao telefone para ter uma palavra boa, ter evitado quem desejava ser escutado, ter recusado a companhia a uma pessoa só e doente. Também esta é uma avareza mesquinha”.
Centrados no anúncio do Reino ( cujos valores fundamentais são em Jesus Cristo a verdade para a inteligência, a liberdade para pensar e agir, a mansidão e humildade para se expressar, a justiça e a paz para edificar a sociedade e revelar a dignidade humana), os apóstolos são enviados em missão. E partem pelos caminhos do Império romano, procurando chegar onde as pessoas se encontram; pelas vias da cultura, ajudando-a a assumir e valorizar a riqueza das suas múltiplas expressões; pelas sendas do espírito, estimulando a libertação de preconceitos inibidores e favorecendo a abertura ao Transcendente e à comunhão com Deus em Jesus Cristo.

Ide! Os caminhos são novos, a missão é de sempre. Há novos rostos, novas linguagens, novas proximidades de lonjuras quase esquecidas, o amor de misericórdia está em todos e perpasse pelos gestos de cada um.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

CORPO DE DEUS EM ÍLHAVO — Urge criar comunidades vivas e fraternas








«O anúncio de Cristo Vivo e Ressuscitado deve ocupar o centro de toda a atividade evangelizadora», proclamou D. António Moiteiro na solenidade litúrgica do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, conhecida por Festa do Corpo de Deus, que se celebrou hoje, 15 de junho, pelas 16 horas, com procissão eucarística, na paróquia de S. Salvador. Nesta celebração integrou-se o encerramento da Visita Pastoral do nosso Bispo ao Arciprestado de Ílhavo. A este propósito, o prelado aveirense adiantou que «a Visita Pastoral não terminou», mas serviu de apelo «para continuarmos nesta caminhada para construirmos o Reino de Deus».
A Eucaristia foi antecedida de uma intervenção de um leigo do arciprestado que agradeceu a visita do nosso bispo, sublinhando a importância dos encontros que manteve com as pessoas, instituições e doentes. «Teve o Senhor Bispo a oportunidade de nos conhecer melhor e de nos dirigir uma palavra de pastor adequada às circunstâncias e aos tempos em que vivemos», deixando-nos «palavras de alento e mensagens de esperança» necessárias «ao reforço da nossa unidade como arciprestado, sem prejuízo da especificidade de cada paróquia». 
O encontro, com missa campal, decorreu no Jardim Henriqueta Maia, centro cívico da cidade de Ílhavo, estando presentes os autarcas municipais e das freguesias, com muito povo das seis paróquias do arciprestado, nomeadamente, Barra, Costa Nova, Gafanha do Carmo, Gafanha da Encarnação, Gafanha da Nazaré e São Salvador. Irmandades, associações, instituições sociais, escuteiros, serviços paroquiais, catequeses, catequistas, clero e, em destaque, as crianças de túnica, que viveram recentemente o grande dia da Comunhão Solene. O povo marcou presença indelével e com devoção.
À homilia, D. António Moiteiro considerou que, apesar de muitos quererem continuar «a fazer, o melhor que podem, o que sempre fizeram», importa «mudar a maneira de pensar», orientando-nos «de modo novo para atravessar a fronteira da esperança». Nessa linha, o nosso bispo avançou com desafios para os próximos anos, valorizando a premência de testemunharmos Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado, «centro de toda a atividade evangelizadora». 
Depois de proclamar que a nossa fé não é um conjunto de doutrinas, D. António desafiou os cristãos a construírem «comunidades vivas e fraternas», que sejam «autênticas escolas de vivências da fé e da comunhão», criando laços de fraternidade e de apoio aos mais pobres e marginalizados. 
«Convido todos a serem ousados e criativos nessa tarefa de repensar objetivos e estruturas, estilos e métodos evangelizadores», frisou o nosso Bispo. E acrescentou que é indispensável a participação na missa ao domingo, porque sem ela «não há vida cristã». «Sem missa ao domingo não há encontro com Cristo Ressuscitado; sem missa ao domingo não há crescimento na fé», garantiu. 
D. António considerou fundamental «uma formação cristã mais profunda, de modo que cada um de nós saiba dar as razões da sua fé». E daí ter concluído que é fundamental a criação no arciprestado de uma escola de teologia para leigos. 

Fernando Martins

quarta-feira, 14 de junho de 2017

ÉPOCA BALNEAR ESCANCARA PORTAS AMANHÃ






Amanhã, 15 de junho, a época balnear escancara portas à nossa sofreguidão de sol, mar, ria, lagos, rios e ribeiras com estruturas para refrescar toda a gente. Outros preferirão as paisagens verdes das florestas e os penhascos das serras, sempre com novos horizontes à vista, com sorrisos sadios e caminhadas para desentorpecer os músculos e afugentar o stresse.
Voltando-nos agora para as praias, as nossas praias da Barra e da Costa Nova, com ria está bem de ver, aqui mais ao perto e cuja maresia nos tempera o sangue e a alma, podemos informar que o estatuto da Bandeira Azul continua a ser garantia de asseio e de bons serviços para acolher quem chega, com gana de satisfazer apetites aos mais exigentes, que sol, areal e água límpida esperam, curiosos, pela chegada de veraneantes e turistas, um pouco de todo o mundo.
Boa época balnear para todos, mas haja cuidado que o exagero pode ser perigoso.

Fernando Martins

NOTA: Fotos, de cima para baixo: Praia da Barra, Ria na Costa Nova, Casas típicas da Costa Nova, Forte da Barra, Jardim Oudinot.

MENSAGEM DO PAPA PARA O DIA MUNDIAL DOS POBRES


«Conhecemos a grande dificuldade que há, no mundo contemporâneo, de poder identificar claramente a pobreza. E todavia esta interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos marcados pelo sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pelas torturas e a prisão, pela guerra, pela privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência sanitária e pela falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!»


Ler toda Mensagem do Papa Francisco

ROSA COVA: A ESCOLA É UM PILAR ESSENCIAL PARA A FORMAÇÃO DAS PESSOAS

Rosa Cova, casada com Armando Cravo, mãe de três filhos, avó, educadora de infância aposentada, está desde há muito disponível para colaborar com a comunidade paroquial de Nossa Senhora da Nazaré. Como educadora de infância, trabalhou em diversas instituições, desde a creche da Fábrica da Vista Alegre até ao Ensino Público, passando pela Obra da Providência e Jardim Escola da Vera Cruz. Assume que a sua profissão surgiu da vocação que sentiu pelo trabalho de educadora e foi nesta função que mais se realizou, lembrando com saudade a «ternura das crianças» associada ao gosto que experienciou nas diversas fases do crescimento de cada uma delas, em permanente contacto com as suas famílias, com a formação integral de todas por pano de fundo.
«A escola é um pilar essencial para o desenvolvimento harmonioso de todas as pessoas», afirmou Rosa Cova, durante a conversa que mantivemos em jeito de entrevista para o Timoneiro, de que ela é leitora assídua. E dessa fase da sua vida sublinha a alegria que sente quando descobre que «há crianças que guardam gratas recordações dos tempos em que conviveram no jardim de infância», chegando mesmo a convidá-la para momentos festivos das suas vidas.
Rosa Cova é uma servidora da comunidade paroquial, porque pode e porque assim se sente bem. O sentido de partilha está patente na sua vida, fazendo questão de salientar que seu marido, Armando Cravo, lhe dá todo o apoio. Daí o seu envolvimento em várias tarefas. Um dia, iniciou-se como leitora, em substituição de seu filho Jorge, e logo aí passou a integrar o corpo de leitores da comissão do lugar do Bebedouro, na qual ainda hoje se encontra. Contudo, nas festas marcantes da nossa comunidade é responsável pela organização e distribuição dos leitores, em cuja preparação vai colaborando com sentido pedagógico. 
Elogia as suas prestações, sem descurar uma ou outra dica no sentido de a todos estimular, já que a leitura dos textos sagrados e a postura dos leitores devem ser adequadas ao momento da celebração. A este propósito, a nossa entrevistada afirma que os leitores participam, naturalmente, em reuniões de formação, de base diocesana ou arciprestal, mas reconhece que para cada Eucaristia necessitam de treinar as leituras, como necessitam de conhecer bem os textos bíblicos e, ainda, precisam de modelar a voz em função do microfone, sem descurarem o modo como se vestem. 
Rosa Cova gosta de organizar o cortejo litúrgico porque sabe que a ordem fica bem em todo o lado, muito mais na Igreja. E disse: «Dou indicações para que tudo decorra com serenidade e muita dignidade; aconselho a melhor forma de se apresentarem, de se vestirem e de estarem no ambão; vou sugerindo, de modo informal, o que deve ser feito, com simpatia, com amizade; e no fim da cerimónia gosto de sublinhar o que fizeram bem.»
A nossa entrevistada frisou que, como membro da comissão do lugar do Bebedouro, dedica algum do seu tempo à ornamentação do templo, integrada numa equipa de senhoras com o mesmo gosto de enfeitar. As flores são fornecidas pelas pessoas da equipa, mas também é certo que, diversas vezes, têm de as comprar. E tem confirmado que há o prazer de colaborar «com carinho, bom gosto, mas sem sentido de competição; havendo uma natural vontade de fazerem o melhor possível». 
Como paroquiana, sente-se comprometida em participar em tudo o que julga poder ser útil. Nos almoços comunitários para angariação de fundos destinados às muitas despesas de uma paróquia como a nossa, Rosa Cova não gosta de ficar sentada a saborear o almoço, preferindo, quando é convidada, trabalhar na cozinha ou no que for necessário. 
Outra tarefa, de grande importância para o culto, mas não só, é o tratamento, limpeza e asseio das toalhas dos altares e dos paramentos, alguns dos quais precisam de limpeza especial, a seco, por serem peças bordadas e de tecidos trabalhados com arte. Do Santuário de Schoenstatt recebe o que diz respeito ao Padre Carlos Alberto. E tudo faz sem custos para a paróquia. 

Fernando Martins

NOTA: Entrevista publicada no jornal "Timoneiro"

terça-feira, 13 de junho de 2017

POSTAL ILUSTRADO — IGREJA MATRIZ ASSEADA E LUMINOSA


As igrejas querem-se atraentes e desafiantes, bonitas e luminosas. Atraentes pelas artes que ostentam e desafiantes pela inspiração, no sentido do divino, com que nos brindam. Bonitas pelas decorações que nos despertam, com a ajuda preciosa da natureza, para a beleza interior de cada um de nós, e luminosas, tornando mais nítida a Luz de Cristo, que é o nosso Salvador. No fundo, as igrejas, todas elas, querem-se asseadas, limpas, arrumadas e airosas, porque só assim conseguem ser convidativas e estimulantes para o encontro connosco próprios e com Deus.
Quando entramos numa igreja fria, escura, desconfortável, nua, tristonha e agreste sentimo-nos desolados e até incomodados. Só nos apetece fugir e, cá fora, olhar para o sol e para a natureza, na esperança de reencontrarmos a vida cheia de luz a que todos aspiramos.
Nas cerimónias, todas elas carregadas de arte e de símbolos, de desafios e propostas de vida em Jesus Cristo, desde os textos sagrados aos cânticos escolhidos, passando pelos paramentos e demais alfaias litúrgicas, há muito que apreciar e admirar, porque, se é verdade que a beleza vem de Deus, também é lógico admitir que a beleza nos aproxima do divino. E nessa linha, é justo aceitar que os arranjos florais, quando feitos com arte e bom gosto, nos enchem a alma, deixando-nos deslumbrados e muito felizes, mas também com mais ânimo para enfrentarmos os desafios do dia a dia. 

Fernando Martins

ÍLHAVO, TERRA DAS GENTES DO MAR



«Ílhavo é também uma cidade conhecida pelos seus coloridos palheiros – residências balneares pintadas com riscas de todas as cores e contrastantes que, inicialmente, mais não eram do que armazéns para guardar as alfaias da atividade piscatória ou armazéns de salga de todo o peixe. Estes edifícios, localizados na zona da Costa Nova, são um verdadeiro cartão de visita que cativam pelo seu charme e que remontam à segunda metade do século XIX. 
E continuamos a nossa visita ao concelho lado a lado com o mar. A praia da Barra é das mais requisitadas no verão. Com bandeira azul desde 1989, esta praia é conhecida pelo seu imponente farol, o mais alto em Portugal e um dos maiores do Mundo - com 62 metros de altura e 66 metros acima do nível do mar. Mas também o areal dourado de perder a vista, a água e as constantes animações cativam os visitantes na época estival.»

Nota: Foto e texto do Correio da Manhã

A FORÇA DA NATUREZA


Bem deceparam a árvore em nome da poda... Mas ela, zangada, respondeu com brio e rebentou por todos os lados. A força da natureza é espantosa.

FALTA DE CURIOSIDADE


"O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade."

Agostinho da Silva

SANTO ANTÓNIO: UM DOS SANTOS MAIS AMADOS DO MUNDO


«É um dos santos mais amados do mundo. Não só por católicos, mas também por muçulmanos, budistas e hindus que a ele rezam. Sempre jovem e atual, ainda que nascido no ano de 1195, em Lisboa. Falamos de Santo António, filho de uma família nobre que lhe deu como nome Fernando. António foi o nome que escolheu quando decidiu seguir os passos de outro grande santo, Francisco de Assis. Morreu em Pádua, em 1231, onde chegou após muitas vicissitudes.
Pouco menos de um ano depois da morte o papa Gregório IX proclamou-o santo, mas já em vida era grande a sua fama de santidade. Atribuem-se muitíssimos milagres a António, homem culto, fino teólogo e atento aos problemas sociais, como recorda o P. Oliviero Svanera, reitor da basílica de Santo António, em Pádua, desde outubro de 2016.»

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FESTA DO CORPO DE DEUS: JESUS, O PÃO DA VIDA, ESTÁ CONNOSCO. ACREDITA!

Reflexão de Georgino Rocha



Jesus vive intensamente o anúncio da novidade de Deus que abre horizontes ao coração humano. É um apaixonado pelo que faz com toda a liberdade. Tem segredos que progressivamente vai revelando. Escolhe as ocasiões mais adequadas, ora aproveitando as que surgem, ora provocando-as. O texto de João, proclamado na celebração da Festa do Corpo de Deus (Jo 6, 51-58) realça bem este proceder e desvenda o seu sentido mais profundo.
Na sequência da multiplicação dos pães que sacia a fome à multidão, Jesus faz o discurso do pão da vida e auto-revela a sua identidade. O pão da vida é a sua carne. O sangue da aliança é o seu sangue. Corpo entregue e sangue derramado por nós e por todos; por um mundo novo liberto do pecado que condiciona, embora não desfaça, a realização do projecto de Deus que nos quer salvar, que desumaniza e polui a criação, mata a biodiversidade e a harmonia do universo.
Os ouvintes dão mostras da surpresa que os invade. E reagem de modos vários. Uns nem sequer esperam o fim e vão-se embora após terem sido atendidos e saciado a fome. Não dão conta do que está contido no gesto compassivo e solidário de Jesus. Outros aguardam com paciência e ouvem palavras que classificam de duras, impossíveis de serem levadas “a sério”. E progressivamente vão voltando “as costas”. Fica o pequeno grupo dos discípulos em que se destaca Pedro pela resposta pronta e sincera que dá à interpelação do Mestre: “A quem iremos, Senhor, Tu tens palavras de vida eterna”.
“Também quereis ir-vos embora”? é a pergunta de Jesus que se prolonga no tempo, chega até nós e nos convida a uma atitude semelhante à de Pedro. Ficamos porque o Senhor está connosco. O seu amor cria uma realidade genial. Antecipa para a ceia de despedida esta presença sublime, uma vez que a natureza humana tem limites e a morte por crucifixão destruirá o seu corpo mortal. “Isto é o meu corpo entregue por vós”. “Esta é a taça do meu sangue derramado por vós e por todos”, dizemos sempre que celebramos a eucaristia. Maravilha das maravilhas, sacramento maior do amor que Deus nos tem e celebração mais qualificada que a Igreja faz.
“Porque Ele está connosco”, canta um hino da Liturgia das Horas, “busquemos o seu rosto e a sua imagem; busquemo-Lo na vida, sempre oculto no íntimo do mundo, como um fogo”. E continua a mencionar outros espaços onde o Senhor Jesus está connosco, vive, fala e sente em quem padece horas de violência, dias de fraqueza e de angústia. E termina com a bela profissão de fé: “Porque Ele está connosco, tal como na manhã de Páscoa, não faltemos ao banquete do sangue derramado, comamos do seu pão, bebamos do seu cálice divino, sinal do seu amor até ao fim!”.
A fé da Igreja na Eucaristia manifesta-se, de forma celebrativa especial, na assembleia dominical. Um povo disperso durante a semana reúne-se em nome do Senhor, canta com júbilo a sua dignidade baptismal, assume a sua condição de pecador perdoado, escuta e responde à Palavra de Deus proclamada, abre-se e reza por todos os seres humanos, sobretudo os que vivem situações especiais de sofrimento ou de responsabilidade face ao bem comum e eclesial, oferece os dons da terra, da videira e do trabalho que, por acção do Espírito Santo, se vão transformar no corpo e sangue de Jesus; e comungando este dom precioso, o povo dispersa-se, parte em missão de testemunho e de intervenção no seio da sociedade e suas múltiplas organizações.
"Sois convidados, afirma o bispo de Leiria-Fátima na peregrinação das crianças ao Santuário realizada no dia de Portugal, tal como os pastorinhos, a levar a luz de Jesus ao mundo para o tornar mais belo". E D. António Marto assinala "gestos simples" como: «Oferecer um sorriso a quem anda triste», «dar uma palavra amiga a outro», «ajudar quem precisa», «fazer companhia a quem está só ou doente», «ser capaz de perdoar», «respeitar os outros» e «respeitar o ambiente». E conclui:"Tanta coisa simples e bonita como forma de levar a luz de Jesus ao mundo", a transformar as ações em formas de mostrar a presença de Jesus.
O povo cristão manifesta a sua fé na Eucaristia, que vulgarmente designa por missa, sagrada reserva, santíssimo sacramento, com uma variedade grande de formas, sobretudo a nível de devoções, de poesia e de arte, de canções e representações. Uma dessas expressões´públicas é, sem dúvida, a procissão do “Corpo de Deus”, procissão que prolonga a celebração e a traz para a rua, oferecendo o testemunho de quem acredita, espera e ama, de quem vive a convicção revigorante de que o Senhor está connosco e nos acompanha nos caminhos da vida.

NOTA: Custódia da Paróquia da Gafanha da Nazaré

segunda-feira, 12 de junho de 2017

ECOMARE foi inaugurado pelo Presidente da República


O ECOMARE – Laboratório para a Inovação e Sustentabilidade dos Recursos Biológicos Marinhos da Universidade de Aveiro (UA) vai ser inaugurado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa a 15 de junho. 
Desenvolver investigação de excelência, fundamental e aplicada e promover serviços de inovação e transferência de tecnologia para empresas, organizações governamentais e instituições nacionais e internacionais na área da Ciência e Tecnologia do Mar são os grandes objetivos a que esta infraestrutura se destina. 
Situado na Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, a cerimónia de inauguração do Laboratório decorre a partir das 11h00 e contará ainda com a presença da Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

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Valdemar Aveiro: "Os políticos estão destruindo frotas de pesca"


«Os motivos estão cheias de peixe, mas dizem-nos que temos de ter cuidado porque ele está se esgotando", disse o Português especialista em pesca do bacalhau»
"Os motivos são cheio de peixes e ainda há aqueles que continuam a dizer -nos que devemos ter cuidado com o que pescar, porque vamos correr para fora das unidades populacionais de peixes."Tal confiança o convidado de ontem provou Clube de Faro , Valdemar Aveiro, Portugal especialista capitão na pesca do bacalhau, que analisou a história desta pescaria e falou sobre seu presente e seu futuro, um futuro que não augura nada de bom . "Os políticos e a União Europeia está destruindo frotas (pesca) e ainda dizer que temos que ter muito cuidado com taxas, se você não quer a correr para fora do peixe. E eu não posso compreender que dizer isso quando não são tantas pessoas desempregadas , " ele disse durante falando no Auditório Municipal do Areal, que foi apresentado por José Manuel Muñiz, presidente da Associação dos Diplomados Náutico-Pescas (AETINAPE).
Convidado da FARO clube disse que este aviso sobre a escassez de recursos marinhos é falsa. Além disso, de acordo Aveiro pesqueiros peixes estão cheios. "Há tantos peixes que estão comendo seus filhotes", disse o capitão de pesca Português, 83, acrescentando que este é um problema sério para o ambiente marinho. "Quem é você determinado a fazer-nos crer que não há peixe suficiente, também nos dizem que há um problema com o peixe pequeno, não. E não porque o peixe grande está comendo os pequenos", disse ele.
Também não é verdade, acrescentou, que o problema da escassez acima mencionado é devido a ciclos de reprodução de peixes. Não, pelo menos no caso do bacalhau. "É verdade que o bacalhau só jogar uma vez por ano. Além disso, o bacalhau feminina fica entre sete e oito milhões de ovos, mas não todos sobreviver, é claro", disse ele.»

Nota: Transcrição do jornal Faro de Vigo 

domingo, 11 de junho de 2017

UM DEUS PLURAL E UMA IGREJA MONOLÍTICA?

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


1. Quando se pressentem consequências graves de desentendimentos entre pessoas belicosas, diz-se, à moda do Porto: vai cair o Carmo e a Trindade. Sobre a Trindade, muitos católicos já não sabem muito mais. O antigo mundo rural orientava-se pelo “toque das trindades”. O sino da Igreja paroquial tocava três vezes por dia: de manhã, ao meio-dia e ao fim da tarde. Tudo parava, os homens tiravam o boné, e rezava-se o “Anjo do Senhor”, seguido de uma “Avé Maria” e do “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.
Quando se queria mostrar o cuidado da família com o desenvolvimento religioso da criança, pediam-lhe: “Mostra que já sabes fazer o sinal da cruz.” Era um rosto marcado pela Trindade Santa.
Na catequese ou na teologia, ignorando os recursos evocativos da linguagem simbólica, repousava-se no mundo dos conceitos evanescentes. À falta de explicações satisfatórias, recorria-se a uma geometria rudimentar, ao triângulo ou ao trevo do campo.
As argutas definições dogmáticas dos séculos II, III e IV não se contentaram com a proclamação de Paulo em Atenas: é em Deus que vivemos, nos movemos e existimos [1].
Sim, Deus, mas que Deus? Foi preciso mostrar que era possível dizer que um só Deus vive misteriosamente em três pessoas distintas, iguais e diferentes: todas activas, inteligentes, amantes, em comunhão perfeita e sem qualquer subordinação! Era a vitória da máxima unidade na floração da máxima diversidade.
Por mais estranha que pareça, esta convicção talvez não seja nem absurda, nem inútil. Não poderá ela esconder a realidade mais profunda e misteriosa do mundo, da família, da sociedade, da política, da religião e da Igreja?

2. Em nome da unidade, sacrifica-se a diversidade e a imprevisível liberdade, resvalando-se para a falsa segurança da ditadura; perante as dificuldades de viver em liberdade, na diversidade, no pluralismo, pergunta-se: será possível conjugar governabilidade e democracia? Não serão os muros a recusa do acolhimento recíproco entre diversas identidades num mundo que a todos compete respeitar, como casa comum?
A sabedoria aconselha a que não se deite para o caixote do lixo a afirmação trinitária de Deus que hoje é celebrada na Igreja Católica. É um alerta político, cultural e religioso, como sublinhou o filósofo Giorgio Agamben.
S. Paulo deu-lhe uma expressão quase narrativa: a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós [2]. Representa um belo sumário da teologia da unidade plural da Igreja, na comunhão e na diversidade dos seus carismas. Por desgraça, os rituais não conservam apenas as referências centrais de uma religião. Decaem, facilmente, em rotinas que adormecem as consciências em vez de as despertar para o que falta viver e fazer.
É legítimo perguntar: porque continuar a manter a vergonhosa separação entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente, invocando minudências linguísticas esquecendo que estamos todos a balbuciar o inabarcável mistério de Deus e do mundo? A verdade viva revela-se no caminho humilde da busca espiritual e não no orgulho de manter embalsamadas fórmulas e costumes em nome de ortodoxias vazias. Por que não deixar Deus ser Deus e o seu Espírito à solta no mundo?
A arrogância de todas as Igrejas, em nome da posse da verdade, acaba por afastá-las da alegria da comunhão na fé e na caridade, impedindo-as da escuta recíproca e da pergunta essencial: não poderei aprender nada com as outras comunidades cristãs, com as outras religiões, com as pessoas que buscam, por tantos caminhos, um sentido para a vida?

3. Estamos em 2017, a cinco séculos de distância do gesto de Martinho Lutero, ao colocar, a 31 de Outubro de 1517, as suas teses sobre o comércio de indulgências, na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. De facto, o V Centenário da Reforma já foi inaugurado, na Alemanha, em 2008. É a Década de Lutero.
É, também, uma ocasião para os historiadores da cultura, da política e da teologia reexaminarem cinco séculos de história extremamente complexa e, talvez, colherem algumas lições para o nosso presente de renovados fanatismos políticos e religiosos.
Portugal não é a pátria de Lutero e os portugueses também não o puderam acolher no séc. XVI, nem com discernimento nem sem discernimento. Depois foram-no esquecendo.

Para assinalar os 450 anos da sua morte, o Centro de Estudos de Teologia/Ciência das Religiões, da Universidade Lusófona, marcou essa data com um importante colóquio, cujos contributos já estão publicados. Tentei, no prefácio, explicar as razões da ausência de Lutero entre nós [3].
O Pe. Carreira das Neves introduziu o seu importante Lutero. Palavra e Fé com a pertinente observação: “O tema que vamos tratar tem sido objecto de milhares de livros, artigos e pronunciamentos religiosos, políticos, sociológicos, filosóficos. Só estranha o facto de nenhum autor português ter assumido, nestes 500 anos que nos separam de Lutero, a responsabilidade de escrever sobre esta pessoa que está na origem do protestantismo luterano e das igrejas evangélicas.” [4]
O ausente de Portugal encontrou acolhimento, em português, mas no Brasil, onde já foram publicados 12 volumes das Obras Seleccionadas de Martinho Lutero [5].
O luterano Artur Villares pergunta: “Cinco séculos depois, com a poeira da História a assentar, e as polémicas, ódios e extremismo, definitivamente encerrados nas prateleiras da apologética de todos os participantes, o que significa, para o homem de hoje, o nome de Martinho Lutero? Para muitos nada; para outros tantos, um mero revoltado, um rebelde, que destruiu a unidade da Igreja do Ocidente; para outros ainda, uma figura histórica, de assinalável grandeza, um dos construtores do mundo moderno.”
O Pe. Carreira das Neves também perguntou: “Lutero está ultrapassado?” E concluiu a sua obra com muita graça: “Estamos todos ultrapassados se nos fixarmos nos redutos das nossas identidades religiosas, de ritualismos, jurisdicismos, dogmatismos, farisaísmos.” [6]

[1] Act 17, 22-29.
[2] 2Cor 13, 13 e paralelos.
[3] Martinho Lutero. Diálogo e Modernidade, prefácio de Frei Bento Domingues, Edições Universitárias Lusófonas, 1999.
[4] Lutero. Palavra e Fé, Presença, Lisboa, 2014, p.17, assinala que de obras estrangeiras, em Portugal, apareceu apenas a tradução do livro de Johannes Hessen, Lutero visto pelos Católicos, Coimbra, 1951, Ed. Arménio Amado; Lucien Febvre, Martinho Lutero. Um Destino, Ed. Bertrand, 1976; nova tradução do mesmo autor, da Ed. Texto, 2010. Cf. Walter Kasper, Martinho Lutero. Lido em chave ecuménica 500 anos depois, Paulinas, Lisboa, 2016.
[5] Responsabilidade da Comissão Interluterana de Literatura. São Leopoldo.
[6] Op. Cit., p. 459.

Nota: Imagem de Martinho Lutero

sábado, 10 de junho de 2017

MARINA DA GAFANHA DA NAZARÉ COM VÍDEO-VIGILÂNCIA





No dia 8 de Junho,  foi inaugurado o sistema de vídeo-vigilância com  fechadura electrónica de acesso ao aparcamento na água. São duas inovações que vão melhorar e aumentar a segurança das embarcações que estão na marina da Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré, informou a direção daquela estrutura sediada junto à Empresa de Pesca de Aveiro. 
Entretanto, solicita a todos os sócios que têm os seus  barcos na bacia da Marina que procurem levantar o seu cartão de acesso, o mais depressa possível.
Aproveito esta ocasião para felicitar a nova direção da Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré, liderada pelo nosso conterrâneo Humberto Rocha, desejando-lhe os maiores êxitos, para bem do desporto náutico e de quantos demandam, por mar, as nossas paragens. 

NOTA: Fotos cedidas pela ANRGN

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

  
Celebra-se hoje, com feriado, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Haverá condecorações e celebrações, numa perspetiva de fixar na memória de todos as grandezas do nosso país, mas também os seus valores, que são os nossos, e os projetos que hão de enformar os vindouros.
Há quem se questione sobre o porquê de no dia 10 de junho se evocar Camões e não outro português, de tantos que houve com grande mérito.
A este propósito, li hoje:

«Em pleno dia 10 de Junho há razão para questionar porque Afonso Henriques não é o seu símbolo?


(Freitas do Amaral) Justamente porque quando se começou a assinalar o Dia de Portugal havia ainda aquela "maldição" do Oliveira Martins lançada sobre Afonso Henriques. Que era um "bronco", um "estúpido" e um "javali que só sabia marrar e matar", enquanto Camões estava no seu esplendor. Por outro lado, não era fácil escolher uma data para ser o Dia de Portugal ligado a um dia especial relacionado com o rei porque em 1128 ele ganha a Batalha de São Mamede, que durante muitos anos no Estado Novo foi considerado o início de Portugal. No entanto, essa vitória foi apenas contra a Galiza e não contra Leão, o que levou que ainda se tivesse de chegar a 1143. Ainda no Estado Novo, quando Salazar organizou as comemorações dos centenários em 1940, disse que se comemoravam os 300 anos sobre a Restauração de 1640 e 800 sobre o nascimento do Reino de Portugal, que ele punha em 1140 porque julgava-se que datava desse ano o primeiro documento em que Afonso Henriques se intitulava Rei dos portugueses. Verifica-se mais tarde que era de 1139. Ou seja, não era fácil escolher uma data, enquanto o 10 de Junho [data da morte de Camões] foi mais consensual e ficou. Talvez fizesse sentido se não tivéssemos feriados a mais transformar uma destas datas das batalhas em data nacional.»

Ver mais aqui 

QUERIA TER A POSIÇÃO DOS CLAUSTROS



 Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse

Daniel Faria,

in DOS LÍQUIDOS

IGREJA DO SEMINÁRIO DE AVEIRO FOI INAUGURADA NESTA DATA







1983 - 10 de junho

«Sob a presidência do bispo de Aveiro D. Manuel de Almeida Trindade, foi solenemente inaugurada a igreja do Seminário Diocesano de Santa Joana Princesa, dando-se assim por concluída a construção do mesmo Seminário, cuja iniciativa ficou a dever-se ao ínclito arcebispo e aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal (Correio do Vouga, 17-6-1983) – J.»

"Calendário Histórico de Aveiro" 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

NOTA: A propósito desta efeméride, ofereço aos meus leitores e amigos várias imagens que dão, apesar de tudo, uma pálida ideia da beleza desta igreja. 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

PAPA FRANCISCO — A Revolução Imparável



CUFC: COMO CUIDAR DO PATRIMÓNIO RELIGIOSO?


A Comissão Diocesana da Cultura de Aveiro vai realizar, no dia 28 deste mês, uma ação de formação sobre a melhor forma de cuidar do Património Religioso. A iniciativa terá lugar no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), entre as 21.30 e as 23 horas,  sendo intervenientes Sandra Costa Saldanha e Vítor Serrão.
Esta é uma boa oportunidade para os participantes tomarem consciência da importância e urgência de cuidarmos do nosso património religioso, muitas vezes de valor incalculável. 


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