sexta-feira, 16 de junho de 2017

PAPA FRANCISCO — ÂNCORAS DA REFORMA DA IGREJA

Reflexão  de Georgino Rocha


O Papa Francisco é um ítalo-argentino, engenheiro de formação, jesuíta por vocação e franciscano por opção. O contexto em que vive antes de ser escolhido para a cadeira de Pedro em Roma, leva-o a enfrentar enormes desafios que enriquecem a sua dotada personalidade, credenciando-o para o desempenho de missões de “risco”. O estilo que transparece da sua presença e intervenções em público marca indelevelmente todos os que se preocupam com a humanidade e a criação, com a Igreja e sua missão na sociedade. A mensagem decorre transparente, como a água cristalina, e revela o sentido profundo do que está a acontecer como “rosto” histórico do amor de Deus misericordioso. Os contactos pessoais e os encontros de ocasião criam uma rede de comunicações que o fazem próximo e amigo. O seu estilo de vida irradia a alegria da fé que ilumina a caminhada em que se vê envolvido e que, de algum modo, protagoniza.
Tendo em conta o que de mais saliente se pode captar, a partir da periferia em que me encontro, desejo partilhar algumas observações breves que podem servir para fazer uma leitura crítica do que está em curso e das âncoras de esperança que darão consistência e estabilidade à reforma pretendida e a tornarão irreversível com o impulso do Espírito Santo.

1. Primeira âncora: a renovação do episcopado e do colégio cardinalício. Esta renovação constitui uma linha muito clara do agir do Papa Francisco. Nela explicita a sua intenção e com ela dá suporte sustentável ao que pretende. São bispos em profunda sintonia com o novo espírito reformista que deseja implementar, colocados em dioceses significativas ou serviços especiais; são cardeais que garantirão uma sucessão apostólica consequente.

2. Segunda âncora: a constituição do G9 (grupo de nove cardeais escolhidos pessoalmente pelo Papa) que reflecte com ele a reforma da Cúria Romana, o perfil dos bispos a nomear, a situação da Igreja, os projectos de renovação a implementar, os critérios a observar, e, certamente outros assuntos prementes, os dramas da humanidade e as forças em presença na conjuntura mundial, designadamente nas zonas em conflito.

3. Terceira âncora: a valorização do estatuto do bispo da Igreja diocesana, dos órgãos colegiais de discernimento e decisão como as conferências episcopais ou dos religiosos, dos conselhos presbiterais, dos organismos laicais ou afins. É o estilo sinodal que reforça a comunhão entre todos e responsabiliza cada um. É o apelo insistente aos presbíteros a que sejam “pastores” ao jeito do Bom Pastor, que cultivem o “cheiro a ovelha”. É a exortação solícita aos diáconos a que se dediquem às “novas periferias” no exercício da sua diaconia. É a indicação clara aos religiosos e leigos para que assumam os desafios actuais e façam avançar o relógio da hora histórica que vivemos.

4. Quarta âncora: o processo da reforma da Cúria romana. Este processo vai dando passos significativos: responsáveis de dicastérios são renovados e competências redefinidas; valorização de outros órgãos de serviço que agilizam o funcionamento, criam maior familiaridade e favorecem a descentralização.

5. Quinta âncora: o agir irradiante do Papa Francisco e as suas viagens apostólicas. Este agir abre novas dimensões à Igreja em saída missionária e, mediante a conversão pastoral, aviva o espírito e lança as estruturas indispensáveis, especialmente os espaços de acolhimento e de encontro, a Cúria diocesana, o cartório paroquial e os templos. A visão da Igreja, “a partir de baixo”, vai fazendo o seu caminho; a convicção séria de que o povo de Deus está dotado do sentido da fé manifesta-se progressivamente.

6. Sexta âncora: o povo humilde “das periferias” que tem um lugar especial no coração do Papa. E lhe corresponde, afluindo em grande número. Mobilizado para participar e deixar de ser multidão esquecida, sente o que está chamado a ser; portador de uma missão histórica, “viveiro” dos dons de Deus, sempre em renovação pela força do Espírito Santo. Os encontros com os movimentos populares apontam claramente para uma alternativa, bem como o apoio à dinâmica de partilha solidária das escolas de educação/formação; os Dias Mundiais dos Jovens lançam sementes de esperança que tendem a germinar e a crescer. A instituição do Dia Mundial dos Pobres, além do valor em si mesmo, é um símbolo das novas prioridades. 

7. Sétima âncora: a memória das experiências e os textos do magistério. O sonho profético de Francisco vai sendo escrito no coração das pessoas de boa vontade e dos cristãos, em homilias e discursos, mensagens, encíclicas e sobretudo exortações apostólicas pós-sinodais. Em todas elas sobressai o desejo de fidelidade crescente ao projecto de salvação do nosso bom Deus e de presença solícita e próxima a uma humanidade ferida que aspira à cura integral.

8. Oitava âncora: a atenção à diplomacia do Vaticano. A convicção do Papa, enraizado no Evangelho e em alguns períodos da história da Igreja, é a de que a sua missão de pastor universal comporta a intervenção na grande política, na mediação da paz entre os contendores, na criação de uma consciência alternativa à acomodação da ordem estabelecida. Sua e dos bispos, sobretudo a nível local onde as pessoas pobres mais sofrem. A renovação da Secretaria de Estado e a nomeação do Cardeal Parolin dão rosto institucional a esta vontade positiva do Papa Francisco, bem como a relação amiga e a concórdia gerada com os responsáveis das Igrejas e de outras instituições culturais e religiosas.

Em síntese, a dinâmica da reforma da Igreja conta com algumas âncoras de segurança. Outras poderão estar a surgir. O Papa Francisco, sempre aberto ao Espírito de Deus renovador, é homem de surpresas. Também os opositores à sua visão reformista parece que não abranda a obstrução crítica. Oxalá a tensão verificada seja salutar e faça surgir novos impulsos de fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo e aos desafios dos sinais dos tempos messiânicos.

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