segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Porto de Aveiro: Qualidade do ar

Qualidade do ar na zona envolvente 
do Porto de Aveiro tem melhorado, 
mas não é suficiente 



A qualidade do ar na zona envolvente do Porto de Aveiro, que tantos protestos tem desencadeado a partir das populações mais afetadas, tem melhorado «mas não é suficiente», sublinha a ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré) em comunicado tornado público recentemente. Também a Câmara Municipal de Ílhavo chamou a si a responsabilidade de acompanhar o processo, «de forma atenta e permanente», enquanto recomenda à Administração do Porto de Aveiro, «a necessária celeridade na prossecução das diligências que permitam, com a maior brevidade possível, a implementação das medidas propostas pelo referido estudo [publicado recentemente], por forma a proporcionar uma vivência mais tranquila à população da Gafanha da Nazaré». 

domingo, 13 de setembro de 2015

Um poema de Rosa Lobato Faria



Quem me quiser há-de saber as conchas

Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
– Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente
.

Rosa Lobato de Faria,
in "A Noite Inteira Já Não Chega" — Poesia 1983-2010"

NOTA: Por proposta da minha Lita

A semana

1. Os debates

Quando hoje li no Público um pensamento de Aristóteles, um filósofo da Grécia Antiga, dizendo que "O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete", lembrei-me logo dos debates políticos da semana, em que muito se falou à margem do entendimento do povo que nada sabe de jargões económicos e quejandos. Os nossos políticos julgam que estão a dirigir-se a uma assembleia de candidatos a mestrados ou doutoramentos, mas não estão. E assim vai o nosso país, de mal pior, em que se fala para ninguém ou poucos perceberem.
Pergunto-me se vale a pena alimentar pré-campanhas e campanhas para as legislativas, tão morosas e desgastantes, para nos deixarem quase na mesma, isto é, sem conhecermos verdadeiramente com que meios vão resolver os problemas que afligem os portugueses, sobretudo os que vivem no limiar da pobreza, sem trabalho e sem dinheiro para pão, sabendo-se que os cofres estão vazios.
Por que razão não nos poupam a tanta barafunda, a tanta guerra? Uns simples 15 dias não seriam mais do que suficientes para se resolver a questão de apresentação de candidaturas e debates à volta de temas concretos? 

2. Os refugiados

As imagens dramáticas dos refugiados em busca de paz e de pão na Europa não podem deixar-nos indiferentes. São seres humanos desesperados, angustiados e cansados da guerra. Olham para a Europa como única tábua de salvação, apesar de ela própria se debater com imensas dificuldades. Mas o que mais me choca, para além dos dramas humanos de quem vem, são as atitudes desumanizantes de xenófogos e aparentados que repudiam qualquer gesto de solidariedade e humanismo. 
Sou do tempo em que muitos portugueses procuraram a França a salto, correndo sacrifícios inauditos para chegar ao paraíso sonhado de trabalho para todos. Hoje, li um dia destes, há no mundo uns quatro milhões de portugueses e lusodescendentes, com vida estável e segurança social garantida. Mas também com direitos de cidadania adquiridos pela sua integração conquistada a pulso e dedicação. Houve quem os aceitasse e lhes desse trabalho.
Porquê tanta raiva? Porquê tanto ódio? Porquê tanta desumanidade? 

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Postal Ilustrado — Cemitério da Gafanha da Nazaré

Um lugar de memórias e de fé


O Cemitério da Gafanha da Nazaré, inicialmente designado por Cemitério Paroquial, foi benzido no dia 25 de julho de 1921, provavelmente pelo então primeiro prior, Padre João Ferreira Sardo. 
Não sendo um daqueles cemitérios que atraem turistas, por túmulos e capelas com arte, nem por ali estarem sepultadas figuras gradas da política, das ciências e da cultura, a verdade é que naquele espaço de fé e memórias repousam os restos mortais de muitos dos nossos antepassados entre outros de pessoas que assumiram a nossa terra como sua. Antes da inauguração, os que faleciam na Gafanha da Nazaré eram sepultados no cemitério de S. Salvador, Ílhavo.
Depois da bênção, foi sucessivamente aumentado em 28 de dezembro de 1933 e em abril de 1939. No ano anterior, a Câmara de Ílhavo pagou 1150 escudos pela planta do cemitério, provavelmente para legalizar diversas alterações entretanto feitas, conforme se lê nos arquivos da CMI.
Com a construção do Cemitério Paroquial, terminaram os sacrifícios do nosso povo que acompanhava os seus entes queridos falecidos até Ílhavo, por acessos difíceis e morosos de percorrer.
Graças ao desenvolvimento demográfico da nossa terra, as ampliações e melhoramentos sucederam-se e a Capela das Almas foi dada por concluída em 30 de Dezembro de 1933.
Entretanto, foi edificado o jazigo dos Priores da Gafanha da Nazaré e a Capela Mortuária, construída pela Câmara de Ílhavo, junto à igreja matriz. A Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré administra o cemitério e a referida capela.
Quando entramos no cemitério, ao olhar com alguma atenção, deparamos com referência históricas dignas de nota. Identificamos nomes de pessoas que nos foram queridas, que exerceram cargos de relevo, pobres e ricos. Há sinais de amor e de abandono, declarações de ternura e de fé. Rostos que nos marcaram pelo bem que nos fizeram. E a oração sentida brota naturalmente nos nossos corações.

Fernando Martins

O mar é fundamental

Um texto de Sofia Lorena no Público

“O clima será a economia do futuro 
e nesta equação o mar é fundamental”

Porto de Aveiro (Foto do meu arquivo)

Tiago Pitta e Cunha, especialista em políticas do oceano e assuntos marítimos, repete duas ideias: a “globalização não existe sem mar” e “não faz sentido lutar contra a geografia”.


Continuamos de costas viradas para o mar?
Na ausência de desígnios e de concertações nacionais prevalecem os interesses de grupo, os únicos organizados. Mas o interesse comum não existe e por isso é que não existe uma taxa de tonelagem [imposto com base na mercadoria transportada e não nos lucros], por exemplo. Como não há essa ideia de interesse comum, e do mar como interesse comum, um ministro das Finanças não compreende que deva dar a tal ajuda de Estado ao mar, mesmo vendo que os outros países da Europa o fazem.

Ler entrevista aqui

O ignorante, o sábio e o sensato

"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflecte"

Aristóteles (-384/-322), filósofo da Grécia Antiga


Li no Público de hoje


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Um novo discurso do método teológico?

Crónica de Frei Bento Domingues 
«Que fazer, na Europa e nos EUA,
 para vencer a persistente cegueira 
que prepara sempre novas asneiras?»

Frei Bento Domingues



1. O regresso a este espaço pede-me alguns parágrafos de introdução. Começo por destacar o trabalho exemplar de reconstrução de uma muito original, eficaz e clandestina “devoção”, a dos Terceiros Sábados, lançada pelo casal Natália Duarte Silva – Nuno Teotónio Pereira, nos anos 70 do séc. XX.
Ignorada nas investigações sobre a relação dos grupos católicos com o Estado Novo e com a guerra colonial, foi agora tirada do limbo da memória de muitos participantes pelo esforço de António Marujo [1].
A pertinência do texto Dói-me Portugal, de Pacheco Pereira, não se vai esgotar na presente conjuntura política [2]. Clara Ferreira Alves, com As lágrimas de crocodilo [3], não permite esquecer que os EUA e a Europa foram e são parceiros na sementeira e na teia das loucuras cujas consequências, só em parte, estão à vista de todos, na tragédia dos fluxos migratórios. Se ninguém se lembra de perguntar aos países ricos do Golfo, irmãos da mesma fé, quantos refugiados sírios receberam, é porque os negócios sujos exigem silêncio. Em 2014, a Alemanha e os Estados Unidos bateram recordes na venda de armas no Golfo.

sábado, 12 de setembro de 2015

Os grandes veleiros

HÁ DOIS ANOS PUBLIQUEI ESTE TEXTO



Tenho saudades dos grandes veleiros. Lembrei-me hoje deles e da beleza que transportam enquanto cruzam outros horizontes. O colorido, os mastros apontando ao céu, as bandeiras agitadas pela aragem ou pelos ventos fortes, as cordas que se cruzam, os marinheiro folgazões, o povo que brota de todos os cantos do nosso país, os cantares descontraídos, o rigor das operações da atracagem e o levantar das amarras ficaram na minha memória. Quando voltarão?

Teólogos e recasados

Crónica de Anselmo Borges 

«O Evangelho manda, 
segundo os Actos dos Apóstolos, 
"não impor um jugo que nem os nossos pais 
nem nós somos capazes de suportar"»


1. A pensar no confronto do Sínodo de Outubro, 18 teólogos espanhóis de renome, como Torres Queiruga, González Faus, J.A. Pagola, escreveram uma carta de petição ao Papa querendo "completar, pelo outro lado, o escrito de meio milhão de fiéis no qual te pedem com afinco que "reafirmes categoricamente os ensinamentos da Igreja de que os católicos divorciados e que voltam a casar pelo civil não podem receber a sagrada comunhão". Dei conta aqui desse escrito no sábado passado. Na carta, a assinar por quem achar bem (já assinei), dão razões a justificar que "a prudência pastoral não só permite como reclama hoje uma mudança de posição" quanto à comunhão para os recasados.
A primeira é que as palavras de Jesus "Não separe o homem o que Deus uniu" têm de ser lidas no seu contexto. Elas dizem directamente respeito ao marido, que podia abandonar a mulher por qualquer motivo, até porque viu outra mais bonita. São, pois, palavras dirigidas primariamente à "defesa da mulher".

Jesus de Nazaré, diz-nos quem és tu

Reflexão de Georgino Rocha



«Que brilhe em nós a alegria 
da experiência alimentada 
no encontro contigo»

A reprimenda de Jesus a Pedro é de lançar todas as esperanças por terra. “Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens”. Mc 8, 27-35. Pobre Pedro! Havia agido em coerência e proclamado em nome do grupo dos discípulos que Jesus “é o Messias de Deus”, havia achado estranha a recomendação severa que impunha silêncio sobre esta verdade, havia julgado prudente aconselhar o Mestre, a sós, contestá-lo no seu surpreendente anúncio: que tinha de sofrer muito, ser rejeitado, morto e ressuscitado. E Jesus acrescenta dirigindo-se à multidão: “Quem quiser seguir-Me tome a sua cruz… quem perder a vida por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á”.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Idosos em passeios

Câmara de Ílhavo
promove Semana da Maior Idade


Eu gosto de saber que a Câmara de Ílhavo olha para os mais velhos, respondendo aos seus anseios e necessidades, dentro do possível. Sei que as autarquias não são Misericórdias, mas têm nas suas mãos a tarefa de procurar soluções para ajudar quem precisa. Nessa linha, as autarquias promovem iniciativas de apoio aos que deram muito à sociedade durante anos e anos de vida. 
Congratulo-me, pois, com a Semana da Maior Idade que vai decorrer entre 14 e 20 de setembro com um programa bastante preenchido e apelativo, conforme se lê nas informações que a autarquia tornou públicas.
Permitam-me que destaque as visitas culturais a Chaves e Vila Real (dia 15), Nazaré (dia 16) e Vigo e Viana do Castelo (dia 17), uma excelente forma de conhecer outras terras e suas gentes. É claro que, para além dos monumentos que é possível apreciar, os nossos idosos não deixarão de saborear os petiscos regionais. E já agora, ainda recomendo que em Chaves, cidade que bem conheço, não se esqueçam dos pastéis flavienses nem da bola de carne. Boa viagem.

11 de setembro de 2001



Está na memória de muitos o ataque terrorista às torres de Nova Iorque. Foi depois do almoço que a noticiou abalou os nossos quotidianos, deixando-nos perplexos com tamanha brutalidade, só própria de gente sem alma.
Pensei que depois de tão grande desumanidade houvesse momentos de reflexão por parte dos que advogam o terror como processo de reivindicar,  mas enganei-me. O terror continua na ordem do dia um pouco por todo o mundo, quantas vezes em nome de Deus e das religiões. Realmente, não se vislumbram soluções para a compreensão mútua entre os seres humanos nesta era da alta tecnologia, com possibilidades de partilha de saberes e de vivências sem fronteiras. Deus, que nos dá liberdade plena, não se cansa de nos alertar através da Mensagem que seu Filho nos veio oferecer. Mas quem O ouve?

Ler mais aqui

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Declaração de nulidade do matrimónio

O que vai e não vai mudando no Vaticano


«Desenganem-se os que pensam que vai ser “liberalizada” a até aqui demorada aceitação da nulidade do casamento católico. Ou que vai ser aceite a sua dissolução perante as leis da Igreja católica. Para o Vaticano, o casamento católico continua a ser indissolúvel e, para que ele seja anulado, é preciso cumprir os rituais pedidos baseados nos motivos já antes utilizados. Mas o que o Papa Francisco acaba de aprovar corresponde, ainda assim, a uma revolução no sistema: um processo que demorava anos e custava milhares de euros pode agora ser breve e gratuito (demonstrando “a gratuitidade do amor de Cristo”, justifica o Papa, “num assunto tão ligado à salvação das almas”). Mas, mais do que isso, a decisão poderá ser agora tomada na diocese do casal e a segunda opinião é facultativa (antes era obrigatória e demorada e, com recurso, podia ir até ao Vaticano). Sem pôr em causa fundamentos, Francisco continua a mudar o que parecia imutável.»

Nota: Li no PÚBLICO de ontem


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Mudar de vida

«Assim como lavamos o corpo devíamos lavar o destino, 
mudar de vida como mudamos de roupa»

Fernando Pessoa
(1888-1935), poeta português

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes

Com Procissão pela Ria 
20-09-2015
14.30 horas
Procissão pela Ria (Foto do meu arquivo)
Como já é tradição, vai realizar-se no próximo dia 20 de setembro, domingo, no Forte da Barra, Gafanha da Nazaré, a festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, de que destacamos a procissão pela Ria, que antecede a Eucaristia, por volta das 14.30 horas. 
Do programa consta o acolhimento com almoço aos grupos e ranchos convidados — Rancho Folclórico de Santa Maria de Airães, Ronda da Miadela e Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré — pelas 12 horas, nas instalações da APA (Administração do Porto de Aveiro). 
A procissão com destino ao Porto Bacalhoeiro sai da igreja da Cale da Vila às 14 horas, iniciando-se, meia hora depois, o desfile pela Ria, no qual se incorporam os andores de Nossa Senhora dos Navegantes e outros, a Filarmónica Gafanhense, os grupos e ranchos convidados, moliceiros e mercantéis, bem como barcos de recreio e demais embarcações, algumas das quais transportarão pessoas devidamente autorizadas. Convidam-se, entretanto, os proprietários de barcos a associarem-se à festa. 
Na sua passagem por S. Jacinto, haverá um simbólico encontro com a população local que, como é normal, manifestará a sua alegria junto de Nossa Senhora.No final da eucaristia atuará a Filarmónica Gafanhense, seguindo-se o Festival de Folclore.
A organização é do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, em sintonia com a paróquia e em colaboração com diversas instituições públicas e privadas.

Leia um pouco da história da Festa da Senhora dos Navegantes

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Fiel

Poema de Guerra Junqueiro 
e foto enviados por Maria Donzília Almeida



Na luz do seu olhar tão lânguido, tão doce,
Havia o que quer que fosse
Dum íntimo desgosto:
Era um cão ordinário, um pobre cão vadio
Que não tinha coleira e não pagava imposto.
Acostumado ao vento e acostumado ao frio,
Percorria de noite os bairros da miséria
À busca dum jantar.
E ao ver surgir da lua a palidez etérea,
O velho cão uivava uma canção funérea,
Triste como a tristeza oceânica do mar.
Quando a chuva era grande e o frio inclemente,
Ele ia-se abrigar às vezes nos portais;
E mandando-o partir, partia humildemente,
Com a resignação nos olhos virginais.
Era tranquilo e bom como as pombinhas mansas;
Nunca ladrou dum pobre à capa esfarrapada:
E, como não mordia as tímidas crianças,
As crianças então corriam-no à pedrada.
Uma vez casualmente, um mísero pintor
Um boémio, um sonhador,
Encontrara na rua o solitário cão;
O artista era uma alma heróica e desgraçada,
Vivendo numa escura e pobre água furtada,
Onde sobrava o gênio e onde faltava o pão.
Era desses que têm o rubro amor da glória,
O grande amor fatal,
Que umas vezes conduz às pompas da vitória,
E que outras vezes leva ao quarto do hospital.
 

domingo, 6 de setembro de 2015

Refugiados - Apelo do Papa

"Que cada paróquia, cada comunidade religiosa, cada mosteiro, cada santuário da Europa hospede uma família, começando da minha diocese de Roma".

Papa Francisco


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Saber envelhecer

"Saber envelhecer é a obra-prima da sabedoria 
e um dos capítulos mais difíceis na grande arte de viver"

Hermann Melville (1819-1891), 
escritor, poeta e ensaísta norte-americano

Li no Público de hoje

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sábado, 5 de setembro de 2015

Faleceu o escritor gafanhão Ascêncio de Freitas

Ascêncio de Freitas
No passado dia 23 de agosto, faleceu na Amadora, onde residia, o escritor gafanhão Ascêncio de Freitas.  Natural da Gafanha da Nazaré, viu a luz do dia no Forte da Barra em 3 de agosto de 1926, tendo concluído,  recentemente, 89 anos de vida.
Em 1949, fixou-se em Moçambique, onde viveu três décadas, sem nunca esquecer as suas raízes. Nos seus livros, de vez em quando, deixava transparecer ou evocava com nitidez marcas indeléveis das suas origens. Na sua obra, sobretudo contos e romances, Ascêncio de Freitas apoia-se, com riqueza de pormenores, fundamentalmente, em vivências moçambicanas, o que lhe deu legítimo direito a integrar antologias daquele país irmão. 
Em Portugal, o escritor gafanhão foi galardoado, com merecido  reconhecimento, pela sua obra, de que destacamos “Cães da Mesma Ninhada” (Prémio Cidade da Beira “A Reconquista de Olivença” (Prémio Vergílio Ferreira), “O Canto da Sangardata” (Prémio Pen Clube),”A Noite dos Caranguejos” (Prémio Ferreira de Castro) e “A Paz Enfurecida” (Escrito com Bolsa do IPLB — Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, obtida por concurso).
Ascêncio de Freitas, que nunca olvidou a sua terra, vinha com alguma frequência à Gafanha da Nazaré, onde colaborou com amigos e instituições. Por isso, a ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré) prestou-lhe significativa homenagem em 8 de julho, tal como fez a Câmara Municipal da Amadora pouco tempo antes do seu falecimento.
Em sua memória, publicamos um expressivo  texto do seu livro “Ai, Amor!”, cuja primeira edição saiu em janeiro de 2009.


         «O capitão Armando Vieira, do mesmo modo familiar com que o tinha recebido pela primeira vez logo após a chegada, fez entrar o amigo da juventude pela porta da cozinha, com as manifestações de alegria de quem acolhia em sua casa alguém que tivesse acabado de regressar, ileso, de uma batalha perdida
         e a cozinha estava inundada de um odor forte, saído de algo que estava a cozinhar, que fez recordar ao tio Florêncio a caldeirada de bacalhau
         não obstante ele pensou que não poderia adivinhar de forma tão simples e imediata que seria esse “o jantar gafanhão” que lhe tinha sido prometido, pois a caldeirada não poderia nunca ser considerada um prato gafanhão, nem tão-pouco apenas português
         — Estás a lembrar-te de alguma coisa conhecida neste cheirinho que está aqui na cozinha, não estás, sócio?
         mas eu aposto singelo contra dobrado em como não adivinhas o que a Adélia tem ali a cozinhar
         — Guiado pelo cheiro, eu apostaria que se trata de caldeirada de bacalhau
         mas ao mesmo tempo qualquer coisa me diz que perderia a aposta, porque este aroma que anda no ar não é exactamente igual ao da caldeirada
         perderia… seguramente
          porque depois de teres prometido um jantar gafanhão, seria falta de imaginação apresentares-me para comer uma banal caldeirada de bacalhau
         embora seja coisa que não como há muitíssimo tempo
         só que ninguém poderá dizer que se trata de um prato gafanhão
         os bascos e os galegos também a fazem
         — Deixa-te de divagações e vem dar uma espreitadela
         disse o capitão Armando Vieira
         aproximou-se do fogão, retirou a tampa do tacho e uma intensa nuvem de vapor subiu no ar
         depois de a deixar dissipar, o capitão Vieira fechou os olhos e aproximou o rosto do recipiente, de onde saía, junto com a branda fumarada, o som de um suave borbulhar
          — Oh, assim estragas a surpresa, Armando
         protestou Adélia
         mas ele aspirava o vapor que saía do tacho e comentava:
         — Hum, este cheiro a salgado entra-me no nariz e trepa-me até à alma
         vem cheirar, vem cheirar este perfume que nos lembra o mar e é como se fossem as mãos dos anjos a acariciar o que há de melhor dentro de nós
         ah, e como formosa nos parece a vida saboreando estes petiscos
         melhor do que isto só  lagosta suada ou bacalhau á Freitas
         o tio Florêncio aproximou-se dele e espreitou para dentro do tacho
         aspirou também o cheiro da comida
         — Então que tal?
         — Não estou a ver o que possa ser
         cheira a bacalhau… mas ao mesmo tempo há qualquer coisa de diferente neste cheiro
         — São sames, sócio, são sames, que já não deves comer há muito tempo
         — Sames?
         caramba, há mais de trinta anos que não me lembrava sequer dessa estranha palavra, quanto mais comê-los   
         — Sim senhor, um guisadinho de sames de bacalhau, bem à gafanhoa
é ou não é?»

Excerto do capítulo oitavo
do romance “Ai, Amor”



NOTA: Só hoje me foi possível escrever este texto de homenagem a um escritor gafanhão que admirava pela originalidade da sua escrita cheia de memórias,  algumas das quais referentes à nossa terra e nossas gentes. Longe da casa, não tinha à mão o texto com o qual desejava prestar-lhe a minha gratidão. 

F.M.

Dezassete cardeais na oposição

Crónica de Anselmo Borges 
no DN


Anselmo Borges

1. Claro que é muito antiga, mas a questão da comunhão para os divorciados que voltaram a casar-se tornou-se agora acesa, por causa da nova atitude que o Papa Francisco quer para esta situação. Já em Julho de 2013, quando regressava das Jornadas Mundiais da Juventude no Rio de Janeiro, disse no avião, em conversa com os jornalistas, que era necessário rever "o problema da comunhão para as pessoas que voltaram a casar-se", e pensava na misericórdia: "Se o Senhor não se cansa de perdoar, nós não temos outra escolha."

Rapidamente se ergueram as vozes de figuras altamente situadas, opondo-se à abertura. A oposição tem sido liderada por cinco cardeais: "Não é coerente com a vontade de Deus" (Gerhard L. Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé), vai "contra a vontade do Senhor" (Carlo Caffarra), é ilícita, porque põe em causa "a lei divina" da "indissolubilidade do casamento" (Velasio De Paolis), é "insustentável" (Walter Brandmüller), o recurso à misericórdia sem verdade atenta contra a fé (Raymond Leo Burke). É sobretudo Burke que está à frente da chamada "Filial súplica a Sua Santidade para o futuro da família", que já tem meio milhão de assinaturas, também de bispos e cardeais, na qual se pede ao "Papa Francisco que reafirme categoricamente o ensinamento da Igreja de que os católicos divorciados e que voltam a casar-se civilmente não podem receber a Sagrada Comunhão e que as uniões homossexuais são contrárias à lei divina e à lei natural". São agora 17 os cardeais que se opõem à abertura da comunhão aos recasados, com a publicação de dois livros, em várias línguas, para pressionar o Sínodo de Outubro: "Onze cardeais falam sobre o casamento e a família" e "África, nova pátria de Cristo. Contributos de pastores africanos para o Sínodo".

Abre-te a um novo olhar

Reflexão de Georgino Rocha




“Fomos e regressámos da lua, 
mas temos enorme dificuldade 
em atravessar a rua para visitar o vizinho”


O episódio do surdo-mudo ocorre na região da Decápole, situada além Jordão, território independente, habitada por gente pagã. A missão para Jesus não tem fronteiras nem faz discriminações, não se limita a confirmar o que há de bom no homem, mas visa iniciar uma nova criação.
Marcos – o evangelista narrador – condensa, neste episódio, uma expressiva mensagem, valiosa para todos os tempos, mas sobretudo para os nossos, tão profundamente marcados pela surdez e incomunicação generalizadas, na era em que torrentes de informação circulam sem limites de qualquer espécie. Mc 7, 31-37.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

GDG vence prémio de Prato Principal no Festival do Bacalhau

 Primeira participação do GDG 
em tenda que lhe foi atribuída 
pela organização




Lombo de bacalhau com crosta de ovas e pimento, esmagada de batata com açafrão, legumes grelhados e molho de coentros e salsa.

Ingredientes:

800g lombo bacalhau 
100g ovas bacalhau cozidas 
50g broa (miolo) 
50g pimento vermelho (assado) 
500g batata
100g courgette 
100g tomate 
20g salsa
20g coentros 
Azeite Q.B. 
Sal Q.B. 
Pimenta Q.B. 
Açafrão Q.B. 
2 dentes de alho 
Vinagre Q.B.

Preparação:

Retire a pele e as espinhas aos lombos do bacalhau e, de seguida, deixe-o corar em azeite. 
Na picadora, triture a broa com as ovas, alho, pimento, sal, pimenta e azeite. 
Cubra o bacalhau com o preparado e leve ao forno a 180 graus.
Coza as batas e escorra-as e, depois, esmague-as, envolvendo-as em azeite e açafrão. 
Grelhe o tomate e a courgette em rodelas, com sal e pimenta.
Prepare o molho com salsa, coentros, azeite, vinagre, sal e pimenta. 
Misture tudo e passe com a varinha mágica, regando, depois, o bacalhau com este molho.

Receita gentilmente cedida pelo Chef Nuno Pinheiro, autor do prato vencedor do Concurso Gastronómico (pelo Grupo Desportivo da Gafanha), na categoria “Prato Principal”, realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2015.

Agenda “Viver em…” da CMI

Nota: Permitam-me que felicite o Grupo Desportivo da Gafanha (GDG) pelo primeiro prémio recebido no Festival do Bacalhau, na categoria de Prato Principal. O GDG, que participou pela primeira vez no Festival numa tenda que lhe foi atribuída, mostrou à evidência que nestas festas é preciso inovar, fugindo um pouco (ou muito) ao mais do mesmo. Que o seu exemplo contagie as demais associações que costumam marcar presença nesta festa de tanta repercussão no nosso país. As felicitações são extensivas, naturalmente, ao criador do prato, Nuno Pinheiro.

F.M.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Os Passadiços do Paiva

Passadiços (foto do Fugas)

Ultimamente tenho lido e ouvido falar dos já célebres Passadiços do Paiva, uma construção de madeira que serpenteia por paisagens deslumbrantes, permitindo um contacto direto e íntimo com a natureza pura. Li no Fugas, caderno do Público com edição semanal, aos sábados, e noutras revistas e blogues. E se gosto do que os jornalistas escrevem sobre este passadiço, no concelho de Arouca, entristece-me a certeza da minha impossibilidade de fazer aquele percurso, como milhares de pessoas decerto já experimentaram, para regalo dos olhos e da alma. 
No Fugas garante-se mesmo que o passadiço vai ser aumentado com mais uns 12 quilómetros, beneficiando de bares, museus e outros apoios que tornem mais atraentes a cultura da natureza e a vida sadia que ela proporciona.

Leia muito mais aqui e aqui.

Que fizeste ao teu irmão?

Uma crónica de de João Miguel Tavares 
no PÚBLICO de hoje


«Digam-me: em que momento é que deixámos de nos preocupar? Em que momento é que nos tornámos indiferentes ao sofrimento de centenas de milhares de pessoas, muitas das quais mulheres e crianças que perderam tudo e que buscam salvação na Europa, ao mesmo tempo que pintamos com cores de tragédia planetária a sobretaxa do IRS ou os números do desemprego? Aqueles que morrem asfixiados em camiões ou afogados no Mediterrâneo — eis os verdadeiros pobres. Mas a nossa piedade em relação a eles é ínfima, e é extraordinário que os estrondosos gritos de "parem com a austeridade" se transformem num murmúrio quase inaudível quanto se trata de pedir para salvar as vidas de quem nada tem.»

Dar

"Só estareis a dar quando vos derdes a vós mesmos"

Khalil Gibran (1883-1931) 

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Falta de água sugere reflexão

A água é um bem escasso 
em muitas regiões do mundo
Riacho em Piódão
As obras ligadas ao abastecimento de água, sem dúvida necessárias, privaram-nos hoje, durante o dia, desse precioso bem. E todos, certamente, sentimos quanto pesa no dia a dia, para os mais diversos fins, a água que nos é fornecida pela empresa abastecedora. Garrafões, alguidares, tachos e panelas, tudo serviu para armazenar água. Deu para perceber como é difícil viver sem ela. Quem ainda tem o motor para rega não deixou de o utilizar na emergência. Foi o nosso caso.

São conhecidas inúmeras histórias no nosso país de mortes provocadas pelos direitos adquiridos sobre as águas de riachos e ribeiros para rega de campos particulares. Um rego de água desviado podia dar em mortes. É que agua é vida. Também todos nós conhecemos nações onde a água é racionada e vale ouro. Um poço para abastecimento de água em certas aldeias é a maior riqueza a que um povo pode aspirar. 

Desde há muito que ouço que as guerras provocadas pela falta de água podem ocorrer a qualquer momento. E a simples falta de chuva, no nosso país, com a seca a acentuar-se, pode originar desastres  económicos e sociais  de monta. 

A água ainda há poucos anos era um bem quase gratuito e duradouro, mas presentemente já se clama que estamos à beira de a considerarmos como um bem a caminhar para a escassez. E o preço dela, quem tem de a pagar mês a mês, continua a subir.

Penso que este dia nos poderá servir de lição para no futuro cuidarmos de poupar água no uso diário, cuidando ainda de não a poluir. O Papa Francisco, com a sua mais recente encíclica, veio pôr em cima dos nossos ombros a missão de cuidarmos da natureza, onde a água ocupa um lugar de honra. 

domingo, 30 de agosto de 2015

Prazeres de férias

Impressões de férias 
Bar onde costumava tomar café

É óbvio que os prazeres de férias são diversos. Tenho para mim que não haverá duas pessoas com prazeres rigorosamente iguais. Também temos dias para nos sentirmos mais felizes que outros em tempo de férias. Eu gosto sobremaneira de silêncio, de paz interior, de estar com quem amo e por quem sou amado. Sinto-me bem a divagar por ruas tortuosas e a apreciar amplos horizontes. Gosto de identificar paisagens urbanas de tempos idos e de registar factos com história. Ler muito e variado, poesia, romance, ensaio e história. De tudo um pouco, afinal.
Em férias, tenho apetência por me encontrar comigo mesmo e com Deus. E mais ainda: com minha mulher, a Lita, com filhos e netos e demais familiares. Também aprecio uns petiscos e comida típica das terras por onde passo. Pena é que os restaurantes, salvo raras exceções, se fiquem pelos pratos triviais de sabores iguais em qualquer canto. E assim cheguei ao fim destas curtas férias na Figueira da Foz, neste verão de 2015. Até para o ano, se Deus quiser.

Um poema de João de Barros

Na romagem ao poeta figueirense





AQUELE MAR

Aquele mar da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…

Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…

Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…
Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.






NOTA: Edição de “Mar Alto” –  Figueira da Foz,
1 de Junho de 1969, no dia da Festa da Cidade ao poeta.



sábado, 29 de agosto de 2015

Dever de quem pensa

«É dever de quem pensa não ficar do lado dos carrascos»

Albert Camus (1913-1960), escritor

Li no PÚBLICO de hoje

Sobre as eleições

Crónica de Anselmo Borges no DN




Não costumo meter-me por estas bandas.
Faço-o hoje, pouco sistemático,
talvez um pouco desconexo. 
São desabafos.

1. Vivemos num mundo conturbado e perigoso. A globalização surge num quadro caótico, sem parâmetros de orientação básica. Por isso, grandes sociólogos, como U. Beck, Z. Bauman, E. Morin, apresentam como características próprias deste tempo a insegurança, a incerteza, o risco, a vulnerabilidade, a inquietação.
Participando da situação, a Europa também não está bem. Espiritualmente esvaziada, não acredita nela própria, nas suas raízes e valores. Quando num mundo globalizado se impunha uma Europa cada vez mais unida politicamente, o que se vê são fracturas crescentes. Veja-se a incapacidade de lidar juntamente com os fluxos migratórios imparáveis.
Neste quadro, a política não está para entretenimento de medíocres nem comentários sofistas.

A Palavra que iIumina o Coração

Reflexão de Georgino Rocha

«É de dentro do coração da pessoa 
que sai o que degrada ou enobrece
 a dignidade humana»



Jesus continua a dar-nos boas notícias nos seus ensinamentos. Aproveita oportunidades que as situações da vida lhe proporcionam ou cria factos que realizam o que, depois, anuncia em narrativas estimulantes. Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23. Hoje surge no seu caminho um grupo de fariseus e de doutores da Lei. Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente. Os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Castelo de Pombal — Se puder, não deixe de visitar

O meu fascínio pelos Castelos 

À chegada
O meu fascínio pelos castelos vem desde a meninice.  Talvez por influência do meu professor primário, Manuel Joaquim Ribau, que recordo com muito afeto.  A história sempre me levou a sonhar e a refletir sobre o nosso passado como povo que soube criar o sentido de nação, embora tardiamente, e de estado. Que fique claro: nos idos de D. Afonso Henriques não havia uma coisa nem outra. Ele era o Senhor e isso bastava para fazer brotar raízes que germinassem. Deixemos isso para os historiadores, que esses é que sabem disto. E fui então nestas férias até Pombal. 
A história, com lendas à mistura, pode ser lida na Net. Abençoada Net que nos abre tantas portas para o conhecimento. Contudo, não nos podemos fiar numa só fonte. 

No interior, com duas cisternas atrás de nós
O Castelo de Pombal vem do século XII, por iniciativa de Gualdim Pais, o Mestre da Ordem do Templo, que chegou a integrar as Cruzadas organizadas pelos Papas para a libertação e defesa da Terra Santa. Foi ampliado por D. Sancho I e muito depois por D, Manuel I, com a construção de melhorias significativas. 
Na hora da saída
Uns minutos para ganhar forças
Naqueles tempos, como hoje, as beneficiações ou alterações surgiam com as necessidades. E assim se foi aguentando. Com a 3.ª invasão francesa, em 1811, foi devastado pelas tropas napoleónicas, sendo recuperado e construído em 1940, em pleno Estado Novo, numa campanha pela qual Salazar quereria enaltecer o sentido pátrio. Não sei se apenas por isso se por razões culturais. De qualquer forma, os nossos castelos, tanto quanto vou percebendo fazem parte hoje dos itinerários turísticos de portugueses e estrangeiros. 

Outro ângulo do Castelo
E mais um ângulo
Na visita que registei em imagens, pude assistir a um filme de uns 13 minutos, em 3D, que conta a história atribulada do castelo, um pouco de cada época, está bem de ver. Quem lá for não deixe de ver o filme, que gentilmente é lembrado pela simpática funcionária do turismo local.

Sala de repouso no bar
Há um bar muito acolhedor onde saboreei o café da manhã. A sala do bar dá para uma esplanada donde se avista um panorama da região circundante. No piso superior há uma outra sala para descanso, com cómodos que permitem um retemperar de energias, já que a subida, pelo lado do cemitério é um pouco custosa. Difícil mesmo é a subida a partir da zona antiga da cidade. Dei umas  passadas, mas logo uma senhora jovem me alertou: «Não tente, que eu só subi isso uma vez e jurei para nunca mais.» Foi o que fiz. 

O Bosque

"O bosque seria muito triste se só cantassem 
os pássaros que cantam melhor".

Rabindranath Tagore (1861-1941)


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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Em Pombal à procura do Marquês

Um museu 
para recordar um pouco 
da nossa história

Secretária e cadeira do Marquês
Ontem foi dia de ir a Pombal. Por lá passara vezes sem conta, mas sempre com pressa, quando utilizava a estrada antiga, antes das autoestradas. A Pombal, sim senhor, para ver se encontrava por lá o Marquês, uma personalidade histórica controversa. Amada por uns e contestada por outros tantos ou mais. 
D. José I, o rei, confiava nele cegamente. Por ser um incompetente, politicamente falando, ou por razões que nos escapam. O homem, Sebastião José de Carvalho e Melo, conhecido por Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, um adepto feroz do iluminismo, tudo quanto fez, e muitíssimo foi, seria por bem do povo e do país. Se não fosse a bem seria a mal. Um ditador feroz, segundo a minha ótica. E nós, os de Aveiro, nunca lhe perdoaremos ter condenado e executado o Duque de Aveiro, cujo palácio em Lisboa foi incendiado, arrasado e coberto de sal o terreno onde estava implantado, para que nada nele germinasse. Foi tudo isto e muito mais o que me veio à cabeça quando cheguei a Pombal. 
Já agora, umas curtas histórias que li, há uns 40 anos, numa biografia do Marquês escrita por Mário Domingues, um escritor e jornalista. Julgo não estar errado. A primeira, garante o escritor, diz que depois da sua morte, lhe abriram o peito (não recordo por que motivo nem tenho o livro à mão para o reler), tendo os médicos descoberto que tinha pedras no coração. 
Talvez por isso, ou a história foi contada para nos levar a admitir a dureza do seu coração, o homem teria razões para se comportar com frieza e raiva perante os seus adversários. E a outra história conta que a Rainha D. Maria I o desterrou para Pombal, com a advertência de que não poderia pisar solo que não fosse o daquela vila. Sentindo saudades de Lisboa, cuja traça arquitetónica foi delineada por ele e seus obedientes artistas, depois do terramoto de 1755, com avanços antissísmicos e avenidas que ainda hoje nos espantam. 
Ora o marquês conseguiu realizar o seu sonho, sem transgredir nem ofender a Rainha, com um estratagema insólito, qual ovo de Colombo. Na carruagem que o conduziu colocou terra de Pombal onde pousou os seus pés, talvez pesados de vida longa e laboriosa e pela carga da sua indesmentível inteligência.
Pelo que calculo, as grandes cabeças (no sentido do saber e da inteligência, da bondade ou da tirania) encontram sempre soluções, por mais inesperadas que sejam.

Sobre o Marquês podem ler aqui


O Museu

Urna do Marquês, com  leões do seu brasão 


Tinteiro do Marquês com pena

O Museu fica na cidade velha, na Cadeia Velha, na Praça Marquês de Pombal, desde 2004, após obras de remodelação e adaptação do edifício. O edifício foi mandado construi pelo próprio Marquês em 1776 e o seu espólio, de valor histórico e artístico, merece ser apreciado. A entrada é gratuita e a funcionária é atenciosa e possuidora de histórias sobre a figura mais expressiva da terra. Torna-se difícil apreciar documento a documento, mas percebe-se o labor extraordinário do político e governante. Por exemplo, vi decretos que proibiam o uso de carruagens em Lisboa, da obrigatoriedade do uso de passaporte como medida de segurança, da abolição da escravatura em Portugal, dos privilégios a quem plantasse amoreiras (por causa da seda, está bem de ver, cuja indústria cresceu bastante), da Companhia dos Vinhos do Alto Douro, entre outros. O governante era, de facto incansável.
Bustos, gravuras, móveis, louças, atas, e muito mais, que me dispenso de referir para não saturar os meus amigos e leitores. Às fotos que publico acrescentarei um ou outro comentário. E o convite aqui fica: de passagem por Pombal, não deixem de visitar este museu.

NOTA: Amanhã, se puder, virei com o Castelo de Pombal

Pintura de João Teles no CAE da Figueira

Patente até 27  de setembro



Quando estou na Figueira da Foz, não prescindo de passar por este espaço de cultura e arte. Longe das horas de espetáculos, enquanto se aguarda a abertura da porta do anfiteatro, o silêncio é absoluto. Percebe-se que aqui é obrigatório respeitar quem está. Hoje, por exemplo é assim. Tomado o café no bar-restaurante caffe, com empregados simpáticos e acolhedores, passei com olhares curiosos por duas exposições aqui patentes.
A primeira que visitei, "Pontos de Vista" de João Manuel Teles, surpreendeu-me porque, sendo o artista natural de Aradas, Aveiro, onde nasceu em 1939, não fazia parte da lista dos meus conhecidos artistas aveirenses. 
Segundo as indicações promocionais do CAE (Centro de Artes e Espetáculos), este artista emigrou cedo para os Estados Unidos, onde desenvolveu as suas atividades profissionais, "mantendo sempre o seu interesse pela pintura e pelo desenho". E acrescenta que João Teles tem trabalhos em coleções particulares, tendo participado em exposições, quer nos Estados Unidos, quer em Portugal.
Esta exposição apresenta pinturas de paisagens e natureza morta, registrando-se que "as tintas esparsas e o bailado dos pincéis se encontram num conjunto de trabalhos no estilo impressionista com o acrílico".
É pertinente sublinhar que o artista, que é um autodidata, não foge à experimentação, não faltando nos seus trabalhos uma sensibilidade com emoções à vista. 


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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Padre César é o novo prior da Gafanha da Nazaré

Uma palavra amiga na hora da entrada

Padre César


Por razões já justificadas no texto que escrevi sobre a saída do Padre Francisco Melo, não pude estar presente na cerimónia de tomada de posse do novo prior da Gafanha da Nazaré, no passado dia 16 de agosto. Já expliquei ao meu amigo Padre César, como gosta que o tratem, a mágoa que senti pela minha ausência, explicação que ele compreendeu muito bem. É que a presença de paroquianos e amigos num ato relevante da vida de um qualquer sacerdote que assume funções de responsabilidade por mandato do Bispo Diocesano, para além de um gesto fraterno e solidário, simboliza um apoio efetivo e afetivo, que se há de manifestar tanto nas horas boas como nas horas menos boas.
Tenho presente a recomendação do Padre Francisco Melo no momento da sua partida, em que nos aconselha não só a apoiar e a colaborar com o Padre César, mas ainda a viver com ele uma lealdade saudável, fundamental para quem tem de liderar a nossa paróquia. Lealdade foi a palavra certa na hora certa que mais me ficou gravada na mente, de tão importante ela ser no meio cristão e, no nosso caso, no meio paroquial.

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