Uma crónica de de João Miguel Tavares
no PÚBLICO de hoje
«Digam-me: em que momento é que deixámos de nos preocupar? Em que momento é que nos tornámos indiferentes ao sofrimento de centenas de milhares de pessoas, muitas das quais mulheres e crianças que perderam tudo e que buscam salvação na Europa, ao mesmo tempo que pintamos com cores de tragédia planetária a sobretaxa do IRS ou os números do desemprego? Aqueles que morrem asfixiados em camiões ou afogados no Mediterrâneo — eis os verdadeiros pobres. Mas a nossa piedade em relação a eles é ínfima, e é extraordinário que os estrondosos gritos de "parem com a austeridade" se transformem num murmúrio quase inaudível quanto se trata de pedir para salvar as vidas de quem nada tem.»