quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Na Linha Da Utopia

Escola, pais e filhos 1. Esta é uma relação fundamental. Sem ela o processo educativo ficará a meio do caminho. Mas, a par de tantos outros factores, devemos ainda, nos nossos dias, corresponsabilizar as sociedades civil e da informação e comunicação (hoje global). Todos estes actores, seja na escola pública ou privada, na sua intervenção essencial, revelam-se decisivos para uma coerência (e convergência) interna em ordem a conseguir passar uma mensagem que da “instrução” agarre o todo da pessoa em processo de “educação”. 2. Particularmente, desperte-se para a necessária mudança de mentalidade (que muitos pais ainda têm sobre a escola/educação) de que isso de “educar” é coisa entregue à escola, tal como a formação pessoal mais profunda (mesmo espiritual) está entregue ao local onde se deixam os filhos. É certo que os novos contextos sociais, mesmo tecnológicos a par da sublinhada “falta de tempo”, desafiam grandemente a missão dos pais em educar. Por isso mesmo, e por todos os motivos que se possam apresentar, cada vez mais torna-se imprescindível a sua presença e persistência neste ideal. 3. Pais e educadores atentos e com interesse para com os seus filhos e educandos, especialmente nos anos da formação inicial, representam hoje o segredo de uma vida futura com sentido (pessoal e social), capaz de posterior intervenção cívica. Todo o esforço na educação representa, para cada casa como para cada comunidade, o maior tesouro, na certeza de que “um dia” colhe-se os frutos da atenção cuidada ou os males do desinteresse de quem só vai buscar as notas ou é “parte do problema”. 4. Mesmo com os ansiosos e naturais contextos de dispersão sempre presentes, com o novo ano escolar, seja renovado todo o compromisso de convergência no sentir que cada gesto e cada palavra é um irrepetível “semear” de princípios, critérios e valores. Nesta tarefa, conhecermo-nos (Escola, Pais e Filhos) é a estrutural rampa de lançamento!... Apesar de tudo, haja (o Ser e o) Tempo, é essencial! Alexandre Cruz

Um artigo de D. António Marcelino

LAICISMO NEUTRO
OU IMPARCIAL?
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A cerimónia de tomada de posse do Dr. Mário Soares como Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, órgão consultivo do Governo e do Parlamento, permite alguma reflexão a propósito do que então se disse e de aspectos concretos da acção da referida Comissão.
Não oferece dúvidas, como aliás ele próprio o afirmou de novo neste acto solene, que Mário Soares, com a sua visão cultural e histórica, é sincero quando afirma: “Reconheço a relevância da religião e das instituições religiosas no mundo conturbado de hoje, onde o fenómeno religioso retomou uma enorme importância”, acrescentando que é necessário “desenvolver o diálogo ecuménico para evitar conflitos de natureza religiosa, o que seria um recuo civilizacional de uma gravidade tremenda”. Todas estas afirmações se enquadram na afirmação, que lhe é muito cara, da sua condição de “agnóstico e laico”, encontrando nesta condição a “garantia” de se manter “neutro em matéria religiosa” e à frente da Comissão a que é convidado a presidir.
Aceito, sem constrangimentos, as vantagens da Comissão, sempre vantajosa e útil para a aplicação equilibrada da Lei da Liberdade Religiosa. Deixou-me alguma perplexidade a confissão de que, por ser agnóstico e laico, era garantia de neutralidade nesta matéria.
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Leia todo o artigo em CV

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Ares do Verão


FLAMINGOS NA RIA DE AVEIRO
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Os flamingos andam pela Ria de Aveiro, mas é preciso ter olhinhos para os captar com arte. José Carlos Santos tem o que falta a muitos: sensibilidade para captar com a sua objectiva o que nem todos vêem. Uma sequência feliz foi publicada no ABRUPTO.

Festas religiosas





A CULTURA DEVE ESTAR PRESENTE

A propósito das festas em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, que se realizaram no último fim-de-semana, foram publicadas duas pequenas brochuras que reputo de importantes. Importantes porque, para além do que é habitual em festejos semelhantes, nos oferecem elementos culturais que enriquecem quem os lê. A primeira brochura tem por título “MAR e RIA abraçam SANTA MARIA” e a segunda “FESTAS EM HONRA DE Nª SRª DOS NAVEGANTES”.
Na primeira, o leitor tem acesso a diversa informação histórica: “A Ria e a Barra”, “De Ovar a Mira em Terras de Santa Maria”, “A Lenda das origens de Santa Maria de Vagos”, “Devoções Populares”, “Da Nossa Senhora da Nazaré à Senhora dos Navegantes”, “Outras Devoções Marianas” e “Hoje, nós…” são os capítulos que nos oferecem alguns pormenores de grande interesse histórico. Bem ilustrada é um pormenor a ter em conta, o qual nos leva a uma iconografia que nem todos conhecemos.
Na segunda, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré oferece-nos um pequeno mas elucidativo historial dos grupos e ranchos folclóricos que se associaram à festa, participando na procissão, na Eucaristia e, depois, no festival de folclore.
Penso que é de sublinhar a relevância destas brochuras. São documentos que ficam para a história das comunidades, tanto por relataram para a posteridade o que se fez e com quem, como por nos disponibilizarem pormenores e relatos que nos foram legados pela história, escrita ou oral. Com isto, mais se valorizam as festas religiosas e outras. Ficar-se somente pelo trivial, muitas vezes com artistas (?) e música de fraca qualidade, acho que se está a perder tempo e a gastar dinheiro em vão.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia

Código Penal e…? A 15 de Setembro entrou em vigor a revisão do Código Penal. O alarme foi dado com o facto de muitos presidiários preventivos verem, agora, as portas abertas, podendo regressar à sociedade. São membros de pleno direito da comunidade e o seu regresso, matéria tão complexa quanto geradora de múltiplos sentimentos, é um facto. Estarão preparados? Estará a sociedade portuguesa preparada? Que preparação, renovação de vida e reabilitação pessoal, tem a pessoa presidiária nos estabelecimentos prisionais? Sem ‘afunilar’, em matérias de grande amplitude (tratando-se de área de especialidade de extrema complexidade), destaque-se que a revisão do Código Penal, reforça a protecção de vítimas indefesas, de menores e dos crimes sexuais; torna crime o tráfico de pessoas para exploração sexual, a exploração do trabalho ou a extracção de órgãos; também o combate aos crimes contra o ambiente e incêndios florestais sai reforçado. Ainda, lá está contemplada a burla, corrupção e a responsabilidade penal das empresas, sociedades civis ou comerciais, face a um vasto conjunto de crimes previstos no código. Mas, indo ao centro da questão, destaque-se que no Código são aumentadas as penas alternativas à prisão (até um ano em regime de permanência na habitação, com vigilância electrónica), e mesmo é previsto o alargar da aplicabilidade da substituição da prisão por trabalho a favor da comunidade. Na generalidade, boas notícias, assim exista uma preparação social consciente da parte de todos os actores envolvidos. E é aqui que o assunto fica “torcido”! Todas as previsões são o ideal apontado que pressupõe a plena consciência de presidiário, instituições e sociedade. Que bom seria que esse mundo existisse! (E como o preparamos?!) Entre tudo se poderá dizer ou não considerar em assunto tão complexo, parece, todavia, que uma área continua por merecer a preocupação essencial: como reabilitar a pessoa presidiária? A este respeito talvez a revisão do Código Penal manifeste mais uma preocupação criminal que a visão de justiça como pedagogia. Não seria possível mais e melhor? Alexandre Cruz

JARDIM OUDINOT

SERÁ DESTA VEZ?

Já nem sei há quantos anos se prometeu a requalificação do Jardim Oudinot. Só sei, e disso tenho a certeza, que as primeiras promessas vieram aquando da apresentação dos estudos para a implantação, nos locais onde hoje estão, os Portos Comercial e de Pesca Costeira. Nessa altura, para tranquilizar as populações, foi dito que o velho Jardim Oudinot ficaria com alterações significativas, que lhe dariam grande dignidade. Os tempos foram passando, tal como foram adiando as obras naquele espaço. Ficou assim até hoje.
Agora vem a certeza, ditada pela Câmara Municipal de Ílhavo, de que as obras sempre vão por diante. Ali, naquele local de tantas tradições para as gentes da Gafanha da Nazaré, e não só, vão ser aplicados mais de três milhões de euros. Ficará uma zona de lazer e de convívio. Jardins, iluminação pública, parque infantil, mais a reabilitação da ponte das Portas d'Água, ancoradouro e demais ornamentos darão, de facto, mais vida àquela zona. Garante-se que no Verão do próximo ano teremos o velho Jardim Oudinot com outra cara. Estou confiante.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Um artigo de António Rego

UM BOM COMBATE
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As contas de Deus são sempre diferentes das nossas. Temos a certeza de que Ele não se engana e que nós sabemos pouco de ajustes finais do tempo e da eternidade. Mas neste caso não perdemos muito com saber pouco. Podemos celebrar as zonas do desconhecido como uma dádiva silenciosa e íntima de Deus. Não sabemos a quem nem como chega a semente. Nesta matéria a televisão, como meio massivo, também nos ajuda. Apesar das contagens comerciais das audiências, também não sabemos com rigor quem está do outro lado, o que vê, o que sente, o que colhe, o que rejeita.
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Na Linha Da Utopia

Um Curso compensa Há algum tempo pairou no ar a ideia de que acabaria por não valer a pena tirar um curso, pois as dificuldades do mercado de trabalho para os recém-formados apresentar-se-iam como uma garantida certeza. Esta ideia (de certa forma cómoda, a combater) é um puro engano de quem quer ver a realidade com olhos de passado (e não de futuro), e de quem esperaria o milagre fácil da ligação directa curso-trabalho. Por estes dias muito tem sido sublinhada (oportunamente, em início de ano escolar) esta certeza firme de que estudar mais cria mais possibilidades de futuro pessoal e profissional, abrindo novas perspectivas à vida. Esta pedagogia social de um Curso como uma “ferramenta” para toda a vida, mas numa dinâmica de contínua aprendizagem e formação permanentes ao longo de toda a vida, torna-se hoje um imperativo (sempre a sublinhar), sendo mesmo talvez a única alavanca de transformação da comunidade social. As coisas são claras: nesta sociedade global do conhecimento (onde ele é o motor de tudo), da informação e comunicação, ou essa aptidão polivalente, visionária e comprometida existe cada dia ou o comboio passa e ficaremos em terra. Os dados estão aí. O recente Relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) confirma esta urgência de considerar o estudo e o curso como eixo determinante do desenvolvimento de um país. Mais, Portugal, da União Europeia, é o país onde um curso mais compensa. Talvez teremos, na aperfeiçoada mudança de mentalidade, de fazer bem alto a “publicidade” desta ideia de que mais formação é garantia de uma vida melhor, ela pode ajudar combater o abandono escolar e o abstencionismo da participação social. Mas, há vida para além do curso! Quanto mais for o horizonte de cultura, de valores e de polivalência, mais cidadão e melhor profissional teremos. Assim seja! Alexandre Cruz

Menos erros e mais gramática no Português

Carlos Reis dá conselhos
para melhorar
o ensino do Português
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Não admitir erros de português, reintroduzir o ensino da gramática na aprendizagem da língua e integrar textos literários nas aulas. Estas são algumas das recomendações resultantes da Conferência Internacional sobre o Ensino do Português, que reuniu mais de 500 especialistas no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, entre 7 e 9 de Maio. O conjunto das recomendações foi elaborado pelo comissário da conferência, Carlos Reis, e foi ontem tornado público pelo Ministério da Educação.
"Nos últimos anos, cultivou-se no nosso sistema de ensino a ideia de que o erro é não só tolerável, mas também criativo, do ponto de vista do processo de aprendizagem", escreve Carlos Reis. Esta "atitude permissiva" foi bastante criticada na conferência, mas não é admitida por Edviges Ferreira, vice-presidente da Associação de Professores de Português (APP): "Nem pensar, não há qualquer permissividade. Nos exames os erros são penalizados e os alunos sabem disso", contrapõe.
Apesar de ainda não haver uma posição oficial da APP sobre as recomendações, esta professora diz que elas são "legítimas e compreensíveis, embora algumas um pouco polémicas" - refere-se à longa discussão sobre o uso de textos literários no ensino da língua. De resto, e como o texto sublinha, estas recomendações não passam disso mesmo - conselhos que "caberá aos agentes políticos" interpretar e usar. Ou não.
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Luta contra o tabaco



HÁ QUEM LEVE ISTO A SÉRIO
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Há dias, ao passar por uma zona turística, na Figueira da Foz, encontrei este aviso à entrada de um restaurante. Aqui não há meias tintas: não se pode fumar nem se vende tabaco. Entre parênteses, pode ler-se que o restaurante aderiu ao plano de desabituação.
Para além dos avisos frios, fiquei a perceber que há uma preocupação de contribuir para a luta contra o tabaco. Não falei com ninguém, mas é natural que se aceite a ideia de que um vício como este tem de ser combatido não tanto pela simples proibição, mas sobretudo pelo esclarecimento.
Formulo votos de que a campanha antitabágica passe por contributos que levem os fumadores a reconhecer o perigo real do tabaco.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Buarcos: Pelourinho


PELOURINHO DE BAIXO
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Nas minhas andanças por aqui e por ali, paro sempre junto de registos históricos. É um gosto especial que nem sei explicar verdadeiramente. Um dia destes, em Buarcos, não deixei de admirar este pelourinho. Foi baptizado com o nome de Pelourinho de Baixo, certamente porque havia ou há, ainda, um Pelourinho de Cima. Não o vi, mas hei-de tentar saber onde mora ou morou ele.
Há muita gente que associa o Pelourinho à Forca. Eram coisas diferentes. Os pelourinhos serviam para expor à vergonha pública os condenados por penas que, normalmente, não justificavam a pena de morte. Haverá alguma justificação para a pena de morte? Penso que não.
No pelourinho havia castigos corporais, nomeadamente açoites, exposição de condenados agrilhoados, mutilações, etc. A forca, essa era localizada fora dos povoados, onde era erguido, para o efeito, o mastro, ao qual se ligava a corda.
Os pelourinhos chegaram a ter, no cimo, uma gaiola de madeira, onde os delinquentes permaneciam todo o tempo a que eram condenados.
Olhando para a História, de facto houve tempos bárbaros. As barbaridades, mesmo nas nossas sociedades, agora são outras. Mas que existem, existem. Mesmo sem pelourinho e sem forca. Esses instrumentos, com outras formas e com outros nomes, são nos nossos dias coisas mais sofisticadas. E toda a gente lida no dia-a-dia com eles.
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Fonte: "Pelourinhos do Distrito de Aveiro", de Júlio Rocha e Sousa

Na Linha Da Utopia

Receber Dalai Lama? Angela Merkel, chanceler alemã, aceitou receber oficialmente o Dalai Lama, tal como recebe o Papa ou outro líder de grande religião mundial. A sua visão do futuro passa não pela exclusão, mas pela inclusão pacífica de tudo quanto é manifestação de cultura, interioridade, religião ou filosofia. Saberá Merkel que, numa comunidade viva, o espaço de liberdade religiosa caminha a par do acolhimento por tudo quanto é ideal de paz. Não sabemos, com rigor as percentagens de budistas na Alemanha, mas não deve andar muito longe da realidade portuguesa. Também algo de semelhante é o facto da Alemanha, como Portugal, em Dezembro 2005 terem assinado com a China um acordo de Parceria Estratégica Global. Claro está, é um acordo tendencialmente económico, onde interessam muito pouco os direitos humanos. E o chamado ocidente pactua com tudo isto… A história relata-nos que a China comunista invadiu o Tibete em 1959, considerando-o como sua província e organizando o genocídio cultural no desrespeito cabal pelos direitos humanos. Desde esse tempo que o Dalai Lama fugiu para a Índia, onde mora até hoje, gerindo a comunidade do exílio. (O Tibete é considerado o “teto do mundo” pelas suas montanhas da cordilheira dos Himalaias que atingem 4875 metros de altitude.) Após massacres pelo exército chinês, em 1989 o 14º Dalai Lama (de nome Tenzin Gytaso) recebe o Prémio Nobel da Paz, passando a ser recebido por chefes de Estado, facto que provoca protestos chineses. Perturba à China que em 1999 lança uma forte campanha de difusão do ateísmo no Tibete, toda a paz esperançosa que o Dalai Lama anuncia por esse mundo fora (Dalai Lama que significa Oceano de Sabedoria). Angela Merkel defende os direitos humanos (no Tibete) sem medos da reacção chinesa. Louvável! Portugal preside à Comissão Europeia e não tem tempo ou tem os “motivos óbvios” (económicos). Se não há tempo para, acima de tudo e todos, defender os direitos humanos, há tempo para quê? Como será, depois, a coerência da defesa dos direitos humanos e a recepção a líderes religiosos? Está mesmo a dignidade humana subjugada à economia?! (Que pergunta!) Alexandre Cruz

Aliança entre o homem e o ambiente

Papa apela à defesa da natureza


Bento XVI deixou este Domingo um novo apelo em favor da preservação do ambiente, pedindo um esforço de todos. O Papa falava após a recitação do Angelus, lembrando o 20.º aniversário do Protocolo de Montreal sobre a protecção da camada de ozono.
"Desejo que se intensifique a cooperação, entre todos, a fim de promover o bem comum, o desenvolvimento e a salvaguarda da criação, reforçando a aliança entre o homem e o ambiente, que deve ser espelho do amor criador de deus, de onde vimos e para onde caminhamos”, disse.
“Nas últimas duas décadas, graças a uma exemplar colaboração na comunidade internacional, entre política, ciência e economia, obtiveram-se resultados importantes com repercussões positivas nas gerações presentes e futuras", acrescentou.
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Pode ler mais em Ecclesia

Festa da Senhora dos Navegantes






MAIS MOLICEIROS DAVAM
OUTRO ENCANTO À PROCISSÃO

D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro, abriu, no sábado, com uma eucaristia vespertina, celebrada no clube Stella Maris, as festas em honra de Nossa Senhora dos Navegantes. À homilia, D. António frisou que Nossa Senhora dos Navegantes “será sempre para nós, cristãos, e, através dos cristãos, para o mundo a Estrela do Mar e a Mãe do Bom Sucesso, como os pescadores e os marinheiros a invocam”.
Sublinhando que estávamos no Stella Maris, clube da Obra do Apostolado do Mar, o Bispo de Aveiro lançou um apelo “à urgência de uma pastoral interventiva”, adequada a este mundo em mudança. Referiu que o Stella Maris quer ser “farol da Estrela do Mar” e ancoradouro de fé, mas também de “acolhimento fraterno”, onde as “forças se retemperam e a energia espiritual se reencontra”. Admirando a coragem dos homens do mar, D. António enalteceu as suas virtudes e a sua generosidade, confiando à Senhora dos Navegantes “as suas intenções, súplicas e preces”.
A festa da Senhora dos Navegantes é uma iniciativa do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN), contando com o apoio da paróquia, do Stella Maris, das autarquias, de diversas entidades e de particulares. Este ano, integrou-se nas comemorações em curso dos 200 anos da abertura da Barra de Aveiro, que ocorreu em 3 de Abril de 1808, pelas 7 horas da noite, como reza a história.
Para além da eucaristia de sábado, os festejos tiveram outros momentos significativos, nomeadamente a procissão pela ria, com Nossa Senhora envolvida por embarcações de pesca e de recreio, bem como de outras fainas lagunares, todas cheias de gente. Ano após ano, esta é uma experiência rara para muitos. Rara, porque proporciona a alguns a oportunidade de ver e de sentir a ria por dentro, com a alegria a marcar presença contagiante.
Depois da procissão, a Filarmónica Gafanhense e os ranchos folclóricos convidados emprestaram um colorido festivo ao arraial que se seguiu à celebração da missa, presidida pelo Bispo de Aveiro, junto à igreja da Senhora dos Navegantes. Esta igreja acastelada foi benzida há 144 anos, precisamente em 6 de Setembro de 1863.
Nas margens da laguna aveirense, muitos acorreram para saudar a Senhora dos Navegantes. Em São Jacinto, porém, como já vem sendo hábito, a devoção à Virgem atingiu um ponto muito alto. Flores e saudações, fanfarra e a imagem da Senhora das Areias testemunharam a fé das gentes daquela freguesia do concelho de Aveiro.
No Forte da Barra, a Senhora dos Navegante foi recebida com emoção por muita gente, directa ou indirectamente ligada ao mar e à ria. Depois da eucaristia, actuou a Filarmónica Gafanhense e houve Folclore, com a participação do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, do Grupo Folclórico e Recreativo de Tabuadelo (Guimarães), do Rancho Folclórico “Camponeses da Beira-Ria (Murtosa) e do Rancho Folclórico da Ribeira (Ovar).
Alfredo Ferreira da Silva, presidente do GEGN e responsável pela organização, adiantou ao “Correio do Vouga” que esta iniciativa nasceu aquando da participação do grupo na EXPO’98, na sequência de uma troca de impressões com ranchos etnográficos de outras terras piscatórias. Depois da reflexão que se impôs, foi retomada a tradição, que tem vindo a merecer cada vez mais aceitação do povo destas terras banhadas pela ria e pelo mar, disse. No entanto, referiu uma dificuldade: “falta-nos o que havia antigamente em grande quantidade: mais barcos moliceiros, que davam outro encanto à procissão.”

Fernando Martins

domingo, 16 de setembro de 2007

Ares do Verão


ÁRVORES PROCURAM O CÉU
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Bonito é ver, quando se passa por um jardim, árvores e mais árvores com sonhos de eternidade. São aquelas que crescem... crescem com vontade de chegar ao céu. Vi estas árvores, na Figueira da Foz, e não resisti. Fixei-as na minha compacta digital para mais tarde recordar. E como gosto de partilhar com os outros algumas das minhas emoções e dos meus gostos, aqui fica esta fotografia para que sintam o que eu senti.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 41

O DIABO DO ALFUSQUEIRO Caríssima/o: Está bem presente aquela viagem no “Vouguinha”; a viagem e a companhia: Monsenhor Aníbal Ramos que ia para uma recolecção aos jocistas da região, na casa do Redolho. E onde vai tudo isso?!... Em poucos anos tudo se alterou. Certamente nem saberás o que quer dizer JOC e nem compreenderás a função do assistente. Aquele bom amigo, Mons. Aníbal Ramos, era o assistente diocesano. Também o assistente nacional veio a Aveiro para prepararmos o XXV aniversário da JOC. Homem de projecção – Padre Narciso Rodrigues. Não os considerávamos “fadas boas”, mas o seu amor pela “causa operária” era notório, fez escola e ainda hoje é recordado com saudade e como referência. A nossa lenda de hoje leva-nos à construção de uma ponte... «Nem sempre o Demo leva a melhor com o Homem, sobretudo se este tiver a ajudazinha de uma fada. Pois esta é a lenda daquela velha ponte de cantaria sobre o Alfusqueiro, afluente do Rio Águeda, o Caramulo. Poderíamos até dizer que é um tempo em que o Diabo ainda precisava de andar pela terra a negociar almas. Assim, se aquela passagem era imprescindível para os que atravessavam a serrania, meteu-se um cristão a fazê-la, mas na hora da arrancada deu-se conta da temeridade que a obra envolvia. Eis, surge-lhe o Diabo em pessoa a dizer-lhe que ele mesmo se encarregaria de fazer a ponte, ele e os seus demónios. Porém, havia a questão do pagamento, pois este consistiria na alma do cristão. A obra ficaria pronta à meia-noite do dia de Natal desse ano, ao cantar do galo. Contrato escrito, foi este assinado com o próprio sangue do homem. Mas o cristão, conforme via o andamento da obra, aliás de magnífica arquitectura,começava a ficar pesaroso do negócio que fizera. E a quem aparece o Diabo porque não há-de aparecer uma fada boa? Foi o que terá acontecido. Uma fada esperta ensinou ao homem maneira de se livrar do compromisso, não deixando de ficar com a ponte feita! Neste sentido, a fada deu ao cristão um ovo e disse-lhe: - A obra ficará pronta à meia-noite em ponto. Está atento aos últimos trabalhos e logo que vejas o Diabo colocar a última pedra, atira o ovo pela ponte fora e vais ver que tudo corre bem. E conta a lenda que quando o Diabo e os seus demónios estavam a colocara a pedra do remate, o cristão atirou o ovo ao longo do tabuleiro da ponte e este rolou até que bateu numa pedra e se quebrou. De dentro dele saiu um belo galo, excelente de plumagem, que começou logo a cantar, antecipando a meia-noite. E assim, por segundos, o Diabo do Alfusqueiro perdeu a aposta. E sabem que mais? A ponte lá está, podem ir experimentá-la num passeio por aquelas bandas aguedenses da Serra do Caramulo. O Diabo dizem que deu um estoiro tal que nunca mais por ali passou![...]» [V. M., 2] Será que dos ovos das pontes do “Vouguinha” nasceram garnisés que levaram os políticos a cantar de galo às populações?
Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

"Agostinho da Silva era um homem marcadamente religioso, mas no sentido mais profundo de místico. A religião não tem, antes de mais, a ver com instituições religiosas ou mesmo teologia: 'Se os homens acreditassem bastante em Deus não haveria tanta teologia, tanto rito, tanta disputa entre as várias crenças."'
Leia todo o artigo em DN

sábado, 15 de setembro de 2007

Ares do Verão


MUNDO DE CONTRASTES
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Quem passa pelo parque das Abadias, na Figueira da Foz, não pode deixar de apreciar o contraste entre o branco destes penachos e o verde da relva que os circunda. É, no fundo, um sinal de que o Verão continua, mais uns dias, que os castanhos do arvoredo já se fazem sentir, em vésperas do Outono. Gosto de contemplar os cambiantes que a natureza nos oferece, neste mundo de contrastes por vezes tão fortes.

NA LINHA DA UTOPIA




Aveiro Cosmopolita


Sabemos que as potencialidades são imensas nesta bela região do país que alia o mar à ria, a serra à planície, a tradição à inovação. Já desde os tempos antigos que junto aos rios, às lagunas e ao mar, as civilizações espelharam um dinamismo especial, como que sendo a água o elemento gerador desse impulso criativo que junta a beleza estética com a eficiência do compromisso inadiável com a história. Assim foi e assim é Aveiro!
Diante do “tanto” que sempre nos falta em dinâmicas envolventes e o “muito” que esta terra já conseguiu como afirmação (lícita) de referências nacionais e internacionais, venham, pois, os turistas apreciar e multiplicar esta nossa “água cultural” por esse mundo fora. Se, muitas vezes, se diz no refrão que “o turismo é que nos pode salvar”, a verdade é que ele só na qualidade poderá triunfará.
Este verão Aveiro foi invadida pelo mundo; gente de todos os lados visitaram, estiveram, comeram, alojaram, passearam. Se a hora presente (como em tudo) será de avaliação estratégica para sempre mais e melhor envolver e realizar, também terá de ser de apreço reconhecido por quem colocou, dinamicamente, este moliceiro a andar, a Rota da Luz.
A cidade e região, que todo o ano acolhe muitos milhares de estudantes e que já é “morada” de fim-de-semana de muitos espanhóis, neste verão sentiu um novo “sinal” que muito estimula ao continuado aperfeiçoamento na qualidade de tudo aquilo que se faz. A aposta está ganha, e a sua consolidação vem a caminho! Pormenores e particularismos à parte, o cosmopolitismo de Aveiro é hoje uma “imagem” de acolhimento que enobrece a todos e a todos compromete. Por isso, também o emblema que é a Ria de Aveiro não pode esperar (na burocracia), e mesmo todas as línguas e culturas que não são turistas mas que ao longo do ano nos habitam (trabalham, com ou sem-abrigo) merecem sempre mais e melhores condições para “aprenderem a pescar”.
Se isto conseguirmos, seremos a cidade do futuro!

Alexandre Cruz


NOTA: Esta nova rubrica tem como autor Alexandre Cruz, fiel colaborador do meu blogue. Virá a lume com mais regularidade e sempre que possível. Aqui ficam os meus agradecimentos. FM



sexta-feira, 14 de setembro de 2007

CUFC comemora 20 anos

Convívio no CUFC. Foto do meu arquivo


RECORDAR É VIVER

O CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura) promove um encontro de antigos e actuais frequentadores, com o objectivo de todos reviverem agradáveis momentos de confraternização e reflexão, na perspectiva de um diálogo entre fé e cultura. O encontro, que tem por lema “Recordar é viver”, terá lugar no dia 23 de Setembro, na sede daquela instituição, a partir das 11 horas, seguindo-se a celebração de uma eucaristia de acção de graças, às 12 horas, sob a presidência de D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro. A confraternização será logo a seguir.
Os interessados em participar podem entrar em contacto com a organização, através de cufc20anos@gmail.com

Scolari errou


BEM PREGA FREI TOMÁS…


“Bem prega frei Tomás: olha para o que eu digo; não olhes para o que eu faço.” Este é um velho ditado que casa bem com o comportamento desesperado do seleccionador nacional da nossa selecção de futebol. O homem que tantos admiravam pelo seu “dedo” especial para entusiasmar jogadores e multidões de portugueses falhou redondamente no momento de um empate, que muitos consideram uma derrota, face às expectativas criadas em torno da selecção de futebol, candidata a um lugar na final do Campeonato Europeu da modalidade. Incapaz de manter a calma e de transmitir serenidade a jogadores e adeptos, agrediu ou tentou agredir um jogador adversário e foi incapaz, por manifesta falta de humildade, de pedir desculpa pelo seu gesto irreflectido, logo depois do que aconteceu. Justificou a sua atitude, alegando que agiu em defesa do jogador Quaresma.
Um treinador de futebol ou de qualquer outra modalidade desportiva, para além de conhecimentos técnicos e tácticos, tem de possuir uma dose elevada de saberes psicológicos e de capacidade de autocontrolo, factores fundamentais para a condução de homens. Sem isso, jamais saberá impor respeito, jamais poderá transmitir confiança a quem trabalha com ele, jamais conseguirá estar acima de paixões exacerbadas que perturbam a consciência, impedindo-o de dialogar com calma e de sugerir comportamentos éticos compatíveis com a dignidade do desporto e do viver em sociedade.
Scolari, que os portugueses se haviam habituado a respeitar e a acompanhar nos seus entusiasmos, falhou escandalosamente no recente jogo da selecção de futebol, com um empate que veio na sequência de resultados menos esperados, ao socar ou tentar socar um adversário, por razões inexplicáveis. O “fair-play” que tanto tem pregado, e bem, caiu desta vez ao mais baixo nível, manchando o futebol e o povo português. Afinal, com a sua reprovável atitude, ele desceu à posição impensável de outros atletas portugueses que se comportaram indecorosamente no campo de jogos, simplesmente por não saberem perder. Do seleccionador nacional se esperam, no dia-a-dia, comportamentos irrepreensíveis.
Entretanto, já de cabeça mais fria, pediu desculpas aos dirigentes federativos, ao povo português e a todo o grupo que lidera, comprometendo-se a aceitar as decisões da UEFA e da FPF. E eu espero que aquele momento menos feliz sirva de motivação para atitudes mais dignas dentro dos campos desportivos e mesmo fora deles.
Fernando Martins

Dalai Lama em Portugal


A HIPOCRISIA DA DIPLOMACIA POLÍTICA

Tenho muitas dificuldades em aceitar a hipocrisia da diplomacia política ou outra. No entanto, ela está palpável em tantos e tantos actos de políticos, para só falar desta área da sociedade em que vivemos.
Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos e Prémio Nobel da Paz, está de visita ao nosso País, onde tem alguns seguidores. Trata-se de uma personalidade reconhecida em todo o mundo pela sua permanente defesa dos direitos humanos e pelos seus constantes apelos em favor da paz, da harmonia, do bem, da justiça e da fraternidade entre os homens e mulheres do nosso tempo. Também da tolerância e do diálogo entre pessoas, religiões e nações, numa perspectiva pacifista.
Exilado do seu país, luta, constantemente, pela libertação do seu povo e pela autonomia e autodeterminação do Tibete, nação subjugada pela tirania chinesa, que persegue o seu líder com firmeza e de forma subtil.
Esta é a segunda visita que faz a Portugal, onde chegou com o seu sorriso e com a serenidade que o caracteriza. Como seria normal, esperava-se que as mais altas individualidades do Estado, Presidente da República e Chefe do Governo, o recebessem, como têm recebido outras personalidades e como acontece noutros países.
Aquando da primeira visita, assim de verificou, embora de uma forma “politicamente correcta”, isto é, foi possível proporcionar encontros entre o Chefe de Estado e o Governo, mas fora dos salões dos palácios onde costumam ser recebidos os líderes mundiais. Desta vez, porém, nem isso foi admitido. Porquê?
Tanto quanto se sabe, porque estaria em jogo a política diplomática entre Portugal e a China, com quem o nosso País procura um relacionamento sobretudo económico e estratégico, ou não existissem portugueses em Macau e noutros recantos chineses. O Governo, que afirmou, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, que o Dalai Lama não foi recebido “por razões óbvias”, não conseguiu disfarçar o incómodo que lhe causou a presença do líder espiritual do Tibete. E com esta atitude, também não escondeu quanto pesa a hipocrisia da diplomacia política ao nível de um Governo que não é capaz de assumir a sua independência, face às pressões, directas ou indirectas, de Estados tiranos.
É sabido que a China incomoda quem não acata as suas políticas e as suas ordens. A comunicação social diz, frequentemente, como ela persegue, por exemplo, a Igreja Católica de obediência ao Papa, prendendo bispos, padres e simples crentes, apenas por rezarem e se encontrarem para estudar a Bíblia, perante a passividade e a covardia das democracias ocidentais. Portugal bem podia mostrar que é um país pequeno mas corajoso e capaz de enfrentar esse gigante, recebendo em sua casa, com toda a naturalidade, quem muito bem entende, sem medos e sem subserviências. Valha-nos, ao menos, o respeito com que o Dalai Lama foi acolhido pelo Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e pela sua Comissão dos Negócios Estrangeiros.
Sempre estou para ver se um outro ditador e sanguinário, o presidente Robert Mugabe, do Zimbabué, será acolhido, em Portugal, com todas as honras, no quadro da presidência portuguesa da UE.

Fernando Martins

Dos ensinamentos de Dalai Lama

NÃO DEVEMOS PERDER
O RESPEITO PELAS TRADIÇÕES
DO NOSSO PAÍS


“Tal como há diferentes ambientes, há diferentes métodos. As diversas vias religiosas são como diferentes medicamentos que visam curar-nos e restabelecer a nossa saúde. Cabe ao indivíduo escolher uma tradição para fortalecer os seus valores internos. (…) É melhor e mais seguro manterem a vossa tradição porque às vezes as mudanças de fé podem causar confusão na mente. Claro que há alguns indivíduos que se interessam pelas outras tradições e acham que a abordagem budista é a que mais convém. Então óptimo! Mas não devemos perder o respeito pela tradição do nosso país de origem.”

Um artigo de D. António Marcelino

VIRTUDE INDISPENSÁVEL A QUEM SERVE Por mais que a palavra custe a ouvir e pareça ultrapassada e incómoda, esta virtude indispensável chama-se humildade. Se a humildade é a verdade, num tempo em que muito se vai construindo sobre a areia e a lama da meia verdade, quando não mesmo sobre a mentira e o mundo dos interesses, pessoais ou de grupo, a parceria indestrutível da humildade com a verdade nem é apreciada, nem querida. Todos, mas especialmente aqueles cuja vida, de modo permanente ou por um tempo, se traduz em serviço aos outros, a cada um e a todos, têm por dever cultivar a humildade, essa atitude rica que acolhe sem preconceitos, escuta com respeito, responde com serenidade, orienta com paciência, agradece com delicadeza, sorri sem fingimento, e deixa, por fim, o sabor delicioso e reconfortante do dever bem cumprido. Tudo isto é servir e servir é considerar o outro como razão de ser do nosso agir. Tudo isto é viver com horizontes abertos e largos, capazes de ajudar a vencer a tentação de confinar a sua acção à satisfação própria ou aos interesses dos amigos e conhecidos. Quem serve é um permanente aprendiz que se vai aperfeiçoando, mesmo recebendo daqueles aos quais serve. Assim vai qualificando mais o seu serviço a todos. Porém, nem todos os servidores se matricularam nesta escola. Quando impera o orgulho ou a relação se traduz por superioridade e poder, o político diz que não recebe de ninguém lições de democracia; o funcionário também não recebe lições de civismo e de educação; o jornalista entrevistador não aceita perguntas, porque se alguém se lhe contrapõe, logo diz que é entrevistador e não entrevistado; o agente da autoridade diz que é assim a lei e não há mais a explicar; o professor manda calar o aluno insistente e recorda à turma que o único que ali sabe alguma coisa é ele e mais ninguém. Até o ministro da Igreja, servidor a tempo inteiro, por vocação e missão, por vezes cansado, cai na mesma tentação e vai respondendo aos impertinentes que ripostam às exigências com considerações religiosos, que não aceita lições de Evangelho… Um mundo de gente, com esta suficiência e saber, será sempre pobre e empobrecedor. É então que ganha sentido a palavra da sabedoria popular: “Diz-me do que presumes e eu te direi o que te faz falta”. Se as relações pessoais não são mutuamente enriquecedoras, multiplicam-se as atitudes de sobranceria, despeito, juízo fácil, marginalização. E as pessoas, todas elas, ficam a valer cada vez menos aos olhos dos outros. A comunicação humilde, própria das pessoas grandes, acolhe e aproxima. A sobranceria, própria dos anões mentais, não ouve nem atende, é orgulhosa e levanta muros intransponíveis. Num clima onde escasseia a verdade, não tem lugar a humildade. Verdade e humildade são inseparáveis. O serviço respeitoso ao outro torna-se difícil, se não mesmo impossível; aumenta a cegueira pessoal e deixa de se ver hoje o que se apoiava ontem; perde-se a memória das pessoas e das coisas, e aumenta a suspeição e o espírito de concorrência. Quem ontem era indispensável, hoje é ignorado, se não mesmo detestado e incómodo; o balcão de atendimento não é mais um espaço de encontro, mas um lugar de conflito, prepotência e humilhação; na sala de aula há mais degraus de separação e distância, e tanto o ensinar como o aprender redundam em martírio diário; o espaço religioso ou sagrado deixa de ser um lugar onde todos se sentem acolhidos por igual, para se tornar espaço delimitado e mais só de alguns, não vislumbra o rosto acolhedor de um Deus que é Pai de todos e não distingue raça, língua ou cor. Quem serve não é pessoa para complicar, mas para a facilitar. Mais ainda se serve gente sem nome nem rosto, mas com dignidade a respeitar e direitos a reconhecer. É então que o serviço se torna honra e a humildade grandeza.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Os meus contos

A CAMA NOVA Numa tarde quente, quase no final do ano lectivo, o Zé Carlos convidou-me para ir até sua casa. As aulas tinham terminado há pouco, com o professor algo perturbado, contra o que era costume, pela falta de estudo da malta da quarta classe. Falta de estudo não seria, mas a verdade é que as respostas certas às perguntas do mestre sobre Geografia de Portugal não saíam, naquele dia, como ele gostaria. A exigência de saber de cor as linhas férreas e de conhecer, de forma papagueada, os rios do continente, das ilhas e colónias, entre outros saberes alusivos aos territórios pátrios, que na altura se estendiam pelos quatro cantos do mundo, como apregoavam os políticos, deixava os alunos um pouco baralhados. Por vezes, ficavam bloqueados, com a boca incapaz de dizer coisa com coisa. O cérebro como que adormecia, talvez cansado, quando o professor ficava zangado. Na sua óptica, havia alunos que não estudavam o suficiente, de forma a fazerem boa figura nos exames finais. Mestre que se prezasse queria que os seus discípulos soubessem tudo o que lhes ensinava, mesmo para além dos programas. Por que diabo haviam de saber, de cor e salteado, tantas coisas das várias regiões do País, que, eventualmente, nunca visitariam? E para quê tais conhecimentos, se a vida de então, para a maioria, nada teria a ver, no dia-a-dia, com esses temas? Era o que se dizia à boca cheia nessa altura, com certeza sem razão, porque “o saber não ocupa lugar”, lembravam outros. O Zé Carlos tinha sido, naquele dia, um mártir. À mais pequena hesitação, lá vinham os berros do mestre e logo a seguir as reguadas da praxe. Reguadas, sim, porque, como então se pregava, em casa, na catequese, na escola e na oficina, “quem dá o pão dá o castigo”. Os saberes, está bem de ver, eram alimento do crescimento cultural. Pão amargo que muitos rejeitaram, quedando-se, teimosamente, num analfabetismo atroz, que marcou algumas crianças e jovens de famílias sem posses e sem ajudas para vencerem barreiras, seguindo por caminhos menos agrestes. Certamente por esse dia menos feliz, o Zé Carlos desejou mostrar-me que há vida e alegria para além da escola. Por isso o convite para que o acompanhasse ao seu novo quarto, que o era de todos os irmãos, como me foi dizendo. E lá fomos. Pelo caminho ainda houve tempo para dar uns pontapés na bola, feita de uma meia gasta pelo uso e cheia de trapos. Não faltava quem tivesse habilidade para a fazer bem redondinha, não fosse ela enganar alguém com os ressaltos irregulares no campo, que era a rua principal da aldeia. Poucos automóveis interrompiam as jogadas ou os remates à baliza. Como “postes”, duas simples pedras que diziam, sem dúvidas, quando era golo e quando não era. O tio Xico, homem prudente, lá foi dizendo que era preciso cuidado, porque a bola podia enganar-se e partir os vidros da casa vizinha. Também podia aparecer, de repente, um automóvel e acontecer algum acidente grave. Mas não. Que me lembre, nunca se feriu ninguém, que o treino e a perspicácia da meninice sabia reagir a tempo. Mas vidros partidos, lá isso houve, o que provocava ralhetes e mais ralhetes, com os pais a pagarem os prejuízos e os filhos a serem severamente castigados, para que aprendessem a comportar-se como gente responsável. Chegámos a casa do meu amigo sem pressas. Casa de lavradores que viviam do que produziam em campos magros. O Zé Carlos e os irmãos, mais velhos do que ele, não mostravam ares de quem passa fome. Eram até bem constituídos fisicamente, sinal de que o caldo das refeições era bem adubado. Depois, nunca faltava a boroa com conduto, que o porco cevado ao natural oferecia para quase todo o ano. No centro do pátio, com o recanto da estrumeira a marcar presença malcheirosa, debicavam galinhas com um galo a comandar as operações. Alfaias agrícolas dormitavam à volta, à espera de vez para se aplicarem nos campos. Do lado direito, com a porta bem aberta, por onde entravam e saíam moscas e mais moscas, o curral das vacas dava nas vistas. Por ali nos quedámos a conversar sobre tudo e sobre nada. Veio à baila a vida da escola naquele dia. “Nem me fales disso” – retorquiu o Zé Carlos. “Amanhã o professor está mais mansinho”, adiantei eu, que já tinha percebido os hábitos do velho mestre que todos respeitávamos, afinal. – Então quando é que vamos ver o teu quarto novo? – questionei o meu amigo. – Vamos lá! – disse ele, com ar de alegria incontida. Zé Carlos encaminha-se para o curral onde duas vacas leiteiras ruminavam erva verdinha, decerto apanhada há pouco. Belos animais que trabalhavam no duro nas tarefas agrícolas, enquanto garantiam, de manhã e ao fim do dia, leite para uso da casa, algum, e para vender, o restante. Esta era uma fonte de rendimento a ter em conta. O meu amigo, já esquecido da escola, aponta-me uma tarimba, feita de tábuas algo irregulares. Sobre ela, palha de centeio, com uma manta de tiras a servir de lençol. Depois, à espera de quem nela se deitasse, estava outra manta, mais escura. Perante o meu silêncio, de espanto e incredulidade, o Zé Carlos foi falando, valorizando o trabalho do pai, que quis oferecer aos filhos um espaço amplo para dormirem à vontade. E sublinhou: – Eu e os meus irmãos vamos estrear hoje esta cama nova! Fernando Martins

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