A HIPOCRISIA DA DIPLOMACIA POLÍTICA
Tenho muitas dificuldades em aceitar a hipocrisia da diplomacia política ou outra. No entanto, ela está palpável em tantos e tantos actos de políticos, para só falar desta área da sociedade em que vivemos.
Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos e Prémio Nobel da Paz, está de visita ao nosso País, onde tem alguns seguidores. Trata-se de uma personalidade reconhecida em todo o mundo pela sua permanente defesa dos direitos humanos e pelos seus constantes apelos em favor da paz, da harmonia, do bem, da justiça e da fraternidade entre os homens e mulheres do nosso tempo. Também da tolerância e do diálogo entre pessoas, religiões e nações, numa perspectiva pacifista.
Exilado do seu país, luta, constantemente, pela libertação do seu povo e pela autonomia e autodeterminação do Tibete, nação subjugada pela tirania chinesa, que persegue o seu líder com firmeza e de forma subtil.
Esta é a segunda visita que faz a Portugal, onde chegou com o seu sorriso e com a serenidade que o caracteriza. Como seria normal, esperava-se que as mais altas individualidades do Estado, Presidente da República e Chefe do Governo, o recebessem, como têm recebido outras personalidades e como acontece noutros países.
Aquando da primeira visita, assim de verificou, embora de uma forma “politicamente correcta”, isto é, foi possível proporcionar encontros entre o Chefe de Estado e o Governo, mas fora dos salões dos palácios onde costumam ser recebidos os líderes mundiais. Desta vez, porém, nem isso foi admitido. Porquê?
Tanto quanto se sabe, porque estaria em jogo a política diplomática entre Portugal e a China, com quem o nosso País procura um relacionamento sobretudo económico e estratégico, ou não existissem portugueses em Macau e noutros recantos chineses. O Governo, que afirmou, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, que o Dalai Lama não foi recebido “por razões óbvias”, não conseguiu disfarçar o incómodo que lhe causou a presença do líder espiritual do Tibete. E com esta atitude, também não escondeu quanto pesa a hipocrisia da diplomacia política ao nível de um Governo que não é capaz de assumir a sua independência, face às pressões, directas ou indirectas, de Estados tiranos.
É sabido que a China incomoda quem não acata as suas políticas e as suas ordens. A comunicação social diz, frequentemente, como ela persegue, por exemplo, a Igreja Católica de obediência ao Papa, prendendo bispos, padres e simples crentes, apenas por rezarem e se encontrarem para estudar a Bíblia, perante a passividade e a covardia das democracias ocidentais. Portugal bem podia mostrar que é um país pequeno mas corajoso e capaz de enfrentar esse gigante, recebendo em sua casa, com toda a naturalidade, quem muito bem entende, sem medos e sem subserviências. Valha-nos, ao menos, o respeito com que o Dalai Lama foi acolhido pelo Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e pela sua Comissão dos Negócios Estrangeiros.
Sempre estou para ver se um outro ditador e sanguinário, o presidente Robert Mugabe, do Zimbabué, será acolhido, em Portugal, com todas as honras, no quadro da presidência portuguesa da UE.
Fernando Martins
Tenho muitas dificuldades em aceitar a hipocrisia da diplomacia política ou outra. No entanto, ela está palpável em tantos e tantos actos de políticos, para só falar desta área da sociedade em que vivemos.
Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos e Prémio Nobel da Paz, está de visita ao nosso País, onde tem alguns seguidores. Trata-se de uma personalidade reconhecida em todo o mundo pela sua permanente defesa dos direitos humanos e pelos seus constantes apelos em favor da paz, da harmonia, do bem, da justiça e da fraternidade entre os homens e mulheres do nosso tempo. Também da tolerância e do diálogo entre pessoas, religiões e nações, numa perspectiva pacifista.
Exilado do seu país, luta, constantemente, pela libertação do seu povo e pela autonomia e autodeterminação do Tibete, nação subjugada pela tirania chinesa, que persegue o seu líder com firmeza e de forma subtil.
Esta é a segunda visita que faz a Portugal, onde chegou com o seu sorriso e com a serenidade que o caracteriza. Como seria normal, esperava-se que as mais altas individualidades do Estado, Presidente da República e Chefe do Governo, o recebessem, como têm recebido outras personalidades e como acontece noutros países.
Aquando da primeira visita, assim de verificou, embora de uma forma “politicamente correcta”, isto é, foi possível proporcionar encontros entre o Chefe de Estado e o Governo, mas fora dos salões dos palácios onde costumam ser recebidos os líderes mundiais. Desta vez, porém, nem isso foi admitido. Porquê?
Tanto quanto se sabe, porque estaria em jogo a política diplomática entre Portugal e a China, com quem o nosso País procura um relacionamento sobretudo económico e estratégico, ou não existissem portugueses em Macau e noutros recantos chineses. O Governo, que afirmou, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, que o Dalai Lama não foi recebido “por razões óbvias”, não conseguiu disfarçar o incómodo que lhe causou a presença do líder espiritual do Tibete. E com esta atitude, também não escondeu quanto pesa a hipocrisia da diplomacia política ao nível de um Governo que não é capaz de assumir a sua independência, face às pressões, directas ou indirectas, de Estados tiranos.
É sabido que a China incomoda quem não acata as suas políticas e as suas ordens. A comunicação social diz, frequentemente, como ela persegue, por exemplo, a Igreja Católica de obediência ao Papa, prendendo bispos, padres e simples crentes, apenas por rezarem e se encontrarem para estudar a Bíblia, perante a passividade e a covardia das democracias ocidentais. Portugal bem podia mostrar que é um país pequeno mas corajoso e capaz de enfrentar esse gigante, recebendo em sua casa, com toda a naturalidade, quem muito bem entende, sem medos e sem subserviências. Valha-nos, ao menos, o respeito com que o Dalai Lama foi acolhido pelo Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e pela sua Comissão dos Negócios Estrangeiros.
Sempre estou para ver se um outro ditador e sanguinário, o presidente Robert Mugabe, do Zimbabué, será acolhido, em Portugal, com todas as honras, no quadro da presidência portuguesa da UE.
Fernando Martins