sábado, 9 de dezembro de 2017

BUÇACO classificado como Monumento Nacional

Palace Hotel do Buçaco 

Obelisco para assinalar a Batalha do Buçaco


Recanto da Serra do Buçaco

Oliveira onde  Arthur Wellesley amarrou o cavalo depois da batalha 

Lita comigo no cimo da serra 

Lita e Aidinha sugerem uma visita

Outro ângulo do Palace Hotel
«O Conselho de Ministro aprovou [dia 7] o decreto que classifica como monumento nacional o conjunto do Palace Hotel do Buçaco e mata envolvente, incluindo as capelas e ermidas, Cruz Alta e Convento de Santa Cruz.
O decreto aguardava aprovação há mais de um ano e meio, desde que João Soares abandonou a pasta da Cultura, e vem reforçar o processo de candidatura da Mata do Buçaco a Património Mundial da Unesco, apresentada em 2016.
"Esta decisão do Conselho de Ministros vem corrigir um erro grave que tardava em ser corrigido e fazer finalmente justiça a um espaço majestoso e imponente, de rara beleza, único no país", disse à Lusa o presidente da Câmara Municipal da Mealhada, Rui Marqueiro, o principal impulsionador da candidatura do Buçaco.»

Ler mais aqui 

Nota: Fotos dos meus arquivos.

Georgino Rocha - Escutai a voz do Profeta



ENDIREITAI OS CAMINHOS DO SENHOR

João Baptista surge com todo o seu vigor no início do Evangelho de Marcos que, no 2º domingo do Advento, a liturgia da Igreja nos apresenta. (Mc 1, 1-8). Surge como o profeta que realiza o anúncio vaticinado por Isaías, durante o cativeiro do povo judeu na Babilónia. Surge como garantia de que os relatos sobre a vida de Jesus estão na sequência dos factos narrados nos textos sagrados, já conhecidos. Surge para lançar o brado definitivo: “Endireitai os caminhos do Senhor, Ele está no meio de nós”.

Marcos chama o leitor a iniciar o percurso da descoberta de Jesus Cristo, ouvindo o apelo de João Baptista, acolhendo as vozes dos acompanhantes que testemunham os factos por Ele realizados na itinerância da missão, e abrindo o coração para saborear a confissão pública do Centurião: “Realmente, este é o Filho de Deus!”.

A liturgia da Igreja organiza as celebrações de modo sábio e pedagógico. Em cada domingo apresenta um episódio emblemático que visualiza a vida de Jesus, configura o seu modo de proceder e desvenda a sua realidade profunda: Ser Filho de Deus. E o leitor é interpelado, convidado a parar, meditar, reconsiderar e a professar a sua fé, se chegar a esta feliz conclusão. Como o Centurião romano.

“Endireitai os caminhos do Senhor”. É nos caminhos da vida que se encontra Jesus Cristo. A vida, no seu dramatismo provocante, está recheada de surpresas que despertam a sonolência que, frequentemente, nos assalta. E a ensurdecedora publicidade comercial consumista avoluma. E Marcos convida-nos a irmos aos começos, a verificarmos as raízes que nos garantem a liberdade em segurança, a escutarmos as boas notícias da verdade que Jesus nos comunica.

O que será preciso pôr direito na vida de cada um de nós, nas famílias, nas instâncias sociais e políticas da sociedade, no sistema educativo como serviço público de qualidade, pertença a quem pertencer? Que será preciso endireitar na Igreja e suas comunidades e movimentos para que nas pessoas e na sua instituição brilhe mais intensamente a transparência do Evangelho de Jesus?

Os caminhos têm de ser visíveis e transitáveis, planos e assinalados. Por isso, exemplifica Isaías na 1ª leitura: Que o retorcido seja posto direito, o vale seja elevado, o monte abatido, as veredas escarpadas sejam aplanadas. E da morfologia do terreno, somos convidados a examinar a integralidade da vida humana, sobretudo a consciência iluminada pela razão e pela fé cristã. A mudança há-de ser verificada pelo arauto chamado a proclamar a feliz notícia: O Senhor vem na sua glória com o prémio da vitória. O relato de Marcos confirma esta visão profética com os factos narrados no seu Evangelho que abrem caminho à missão da Igreja, de cada um de nós.

Aplanai, facilitai, favorecei o caminho da vida aos que estão abatidos e perplexos, são rebaixados na “cotação” social e organizativa, e têm de esconder a vergonha que os assalta pela desconsideração sentida a partir da cultura do êxito a baixo preço e de consumo no instante.

“Perante a realidade concreta que vivemos, neste mundo que se apresenta fragmentado, violento, injusto e estilhaçado… a Palavra de Deus faz-nos o convite a esperar em Deus que nos ama e nos promete uma realidade reconciliada, transformada pela justiça, uma realidade como a que canta o Salmo 84: de paz, de misericórdia e fidelidade. Uma esperança ancorada em Deus e vivida no coração da realidade”, afirma Mariña Rios Alvarez, mulher teóloga. (Homilética 2017/6, p. 745).

É uma esperança que nos faz ver com profundidade a vida, as pessoas, os conjuntos sociais e religiosos, a cultura de “espuma da onda” que deslumbra mas desumaniza e aliena, o Evangelho cheio de energia transformadora da instituição eclesial chamada a agilizar o serviço de animação missionária.

É uma esperança que nos impele a consolar os tristes e amargurados – e são tantos! – a acompanhar as dores sofridas pelas vítimas de si mesmas e das circunstâncias envolventes, a ajudar a abrir horizontes de liberdade a quem não consegue erguer o olhar e ver uma nesga de luz que possa augurar um futuro feliz.

“Endireitai os caminhos do Senhor”, exorta o profeta, pois eles são os nossos caminhos. É no caminho, e não na acomodação, que se dá o encontro. E a nossa vida irradiará a misericórdia do Senhor e todos juntos contemplaremos “a justiça (que) caminhará à sua frente e a paz (que) seguirá os seus passos”. (Salmo 84, proclamado na liturgia de hoje). Que mensagem entusiasmante! Experimenta.

Georgino Rocha

Helena Matos — A festa do cone iluminado




O bolo rei já não tem brinde. A Bela Adormecida ficou sem beijo porque o príncipe foi acusado de abuso. A fruta não tem bicho. O Natal ficou sem Menino Jesus e tornou-se a festa do cone iluminado.
De repente no meio da rua lá está aquela tranquitana metalico-luminosa a que chamamos árvore de Natal. E foi perante aquele cone iluminado, artefacto que nos sobrou devidamente expurgado de tudo o que possa identificar aquilo que somos, o que sentimos, o donde vimos, que me dei conta de como em nome da segurança, da tolerância, da saúde e de sei lá mais o quê estamos a criar um mundo faz de conta. Um mundo em que:

O bolo rei já não tem brinde.
O iogurte ficou sem lactose.
As natas perderam a gordura.
O leite vem da soja e não das vacas.
Os doces ficaram sem açúcar.
Os bolos não têm farinha.
O café perdeu a cafeína.
A manteiga ficou magra.
O pão não tem glúten.
O circo ficou sem leões, depois sem elefantes e agora sem animais.
A humanidade ficou sem sexos e dizem que está a perder o interesse pelo sexo.
O namoro ficou sem palavras por causa do assédio.
A Bela Adormecida ficou sem beijo porque o príncipe foi acusado de abuso.
A Capuchinho Vermelho já não é salva pelo caçador que também deixou de caçar 
e o lobo ficou vegetariano.
Os maridos e as mulheres passaram a cônjuges.
Os parques infantis ficaram sem escorregas de verdade. E alguns sem baloiços.
Chama-se a televisão em vez da polícia.
Os brinquedos ficaram sem graça mas estão cheios de didatismo.
As crianças não têm tempo para não fazer nada.
A má educação tornou-se bullying.
Os pátios das escolas já não têm árvores nem terra.
As gaiolas ficaram sem grilos.
Os filhos não têm pai nem mãe mas sim progenitores.
As feiras não têm graça.
O atirei o pau ao gato ficou sem letra.
A mentira tornou-se inverdade.
A culpa é alegada.
A verdade inconveniente.
O artesanato é certificado.
A fruta não tem bicho.
Brincar é uma actividade devidamente monitorizada.
Os filmes não contam histórias, ilustram teses.
As universidades tornaram-se uma liga de costumes.
As coisas deixaram de ser o que são para se tornarem num dado a avaliar consoante o seu enquadramento numa perspectiva condicionada por diversas valências.
Tudo é relativo.

O Natal ficou sem Menino Jesus e tornou-se a festa do cone iluminado.

Li aqui 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Efeméride - Faleceu o Inspetor Domingos José Cerqueira

1927 - 8  de dezenbro 



«Faleceu o Inspector Domingos José Cerqueira que, embora nascido em Ponte de Lima, se radicou em Aveiro, onde exerceu o seu labor profissional no campo do Ensino Primário. Redigiu a famosa «Cartilha Escolar», foi jornalista e, nesta cidade, iniciou a criação de escolas infantis – as primeiras que existiram em Portugal (Litoral,30-5-1970) – J.»

Calendário Histórico de Aveiro 
de António Cristo e João Gonçalves Gaspar

Nota: Frequentemente,  dou-me conta de tanta gente que se dedicou ao ensino e à formação de pessoas em várias  áreas, caindo, depois, no limbo do esquecimento. Conheci há muitos anos a Cartilha Escolar e sei que teve mérito no seu tempo, contando diversas edições. Neste simples registo, quero lembrar e honrar tantos cabouqueiros da arte de ensinar a ler... 

Anselmo Borges - Progresso e esperança. 2


Como ficou dito, o livro Progresso, de Johan Norberg, apresenta dez razões para ter esperança no futuro. Continuo o seu elenco, para lá das apresentadas quanto à comida e ao saneamento.

3. Esperança de vida. Para não irmos a épocas anteriores piores, devemos referir que na década de 1830 a esperança de vida na Europa Ocidental ia até aos 33 anos e melhorou apenas de forma muito lenta. Antes de 1800, nenhum país do mundo tinha uma esperança de vida superior a 40 anos. O espantoso é que não existe um único país que não tenha visto melhorias na mortalidade infantil desde 1950.

4. Pobreza. Não precisamos de uma explicação para a pobreza porque é desse ponto que todos partimos. A pobreza é o que temos até criarmos riqueza. No início do século XIX, as taxas de pobreza eram superiores às dos países pobres hoje, até nos países mais ricos. Quando nos anos 50 do século XX a pobreza extrema foi erradicada em quase todos os países da Europa Ocidental, começou a segunda grande evasão da pobreza, na Ásia Oriental, com países como o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura, que acelerou quando os dois gigantes mundiais, a China e a Índia, decidiram começar a abrir as suas economias em 1979 e 1991, respectivamente. O segredo do desenvolvimento da Ásia foi a sua integração na economia global. Entre 1981 e 2015, a proporção de países de rendimento baixo a médio que sofriam de pobreza extrema foi reduzida de 54% para 12%. Em 1820, o mundo tinha apenas cerca de 60 milhões de pessoas que não viviam em pobreza extrema. Actualmente, mais de 6,5 mil milhões de pessoas não vivem em pobreza extrema.

5. Violência. Nos inícios da Idade Moderna, aconteceu uma coisa incrível: A taxa europeia de homicídios caiu de 30-40 para 19 por cada 100 mil vítimas no século XVI e para 11 no século XVII. No século XVIII, desceu para 3,2 e hoje é de apenas 1. Entre o século XVII e o século XVIII, o número anual de execuções por cada 100 mil pessoas baixou de mais de 3 para menos de 0,5. Hoje ronda os 0,1. Claro que os riscos de guerra, incluindo nuclear, estão aí à vista. Pense-se nisto: A qualquer momento um grupo terrorista pode deitar a mão a uma bomba nuclear. Mas as tendências gerais a favor do valor da vida e da paz são fortes.

6. Ambiente. Disse Indira Gandhi: Não são a pobreza e a necessidade os maiores poluidores? O ambiente não pode ser melhorado em condições de pobreza. Os danos maiores dão-se nos países pobres. Agora, há o acesso global à soma dos conhecimentos da humanidade, e isso pode significar que o dilema no centro do aquecimento global - a nossa necessidade de energia - na verdade é também a sua solução.

7. Literacia. A taxa global de literacia cresceu cerca de 21% em 1900 para quase 40% em 1950 e em 2015 era de 86%. Isso significa que actualmente apenas 14% da população adulta não sabe ler e escrever, ao passo que em 1820 apenas 12% sabiam.

8. Liberdade. No ano de 1900, exactamente 0% da população mundial vivia numa democracia verdadeira, na qual cada homem ou mulher vale um voto. Em 1950, 31% vivia em democracia e no ano 2000 ia nos 58%. Hoje, até os ditadores têm de fingir gabar a democracia e forjar eleições.

9. Igualdade. É um facto: continua a haver discriminação e intolerância contra as mulheres, os homossexuais, minorias étnicas e religiosas e há pessoas que são vítimas de preconceito, hostilidade e crimes de ódio. Mas hoje, com raras excepções, pela primeira vez, os governos defendem a igualdade e o direito de amarmos quem quisermos e os fanáticos já não têm o auxílio, nem sequer o silêncio, das maiorias. Quando se pensa na escravatura, no racismo, na opressão das mulheres, é difícil não constatar um progresso espantoso.

10. A próxima geração. Apesar do que se diz nos noticiários, as condições da infância nunca foram tão benévolas como agora. O autor pede para se imaginar uma menina de 10 anos há duzentos anos. Fosse onde fosse, não esperaria viver mais de 30 anos. Fora criada em condições que hoje consideramos insuportáveis. Vivia num mundo implacável, onde o risco de morte violenta era quase três vezes superior ao actual. Desde então, a humanidade assistiu a uma revolução nos níveis de vida material e à consciência dos direitos humanos. E quando se pensa nos avanços em conhecimento de todo o género em que essa menina vai hoje poder participar, deve reconhecer-se que está a dar os primeiros passos num mundo novo. O nosso futuro está nas mãos dela.

11. Epílogo. As coisas terem melhorado - esmagadoramente - não garante o progresso no futuro. É evidente. Pense-se inclusivamente na possibilidade do Apocalipse: armamento nuclear nas mãos de grupos terroristas. A nova situação do mundo não faz correr o risco da morte global?
No meu entender, neste livro tão animador há um vazio: a falta da invocação da transcendência. Para, concretamente num tempo de desorientação, de inesperança, de consumação do niilismo, niilismo sedado, responder às perguntas metafísico-religiosas, inelimináveis: viver para quê?, qual o sentido último do progresso e da existência?
Pensando precisamente no futuro da humanidade, que na sua grande maioria ainda se afirma religiosa, poderíamos esperar que, como líder global, Francisco dê impulso à reunião do Parlamento Mundial das Religiões para tratar de problemas cuja urgência para a humanidade ninguém pode negar, como a salvaguarda da mãe Terra, questões de bioética e relacionadas com as NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, ciências cognitivas e do cérebro), diálogo intercultural e inter-religioso, governança global, a justiça e a paz mundial, trans-humanismo e pós-humanismo, a esperança e o sentido.

Anselmo Borges no Diário de Notícias 

Padre e professor de Filosofia

Georgino Rocha — Na Missa da Imaculada Conceição


ACÇÃO DE GRAÇAS

Jesus, bom amigo de todos, obrigado pela Tua Mãe que quiseste que fosse nossa também. Às vezes, esquecemo-nos, mas o Papa Francisco veio a Fátima avivar a memória quando afirmou: “Temos Mãe”.
Hoje, fazemos a festa da Tua Mãe e nossa Mãe. É uma grande alegria para nós e para Portugal, o nosso amado País, que escolheu a Imaculada Conceição para padroeira. Queremos ser dignos desta escolha. Ajuda-nos, Senhor!
Em Maria, vemos os seus Pais, Ana e Joaquim, moradores em Nazaré da Galileia. São eles que, hoje, estão a apresentar a sua menina, a dizer-nos como era o ambiente no lar, como foi a educação, como a levavam à sinagoga para o culto semanal, e tantas outras coisas belas. A sua obra estava tão perfeitinha que o Anjo Gabriel, quando a visita, lhe chama “cheia de graça”. Os Pais têm esta nobre missão na educação dos filhos. Obrigado, Ana e Joaquim, pela filha que preparastes para ser a Mãe do Filho de Deus.
Em vós e em Maria, vossa amada Filha, vemos os nossos Pais. Hoje destacamos a Mãe pela sua missão de ternura familiar e de presença amiga. Vós, bem sabeis, o que é para cada filho/a a sua Mãe. Por isso, queremos dar-vos graças pelas nossas Mães.
A sua dedicação enche o nosso coração de gratidão e cobre alguma impaciência que teve para connosco. O seu rosto amigo continua a brilhar no nosso olhar e faz esquecer alguma lágrima que nos fez chorar. O seu amor, expresso de tantas formas, vive sempre em nós e dá-nos alento para sermos amigos confiantes e persistentes. A sua coragem anima-nos nas dificuldades que a vida nos traz e ajuda-nos a seguir em frente. A sua fé ilumina as nossas dúvidas e incertezas, aponta-nos a verdade e liberta-nos dos medos e ansiedades. Infunde-nos confiança, tão necessária ao nosso viver quotidiano. 
Por tudo isto e por tantas outras coisas boas que recebemos dos nossos Pais, nós te damos graças, Senhor, e te pedimos que os abençoeis para sempre. Ámen!

Georgino Rocha

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Anselmo Borges: “Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo”



“Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo” é o mais recente livro de Anselmo Borges, padre da Sociedade Missionária Portuguesa e Doutor em Filosofia pela Universidade de Coimbra, em cuja Faculdade de Letras é Professor. O Prefácio é de Artur Santos Silva e merece ser lido antes de entrar no trabalho meticuloso, oportuno e esclarecedor do autor, sobre a personalidade marcante do Papa Francisco que, dia a dia, não se cansa de lançar desafios à Igreja e ao mundo, sempre na perspetiva da construção de uma sociedade mais fraterna e mais justa. Este trabalho de Anselmo Borges, cujas crónicas semanais, publicadas no Diário de Notícias, edito no meu blogue Pela Positiva, há uns 12 anos, mostra à evidência o pensar e o agir do Papa Francisco, que veio do outro lado do mundo para acabar com a sonolência na Igreja que amamos, e que, por isso, em muitas áreas, ficou parada no tempo. Não haverá temas, desafios, propostas, conselhos, exemplos, ralhetes, sorrisos, tristezas, mágoas, sofrimentos, alegrias e a fé desafiante do Papa que tenham sido ignorados pelo autor de “Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo”. 
A leitura deste livro entusiasmou-me sem nunca me cansar. Cada página contém matéria desafiante e estimulante para prosseguir, mas diversas vezes fui levado a reler para ficar mais esclarecido. Todos os textos, curtos, estão ricamente documentados por dezenas e dezenas de citações dos mais eminentes filósofos, teólogos, pensadores, biblistas, académicos, e outras figuras proeminentes da cultura contemporânea e doutras era, sem esquecer os Doutores da Igreja, os clássicos, sejam crentes e não crentes, cristãos de várias correntes e ateus ou agnósticos. 
Artur Santos Silva diz, logo a abrir o Prefácio, que «Este é um livro altamente inspirador para as gerações que vivem os tempos conturbados dos nossos dias», e logo a seguir salienta que «Muito admira Anselmo Borges, para além das suas qualidades pessoais, pela sua capacidade de mobilizar e gerar conhecimentos, pela liberdade com que aborda as grandes questões da sociedade em que vivemos», procurando «ajudar-nos a responder às nossas mais profundas dúvidas e interrogações». 
Santos Silva refere, citando Frederico Lourenço: «No cerne do seu valor ético, a mensagem de Jesus continua hoje tão válida, tão certeira e tão urgente como era há 2000 anos.»
Sobre Francisco, Anselmo Borges frisa na Apresentação que Francisco «é um Papa cristão, que antepõe o Evangelho ao Direito Canónico, que gosta das pessoas, as ama e serve, as anima, lhes dá esperança e confiança, como Jesus fez». E adianta: «Sendo um papa cristão, no sentido autêntico da palavra — que segue Jesus, para quem Jesus é determinante na vida e na morte —, a sua urgência maior, ad intra, é tentar converter os católicos, a começar pelos cardeais, bispos, padres, a cristãos, num discipulado evangélico, abandonando o clericalismo eclesiástico e seguindo o caminho de Jesus.»
O livro “Francisco — Desafios à Igreja e ao Mundo” está ordenado em quatro capítulos: De Bento XVI a Francisco, Sexualidade e Família, Pessoa, Ética e Política e Para uma Igreja do Século XXI. São 439 páginas, edição da Gradiva.

Fernando Martins

RUY VENTURA — NATAL INCÓMODO



«Época de alegrias, de felicidade - mas também de euforias fabricadas, manipuladas pelo consumo -, o Natal leva-nos, frequentemente, ao esquecimento daqueles que assim não sentem, travando diariamente uma terrível luta com a angústia, com o vazio ou com o negrume, mal conseguindo esboçar um sorriso perante as agruras da doença, do desemprego ou de uma dignidade perdida, tentando arranjar uma réstia de ânimo para se levantarem da cama sabendo-se alvo de injúrias e de incompreensões, querendo elevar o coração apesar de se verem sem teto, sem alimentos dignos, sem uma companhia ao lado ou à distância, sem os seus entes queridos. Mesmo quando os lembramos nesta época de preparação para a festa do nascimento de Jesus Cristo, tantas vezes os olhamos como grãos de pó que é importante sacudir da lembrança, não vá ela ficar toldada (menos “alegre”) pelas suas nuvens incómodas. E, no entanto, foi sobretudo para estes nossos companheiros de existência que a encarnação do Divino Infante aconteceu e continua a acontecer, enquanto recordação rediviva e atuante. Bem sei que esse acontecimento milenar pouco ou nada interessa a uma sociedade onde o dinheiro é deus e rei, mas a verdade não tem outro conteúdo nem a festividade outro sentido, mesmo que o alheamento das luzes comerciais e financeiras nos tentem virar o olhar para lugares distintos e sentimentos menos nobres. Esquecer o sentido do Natal é esquecer tudo. Não há outro caminho. Ou somos incomodados por ele ou não vale a pena comemorá-lo.»

Ler todo o texto aqui 

Georgino Rocha - ALEGRA-TE COM MARIA, A MÃE DE JESUS

Nossa Senhora da Conceição - Gafanha da Nazaré
Na festa da Imaculada Conceição

Maria, a cheia de graça, é apresentada pela Igreja como a mulher escolhida para ser a Mãe de Jesus e dar rosto humano a quem se prepara para o Natal do Senhor. Olhando para ela, sentimos a esperança como motor do caminho a percorrer, a alegria como energia espiritual a elevar o coração, o sonho da comunhão a fazer-se realidade no dia-a-dia.
Maria de Nazaré, a Senhora da Conceição, vê reconhecida pelo Anjo de Deus a sua singularidade: Desde os primeiros instantes da existência no seio de Ana, sua Mãe, é abençoada com a graça da integridade, isenta do inumano que há na nossa natureza pessoal, liberta da tendência para a autoafirmação eivada de presunção e orgulho, típicos dos protagonistas dos alvores da criação, Eva e Adão. Conserva intacta esta graça durante a sua vida e corresponde-lhe generosamente. Por isso, a Igreja a celebra como a Imaculada, a Virgem-Mãe, a Senhora do sim total. E Portugal a consagra como sua Padroeira, após a restauração da independência, confirmando uma tradição antiga do nosso povo.
“Tendo entrado onde ela estava”, refere Lucas no relato do encontro do Anjo Gabriel com Maria. (Lc 1, 26-38). Em estilo solene e diáfano, demarca assim onde se faz o diálogo da anunciação. É uma afirmação lapidar que pode servir-nos de “ponto de partida” para uma reflexão encorajante. Onde está Maria? O programa pastoral 2017/2018 da nossa Diocese faz outra parecida: “Onde está o teu Irmão?” E o Evangelho induz-nos a outra ainda mais pertinente: “Onde estou eu”? As respostas têm de ser dadas no santuário da nossa consciência como faz Maria, após diálogo de clarificação confiante. 
Em casa dos Pais, pode responder-se, reportando-nos ao espaço físico. Mas há outros não menos importantes. Está no desempenho das tarefas domésticas, em reflexão sobre notícias preocupantes da vizinhança, em oração reconfortante que alimenta a esperança na vinda do Messias prometido a Israel, seu povo, em divagação mental com os sonhos de noivado com José, em visão antecipada da sua vida familiar em Nazaré. Em tudo, estava em si mesma, com a educação recebida de seus Pais e avós, com o fervor religioso alimentado na assembleia da sinagoga, onde se fazia o culto semanal, aos sábados e participado pelos vizinhos piedosos. E o Anjo vem encontrar-se com ela, desvendando a grandeza do seu estado: “Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”.
Que novidade reconfortante para os Pais que, como Ana e Joaquim, cuidam da educação dos filhos com esmero e dedicação. Abertos à presença de Deus que quer o melhor para todos, especialmente para as crianças como Jesus mostrará ao abraçá-las e ao recomendar aos discípulos: “Deixai-as vir a Mim; não as impeçais”. Como será encorajante sentir que este desvelo de Deus é vivido pelos pais de hoje no seio das nossas famílias. Que Ana e Joaquim nos inspirem e estimulem na realização desta delicada missão. Não deixemos defraudar a confiança que Deus tem em nós e nos familiares mais chegados aos pais e avós.
“O que aconteceu em Maria, afirma uma mulher teóloga ao comentar o Evangelho de hoje, não é uma excepção, mas a verdadeira «regra» que Deus pensou para todos nós quando nos criou. Pois saímos das suas mãos e, portanto, somos bons por natureza. Ao contrário do que podemos pensar a conceição imaculada converte Maria numa criatura ainda mais humana, já que o pecado não é de Deus, nem está inscrito na nossa natureza”[i]. A autora tem em conta a dignidade original de Eva e Adão e vê Maria no seu prolongamento. A tradição bíblica refere que o sonho de Deus é perturbado com a atitude de Eva que contagia Adão de quererem ser donos da sabedoria moral, por meio da liberdade do desejo. Ao não aceitarem os seus imites, introduzem o que veio a ser chamado pecado, desfigurando o humano que, de novo, se configura em Maria, a Mãe de Jesus. E o pecado manifesta-se na alteração de valores e na confusão de verdades. Dai, o cortejo de atropelamentos à dignidade humana onde Deus se revê com a transparência original.
A festa de Maria representa a nova oportunidade que Deus oferece à humanidade, não apenas porque a faz voltar às origens, mas porque lhe abre as dimensões do futuro que Jesus vem inaugurar. Vale a pena recentrar a mensagem que a festa da Imaculada Conceição nos traz e viver a alegria do Evangelho, dando testemunho da esperança que nos anima.

Georgino Rocha

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

EDUCAÇÃO — ARMA PODEROSA



"A educação é a arma mais poderosa 
que pode ser usada para mudar o mundo."

Nelson Mandela (1918 - 2013)

Nota: Gosto muito deste pensamento de um homem bom e sábio. E no meio de tanta barafunda com provocações de toda a ordem, no meio de tanta generosidade que salva o mundo, ouso pensar que todos devíamos lutar por uma educação forte e sadia, no dia a dia, na certeza de que a sociedade seria bem diferente.

Fernando Pessoa - Avé Maria



AVÉ MARIA

Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.

Vós que sois cheia de graça
Escutai minha oração,
Conduzi-me pela mão
Por esta vida que passa.

O Senhor, que é vosso Filho,
Que esteja sempre connosco,
Assim como é convosco
Eternamente o seu brilho.

Bendita sois vós, Maria,
Entre as mulheres da Terra
E voss'alma só encerra
Doce imagem d'alegria.

Mais radiante do que a luz
E bendito, oh Santa Mãe
É o fruto que provém
Do vosso ventre, Jesus!

Ditosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
E que morais lá nos céus,
Orai por nós cada dia.

Rogai por nós, pecadores,
Ao vosso Filho, Jesus,
Que por nós morreu na cruz
E que sofreu tantas dores.

Rogai, agora, oh Mãe qu’rida
E (quando quiser a sorte)
Na hora da nossa morte
Quando nos fugir a vida.

Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada,
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.


12-4-1902

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

“Olha a Arte de Natal!” vai animar esta quadra natalícia

(Foto de arquivo)

Nas próximas quartas-feiras, dias 6, 13 e 20 de dezembro, as manhãs vão ser mais alegres nesta quadra de Natal, com a Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) a associar-se ao comércio  local, no sentido de revitalizar a identidade histórica e as suas memórias, através de intervenções artísticas dinamizadas pelos nossos maiores, estruturas residenciais para pessoas idosas e clubes seniores.
Assim,  a CMI lança a iniciativa “Olha a Arte de Natal!”, com  abertura marcada para o dia 6 de dezembro, pelas 10 horas, nas galerias comerciais, situadas atrás da Câmara, contando com a presença da vereadora do Pelouro da Maior Idade.
Segue-se um périplo por espaços comerciais da cidade, onde se serão desenvolvidas ações muito variadas, tais como representações teatrais, declamação de poesia, cantares de natal, artes plásticas, histórias, teatro musical e contos de natal,  entre outras. Estas intervenções terão lugar na freguesia de S. Salvador na primeira e última quarta-feira e na freguesia da Gafanha da Nazaré no dia 13 de dezembro.

Fonte: CMI

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Miguel Torga - HOSSANA!





HOSSANA!

Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...
Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta,
Em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza!

Miguel Torga

domingo, 3 de dezembro de 2017

Bento Domingues - Entre o fim e o começo



1. Foi há 60 anos que li, pela primeira vez, na Summa Theologiae, de S. Tomás de Aquino, uma advertência que não se destinava apenas a principiantes: em teologia, é preciso evitar argumentações pretensiosas, sem fundamento rigoroso. Quem as usa oferece aos infiéis matéria para se rirem da fé, pois ficarão com a ideia de que as afirmações dos crentes são todas igualmente estúpidas [1].
Existem instituições eclesiásticas que se tornaram um obstáculo evidente ao desenvolvimento da vida cristã da Igreja e à realização da sua missão essencial na sociedade. Seria normal que fossem submetidas a uma avaliação rigorosa e se procedesse à sua reorientação e reconfiguração. Não é assim que acontece. Não é pelos frutos que se conhece a árvore? Insiste-se, pelo contrário, na sua sacralização para não se poder mexer nelas e arranjam-se razões que servem apenas para afastar os crentes e fazer rir os agnósticos e ateus.
O regime actual dos ministérios ordenados está a secar as comunidades católicas e a privá-las da Eucaristia a que todos os baptizados têm direito. E. Schillebeeckx mostrou que era possível encontrar respostas criativas que não precisavam de passar pelos seminários. O Cardeal Ratzinger bem se esforçou, mas não encontrou razões para invalidar as propostas finais do teólogo dominicano. Yves Congar, a figura maior da eclesiologia católica no séc. XX, declarou que as assinava, sem reticências. Nada feito. A situação continua a agravar-se. O caso tão badalado do “padre da Madeira” encontrou na hierarquia declarações que não deixam ninguém indiferente: uns sofrem com elas e outros riem-se. A retórica eclesiástica, mal argumentada, acaba por deixar mal as crianças, a família, os padres e o celibato. S. Tomás de Aquino tinha razão [2]. 

2. O Papa, neste caso e semelhantes, não pode fazer nada? Não se esqueça que o Papa é bispo de Roma, não é bispo da Madeira ou de Lisboa. Terá um dia de alterar o modelo de escolha e nomeação dos bispos. Mas a nível central, não lhe tem faltado trabalho com a reforma da Cúria. Foi João XXIII, nos tempos modernos, o primeiro a defender que seria um bem geral “sacudir a poeira imperial, que foi caindo, desde Constantino, sobre o trono de Pedro”. O Papa Francisco continua às voltas com essa herança pesada e paralisante [3].
Bergoglio tem um programa envolvente de que não abdica, apesar de todas as resistências. Propõe: “Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem a não frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fê-lo, por vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é necessário audácia, coragem.” [4]
As dificuldades de Jesus Cristo, ao propor uma mudança de mentalidade aos seus contemporâneos e aos membros do povo a que pertencia, encontrou uma grande adesão no mundo dos excluídos, mulheres e homens, e uma resistência implacável entre os privilegiados e, sobretudo, entre os fariseus, os que não entravam no novo projecto de vida nem deixavam entrar. O Papa Francisco não hesita em lembrar estas passagens dos Evangelhos para comparar com o que está a acontecer com as reformas que propõe. Certos cardeais, bispos, padres, seminaristas — e outros grupos organizados — são os que mais resistem às reformas que ele propôs e que são inadiáveis. As resistências, activas e passivas, são cada vez mais declaradas e ridículas. Assim como aconteceu com Cristo, nenhuma ameaça o tem paralisado.

3. Muito se discutiu se a História tem ou não sentido. Não vou reabrir esse dossier [5], mas fiquei, mais uma vez, fascinado com o desenlace do Capítulo 25 do Evangelho de S. Mateus. É uma parábola. É a coroa de duas anteriores. Parece ser o julgamento final.
Como parábola está sujeita a várias interpretações. É muito estranha. A divindade não está separada do devir do mundo. Mais ainda, está identificada com todas as pessoas, que não têm todas o mesmo comportamento. O que as divide? O modo como olham para o vizinho, para o socorrer ou para o ignorar. É um golpe fatal na religião que está apenas preocupada com Deus. Quem se preocupa só com Deus, nem com Deus se preocupa.
Cristo não surgiu com uma nova organização religiosa concorrente no mundo das religiões. O seu embate constante foi com as instituições do Povo de Deus, que esqueciam e maltratavam quem mais precisava de acolhimento e ajuda. O culto religioso tornara-se o adversário da alegria humana. Isto era absolutamente inaceitável para Jesus. O aforismo “o sábado é para o ser humano e não o ser humano para o sábado” é o símbolo da alteração mais radical no campo religioso, seja qual for a época.
O que, de facto, festejámos no Domingo passado foi, por um lado, a vitória contra a indiferença. Não podemos andar no mundo e dizer não vi, não sei, não é comigo. Por outro, o que faz a diferença e julga a vida de cada um é o estilo da sua própria vida. Quando o Senhor da história se identifica com os socorridos ou abandonados, não deixa nada para o fim. É hoje que cada um diz a última palavra.
Celebramos, neste Domingo, o começo do Advento. Que não estamos no melhor dos mundos possíveis, é evidente. Se julgamos que é impossível alterá-lo, somos suicidas, niilistas. Não seríamos verdadeiramente humanos e muito menos cristãos. Que fazer?


Frei Bento Domingues no PÚBLICO


[1] I q.46.a.2.
[2] Cf. Ricardo Araújo Pereira, Discriminar como Jesus discriminou, Visão, 23.11.2017; Teresa Martinho Toldy, A Igreja fechada no seu Olimpo, PÚBLICO, 25.11.2017
[3] Yves Congar, Igreja serva e pobre, Ed. Logos, Lisboa 1964, p152
[4] Entrevista do Papa Francisco, Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora, Paulus, 2013, pp 36-37
[5] Francisco J. Ayala, Darwin Y el Diseño Inteligente. Creacionismo, Cristianismo Y Evolución, Aliança Editorial, Madrid, 2008

Para todas as idades — “24 coisas a fazer antes do Natal”



Um dia para recuperar alguma coisa que já não se usa (porque passou de idade ou existe em demasia) e oferecê-la a quem poderá ter necessidade. Outro para entrar na igreja, acender uma vela, fechar os olhos e pensar no Natal.
Ainda outro dia para se ocupar de quem está próximo, pedir ajuda para si ou para um amigo. Vinte e quatro dias para partilhar, presentear em silêncio, oferecer olhares, boas ações e gentilezas ao próximo.
Da experiência quase centenária do “Mensageiro dos Rapazes”, revista mensal editada pelos frades menores conventuais da basílica de Santo António de Pádua desde 1922, nasceu a ideia de uma espécie de calendário do Advento dirigido a pré-adolescentes de ambos os sexos.
Trata-se de um percurso de aproximação ao Natal feito de 24 etapas, uma por dia, desde o primeiro até 24 de dezembro. Escritos em italiano, os textos, ilustrados, não contêm chocolates mas desafiam os leitores a colocarem-se em jogo com reflexões e ações que envolvam o próximo.
Basta uma ação por dia: desligar o computador, o telemóvel, a televisão, a plataforma de jogos e marcar no calendário por quantas horas se resistiu; presentear jogos ou vestuário em bom estado que já não se usam a quem precisa.
Mais sugestões? Saudar as pessoas que se encontram no caminho; partilhar a merenda com o companheiro que habitualmente se evita; enviar uma mensagem anónima de felicidades a uma pessoa só, a uma família de imigrantes, a alguém com quem se está de costas voltadas.
Perguntar a quem está próximo, a começar pelos pais, como estão e como foi o seu dia… Nada de difícil, tudo a tentar, dia após dia. Será depois natural estender o Advento a todo o ano…
Concebido para leitores dos 11 aos 14 anos, “24 cose da fare prima di Natale” «não renuncia aos objetivos catequéticos e espirituais deste tempo litúrgico que prepara o Natal (espera, caminho, maravilha, vida, oração, encontro), mas procura decliná-los educativamente à medida de rapazes e raparigas», refere a sinopse.
E certamente as suas propostas, redigidas pelo diretor da revista, poderão muito bem ser adaptadas – ou até aplicadas diretamente – aos católicos com mais idade.

Rossana Sisti
In "Avvenire"
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 27.11.2017

Georgino Rocha - Movimentos Apostólicos, em saída missionária



Os movimentos na Igreja são dons de Deus que visualizam a presença e acção do Espírito Santo, protagonista principal da missão de Jesus na história da salvação. Dons concedidos a quem se dispõe a dar-lhes acolhimento, a exemplo de Maria de Nazaré, e a cooperar generosa e livremente. Dons que constituem prova eficaz do amor de irradiação missionária para que “os homens consintam na grandeza do seu destino”. Dons que pretendem alargar horizontes aos discípulos e pastores para que, agindo localmente, tenham sempre presente o universal, que é típico da fé católica. Dons que são sementes a florir na sociedade e seus dinamismos e dão rosto irradiante ao “jardim bonito que é a nossa Igreja”.
Esta última afirmação é feita no encontro de movimentos, obras e associações realizado no Seminário de Aveiro no dia da festa de Cristo Rei, Senhor do Universo. Expressa uma visão apreciativa, fruto certamente da leitura crente da realidade e de um sonho a ir-se realizando com a colaboração de todos. Dá azo a uma reflexão que pode ser oportuna e enriquecedora.
De facto, é um jardim e não um canteiro; bonito pela variedade em harmonia que provoca admiração; atraente pelo vigor dos arbustos enraizados na terra e pela beleza das flores a erguerem-se para o alto, aromatizando os ambientes; precário em cada pétala viçosa que depressa murcha, cedendo lugar a outras que uma nova primavera fará surgir; apelativo no seu valor simbólico, pois a vida tem dimensões que urge descobrir e testemunhar e se condensam no jardim cuidado e florido. A metáfora do jardim deixa em aberto clarões de esperança para os tempos que se avizinham. E faz lembrar o hino da Liturgia do Ofício de Leitura de 2ª feira: “Seja a terra um jardim sereno e vasto// sem os ventos do ódio a devastá-lo// e que os homens consintam // na grandeza do seu destino”.
A Igreja reconhece a grandeza da liberdade humana e está ao seu serviço pois essa é a vocação de cada pessoa e das suas múltiplas formas gregárias; pois essa é a verdade que ilumina a consciência onde se pode escutar o eco, ainda que em surdina, da voz de Deus. Nasce daqui, a qualidade da missão que Jesus confia aos seus discípulos e pastores: Prestar um serviço de ajuda e não de substituição à consciência humana para que faça opções responsáveis e meça o alcance de cada decisão.
Os movimentos apostólicos situam-se neste serviço da Igreja à humanidade. Reconhecem que “a glória de Deus é o homem vivo; e que a vida do homem é a contemplação de Deus” na concisa e feliz expressão de Santo Ireneu, bispo de Lyon. Captar esta presença e aprender a sua sabedoria para a testemunhar com audácia é, sem dúvida, um propósito nobre de todo o cristão, sobretudo associado em movimento de irradiação missionária.
Onde estão os movimentos, que áreas de intervenção preferem, que sintonia manifestam com os dinamismos culturais que dão corpo à sociedade e rumo à história, que áreas ficam a descoberto e é urgente ter em conta por fidelidade ao Evangelho de Jesus e à mensagem social da Igreja, hoje revigorada pelo Papa Francisco e tantos outros bispos, padres e leigos? Com que “ferramentas” apostólicas estão munidos e que disposições espirituais alimentam o seu compromisso missionário? Perguntas que têm muitas irmãs a indicar caminhos quase esquecidos, mas de grande relevância e urgente resposta.
“Valorizar o papel dos movimentos apostólicos de intervenção pública” é uma linha de acção do Programa Pastoral “Dai-lhe vós mesmos de comer”, 2017/2018, da nossa Igreja diocesana. Linha claramente definida e, espera-se, eclesialmente assumida. “Nada nos é indiferente” é o tema do III Encontro Nacional dos Leigos ocorrido em Évora a 7 de maio passado; tema que tem como húmus nutriente: “A realidade contemporânea, a encíclica do Papa Francisco ‘Laudato Si’ sobre o ‘cuidado da casa comum’ e o Jubileu da Misericórdia (que) desafiam-nos a atenção, a inteligência, o coração e a ação”.
De outros países chegam notícias sobre as opções da Igreja nesta vasta e complexa área de apostolado. Se a presença dos leigos é necessária nas paróquias, não o é menos nos espaços onde vivem e se realizam profissionalmente ou diverte em convivência saudável e descontraída; onde se buscam caminhos de verdade e formam consciências; onde se reabastecem das energias do Evangelho e da partilha solidária com quem está nas “linhas da frente” da missão apostólica.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Dirigentes da ADIG e da ANRGN satisfeitos com explicações da BRESFOR



A ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha) e a ANRGN (Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré) reuniram-se com a BRESFOR, no dia 28 de novembro, para debaterem problemas relacionados com a poluição na Bacia da Marina, em especial pelas escorrências na Conduta do antigo Esteiro de Oudinot,  e, ainda, sobre  a questão da Legionella. 
No caso da poluição, aquelas instituições apresentaram documentos fotográficos e um vídeo, comprovativos de agressões ao ambiente, sendo certo que não houve possibilidades de garantir quem poluiu, pois naquela zona estão sediadas quatro empresas.
Numa exposição PowerPoint, apresentada pelo Engenheiro Diretor, Fernando Mendes,   e depois, durante a visita às instalações, foi garantido aos dirigentes da ADIG e da ANRGN, que todo o caudal era drenado para a SIMRIA (Saneamento Integrado dos Municípios da Ria), desde 2008, com leituras adequadas à saída da fábrica, no sentido de detetar eventuais vestígios perigosos de produtos poluentes. 
Quanto à Legionella, e porque todos estamos  preocupados com as recentes notícias sobre a infeção no Hospital São Francisco Xavier, foram colocadas perguntas sobre o vapor de água que se eleva, diariamente, das torres de refrigeração. Esta bactéria provoca infeção pulmonar, por inalação de gotículas contaminadas, de que pode resultar a morte.
Os dirigentes daquelas instituições da Gafanha da Nazaré consideram-se esclarecidos e muito mais tranquilos, face ao Plano de Emergência Interno (PEI) e às práticas da Bresfor, que dá cumprimento à Diretiva Europeia, obrigando a um controlo automático e contínuo e ao registo, em cada turno, dos valores de cloro, para desinfeção do vapor das torres de arrefecimento e a análises periódicas da Legionella, no Instituto Dr. Ricardo Jorge. Completa este tratamento um filtro de gotículas que as retém, evitando a sua dispersão.

Fonte: Comunicado das associação ADIG e ANRGN, lideradas por Humberto Rocha

A escravatura nunca poderá ser esquecida



 Durante séculos, Portugal teve um papel central no tráfico de milhões de pessoas escravizadas.Todos sabemos disso, mas raramente temos a coragem de lembrar crimes perpetrados em nome de um povo que deu novos mundos ao mundo. E a verdade é que não havia, que eu saiba, qualquer monumento que registasse no presente o que foi a escravatura durante séculos, levada a cabo por uma sociedade que dizia testemunhar a mensagem de Jesus Cristo. Felizmente, já está decidido que esse monumento vai ser mesmo uma realidade. O mal como o bem devem ser recordados para se não cair em erros que a história nunca poderá esquecer.

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Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez

 

Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos.
Nascemos dentro de nós e no coração de Deus.
O que Jesus nos diz é: "Também tu podes nascer",
pois nós nascemos, nascemos, nascemos.


José Tolentino Mendonça

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A nossa gente - Grupo de Teatro Musical Sénior Figurinos d’Ouro



Neste mês de dezembro, a rubrica “A Nossa Gente” é dedicada aos “Figurinos d’Ouro”, o Grupo de Teatro Musical Sénior do Município de Ílhavo. De uma conversa de café surgiu uma ideia inovadora: criar um número de cabaré com os Maiores Idade.
Da ideia à realidade foram vários os meses de intenso trabalho, exigência e dedicação e, ao mesmo tempo, de franca alegria pela materialização de um sonho. Alice, Adelaide, Noémia e João, deram corpo a uma combinação perfeita para aquilo que tanto gostam de fazer: teatro, música, canções, dança e diálogos. A formação do grupo preparou o número de abertura do projeto “Idolíadas - A Arte da Maior Idade”, dinamizado pelo Pelouro da Maior Idade da Câmara Municipal de Ílhavo, que teve lugar no dia 29 de abril de 2017, na Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré
Os ensaios do grupo estiveram a cargo do artista e gerontólogo Jonathan Margarido, que conta com uma vasta experiência na área do canto e teatro musical. Em 2016, foi semifinalista do programa de entretenimento da RTP1 “Portugal Got Talent” e, atualmente, é ator integrante do elenco de “Cinderela – A Magia do Musical” da produtora Plateia D’emoções (em digressão nacional) e geróntologo de uma estrutura de residência para pessoas idosas do Município de Mira.

Na preparação da atuação foram incluídas dinâmicas de teatro, exercícios de canto e expressão corporal com o intuito de autoconhecimento das potencialidades da pessoa idosa. Entretanto, têm sido inúmeros os convites e presenças deste grupo em diversos eventos, sendo de realçar a presença do grupo no III Encontro Nacional de Estudantes de Gerontologia e Gerontólogos, realizado no dia 10 de novembro do corrente ano, na Coimbra Business School. O grupo marcou presença, ainda, nas Comemorações do Dia Internacional do Idoso, no dia 4 de outubro, em Mira. Mais recentemente, o Grupo de Teatro Musical Sénior do Município de Ílhavo participou no Concurso Nacional de Talento Sénior CRIA55, Festival de Criatividade, Arte e Talento Sénior, dinamizado pela Rede de Universidades Seniores, que decorreu no dia 16 de novembro, no Centro Cultural das Caldas da Rainha. A prova apresentada foi alvo de uma seleção realizada a nível nacional, tendo ficado entre os “dez melhores talentos seniores do país”. No final, o apresentador Fernando Alvim, viria a anunciar um honroso 2.º lugar destinado ao Município de Ílhavo. Este é um projeto que promete continuar a dar que falar por ser pioneiro no âmbito das políticas para um envelhecimento ativo e feliz. Parabéns aos nossos talentosos artistas que tão longe têm levado o nome do Município de Ílhavo e nos quais depositamos inteira confiança para o levarem a novas paragens! 

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI, Dezembro  

NOTA: Ora digam lá que não temos nas terras ilhavenses, com ílhavos e gafanhões, gente capaz de todas as artes e ofícios! Eu não fico espantado, mas fico muito feliz quando vejo pessoas, de todas as idades, em que sobressai, de forma exemplar, uma juventude fascinante aberta a todas as  experiências e desafios, como prova de que a vida não tem idade nem limites. Os meus parabéns, como votos de muitos êxitos. 

FM

Já está no coração de Deus o P.e Júlio da Rocha Rodrigues

O Padre Júlio, como era conhecido entre familiares e amigos, de seu nome completa Júlio da Rocha Rodrigues, bateu à porta do céu, como me disse uma sua familiar e minha amiga, e já está  no seio  de  Deus que tanto amou. Foi pároco de Aradas quase toda a vida, terra que tinha no coração e onde deixou marcas indeléveis da sua determinação, que o hão de perpetuar no tempo. Durante a juventude, e sobretudo quando ingressou no seminário, já adulto, foi visita de nossa casa para trocarmos impressões. Depois, quando foi para Aradas, a vida não lhe permitiu grandes contactos connosco. Porém, mantivemos ao longo da vida laços de amizade que  as preocupações de cada um nunca interromperam.
Nascido em 4 de fevereiro de 1935, na Gafanha da Nazaré, e foi batizado no mesmo ano, no dia 13 de março. Teve como professor primário uma figura carismática da nossa terra, o professor Manuel Filipe Fernandes, que decerto muito o influenciou em muitas áreas. Trabalhou nas marinhas de sal, em oficinas  e no comércio. Iniciou, entretanto,  contactos com as fundadoras da Obra da Providência, Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira, desde os primeiros passos da instituição. Foi ordenado presbítero em 15 de agosto de 1970 por D. Manuel de Almeida Trindade, na igreja da Gafanha da Nazaré, onde celebrou a primeira missa, no dia seguinte. Em 4 de outubro do mesmo ano tomou posse, como coadjutor de Aradas, e em 1975 passou a ser o pároco.
Na festa do 50.º aniversário da Obra da Providência confirmou,  publicamente, a sua dedicação à obra,  nas breves palavras que dirigiu aos presentes, na cerimónia a que presidiu o então Bispo de Aveiro, D. António Marcelino. «Foi a partir desta obra, do trabalho feito em comunhão com Maria da Luz e Rosa Bela, que eu decidi ir para padre. Há muito tempo que eu tinha resolvido ir para sacerdote, andei a adiar, adiar, adiar; um certo dia fui a Fátima a pé [tinha 23 anos], também com elas, e depois regressei com a decisão tomada… Mas foi trabalhando com estas irmãs nossas, sobretudo com elas, que eu achei que a melhor maneira de servir os irmãos seria ser sacerdote; nunca fugi às responsabilidades para me integrar mais, para ser melhor testemunha de Deus.» 
As cerimónias fúnebres terão lugar amanhã, sábado, pelas 14h30, na matriz  da  Gafanha da Nazaré. Que Deus o acolha, carinhosamente, no seu regaço maternal.

Fernando Martins

Anselmo Borges - Progresso e esperança. 1


É um daqueles livros que nos obrigam a reflectir, porque andamos em lamúrias inconsequentes, não colocando os problemas onde devem ser colocados. Evidentemente, seria de lamentar se esse livro nos arrancasse à obrigação de continuar a pensar. De facto, os problemas estão aí, imensos, mas já diferentes do que normalmente julgamos. O livro teve, com mérito, enorme sucesso. O seu autor: Johan Norberg. O título: Progresso. O subtítulo: Dez razões para ter esperança no futuro. Razões fundamentadas.
O autor sabe dos problemas que nos afligem. "Terrorismo. Estado Islâmico. Guerra na Síria e na Ucrânia. Crime, homicídio, execuções em massa. Aquecimento global. Fomes, cheias, pandemias. Estagnação, pobreza, refugiados. "Destruição e desespero em toda a parte", como uma mulher declarou num inquérito de rua quando a rádio pública lhe pediu para descrever o estado do mundo. É isso que vemos nos noticiários e parece ser a história dos nossos dias. Cinquenta e oito por cento dos que votaram para a Grã-Bretanha sair da União Europeia no recente referendo levado a cabo no país dizem que a vida hoje é pior do que há trinta anos."
Há razão para todo este pessimismo? Ou o que se passa é que os meios de comunicação social só se interessam pelas más notícias, porque as boas não são notícia? "Os jornalistas estão sempre à espreita da história mais dramática na área geográfica por eles coberta". Mas o que é facto é que "o mais importante da nossa época é estarmos a assistir à maior melhoria dos padrões de vida globais jamais registada. Pobreza, malnutrição, analfabetismo, mão de obra e mortalidade infantis estão a descer mais depressa do que em qualquer outro período da história humana. Ao longo do último século, a esperança de vida aumentou mais de duas vezes o que aumentou nos duzentos mil anos anteriores. O risco de exposição de um indivíduo à guerra, à morte numa catástrofe natural ou à ditadura em nenhuma outra época foi mais pequeno. Uma criança que nasça hoje tem mais probabilidades de alcançar a idade da reforma do que os seus antecessores tinham de comemorar o quinto ano de vida". Evidentemente, não se pode ser ingénuo e ficar cego frente às guerras em curso, a crimes, às catástrofes, à pobreza e à miséria no mundo. Todos esses problemas são terrivelmente reais, tanto mais quanto os meios de comunicação social nos obrigam a tomar consciência deles. "A única diferença é que agora encontram-se em rápido declínio. O que hoje vemos são excepções, ao passo que antes eram a regra."
Este progresso arrancou concretamente com o iluminismo intelectual dos séculos XVII e XVIII. Desde então continuamos a acumular conhecimentos, científicos e de outras ordens e "cada indivíduo pode basear o seu contributo nos das centenas de milhões de pessoas que o precederam, num círculo virtuoso". "Seria um erro terrível" ignorar os problemas, as ameaças constantes, os perigos, e tomar os progressos da humanidade como garantidos. Mas este livro é "sobre os triunfos da humanidade". E aí ficam as dez razões para ter esperança no futuro.

1. A mais básica das necessidades humanas consiste em obter energia suficiente para que o corpo e a mente funcionem, o que ao longo da história as pessoas nem sempre conseguiram. É indescritível o que se passou no decorrer dos tempos, também na Europa, neste domínio. "Os franceses e os ingleses do século XVIII ingeriam muito menos calorias do que a média actual na África subsariana, a região mais atormentada pela subnutrição". No centro da França, em 1662, "houve quem comesse carne humana". No passado, trabalhava-se menos horas, e o motivo disso não deve causar inveja: as pessoas não tinham acesso às calorias necessárias para as crianças crescerem saudáveis e os adultos manterem funções corporais sadias. As novas tecnologias agrícolas, os fertilizantes artificiais, a Revolução Verde, o comércio internacional, entre outras, foram armas decisivas contra o flagelo da fome. A Suécia, país dos antepassados do autor, foi declarada livre da fome crónica no início do século XX. Também por isso, a população mundial passou de 1,6 mil milhões de pessoas em 1900 para os actuais mais de 7 mil milhões. Pela primeira vez na história da humanidade, o problema da comida começou a encontrar solução - nalguns casos até começou o problema contrário: o da obesidade - e de 1950 a meados dos anos 80, a população do mundo duplicou, passando de 2,5 mil milhões para 5 mil milhões. E, contra os pesadelos de Malthus, "conforme se tornaram mais ricas e aumentaram a educação, as pessoas começaram a ter menos filhos, e não mais, como se previa", o que, aliás, digo eu, por vezes, levanta problemas dramáticos, como é o caso de Portugal.

2. Saneamento. Para sustentar a vida, não basta a comida. É fundamental tratar resíduos e desperdícios. Sem isso, a água, essencial para a vida, fica contaminada e torna-se transmissora de calamidades, espalhando bactérias, vírus, parasitas, vermes. "Embora difícil de quantificar, parece que o principal problema de saúde ambiental do mundo continua a ser a contaminação da água para beber e para uso doméstico, combinada com a inexistência de um saneamento adequado para a eliminação de resíduos, fezes e urina." "Há relatos contemporâneos de aristocratas a defecar nos corredores de Versalhes e do Palais Royal. Na verdade, as sebes de Versalhes eram altas para servirem de divisórias entre os que aí se iam aliviar." Em 1980, "apenas 24 por cento da população mundial tinha acesso a saneamento decente. Em 2015, esse número subiu para 68 por cento". A maior percentagem de população sem água nem saneamento vive na África subsariana, mas, mesmo aí, houve "um aumento de 20 pontos percentuais no uso de água potável de fontes melhoradas de 1990 a 2015". Continuaremos. 
Anselmo Borges no Diário de Notícias 

Georgino Rocha — O Senhor vem. Acolhe-O e com ele prepara o teu futuro


A Igreja destaca o encontro definitivo com Jesus, o Senhor, para o inicio do Ano litúrgico. É uma atitude muito humana, de sábia pedagogia. Semelhante à do corredor que se lança na pista tendo bem presente a meta a alcançar. Os seus esforços estão todos ao serviço do êxito pretendido: escolha da posição no grupo de colegas que correm em conjunto, marcação de ritmos, reabastecimento de energias, aceitação benevolente do apoio dos circunstantes; tudo converge em alcançar o objectivo desejado; tudo está animado pela esperança activa e vigilante; tudo a aguardar que o sonho se converta em realidade e a surpresa supere a expectativa. Em cada passo, está já o começo da meta.

Marcos, o autor dos relatos dos episódios da vida de Jesus que se lêem nas celebrações dominicais deste ano, apresenta uma parábola em que visualiza a atitude dos discípulos perante o que vai acontecer. Situa-a no conjunto dos últimos ensinamentos de Jesus, antes de entrar no processo da paixão. Recorre a um estilo sóbrio e persuasivo. Aduz o exemplo da figueira estéril, do ladrão inclemente. Anuncia que haverá sinais a observar e a interpretar: sinais característicos dos tempos da grande tribulação, típicos de uma nova situação a emergir. E conclui: Vigiai para que não terdes a consciência ensonada e serdes surpreendidos.

A parábola é emblemática e breve a sua narração. (Mc, 13-33-37). Um homem faz uma viagem e confia os cuidados da casa aos seus empregados, assinalando a tarefa de cada um. Encarrega o porteiro do cuidado especial de vigilância. E deixa-os na expectativa de quando será o regresso. Marcos, tendo presente as quatro vigílias da noite que os soldados romanos observavam para mudar de turno, vai mencionando o cair da tarde, a meia-noite, a madrugada, o amanhecer. Pode ser a qualquer hora. Fica tudo em aberto. Não porque o dono da casa fomente a ansiedade ou queira provocar o sobressalto. Seria masoquismo. Mas porque ama os seus empregados e quer que desenvolvam capacidades adormecidas em tempos de acomodação, de certezas rígidas, de seguranças costumeiras; capacidades como a atenção ao que acontece à nossa volta e mais longe, o discernimento dos sinais que interpelam a nossa indiferença, a paciência no tempo de espera, a confiança que o encontro se realizará e que a festa do regresso se celebrará, a aventura de avançar na vida como se o Invisível se deixasse ver. E o dono volta. E o advento do Senhor Jesus acontece em Natal de plenitude.

Entretanto, prestai atenção: Vigiai! Que a surpresa não vos apanhe de improviso pela vossa dormência e indiferença. Esta consigna dada aos empregados, passa aos discípulos ouvintes e alarga-se a todos sem distinção. “O que vi digo a vós, digo-o a todos. Vigiai!”.

Vigiai, cuidando da minha casa feita em harmonia e biodiversidade, confiada desde os alvores da criação ao homem e à mulher, espelho da minha imagem e semelhança; velai para que seja um jardim onde dê gosto viver e conviver em cordial relação de amizade e gestão de recursos; velai pela hierarquia de verdades e não vos deixeis confundir por ideologias que visam alterar todo o sistema orgânico deste conjunto vital que vos deixo como herança.

Tende cuidado convosco. Respeitai-vos mutuamente como irmãos em humanidade, que eu quero ajudar a salvar. Que não haja sangue inocente derramado por ódio, retaliação, perseguição de consciência ou guerra de religião. Sois todos irmãos! Removei o que pode provocar distúrbios semelhantes. Vigiai pelo sustento de todos, sem distinção: comida saudável suficiente, água potável, cuidados de saúde integral, economia solidária sustentável, convivência em harmonia e estima mútua, abertura aos valores que expressam a nobreza humana de cada um, resposta consciente ao amor que Deus Pai vos tem. Sois Seus filhos e meus irmãos! Velai pela herança que vos confio. Olhai que nos espera um futuro de família em comunhão.

Aceitai a minha companhia, feita dom e guia, graça de misericórdia e amor de reconciliação. Desenvolvei a atitude teologal da fé, esperança e caridade. Reuni-vos como irmãos em assembleias dominicais, lede a palavra que vos deixo e comungai com dignidade o sacramento do meu corpo e sangue, a Eucaristia. É alimento para o vosso caminhar de peregrinos confiantes. Valorizai a Igreja, instituição em transformação missionária para ser cada vez mais serviço de salvação universal. Não vivais de saudades melancólicas. Avancemos, como atletas no estádio. Lembrai-vos do exemplo de Abraão, Moisés e tantos outros. Lede com atenção a carta aos cristãos de Roma que evoca a memória de quem pela fidelidade a Deus no quotidiano se tornou verdadeiramente exemplar. E atendei ao testemunho de Paulo, meu apóstolo, que se porta, como corredor de fundo: “Irmãos, não acho ter já alcançado o prémio, mas uma coisa faço: esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está adiante. Lanço-me em direcção à meta, em vista do prémio do alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo” (Fl 3, 13 e 14). A meta está já no primeiro passo da corrida. Procuremos iniciar bem e manter bom ritmo. A árvore está contida no gérmen da semente. Como o agricultor solícito, tratemos dela com cuidado. A surpresa do futuro prepara-se no presente.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Efeméride - Nascimento de Egas Moniz

1874-XI-29

«Nasceu em Avanca, no actual concelho de Estarreja e distrito de Aveiro, o Professor Doutor António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, ilustre cientista, pioneiro de descobrimentos médicos, que seria galardoado em 1949 com o Prémio Nobel de Fisiologia e de Medicina (Arquivo, X, pg. 325, e XXI, pgs. 277-282) – J.»

"Calendário Histórico de Aveiro" 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar


Quando passo por Avanca, vem-me sempre à memória a personalidade marcante em vários domínios do premiado Nobel da Medicina Egas Moniz, galardão partilhado com outro notável.
Egas Moniz nasceu neste dia e faleceu em 13 de dezembro de 1955, estando sepultado na sua terra-natal, ao lado de sua esposa. No monumento erguido para perpetuar a sua memória, em Avanca, pode ler-se uma legenda expressiva que muito aprecio: “Aqui viu luz nova luz da humanidade”, que sintetiza muitíssimo bem, em meu entender, a alta valia do seu mérito científico, mas ainda da sua envolvência multifacetada noutros domínios, desde a cultura, até à política, passando pela literatura, pela medicina e pelo colecionismo, bem patente na Casa Museu que legou à sua terra e região. Foi um notável conferencista e um apreciado orador.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

60 milhões de euros em 2018 para proteger o litoral



Em 2020, haverá garantias de estudos e trabalhos para proteger o litoral português, diz uma reportagem no Diário de Notícias. Esperamos que até lá as dunas do litoral aveirense suportem os ataques por vezes furiosos das ondas. Ficamos a aguardar com esperanças de que  nada de mau aconteça durante os próximos tempos.

«Uma das ações em destaque no grupo das primeiras 140 até 2020 é a que fará o desassoreamento da ria de Aveiro, um projeto que está orçamentado em 23,5 milhões de euros (ver mapa), e cujos inertes - as areias retiradas do fundo da ria - serão utilizados na zona imediatamente a sul, para fazer a tal realimentação sedimentar, numa zona onde a erosão costeira é já uma realidade - 20% da linha de costa baixa e arenosa constituída pelos sistemas de praia/duna já é afetada pela erosão.»

Gaivotas na hora da sesta


Não somos só nós, os humanos, que gostamos da sesta. As gaivotas, como outros animais, também sabem aproveitar os momentos certos para a sesta retemperadora. Ao longe nem tinha a certeza do que via, mas a máquina fotográfica levou-me a descobrir a mancha branca que divisei ao longe, no prolongamento da ilhota que se vê bem da ponta da Barra. Contudo, não compreendi a razão de não terem optado pela ilhota, com terra mais seca e porventura mais própria para o descanso. Mas as gaivotas lá terão as suas razões. Por algum motivo será, mas não houve hipótese de lhes perguntar.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Publicidade natalícia


A publicidade é uma arte. É a arte por excelência de vender ou de sugerir a compra de bens, tanto os de uso comum ou normal como os destinados a presentes em datas festivas, nomeadamente  o Natal. E há realmente publicidade de artigos para todos os gostos e idades. A publicidade não pode dispensar o nosso cuidado e análise, porque há muita publicidade enganosa, que é crime, mas que circula por aí, à vista de todos, sem merecer qualquer atenção da ASAE ou demais agentes obrigados a evitar a fraude.
Nos últimos dias, qualquer jornal ou revista é portador de autênticas edições publicitárias, com um ou outro texto alusivo à quadra que atravessamos, alguns com certa poesia e referências à ternura e ao bem e belo que o Natal nos traz cada ano. E depois lá vêm as peças de arte, vinhos, relógios, adereços, anéis e pulseiras, canetas de tinta permanente e outras, computadores, hotéis e restaurante, viagens de sonho e nem sei que mais, tudo para gente endinheirada, que a há neste recanto à beira-mar plantado.
Não sou contra os ricos que têm todo o direito de gastar o seu dinheiro como quiserem e onde quiserem, mas tenho pena dos que nesta quadra nem dinheiro têm para uma simples garrafa de espumante, um leitãozito, uma boa posta de bacalhau e uns bilharacos. Ao menos nós, os remediados, saibamos olhar para os que nada têm no dia a dia. A vida é assim...

Fernando Martins

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