terça-feira, 1 de setembro de 2015

Os Passadiços do Paiva

Passadiços (foto do Fugas)

Ultimamente tenho lido e ouvido falar dos já célebres Passadiços do Paiva, uma construção de madeira que serpenteia por paisagens deslumbrantes, permitindo um contacto direto e íntimo com a natureza pura. Li no Fugas, caderno do Público com edição semanal, aos sábados, e noutras revistas e blogues. E se gosto do que os jornalistas escrevem sobre este passadiço, no concelho de Arouca, entristece-me a certeza da minha impossibilidade de fazer aquele percurso, como milhares de pessoas decerto já experimentaram, para regalo dos olhos e da alma. 
No Fugas garante-se mesmo que o passadiço vai ser aumentado com mais uns 12 quilómetros, beneficiando de bares, museus e outros apoios que tornem mais atraentes a cultura da natureza e a vida sadia que ela proporciona.

Leia muito mais aqui e aqui.

Que fizeste ao teu irmão?

Uma crónica de de João Miguel Tavares 
no PÚBLICO de hoje


«Digam-me: em que momento é que deixámos de nos preocupar? Em que momento é que nos tornámos indiferentes ao sofrimento de centenas de milhares de pessoas, muitas das quais mulheres e crianças que perderam tudo e que buscam salvação na Europa, ao mesmo tempo que pintamos com cores de tragédia planetária a sobretaxa do IRS ou os números do desemprego? Aqueles que morrem asfixiados em camiões ou afogados no Mediterrâneo — eis os verdadeiros pobres. Mas a nossa piedade em relação a eles é ínfima, e é extraordinário que os estrondosos gritos de "parem com a austeridade" se transformem num murmúrio quase inaudível quanto se trata de pedir para salvar as vidas de quem nada tem.»

Dar

"Só estareis a dar quando vos derdes a vós mesmos"

Khalil Gibran (1883-1931) 

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Falta de água sugere reflexão

A água é um bem escasso 
em muitas regiões do mundo
Riacho em Piódão
As obras ligadas ao abastecimento de água, sem dúvida necessárias, privaram-nos hoje, durante o dia, desse precioso bem. E todos, certamente, sentimos quanto pesa no dia a dia, para os mais diversos fins, a água que nos é fornecida pela empresa abastecedora. Garrafões, alguidares, tachos e panelas, tudo serviu para armazenar água. Deu para perceber como é difícil viver sem ela. Quem ainda tem o motor para rega não deixou de o utilizar na emergência. Foi o nosso caso.

São conhecidas inúmeras histórias no nosso país de mortes provocadas pelos direitos adquiridos sobre as águas de riachos e ribeiros para rega de campos particulares. Um rego de água desviado podia dar em mortes. É que agua é vida. Também todos nós conhecemos nações onde a água é racionada e vale ouro. Um poço para abastecimento de água em certas aldeias é a maior riqueza a que um povo pode aspirar. 

Desde há muito que ouço que as guerras provocadas pela falta de água podem ocorrer a qualquer momento. E a simples falta de chuva, no nosso país, com a seca a acentuar-se, pode originar desastres  económicos e sociais  de monta. 

A água ainda há poucos anos era um bem quase gratuito e duradouro, mas presentemente já se clama que estamos à beira de a considerarmos como um bem a caminhar para a escassez. E o preço dela, quem tem de a pagar mês a mês, continua a subir.

Penso que este dia nos poderá servir de lição para no futuro cuidarmos de poupar água no uso diário, cuidando ainda de não a poluir. O Papa Francisco, com a sua mais recente encíclica, veio pôr em cima dos nossos ombros a missão de cuidarmos da natureza, onde a água ocupa um lugar de honra. 

domingo, 30 de agosto de 2015

Prazeres de férias

Impressões de férias 
Bar onde costumava tomar café

É óbvio que os prazeres de férias são diversos. Tenho para mim que não haverá duas pessoas com prazeres rigorosamente iguais. Também temos dias para nos sentirmos mais felizes que outros em tempo de férias. Eu gosto sobremaneira de silêncio, de paz interior, de estar com quem amo e por quem sou amado. Sinto-me bem a divagar por ruas tortuosas e a apreciar amplos horizontes. Gosto de identificar paisagens urbanas de tempos idos e de registar factos com história. Ler muito e variado, poesia, romance, ensaio e história. De tudo um pouco, afinal.
Em férias, tenho apetência por me encontrar comigo mesmo e com Deus. E mais ainda: com minha mulher, a Lita, com filhos e netos e demais familiares. Também aprecio uns petiscos e comida típica das terras por onde passo. Pena é que os restaurantes, salvo raras exceções, se fiquem pelos pratos triviais de sabores iguais em qualquer canto. E assim cheguei ao fim destas curtas férias na Figueira da Foz, neste verão de 2015. Até para o ano, se Deus quiser.

Um poema de João de Barros

Na romagem ao poeta figueirense





AQUELE MAR

Aquele mar da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…

Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…

Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…
Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.






NOTA: Edição de “Mar Alto” –  Figueira da Foz,
1 de Junho de 1969, no dia da Festa da Cidade ao poeta.



sábado, 29 de agosto de 2015

Dever de quem pensa

«É dever de quem pensa não ficar do lado dos carrascos»

Albert Camus (1913-1960), escritor

Li no PÚBLICO de hoje

Sobre as eleições

Crónica de Anselmo Borges no DN




Não costumo meter-me por estas bandas.
Faço-o hoje, pouco sistemático,
talvez um pouco desconexo. 
São desabafos.

1. Vivemos num mundo conturbado e perigoso. A globalização surge num quadro caótico, sem parâmetros de orientação básica. Por isso, grandes sociólogos, como U. Beck, Z. Bauman, E. Morin, apresentam como características próprias deste tempo a insegurança, a incerteza, o risco, a vulnerabilidade, a inquietação.
Participando da situação, a Europa também não está bem. Espiritualmente esvaziada, não acredita nela própria, nas suas raízes e valores. Quando num mundo globalizado se impunha uma Europa cada vez mais unida politicamente, o que se vê são fracturas crescentes. Veja-se a incapacidade de lidar juntamente com os fluxos migratórios imparáveis.
Neste quadro, a política não está para entretenimento de medíocres nem comentários sofistas.

A Palavra que iIumina o Coração

Reflexão de Georgino Rocha

«É de dentro do coração da pessoa 
que sai o que degrada ou enobrece
 a dignidade humana»



Jesus continua a dar-nos boas notícias nos seus ensinamentos. Aproveita oportunidades que as situações da vida lhe proporcionam ou cria factos que realizam o que, depois, anuncia em narrativas estimulantes. Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23. Hoje surge no seu caminho um grupo de fariseus e de doutores da Lei. Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente. Os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Castelo de Pombal — Se puder, não deixe de visitar

O meu fascínio pelos Castelos 

À chegada
O meu fascínio pelos castelos vem desde a meninice.  Talvez por influência do meu professor primário, Manuel Joaquim Ribau, que recordo com muito afeto.  A história sempre me levou a sonhar e a refletir sobre o nosso passado como povo que soube criar o sentido de nação, embora tardiamente, e de estado. Que fique claro: nos idos de D. Afonso Henriques não havia uma coisa nem outra. Ele era o Senhor e isso bastava para fazer brotar raízes que germinassem. Deixemos isso para os historiadores, que esses é que sabem disto. E fui então nestas férias até Pombal. 
A história, com lendas à mistura, pode ser lida na Net. Abençoada Net que nos abre tantas portas para o conhecimento. Contudo, não nos podemos fiar numa só fonte. 

No interior, com duas cisternas atrás de nós
O Castelo de Pombal vem do século XII, por iniciativa de Gualdim Pais, o Mestre da Ordem do Templo, que chegou a integrar as Cruzadas organizadas pelos Papas para a libertação e defesa da Terra Santa. Foi ampliado por D. Sancho I e muito depois por D, Manuel I, com a construção de melhorias significativas. 
Na hora da saída
Uns minutos para ganhar forças
Naqueles tempos, como hoje, as beneficiações ou alterações surgiam com as necessidades. E assim se foi aguentando. Com a 3.ª invasão francesa, em 1811, foi devastado pelas tropas napoleónicas, sendo recuperado e construído em 1940, em pleno Estado Novo, numa campanha pela qual Salazar quereria enaltecer o sentido pátrio. Não sei se apenas por isso se por razões culturais. De qualquer forma, os nossos castelos, tanto quanto vou percebendo fazem parte hoje dos itinerários turísticos de portugueses e estrangeiros. 

Outro ângulo do Castelo
E mais um ângulo
Na visita que registei em imagens, pude assistir a um filme de uns 13 minutos, em 3D, que conta a história atribulada do castelo, um pouco de cada época, está bem de ver. Quem lá for não deixe de ver o filme, que gentilmente é lembrado pela simpática funcionária do turismo local.

Sala de repouso no bar
Há um bar muito acolhedor onde saboreei o café da manhã. A sala do bar dá para uma esplanada donde se avista um panorama da região circundante. No piso superior há uma outra sala para descanso, com cómodos que permitem um retemperar de energias, já que a subida, pelo lado do cemitério é um pouco custosa. Difícil mesmo é a subida a partir da zona antiga da cidade. Dei umas  passadas, mas logo uma senhora jovem me alertou: «Não tente, que eu só subi isso uma vez e jurei para nunca mais.» Foi o que fiz. 

O Bosque

"O bosque seria muito triste se só cantassem 
os pássaros que cantam melhor".

Rabindranath Tagore (1861-1941)


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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Em Pombal à procura do Marquês

Um museu 
para recordar um pouco 
da nossa história

Secretária e cadeira do Marquês
Ontem foi dia de ir a Pombal. Por lá passara vezes sem conta, mas sempre com pressa, quando utilizava a estrada antiga, antes das autoestradas. A Pombal, sim senhor, para ver se encontrava por lá o Marquês, uma personalidade histórica controversa. Amada por uns e contestada por outros tantos ou mais. 
D. José I, o rei, confiava nele cegamente. Por ser um incompetente, politicamente falando, ou por razões que nos escapam. O homem, Sebastião José de Carvalho e Melo, conhecido por Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, um adepto feroz do iluminismo, tudo quanto fez, e muitíssimo foi, seria por bem do povo e do país. Se não fosse a bem seria a mal. Um ditador feroz, segundo a minha ótica. E nós, os de Aveiro, nunca lhe perdoaremos ter condenado e executado o Duque de Aveiro, cujo palácio em Lisboa foi incendiado, arrasado e coberto de sal o terreno onde estava implantado, para que nada nele germinasse. Foi tudo isto e muito mais o que me veio à cabeça quando cheguei a Pombal. 
Já agora, umas curtas histórias que li, há uns 40 anos, numa biografia do Marquês escrita por Mário Domingues, um escritor e jornalista. Julgo não estar errado. A primeira, garante o escritor, diz que depois da sua morte, lhe abriram o peito (não recordo por que motivo nem tenho o livro à mão para o reler), tendo os médicos descoberto que tinha pedras no coração. 
Talvez por isso, ou a história foi contada para nos levar a admitir a dureza do seu coração, o homem teria razões para se comportar com frieza e raiva perante os seus adversários. E a outra história conta que a Rainha D. Maria I o desterrou para Pombal, com a advertência de que não poderia pisar solo que não fosse o daquela vila. Sentindo saudades de Lisboa, cuja traça arquitetónica foi delineada por ele e seus obedientes artistas, depois do terramoto de 1755, com avanços antissísmicos e avenidas que ainda hoje nos espantam. 
Ora o marquês conseguiu realizar o seu sonho, sem transgredir nem ofender a Rainha, com um estratagema insólito, qual ovo de Colombo. Na carruagem que o conduziu colocou terra de Pombal onde pousou os seus pés, talvez pesados de vida longa e laboriosa e pela carga da sua indesmentível inteligência.
Pelo que calculo, as grandes cabeças (no sentido do saber e da inteligência, da bondade ou da tirania) encontram sempre soluções, por mais inesperadas que sejam.

Sobre o Marquês podem ler aqui


O Museu

Urna do Marquês, com  leões do seu brasão 


Tinteiro do Marquês com pena

O Museu fica na cidade velha, na Cadeia Velha, na Praça Marquês de Pombal, desde 2004, após obras de remodelação e adaptação do edifício. O edifício foi mandado construi pelo próprio Marquês em 1776 e o seu espólio, de valor histórico e artístico, merece ser apreciado. A entrada é gratuita e a funcionária é atenciosa e possuidora de histórias sobre a figura mais expressiva da terra. Torna-se difícil apreciar documento a documento, mas percebe-se o labor extraordinário do político e governante. Por exemplo, vi decretos que proibiam o uso de carruagens em Lisboa, da obrigatoriedade do uso de passaporte como medida de segurança, da abolição da escravatura em Portugal, dos privilégios a quem plantasse amoreiras (por causa da seda, está bem de ver, cuja indústria cresceu bastante), da Companhia dos Vinhos do Alto Douro, entre outros. O governante era, de facto incansável.
Bustos, gravuras, móveis, louças, atas, e muito mais, que me dispenso de referir para não saturar os meus amigos e leitores. Às fotos que publico acrescentarei um ou outro comentário. E o convite aqui fica: de passagem por Pombal, não deixem de visitar este museu.

NOTA: Amanhã, se puder, virei com o Castelo de Pombal

Pintura de João Teles no CAE da Figueira

Patente até 27  de setembro



Quando estou na Figueira da Foz, não prescindo de passar por este espaço de cultura e arte. Longe das horas de espetáculos, enquanto se aguarda a abertura da porta do anfiteatro, o silêncio é absoluto. Percebe-se que aqui é obrigatório respeitar quem está. Hoje, por exemplo é assim. Tomado o café no bar-restaurante caffe, com empregados simpáticos e acolhedores, passei com olhares curiosos por duas exposições aqui patentes.
A primeira que visitei, "Pontos de Vista" de João Manuel Teles, surpreendeu-me porque, sendo o artista natural de Aradas, Aveiro, onde nasceu em 1939, não fazia parte da lista dos meus conhecidos artistas aveirenses. 
Segundo as indicações promocionais do CAE (Centro de Artes e Espetáculos), este artista emigrou cedo para os Estados Unidos, onde desenvolveu as suas atividades profissionais, "mantendo sempre o seu interesse pela pintura e pelo desenho". E acrescenta que João Teles tem trabalhos em coleções particulares, tendo participado em exposições, quer nos Estados Unidos, quer em Portugal.
Esta exposição apresenta pinturas de paisagens e natureza morta, registrando-se que "as tintas esparsas e o bailado dos pincéis se encontram num conjunto de trabalhos no estilo impressionista com o acrílico".
É pertinente sublinhar que o artista, que é um autodidata, não foge à experimentação, não faltando nos seus trabalhos uma sensibilidade com emoções à vista. 


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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Padre César é o novo prior da Gafanha da Nazaré

Uma palavra amiga na hora da entrada

Padre César


Por razões já justificadas no texto que escrevi sobre a saída do Padre Francisco Melo, não pude estar presente na cerimónia de tomada de posse do novo prior da Gafanha da Nazaré, no passado dia 16 de agosto. Já expliquei ao meu amigo Padre César, como gosta que o tratem, a mágoa que senti pela minha ausência, explicação que ele compreendeu muito bem. É que a presença de paroquianos e amigos num ato relevante da vida de um qualquer sacerdote que assume funções de responsabilidade por mandato do Bispo Diocesano, para além de um gesto fraterno e solidário, simboliza um apoio efetivo e afetivo, que se há de manifestar tanto nas horas boas como nas horas menos boas.
Tenho presente a recomendação do Padre Francisco Melo no momento da sua partida, em que nos aconselha não só a apoiar e a colaborar com o Padre César, mas ainda a viver com ele uma lealdade saudável, fundamental para quem tem de liderar a nossa paróquia. Lealdade foi a palavra certa na hora certa que mais me ficou gravada na mente, de tão importante ela ser no meio cristão e, no nosso caso, no meio paroquial.

Na Figueira da Foz, de passagem, há 50 anos

No dia do nosso casamento 
— 7 de agosto de 1965

Na Figueira, hoje de manhã, com esplanada à vista
Há 50 anos mais uns dias, eu e a Lita passámos, apressados, pela Figueira da Foz. Foi no dia do nosso casamento, 7 de agosto de 1965, no Bunheiro, depois da boda que se realizou em Pardilhó em casa das tias Zulmira e Aidinha, quais mães solícitas como a tia Lurdes. Íamos a caminho da lua de mel numa residencial das Irmãs Concepcionistas, por sugestão de um casal amigo. 
Não importa agora falar do casamento, cuja cerimónia foi presidida pelo nosso comum amigo Padre Lé. Isso ficará para outra ocasião. Hoje quero tão-só recordar o motivo por que a Figueira da Foz ficou nas nossas memórias. 
A madrinha Zulmira, atenta, preocupada e solícita, havia preparado um bom farnel para a viagem e, eventualmente, para o jantar, com um pouco do muito que havia na mesa da boda. Ela garantiu-nos que nada faltaria e estou em crer de que assim seria.
Saímos de Pardilhó no velho Skoda, carro duro mas sempre operacional. Naquele tempo não se dava tanta importância a pormenores de luxos dos carros. Preciso era que andassem e nos levassem onde fosse necessário sem avarias. Nunca me recordo de aquele automóvel nos ter dado qualquer incómodo. Mas adiante.
A dada altura da viagem, que não era tão rápida como hoje, optámos por  parar para lanchar qualquer coisa e estacionámos à beira da estrada. De autoestradas ainda não se falava. Dizia-se com graça que uns franceses se queixaram de ter perdido a autoestrada ao sair de Lisboa com destino ao Porto e de só a terem encontrado perto da Invicta.
Tentámos encontrar o farnel e nada. Mas como diabo aconteceu isto? Talvez com a pressa, esquecemo-nos de conferir a carga do carro. Nem a madrinha Zulmira, tão organizada e extremamente cuidadosa, se apercebeu do nosso esquecimento. Soubemos depois que nunca mais se perdoou pelo que aconteceu. É claro que lhe dissemos que não morremos à fome…
Chegados à Figueira, ao fim da tarde, e estacionámos facilmente junto ao Mercado Municipal. Nessa altura ainda não se pagava pelo estacionamento, fosse onde fosse. E na esplanada do café, voltado para o rio Mondego, lá comemos umas sandes. 
É curioso que recordamos bem esse momento das sandes ajudadas por algum pirolito ou refrigerante parecido. Mas o que mais se fixou na minha memória foram os olhares da malta que por ali estava. Era sábado e devem ter reparado que éramos um casal especial, provavelmente casados de fresco. Vestidos de roupa nova, eu garantidamente de gravata, tudo indicaria uma certa anormalidade para um mês de agosto naquela estância balnear ainda com vestígios cosmopolitas. Olhares de través, sorrisos interrogativos, cochichos naturais como quem percebe que íamos de núpcias. E lá seguimos viagem até à hospedaria da Irmãs Concepcionistas, em Fátima, que muito bem nos acolheram e nos trataram como se príncipes fôssemos. E éramos, realmente, naquele dia.


domingo, 23 de agosto de 2015

Subir... Subir sempre


Aprecio gente que gosta de subir na vida, deixando para trás comodismos e melancolias. Subir, subir sempre, é desafio que deve ser assumido por todos, mesmo que isso implique esforço e coragem. A minha mulher, a Lita, mostra aqui que aceita desafios e tentou chegar ao cimo desta torre, pequena embora, na Serra da Boa Viagem. E não deixou de sorrir por ter chegado onde chegou. E prometeu mais.... Fica para a próxima.

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sábado, 22 de agosto de 2015

As mulheres nas religiões

Crónica de Anselmo Borges 




«Que caminho longo a percorrer 
até à dignidade na igualdade 
e à igualdade na dignidade!»


O Papa João Paulo I disse que Deus tanto é Pai como Mãe e, estando para lá do sexo, também poderia ser representado como mulher. O Vaticano não gostou. Mas é neste contexto do feminino e Deus que se conta uma estória. Ao contrário do que se lê e diz, Deus criou primeiro Eva e não Adão. Eva aborrecia-se, sentia-se só e pediu a Deus alguém semelhante a ela, com quem pudesse conviver e partilhar. Deus criou então Adão, mas com uma condição: para não ferir a sua susceptibilidade, Eva nunca lhe diria que foi criada antes dele. "Isso fica um segredo entre nós..., entre mulheres!"

As primeiras figurações da divindade foram femininas, por causa da fertilidade e maternidade. Depois, explica o filósofo F. Lenoir, com a sedentarização segundo um modelo maioritariamente patriarcal, aconteceu com as religiões o mesmo que com as aldeias e as cidades: "Os homens tomaram o seu controlo, relegando a mulher para um papel secundário ou até para uma ausência de papel, a não ser no seio do lar e sob a tutela do marido. As justificações teológicas vieram posteriormente." E o que é facto é que a maior parte das religiões têm "uma forte tendência para a misoginia". O taoísmo é significativamente diferente, porque é essencial nos seus ensinamentos a fusão do yin e do yang, do feminino e do masculino, como "penhor de acesso à imortalidade".

Acreditamos que Tu és o Santo de Deus


Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha


O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69. 

A crise atinge o auge: as multidões deixam de andar na sua companhia e perdem o gosto de o ouvir; os nobres judeus, após discussões intensas, “viram-lhe as costas”, deixando palavras mordazes; os discípulos, “escandalizados” pela vivacidade crescente e realista da mensagem anunciada, cansam-se e desanimam, dispersando-se. Resta o grupo dos Doze. Jesus sente o abandono, mas não cede em nada, não suaviza o alcance do discurso, não faz uma religião à medida do gosto de cada um nem das tradições legalistas. E seria tão fácil. Como ainda hoje se pode verificar.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Figueira da Foz — Poesia na Cidade




No Jardim Municipal da Figueira da Foz encontrei hoje poesia nos bancos onde por vezes descanso das caminhadas. Boa ideia para nos desafiar a buscar a harmonia da vida, que sem ela ficamos mais pobres e mais indiferentes às belezas que nos cercam. Boas leituras neste período do ano, com destaque para a poesia.

O sábio é sempre rico


"O rico nem sempre é sábio, 
mas o sábio é sempre rico"

Tales de Mileto (624 a.C.- 546 a.C.)

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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Partida do Padre Francisco Melo

Uma dívida 
que eu tinha para saldar

Padre Francisco Melo


No passado dia 16 de agosto, na Eucaristia de tomada de posse do novo pároco da Gafanha da Nazaré, pelas 10.30 horas, Padre César Fernandes, e consequente despedida oficial do Padre Francisco Melo, não pude estar presente por motivos de saúde. Tive muita pena pela saída de um amigo e gostaria de marcar presença na entrada de outro para a nobre missão de timoneiro desta mais que centenária barca da comunidade católica, que tem por padroeira Nossa Senhora da Nazaré.

Se não tive a oportunidade de pessoalmente dizer ao Padre Francisco, na hora certa, quanto apreciei o seu labor pastoral e a sua intervenção cívica, social e humana, não quero deixar cair em saco sem fundo essa minha obrigação. Faço-o, pois, agora e aqui, em espaço de férias, muito embora pudesse ter outro sabor a palavra amiga de viva voz. 

Desde há muito que nutro pelo Padre Francisco muita estima e consideração, vendo nele um padre frontal, justo, dinâmico e compreensivo, mas acima de tudo um apaixonado pelas promessas que assumiu na sua ordenação presbiteral. 

Pessoalmente senti e agradeço a simpatia e amizade com que me distinguiu em tantos momentos, a disponibilidade com que me ouvia, a serenidade e a maneira como compreendia as minhas limitações, os incentivos generosos com que me desafiava na minha ação pastoral e humana. Por tudo isto, o meu muito obrigado, com votos de que em Roma — onde vai especializar-se em Teologia Pastoral, junto ao túmulo de S. Pedro e sob o olhar terno, luminoso e desafiante do Papa Francisco — se deixe envolver pela beleza de artes, símbolos e testemunhos de santos e mártires que enformaram a nossa civilização e a fé de milhões e milhões de crentes e homens e mulheres de boa vontade, através de séculos.

Figueira da Foz: Palácio Sotto Mayor

Uma visita obrigatória



O palácio Sotto Mayor, que fica na rua Joaquim Sotto Mayor, na Figueira da Foz, é, ou deve ser, visita obrigatória para quem reside ou passa férias por estas bandas. Foi mandado construir por Joaquim Sotto Mayor, natural de Valpaços. Emigrado no Brasil, aí enriqueceu. De passagem pela Figueira da Foz, de tal modo gostou desta terra que resolveu edificar este palácio onde passou largas temporadas, com os seus familiares e muitos criados.
É curioso registar que esta rica moradia, de inspiração francesa do princípio do século passado, demorou 20 anos a ficar completa. Sem me deter muito sobre a beleza do palácio, permitam-me que destaque da decoração os trabalhos de António Ramalho, Joaquim Lopes, Dórdio Gomes, António Carneiro, entre outros artistas de renome da época. O primeiro arquiteto, Gaston Landeck, era gaulês. 
Em 1967, o palácio Sotto Mayor foi adquirido pela Sociedade Figueira Praia, sendo hoje um dos mais interessantes museus, pois retrata uma época onde predominavam riquezas de emigrantes brasileiros.

NOTA: Tenho por hábito interpelar os cicerones dos museus sobre curiosidades relacionadas  com os espaços que visito. Se eles estiverem para isso, e normalmente estão, ficamos sempre  mais enriquecidos. 



terça-feira, 18 de agosto de 2015

Estar na Figueira da Foz

Em férias, é claro

Marina com ponte à vista

Estar na Figueira da Foz, mesmo por curtos períodos de tempo, é sentir-me longe de algumas rotinas que cansam. Outros ambientes, embora com ventos semelhantes aos das minhas terras de origem, as Gafanhas, que a ria e o mar acarinham, dão-me uma certa tranquilidade, que para mim vale oiro.
Chegámos à tardinha. Eu e a minha Lita já por cá não passávamos há meses, por estranho que possa parecer. A vida é assim. Arrumadas as malas, sacos, saquinhos e saquetas, cai a noite. Na varanda, agora, com a cidade iluminada, indícios de que há muita gente em férias, ensaio o programa de amanhã. Na lista consta uma visita ao mar, de passagem apenas, já que é o mesmo nas nossas praias da Barra e Costa Nova, seguindo depois para a foz do Mondego, bem emoldurado por obras recentes. Depois direi e mostrarei.
A Figueira da Foz, a praia da moda de há décadas, não terá a fama que lhe acrescentou vida social e económica. Mantém, contudo, marcas indeléveis desse tempos áureos, de que apresentarei alguns registos fugazes, embora. Que as férias não são para grandes canseiras. 
Aproveito para desejar aos meus amigos o merecido descanso, valorizado por alegria e otimismo, que urge cultivar

sábado, 15 de agosto de 2015

Papalagui - um livrinho para férias



Ontem, alguém me telefonou antes de partir de férias para o Algarve, pedindo-me um livro emprestado para sugerir como leitura a um jovem. O livro, que li há décadas, estaria na minha desorganizada biblioteca. Livro fininho, que se lê de um trago, estaria perdido porque não o via há muito. Procurei durante bastante tempo e lá o achei. Li umas passagens para recordar. E seguiu viagem, com votos (meus) de que inspire em quem o vai ler uma vida mais contida neste mundo de consumismo desenfreado. 
É uma leitura simples e rápida? É, sim senhor. Terá interesse nos dias de hoje? Julgo que sim. Ao menos faz-nos pensar no exagero do consumismo que nos estraga... Todo o exagero estraga. 
Boas férias

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Voz político-moral global (2)

Crónica de Anselmo Borges 


«Francisco acaba de designar 
o dia 1 de Setembro como 
Dia Mundial de Oração 
pelo Cuidado da Criação»


O Papa Francisco tem consigo a missão decisiva de pôr ordem e renovar a Igreja. Mas sobre ele pesam igualmente responsabilidades históricas para com a humanidade toda, e também aqui o seu desempenho tem despertado, como disse Raúl Castro, "admiração mundial". Aliás, ele é um grande diplomata, afirmando o embaixador britânico junto da Santa Sé, Nagel Baker: "Nunca tivemos tanto trabalho. Todos os governos nos pedem continuamente in-formações sobre os movimentos do Papa Francisco."
Na continuação do texto de Sábado passado, apresento outros sinais da sua influência global.

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A Alegria do Amor A. M. 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