Uma dívida
que eu tinha para saldar
Padre Francisco Melo |
No passado dia 16 de agosto, na Eucaristia de tomada de posse do novo pároco da Gafanha da Nazaré, pelas 10.30 horas, Padre César Fernandes, e consequente despedida oficial do Padre Francisco Melo, não pude estar presente por motivos de saúde. Tive muita pena pela saída de um amigo e gostaria de marcar presença na entrada de outro para a nobre missão de timoneiro desta mais que centenária barca da comunidade católica, que tem por padroeira Nossa Senhora da Nazaré.
Se não tive a oportunidade de pessoalmente dizer ao Padre Francisco, na hora certa, quanto apreciei o seu labor pastoral e a sua intervenção cívica, social e humana, não quero deixar cair em saco sem fundo essa minha obrigação. Faço-o, pois, agora e aqui, em espaço de férias, muito embora pudesse ter outro sabor a palavra amiga de viva voz.
Desde há muito que nutro pelo Padre Francisco muita estima e consideração, vendo nele um padre frontal, justo, dinâmico e compreensivo, mas acima de tudo um apaixonado pelas promessas que assumiu na sua ordenação presbiteral.
Pessoalmente senti e agradeço a simpatia e amizade com que me distinguiu em tantos momentos, a disponibilidade com que me ouvia, a serenidade e a maneira como compreendia as minhas limitações, os incentivos generosos com que me desafiava na minha ação pastoral e humana. Por tudo isto, o meu muito obrigado, com votos de que em Roma — onde vai especializar-se em Teologia Pastoral, junto ao túmulo de S. Pedro e sob o olhar terno, luminoso e desafiante do Papa Francisco — se deixe envolver pela beleza de artes, símbolos e testemunhos de santos e mártires que enformaram a nossa civilização e a fé de milhões e milhões de crentes e homens e mulheres de boa vontade, através de séculos.
Há dias publiquei neste meu blogue palavras dos representantes das três paróquias (Gafanhas da Nazaré, Encarnação e Carmo) proferidas na Eucaristia de despedida do Padre Francisco Melo, que se celebrou no Centro de Recursos Mãe do Redentor, em 26 de julho, palavras que testemunham, claramente, quanto foi apreciado e amado por aquelas comunidades. Contudo, sei que muito ficou por dizer, embora o que ficou expresso seja o sentir geral do nosso povo pelo seu pároco que estava de partida. E confesso que gostei muito do que ouvi.
Em entrevista que concedeu ao jornal Timoneiro da Gafanha da Nazaré, de que foi diretor nesta mais recente fase que iniciou quando assumiu a paróquia, confessa que facilmente descobre que houve «opções que hoje já não faria», restando-lhe «a consciência tranquila de saber que há situações resolvidas, apesar de agora haver novas decisões, opções e soluções a implementar e a urgir uma resposta concreta».
Na mesma entrevista, diz que «gostaria de ter criado as condições» para que os paroquianos «tivessem mais gosto no seu sentido de pertença a esta comunidade e dela fizessem o seu caminho de discipulado de Jesus Cristo». Referiu a necessidade de mais agentes de pastoral e de mais formação, bem como «gostaria de ter resolvido o problema das instalações do Centro Social Paroquial Nossa Senhora da Nazaré e do nosso Agrupamento de Escuteiros».
Como momentos gratificantes, aponta «a celebração dos cem anos da paróquia pelo que significou de vivência em comunidade, desde a junção dos grupos corais à participação do povo que encheu a igreja matriz num dia de semana». Não escondeu, no entanto, que ao lado dos momentos gratificantes, não faltaram muitos «profundamente dolorosos, amargos e injustos».
O Padre Francisco Melo, porém, não se esqueceu de frisar que existem desafios, nomeadamente, entre outros, «falta de agentes pastorais, como catequistas, ministros da comunhão, leitores, membros para o grupo Cáritas, todos eles com mais e melhor formação humana e cristã». E disse: «há tendências “espiritualistas” que me parece que estão a invadir a paróquia e que precisam de atenção. Durante os últimos tempos foi algo que muito me preocupou e esforcei-me por clarificar situações e apontar caminhos evangélicos mais saudáveis na relação de cada um com Deus e com a comunidade cristã, sempre à luz do que é a boa nova de Jesus Cristo».
Nesta hora de despedida e na certeza de que continuará connosco e nós com ele, pela oração e pela amizade que unem sempre, sentimos que o Padre Francisco está e estará, realmente, ao serviço da Igreja, seja onde for, porque Deus nunca deixará de o guiar nos caminhos de verdade e de vida.
Fernando Martins