domingo, 21 de novembro de 2021

Organizar a esperança

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO



Segundo a dinâmica que, hoje, nos pede a Igreja, não é só com esmolas que se organiza a esperança. Trata-se de a traduzir diariamente em vida concreta nas relações humanas, no compromisso sociopolítico.

1. Quando era criança e adolescente, sabia muito bem quem eram os pobres. Eram homens, de saco às costas, que vinham de longe – ninguém sabia ao certo a sua origem – e batiam às portas dos moradores das aldeias serranas. Rezavam pelas almas dos seus antepassados. A minha avó insistia para que cantassem, porque cantar é rezar duas vezes. A ninguém se recusava a esmola tirada das coisas que todos cultivavam numa duríssima economia de subsistência. Havia uma família que tinha um bocado mais de terra e gado. Não havia pobre que batesse à sua porta e não fosse acolhido à mesa da família que também dispunha de um palheiro onde podiam pernoitar. Eram chamados “os pobres do Malheiro”. Uns ficavam uns dias; outros, antes de continuarem viagem, ofereciam-se para acompanharem livremente os trabalhos de quem tão generosamente os recebia.

sábado, 20 de novembro de 2021

MANUEL ALEGRE — As mãos

AS MÃOS 

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema — e são de terra.
Com mãos se faz a guerra — e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre

in "O Canto e as Armas"

NOTA: Ontem assisti, via TV, a uma homenagem ao poeta Manuel Alegre. Artistas conhecidos cantaram alguns dos seus expressivos poemas. Aqui fica a minha singela homenagem.

Ouvir o Silêncio. Ver o Invisível

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



Há perguntas ingénuas que parece quase tocarem o ridículo. No entanto, são das mais interessantes.

1 Exemplos: onde começa um ser humano? Começar, não apenas no sentido cronológico, mas quase diria topográfico... Em que instante começou um ser humano? Aliás, a pergunta do início é similar à do fim: Que instante é esse em que um ser humano deixa, pela morte, de pertencer a este mundo e ao tempo? No tal sentido quase topográfico, a pergunta poderia ser: o que é que um ser humano vê, quando olha, não os olhos, mas o olhar de alguém? Hegel disse que vê o abismo do mundo. Se estivermos atentos, é isso: quando dois olhares se olham no olhar contemplam o abismo do mundo e o seu mistério.
A pergunta pode explicitar-se, perguntando: o que é que está por detrás e no íntimo e no fundo do que se vê? O que é o invisível do visível? Ou então: o que é que o visível torna visível? Melhor: o que é que o visível, precisamente ao mostrar, esconde? O que é que está na raiz do que vem à luz, do que se manifesta?

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Tourada na Praia da Barra

Tourada em 1921

Tourada na Barra, sim senhor! Aconteceu em 1921 e continuou. A arena era desmontável. Não conheço a história nem quando deixaram de organizar as touradas na Barra. Um tema para os curiosos.

Solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo

Reflexão de Georgino Rocha 
para este fim de semana



DAR TESTEMUNHO DA VERDADE

Hora decisiva, a que Jesus vive no encontro com Pilatos, ocorrido no palácio do governador romano. Está em causa a confirmação da sentença de morte, já pronunciada pelas autoridades político-religiosas judaicas. Hora em que se condensa a urgência humana de saber quem é Jesus e o permanente desejo de Deus de dar a conhecer quem Ele é. A pergunta de Pilatos desvenda esta corrente profunda da humanidade. A resposta de Jesus revela claramente a sua identidade expressa na missão da realeza ao serviço da verdade. Dois homens frente a frente: o acusado de querer ser rei mostra uma autoridade moral que deixa o seu interlocutor perplexo e sem alegações. Apenas a pergunta que percorre toda a história: o que é a verdade? - Jo 18, 33b-37. É esta que humaniza a vida e dignifica as relações humanas. E quanta falta faz, sempre, mas sobretudo, hoje.
O Papa Francisco assinala com uma interpelante mensagem o Dia Mundial dos Jovens celebrado neste domingo. Tem como referência o episódio de Saulo/Paulo a caminho de Damasco e glosa a ordem que se faz ouvir: «Levanta-te e testemunha!». “Ao abraçar a vida nova que nos é dada no Batismo, recebemos também uma missão do Senhor: «Serás minha testemunha». É uma missão que pede a nossa dedicação e faz mudar a vida”.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

FAROL com proteção

Farol em perigo  com proteção de tabuado de eucalipto - 1947

 

ILHAS DA RIA - Um livro de Maria José Santana

 

ILHAS DA RIA é um livro da jornalista Maria José Santana, com edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos e fotografia de capa de Adriano Miranda. Os temas apresentados neste livro já foram publicados no PÚBLICO, jornal de que é colaboradora desde 2005.
ILHAS DA RIA tem 80 páginas e é de pequena dimensão, mas bastante interessante para as gentes da nossa região e não só. Muito se tem falado através dos tempos da Ria de Aveiro, também identificada por Laguna, mas nem todos conhecerão as ilhas que nela existem e que já tiveram vida com histórias que permanecem na memória de muitos.
Quem há pelas povoações circundantes que não conheça ou tenha ouvido falar da ilha do Monte Farinha, da Testada, de Sama (conhecida por quinta do Rebocho), entre outras, sendo certo que nelas se cultivou milho, feijão, batata, melancia, vinho e até se produziu sal, ao lado de rebanhos e cavalos, como recorda a autora, que falou com proprietários e descendentes de quem lá morou ou nelas passou férias?
Maria José Santana não se ficou pelas ilhas e pelos que nelas trabalharam ou veranearam, mas vai mais longe quando aborda as origens da Ria e os seus historiadores, como os escritores e artistas, de diversos matizes, que a souberam descrever e cantar.

F. M.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

EFEMÉRIDE - D. António dos Santos, Bispo da Guarda

No dia 17 de novembro de 1979, D. António dos Santos, até então bispo auxiliar de Aveiro, foi nomeado Bispo da Guarda pelo Papa João Paulo II. Manteve-se à frente da diocese egitaniense até 1 de dezembro de 2005. Faleceu no dia 26 de março de 2018.
Conheci D. António dos Santos desde o tempo em que foi prior de São Salvador, Ílhavo, e dele guardo gratas recordações assentes numa dedicação à Igreja sem limites e numa humildade cativante. Nessa altura, nas periódicas reuniões arciprestais, exibia frequentemente o Vaticano II para todos ficarmos a saber como devíamos agir.
Depois, como Bispo Auxiliar de Aveiro, soube estar à altura de colaborar com entusiasmo com D. Manuel de Almeida Trindade. Seguiu para a Guarda e quando nos encontrávamos dirigia-me, com muita naturalidade, palavras amigas, de onde sobressaía a simplicidade e a amizade do seu coração.

PEDOFILIA: Bispos portugueses querem apuramento histórico

Conferência Episcopal realça “acompanhamento” das vítimas e quer “apuramento histórico desta grave questão”. A comissão terá “real independência” para investigar. A CEP foi unânime na decisão.

Eugénio Fonseca 
Eugénio Fonseca, um dos signatários da carta que pedia uma investigação independente à pedofilia por parte de pessoas ligadas à Igreja Católica em Portugal (ver CV da semana passada), considera que a decisão dos bispos é “corajosa” e “assertiva”. De passagem por Aveiro, onde participou numa ação do Dia Mundial dos Pobres, o antigo presidente da Cáritas Portuguesa louvou a “coragem e humildade” de tudo quererem esclarecer e de “assumirem responsabilidades passadas”. 
Eugénio Fonseca adianta, no entanto, que falta definir quem faz parte da comissão. “É preciso que sejam pessoas independentes, totalmente isentas, da Igreja e muitas fora da Igreja, e que a comissão tenha meios para trabalhar”, nomeadamente acesso a todos os casos, pessoas e documentos. 
Eugénio Fonseca considera que nesta questão “monstruosa”, que “contraria os princípios fundantes da Igreja”, é preciso humildade para reconhecer o pecado, apoio para as vítimas e para os abusadores, que são doentes ou sofrem distúrbios, e dinamismos de prevenção para que tais situações não voltem a acontecer.

NOTA: Publicado no "Correio do Vouga"

terça-feira, 16 de novembro de 2021

O Mar a quem tanto devemos

Dia Nacional do Mar



O Dia Nacional do Mar celebra-se hoje, 16 de Novembro, e nós, os portugueses, temos boas razões para o festejar, ou não fôssemos, de certo modo, desde há séculos, tão dependentes dele. Por isso, seria de esperar que algo de especial fizéssemos para mostrar ao mundo quanto lhe devemos. Contudo, ainda hoje não ouvi nem vi nada sobre isso. Talvez por estar metido em casa envolvido por outras tarefas.
O mar tem assumido uma importância estratégica para Portugal, sendo um setor vital para a economia portuguesa e para o produto interno bruto (PIB), conforme li e sei, mas ainda li que em 2013 o mar que nos envolve deu trabalho a 100 mil pessoas, produzindo uma riqueza anual de 8 mil milhões de euros.
A celebração do Dia Nacional do Mar teve origem na "Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar", que entrou em vigor a 16 de novembro de 1994. Portugal ratificou o documento em 1997.

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