quarta-feira, 21 de março de 2007

Dia Mundial da Poesia

Um livro
de José Tolentino Mendonça
para esta Primavera




“A NOITE ABRE MEUS OLHOS”


Neste Dia Mundial da Poesia, com os calendários a convidarem-nos a prestar mais atenção ao que produzem os nossos poetas, sugiro um livro de José Tolentino Mendonça, “A NOITE ABRE MEUS OLHOS”.
José Tolentino Mendonça, que tem merecido lugar de destaque no meu blogue, à semelhança do que tem acontecido em diversos órgãos de comunicação social, é, de facto, um poeta inspirado e que mostra uma sensibilidade muito grande e até original. Digo-o hoje e aqui por me parecer que precisa de ser muito mais conhecido pelo portugueses.
Poesia de vários dos seus livros foi reunida nesta edição para nos encantar. “Os poemas deste livro fazem sua a condição de prosseguir nomeando o possível, respondendo ao impossível, assim fazendo ressoar a dualidade no âmago do mundo, assim inscrevendo nele os seus trajectos sem regresso”, diz Silvina Rodrigues Lopes no posfácio da obra que veio a lume em 2006.
Reli vários poemas insertos nesta colectânea, alguns já meditados nos livros donde foram extraídos, para integrarem um todo harmonioso que, de forma mais visível, nos mostra o poeta José Tolentino Mendonça, elogiado por quem sabe distinguir os grandes artistas dos fazedores de poesia.
O autor de “A NOITE ABRE MEUS OLHOS”, que também é padre e docente universitário, tem sempre presente o sagrado e a força do divino que o ilumina e inspira. José Tolentino Mendonça reflecte como poucos a vida que nos cerca e lhe dá ânimo para nos ensinar a ser poetas, nem que seja no interior de cada um.
Deixo aos meus amigos e leitores esta proposta de leitura, para a Primavera que hoje começa. Não uma leitura fugidia, mas meditada dia após dia.

Fernando Martins



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Um poema de José Tolentino Mendonça

A NOITE ABRE MEUS OLHOS
:
Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes

A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta
o amor é uma noite a que se chega só

Primavera

Primavera 

Três poemas para sentirmos os cheiros e as cores de mais uma Primavera, como sugeriu a amiga Sara que mos enviou. Que a Primavera traga a todos alegria e ternura.


Berço

A cegonha chega ao ninho
Que tão alto ali a espera
Procura berço do Sol
Seu berço de Primavera.
Vem de longe muito longe
Em viagem tão comprida
Quem não amar este berço
Sabe tão pouco da vida.

Matilde Rosa Araújo
(retirado do livro "As Fadas Verdes")
:

Árvore

A semente dorme na
placenta, húmida, da
Terra. Mas começam a
percorrê-la murmúrios
de água e primavera.
Torna-se raiz e caule,
que irrompe da sua
prisão sem luz para
beber os ventos e a
claridade do dia.
O tronco firma-se como
um mastro e caminha
para os céus, claros,
num apelo a ninhos.
Em breve, brevezinho,
desfralda-se em ramos
E folhas que atraem
uma floração de asas e
de cânticos. E a árvore
começa a ser, a dar e a
permitir vida.

Luísa Dacosta

(texto incluído na colectânea organizada por 
José António Gomes "Conto Estrelas em Ti")


Primavera 


A romãzeira borda
o sorriso do sol
no lenço dos namorados


João Pedro Mésseder e Francisco Duarte Mangas 
(retirado do livro "Breviário do Sol")

PRIMAVERA


A Primavera aí está. Com o Sol que ilumina e aquece. Que dá cor e alegria à natureza. Vamos aproveitá-la da melhor maneira. Nem que seja a apreciar uma flor dos nossos jardins. Ou das muitas que enfeitam todos os recantos, sem que ninguém as tivesse semeado.
Boa Primavera para todos.

terça-feira, 20 de março de 2007

Um artigo de António Rego


A Exaltação do Amor

Embora exista e deva ser exercido o direito à indignação, nem sempre é a melhor resposta a afirmações que, não sendo mentira, ocultam o essencial da verdade. Claro que me refiro a um conjunto de notícias e reportagens surgidas entre nós sobre a Exortação Apostólica "Sacramentum Caritatis". Extraída das propostas essenciais do último Sínodo dos Bispos, ganha um voo exaltante na integração teológica, litúrgica e pastoral que Bento XVI imprime à Eucaristia como o maior dos dons concedidos à Igreja.
Não apresenta qualquer nova rubrica. Há, isso sim, uma reafirmação vigorosa da incomensurável dignidade do mistério Eucarístico em todas as suas vertentes. E as "exortações" concretas aos intervenientes na acção litúrgica, não são mais que breves afinações no concerto sublime de louvor que constitui cada celebração Eucarística. Reduzir este documento à questão do celibato, do latim e do gregoriano, é distorcer por inteiro a missão de Pedro que, com os Doze, vai à frente do rebanho apontando luminosamente o caminho traçado pelo Mestre.
A teologia e a pastoral encarnadas têm direito e dever de estudar e repropor novos olhares no campo da liturgia, da arte, da participação, da cultura, das sensibilidades dos intervenientes nos diferentes escalões etários e nas aproximações ou distanciamentos no itinerário da fé. Assim, também se torna importante um olhar crítico, iluminado pelo Espírito, para se caminhar ao ritmo de Deus e do homem. E, felizmente, na Igreja esse debate existe, não apenas a nível de laboratório teológico mas também de cristãos que na sua fidelidade ao Evangelho rompem novos caminhos sugeridos pelo Espírito que habita a Igreja e os novos dinamismos do mundo. Mas tudo isso é diferente duma limitação, primária e obtusa, dum instrumento pastoral, a um ressequido legalismo litúrgico. A melhor resposta que os cristãos podem dar a (esta) avalanche de banalidades, é ler o documento. Não é longo. É simples, claro, directo. Mas que se não perca o seu espírito. E a sua referência à beleza - uma nota recortada dum bispo português que participou activamente no Sínodo. Reduzir este documento a rubricas é ler um poema como se fosse uma fria peça jurídica. E estamos perante a exaltação do grande Sacramento do Amor.

Campanha contra a pobreza

Mais de mil milhões de católicos de todo o mundo
estão a ser convidados a apoiar
a campanha global contra a pobreza
“FAÇA A AJUDA FUNCIONAR.
O MUNDO NÃO PODE ESPERAR”
A Cáritas Internacional e a Cooperação Internacional pelo Desenvolvimento e Solidariedade querem pressionar os países ricos para que cumpram as suas promessas de erradicar a pobreza. Trata-se de promessas feitas pelos líderes do G8, em 2005, numa reunião que decorreu nos Estados Unidos e que vão no sentido de mais ajuda ao desenvolvimento e ao cancelamento da dívida dos países pobres. Esta campanha mundial chama-se “Faça a ajuda funcionar. O mundo não pode esperar”. A Cáritas Portuguesa respondeu ao apelo e criou um “site” com informação sobre a campanha e a forma de pressão que entendem que deve ser feita. “Propõe que se escrevam pequenos cartões com frases que indiquem, no fundo, um compromisso, um desafio para os nossos tempos face ao tema. Há também desenhos que poderemos escolher dentro de um pequeno portfólio. Depois há outras iniciativas que são propostas mais de nível local: sensibilização das populações locais”, explica Isabel Monteiro, a presidente em exercício desta organização católica. :
Fonte: RR

Um artigo de Alexandre Cruz



De Aveiro
para o mundo,
nos 400 anos de Vieira
::


1. No passado dia 17 de Março, partiu (transitando da Ria de Aveiro para o Mar, na Praia da Barra) o Veleiro que percorrerá os mares respirados, vividos e sonhados pelo arauto “em português” do século 17, o Padre António Vieira. O contexto desta assinalável partida para todas as viagens com futuro, são os 400 anos de nascimento de António Vieira. Tal efeméride, numa vasta parceria, rasgadora de horizontes novos, mesmo ao jeito de Vieira, pretenderá criar pontes entre todos os mares do pensamento e cultura com a finalidade de mais e melhor ser despertada a nossa própria “identidade e cidadania”, esta precisamente a temática envolvente de todo este projecto transversal.
António Vieira, incontornável personalidade intercultural da história da Europa, de Portugal e do Brasil (presente na história dos livros que se abrem ao fascínio das boas novidades), nasceu a 6 de Fevereiro de 1608, em Lisboa. Este é o motivo feliz gerador de pontes numa pluralidade aberta que sabe promover encontro criativo de culturas, de modos de fazer, ser e pensar. É neste mesmo ambiente de novas navegações que o veleiro CHIC (Cruzeiro Histórico Identidade e Cidadania) irá percorrer os caminhos marítimos que o humanista precursor dos direitos humanos viveu no seu (e nosso) problemático tempo do século 17.
2. O horizonte universalista da iniciativa, para além do veleiro agora a caminho de Cabo Verde e do Brasil, é de envolvências amplas, ilimitadas mesmo, quase como que querendo assumir a identidade e cidadania de Vieira, que se projecta no infinito do tempo que abre, pelo surpreendente, todas as portas a novas possibilidades. Se na sua época de primeira globalização Vieira, “imperador da língua portuguesa” (no dizer de Pessoa), “ergueu” a ‘lusofonia’ e percorreu os lugares determinantes da Europa em convulsão, não haverá melhor forma de o relembrar, nos seus 400 anos de nascimento, que reavivar e atravessar todos os mares, indo aos “lugares” essenciais “em português” para reinterpretar tudo, os tempos e os modos desta globalização.
Surge este horizonte, essencialmente aberto e culturalmente plural, no âmbito do projecto de investigação ICIPAV 2008 (Identidade e Cidadania: Padre António Vieira 2008) da Universidade de Aveiro. Será com “chama” visionária, pelo reinterpretar das viagens - das utopias às realidades - desse e do nosso tempo, que está garantida a certeza de chegar a bom porto, sendo este, em última instância, uma dignidade humana festejada em “feira universal”.
3. Mais que qualquer “camisola” que António Vieira tenha vestido o essencial, hoje, será o apreciar os frutos da sua árvore. Vieira, tal como os “grandes” (que sempre são pequenos) de todos os tempos, dá tudo de si aos outros. Será esta a chave de leitura pretendida desta homenagem em que a dádiva de Vieira será o pretexto para nos reencontrarmos, hoje, na nossa identidade plural em cidadania planetária. Mesmo para o Portugal que tem “medo de existir”, e talvez mais ainda nesta menoridade de vazios, será importante o reaprender das brilhantes viagens interculturais que nos precederam para nos deixarmos agarrar e engrandecer interiormente; neste processo Vieira é personalidade incontornável.
Interessando a sua vida muito acima dos reconhecimentos formais, todavia valerá a pena dizer-se, quando do terceiro centenário da morte de Vieira (18 de Julho de 1997), que a Assembleia da República proclamou o Padre António Vieira como “um dos maiores representantes da identidade nacional” [Lopes, António (1999). Vieira o encoberto – 74 anos de evolução da sua utopia. Cascais: Principia], no seu papel fundamental na consolidação da restauração da independência de 1640 e no panorama sócio-cultural.
4. No mundo actual, é rica de oportunidade e refrescante de imaginação (que António Damásio diz rarear em tempos de quase-exclusividade da razão tecnológica) a iniciativa que cruzará mares em língua portuguesa; “em língua portuguesa”, tal como também Agostinho da Silva desejaria (nos cem anos de seu nascimento que celebrámos).
Hoje, que lições tirar da vida de António Vieira, das suas causas humaníssimas de cidadão do mundo? Que lugar actual para os seus sonhos, as suas utopias? Que tempo, hoje, para as nossas expectativas, as esperanças renovadas, em último grau, a utopia? É bem significativo que segundo o Thomas More (1478-1535), teria sido um navegador português quem, nos princípios do século XVI, lhe teria relatado o modo de viver, tão racional e humano, dos habitantes de umas ilhas por onde teria passado, a que chamou “Utopia”. Seria essa descrição do navegador português que Thomas More nos transmitiria na sua tão célebre obra, Utopia (publicada em 1516). Quem dera que despertássemos, cada minuto de cada dia e sempre mais, esse dinâmico e visionário Rafael Hytlodeu que habita o nosso sangue (Hytlodeu, esse cidadão do mundo que More concebeu como tendo nascido em Portugal).
5. Não haverá melhor forma de prestar tributo que começar por navegar os seus mares neste século XXI. Iremos acompanhando a frescura das águas atlânticas (que “falam” português) no veleiro “de” António Vieira. Para “seguir” viagem:
http://www.ua.pt/vieira2008

Aveiro, cidade jardim


"AVEIRO CIDADE JARDIM
- JANELAS E VARANDAS
FLORIDAS"


Para incentivar a descoberta e o gos-to pelos espaços verdes da cidade, tirando partido dos jardins, públicos ou privados, proporcionando, desse modo, novas vivências e formas de estar, o civismo, a consciência ambiental e o contacto com a natureza, a Câmara Municipal de Aveiro lança o concurso "Aveiro Cidade Jardim - Janelas e Varandas Floridas".
Assim, e com a finalidade de embelezar as janelas e varandas no perímetro urbano da cidade, o concurso “Aveiro Cidade Jardim – Janelas e Varandas Floridas” destina-se a todos os moradores, pessoas que possuam residência dentro do perímetro urbano, a título individual ou colectivo, e todas as entidades públicas ou privadas que possuam ou ocupem imóveis na referida área.
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Fé na poesia

"É fundamental que a poesia tenha cidadania"




HOMENAGEM AO POETA
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA


A vida e obra de José Tolentino Mendonça acabam de ser reconhecidas publicamente pela Câmara Municipal de Santo Tirso. Em cerimónia que decorreu no dia 17 de Março, no salão nobre dos Paços do Concelho, o padre e poeta foi alvo de homenagem no âmbito da iniciativa camarária "Fé na Poesia".
O edil Castro Fernandes foi o primeiro a usar da palavra para referir que o objectivo da iniciativa "a Poesia está na rua" era a de "retirar a poesia dos lugares comuns, fazendo-a escutar com audácia no maior número de locais e espaços públicos do concelho". Este responsável considerou uma honra homenagear pela quarta vez um distinto poeta português, depois de em 2004, 2005 e 2006 o ter feito, respectivamente, com António Ramos Rosa, Cruzeiro Seixas e Manuel António Pina.
Sobre a iniciativa "A fé na poesia", o autarca referiu que em Santo Tirso "se continua a sentir no ar a presença de poetas, independentemente, de seis deles terem aceite o convite de entrar pelo arco do convento para experimentarem no mais fundo recolhimento o húmido silêncio espiritual".
Emocionado, o Padre Tolentino de Mendonça agradeceu a cerimónia, enaltecendo a grandiosidade desta iniciativa de a "Semana da Poesia", este ano dedicada à "Fé na Poesia" e referindo ser "muito importante que num espaço como Santo Tirso, a poesia tenha lugar". "É fundamental que a poesia tenha cidadania", sublinhou, afirmando que "esta iniciativa de colocar poetas em retiro é de extrema importância.
O poeta continuou as congratulações à autarquia pela iniciativa, defendendo sempre que a "poesia é uma grande iniciação à vida do espírito" e "prepara-nos para o silêncio das nossas vidas". A comprovar todo o discurso de José Tolentino Mendonça, no final da cerimónia, Ivo Machado, um dos poetas em retiro conventual, e comovido com as palavras do homenageado, confessou que não escrevia há cerca de um mês e agora, em clausura conventual, "difícil é não largar o lápis"."Não sei dizer mais .nem acerca de poesia, nem acerca de fé", afirmou o poeta, finalizando assim a cerimónia.
Nascido em 1965, em Machico, na Madeira, José Tolentino Mendonça iniciou os seus estudos de Teologia em 1982 e foi ordenado sacerdote em Julho de 1990, após o que foi para Roma para frequentar o mestrado em Ciências Bíblicas, tendo-se doutorado em Teologia Biblíca pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). É, actualmente, director da revista de teologia Didaskalia, editada pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, onde é professor auxiliar.
A sua poesia é considerada unanimemente como uma das mais rigorosas e originais da moderna poesia portuguesa. Como ensaísta, publicou textos sobre Ruy Belo, Teixeira de Pascoaes e Eugénio de Andrade. É biblista, tendo realizado estudos como "O Outro Que Me Torna Justo" e "Métodos de Leitura da Bíblia". Traduziu do hebraico o "Cântico dos Cânticos" e o "Livro de Ruth".Além dos seus sete livros de poesia, entre os quais "A Noite abre os meus olhos" (2006) - uma antologia da sua obra poética - é autor de uma peça de teatro, dois ensaios sobre Teologia e diversos artigos em revistas científicas desta matéria.
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Fonte: Ecclesia

segunda-feira, 19 de março de 2007

História inventada

Cientista israelita
diz que ossário de Jesus
é uma história inventada
::
“Um dos cientistas que aparecem no documentário sobre o ossário de Jesus contesta agora o fundamento das alegadas provas recolhidas pelos realizadores do programa. Stephen Pfann, paleógrafo e investigador da Universidade da Terra Santa, de Jerusalém, diz que James Cameron e Simcha Jacobovici se enganaram redondamente em relação a uma das peças fundamentais. "Pega-se num bocadinho de ciência, inventa-se uma história e faz-se um novo Terminator ou Vida de Brian, afirmou Pfann, não poupando na crítica ao premiado realizador de Hollywood. O que está em causa é uma inscrição que diz uma coisa diferente daquela que os realizadores do documentário pretendem. No filme, produzido pelo Discovery Channel, sugere-se que um ossário encontrado em 1980 conteria os ossos de Jesus Cristo, Maria Madalena, um filho de ambos e restante família. A inscrição diria "Mariamene e Mara", o que significa "Maria a mestra". Jacobovici afirmava, em defesa da sua tese, que o nome Mariamene era raro, e que o seu aparecimento em vários textos cristãos é interpretado como sendo referido a Maria Madalena.Stephen Pfann diz que nada mais errado. Citado pela AP, o investigador diz que os nomes foram escritos por mãos diferentes: Mariame está escrito em grego formal; quando os restos mortais de outra mulher se juntaram aos da primeira, mão diferente acrescentou, em cursivo, "kai Mara", o que quer dizer "e Mara". Mara é uma forma diferente do nome Marta. Assim, a leitura de Pfann é que o ossário não contém os ossos de Maria, "a mestra", mas de "Maria e Marta". "Assim sendo, não há razão nenhuma para ligar este ossário a Maria Madalena ou a qualquer outra pessoa na tradição bíblica, extrabíblica ou eclesial." Com o objectivo de conseguir uma boa história, o documentário compromete-se com alguns "disparates", critica Pfann.”
: Li este texto no PÚBLICO de hoje. Mais uma vez, houve alguém que gostou de brincar com coisas sérias. Agindo certamente de má-fé, quis criar públicos para o documentário que, mesmo assim, não deixará de correr mundo. A comunicação social está cheia de manigâncias destas. A Internet também. Ainda há dias os meus e.mail’s foram invadidos por um abaixo-assinado sobre um filme horrível, em que se apresentava Jesus Cristo como homossexual, em práticas com os seus apóstolos. Estranhei o caso por nunca ter lido nada disso em qualquer órgão de comunicação social, dos muitos, portugueses e estrangeiros, que diariamente consulto. Não lhe dei seguimento como se pedia. Dias depois veio o desmentido. Mais uma vez, alguém sem moral quis brincar com coisa séria, explorando quem julga que todas as pessoas são honestas. Temos de estar muito atentos.

domingo, 18 de março de 2007

Um poema de Miguel Torga

REGRESSO Regresso às fragas de onde me roubaram. Ah! Minha serra, minha dura infância! Como os rijos carvalhos me acenaram, Mal eu surgi, cansado, na distância! Cantava cada fonte à sua porta: O poeta voltou! Atrás ia ficando a terra morta Dos versos que o desterro esfarelou. Depois o céu abriu-se num sorriso, E eu deitei-me no colo dos penedos A contar aventuras e segredos Aos deuses do meu velho paraíso. In “Diário VI”

Ao sabor da maré

A HISTÓRIA DA JOANA (ANDREIA)
A menina que foi roubada no hospital de Penafiel, há 13 meses, já foi resti-tuída à família, no sábado. Houve festa em Cernadelo. A família é mesmo muito pobres e a criança, antes Joana e agora Andreia, mal cabe em casa dos pais, por tão pequena ser a habitação. Os meios de comunicação social deram largos espaços à notícia do roubo da criança e agora à sua devolução aos pais. Ele desempregado e ela a trabalhar no que calha, no campo e em casa. Recebem um subsídio do Rendimento Social de Inserção. Por força da divulgação do caso, a pobreza da família passou a ser conhecida no País. Pelos vistos, agora, não falta quem queira ajudar. A casa vai ser ampliada e melhorada e uma empresa vai oferecer os móveis, à medida, para uma vida mais decente. Também a cozinha vai ser equipada. A Junta de Freguesia e o senhorio darão o seu apoio. Tudo muito bem A solidariedade e a justiça social continuam com muitas lacunas, apesar do muito que se vai fazendo. Toda a freguesia sabia da pobreza em que vivia aquela família. Todas as autoridades políticas e sociais daquela zona decerto já haviam sido informadas da debilidade económica dos pais da Andreia. Ninguém, pelos vistos, fez nada. E foi preciso que a Andreia tivesse sido roubada aos pais, no hospital em que nasceu, para que a solidariedade se manifestasse. Claro que apenas depois de a menina ser devolvida à família, com direito a festa. Moral da história: importa estarmos atentos às carências dos mais pobres que vivem à nossa volta, sem que seja necessário a comunicação social acordar-nos da letargia em que por vezes vivemos. Fernando Martins

Bienal Internacional de Cerâmica Artística em Aveiro

Painel cerâmico de Aveiro

15 mil euros para o primeiro prémio



O prazo de inscrição para a participação na VIII Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro termina no dia 4 de Maio, estando o respectivo secretariado instalado na Divisão de Acção Cultural, sita na Casa Municipal da Cultura / Edifício Fernando Távora, em Aveiro.
A bienal está aberta a artistas nacionais ou estrangeiros, com um máximo de duas obras por artista, as quais poderão ser trabalhos individuais ou colectivos. No momento da inscrição, e para além do respectivo boletim de inscrição, cada artista concorrente deve apresentar uma nota biográfica dactilografada, com um máximo de 20 linhas, pelo menos uma foto da obra, em formato digital ou em diapositivo a cores, e descrição da obra proposta, com nota explicativa das características técnicas utilizadas, respectivas medidas e posição da peça para efeitos de exposição. Mediante os elementos apresentados, o júri da bienal fará uma primeira triagem das obras, sendo comunicado aos concorrentes seleccionados que devem entregar os seus trabalhos até 22 de Junho.
As obras seleccionadas e as obras dos artistas convidados pela organização estarão em exposição de 8 a 30 de Dezembro, no Parque de Exposições de Aveiro. As entradas para a exposição serão pagas.
:
Leia mais em CV

Venda de artesanato

De 4 a 8 de Abril, no Rossio






FEIRA DA PRIMAVERA
EM AVEIRO



Para “proporcionar, à cidade e a quem nos visita, mais uma exposição e venda de artesanato”, a associação A Barrica promove, de 4 a 8 de Abril, a Feira da Primavera, no Rossio. Cerâmica, fumeiro, bijuteria, calçado, cestaria e trapologia são algumas das artes tradicionais que integram a feira.
O artesanato, sob as mais variadas formas, é uma riqueza genuína do nosso povo. Por isso, acho que se justifica, perfeitamente, uma passagem por lá. Para ver, apreciar, comprar e provar...

Um artigo de Anselmo Borges, no DN



Dezanove de Março:
o Dia do Pai





O génio de Kant não estaria num dos seus momentos mais altos, quando, num texto célebre, pôs esta pergunta na boca de Deus: "Não conseguimos libertar-nos deste pensamento, mas também não podemos suportá-lo: que um ser, que nos representamos como o supremo entre todos os possíveis, de certo modo se diga a si mesmo: 'Eu sou de eternidade em eternidade, fora de mim não existe senão o que existe por minha vontade; mas então donde venho eu?' Aqui, tudo se afunda debaixo dos nossos pés."
Há realmente uma pergunta vertiginosa, que constitui um abismo para a razão humana: qual é o Fundo sem fundo donde vem tudo o que vem à luz e se manifesta? Mas essa é uma pergunta do Homem e para o Homem, não de Deus e para Deus. Deus não pergunta, porque é Deus. O animal não pergunta, porque é animal. A pergunta é própria do Homem, e a razão é que ele é ao mesmo tempo finito e abertura ao infinito. Perguntar é constitutivo do Homem, e a pergunta radical é precisamente: qual é o Fundo sem fundo donde vem tudo o que vem à luz e se manifesta? Porque ao mesmo tempo que se manifesta esconde-se - revela-se e oculta-se simultaneamente.
Na tentativa de balbuciarem algo sobre o Mistério último da realidade, a fé e a teologia cristãs falam de Deus como comunhão de diferentes - Pai, Filho e Espírito Santo -, sendo o Pai o Princípio sem princípio, a Fonte originária, Criador de tudo o que existe e Mistério abissal, invisível e inexprimível. Ele diz-se no Filho, que é o Verbo, a Palavra do Pai, e o Espírito Santo é o Amor que une o Pai e o Filho.
Pai é alguém que está na origem de, algo ou alguém que é força criadora do novo.
:
Leia mais em DN

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 15


O TIO JOÃO AMARANTE

Caríssima/o:

Apetecia-me escrever
como o Prior Resende:

«E agora um episódio
para fechar este capítulo.»

Vamos então espreitar das páginas 85 a 87, da sua Monografia, e enquadremos a cena em verdadeiro espírito quaresmal.

«João Amarante, de proveniência incerta, veio de abalada por aí fora até poisar na charneca paulenta da Gafanha, a uns 200 metros ao sul da actual estrada de Ílhavo para a Costa Nova. Mal tratado pela fome, lá ia remexendo a areia, a ver se dela podia colheitar algumas batatas e ervilhas que lhe enchessem o estômago e lhe cobrissem os ossos. Mas aquela magreira não se debelava, nem pela polpa dos caranguejos, nem pelas caldeiradas dos barbudos camarões.
A necessidade obrigava-o a arrotear a improdutiva areia. Destruída a primeira barraca de madeira, surgiu uma nova construção de barro, mais sólida, que ele preventivamente cercava de junqueiras para arrostar a inclemente invasão das areias furiosamente tocadas dos ventos. Por algum tempo viveu feliz o tio Amarante com as caldeiradas de batatas condimentadas com os caranguejos e camarões.
Eram assim as caldeiradas dos pobres, à falta da saborosa enguia ou do delicioso peixe do mar. As ervilhas e as favas eram um repasto mais reconfortante para a hora do meio dia. Pouco lhe aproveitavam as marinhas além porque não havia porco na salgadeira. Vivia pobre o tio Amarante, e ainda por cima se riam dele. Desde épocas remotas até há poucos anos, era a Gafanha largo e abundante pascigo para as manadas, sobretudo de touros, que infestavam estas paragens. As da Carapinheira por aqui se demoravam frequentemente. Os pastores, maldosamente e também levados pela fome, perseguiam o tio Amarante, escolhendo para teatro das suas diabruras a vivenda do pobre velho. Repetidamente lhe destruíam a horta, arrombavam a porta e furavam o forno.
Era o forno que sobremaneira atraía estes importunos visitantes, e o tio Amarante todas as semanas tinha que repetir a fornada e contar com estes improvisados comensais, porque as boroas batiam sempre as asas e passavam do forno para o estômago daqueles pastores. Era um tormento com que não podia compadecer-se a provada paciência do bom velho. A esta desgraça outra maior se juntou. A Câmara de Vagos, com a sua proverbial magreza, também quis espoliar aquele infeliz que nem carne tinha para cobrir os ossos. Era ele um esquelético cabide que mal segurava uns reduzidos e andrajosos farrapos.
Quis ela auferir alguns cobres de foro pelas areias e pela pousada do pobre. Como encontrasse resistência às suas pretensões, mandava-lhe arrasar a choupana. Por várias vezes, teve o pobre homem de se conformar com a violência da autoridade, e construir de novo. Câmara e pastores eram os algozes atrevidos que muito e muito o faziam sofrer, e que mais lhe faziam dissecar as suas já minguadas carnes.
Um dia, porém, aquele pássaro que pretendiam depenar, fixou as penas e bateu as asas. De cuecas, bordão na mão, alforje bem fornecido às costas, seguiu para Lisboa.
Fez-se anunciar no Paço Real e é recebido por Sua Majestade. Antes, porém, de desfiar todo o seu rosário de amarguras, ajoelha para beijar a mão real. Não é consentida comovedoramente a reverência a quem tão humildemente se apresenta nos Paços Reais. Ouvida a queixa e o pedido de providências, é mandado em paz com a promessa de deferimento.
Efectivamente a Câmara recebe ordens terminantes que garantiam ao Amarante a posse tranquila de uma grande extensão de terreno, livre de quaisquer encargos. É aquele terreno (agora subdividido) que constituiu a chamada “Quinta do Amarante”.
Foi a única quinta da Gafanha que nunca pagou foro por munificência régia, a pedido do Amarante que, de ceroulas curtas e de sacola às costas, foi a pé a Lisboa falar a Sua Majestade. Estes acontecimentos deram-se por cerca do ano 1800, ou ainda antes, e o facto ainda hoje se relata com frequência.»

Ora digam lá que esta estória não valeu bem os minutos que demorou a ler?!

Manuel

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