domingo, 25 de abril de 2021

Para quem escreve Hans Küng?

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Hans Küng (1928-2021) realizou-se como o teólogo mais católico, o mais universal, pela amplidão e profundidade da sua obra.

1. Para a colecção Nova Consciência do Círculos de Leitores, escolhi um livro muito belo do grande historiador católico, Jean Delumeau, com um título sem originalidade, Aquilo em que acredito [1]. É obra de um avô, muito sábio e atento que, perante as perguntas das suas netas de cinco e sete anos, se esforçou por lhes deixar uma herança: as razões da esperança cristã de que vivia e de que tinha vivido, mas em bases que já não podiam ser as do passado e muito menos as adequadas à orientação das novas gerações. Continuo a recomendá-lo com fervor.
O conhecimento da problemática eclesial dos anos oitenta e noventa do século passado, que esse livro expõe, é absolutamente essencial. Por não se ter querido ouvir as vozes que reclamavam mudanças urgentes, acumularam-se atrasos e perderam-se forças para responder aos novos desafios. Parece-me que alguns sectores da Igreja continuam cegos e guias de cegos, com uma exibida pretensão de guardas da autêntica ortodoxia católica. Como o próprio Jesus diz, no Evangelho segundo S. João, os cegos que teimam em dizer que vêem não têm cura [2].
Foi também no Círculo de Leitores (Temas e Debates) que surgiu uma obra de Hans Küng com um título muito parecido: Aquilo em que creio [3]​.

D. Dinis - Falem com as flores




Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss'amigo
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss'amado
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é san'e vivo
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é viv'e sano
e será vosc[o] ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

D. Dinis

Nota: Estava eu na doce tranquilidade da minha casa a ouvir a chuva que caía persistente lá fora. O tempo estava  fresquinho e eu sonhava com a Primavera acolhedora e florida que haveria de vir. Entra a Lita com flores do nosso quintal. Coloca-as numa jarra e os meus olhos brilharam. Neste primeiro dia da semana, aqui ficam os meus votos de muita paz com saúde e poesia. D. Dinis dá o mote. Falem com as flores.

sábado, 24 de abril de 2021

Jesus e a Igreja. 2

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



«Como poderá ser a Igreja Católica, se se deixar orientar pelo Evangelho, por aquilo que Jesus anunciou e queria?»

A interpretação da Eucaristia como sacrifício teve várias consequências perniciosas. A maior foi a da ordenação sacra sacerdotal. Mas o Novo Testamento evitou a palavra hiereus - o sacerdote sacrificador de vítimas para oferecer à divindade e aplacá-la e pedir os seus favores. Jesus, que era leigo, foi vítima dos sacerdotes do Templo e, citando os profetas, colocou estas palavras na boca de Deus: "Ide aprender: eu quero justiça e misericórdia e não sacrifícios; os vossos sacrifícios aborrecem-me." Evidentemente, com a ordenação sacra, a mulher, ritualmente impura ficou excluída de presidir à Eucaristia.
O Novo Testamento diz que, pelo baptismo, todos formam um povo de sacerdotes, profetas e reis. Mas, com a ordenação sacerdotal, surgiu a distinção, essencial e não de grau, entre o "sacerdócio comum" dos fiéis e o "sacerdócio ordenado" e, com ela, o estabelecimento de duas classes na Igreja: o clero e os leigos. E entrou "a lepra do clericalismo", na expressão do Papa Francisco: de facto, a "hierarquia" (poder sacro) fica com todos os poderes - julgo que não se pensa suficientemente no que significou ser padre ou bispo, com o poder de "trazer Cristo à Terra, com a consagração", perdoar os pecados, decidindo da salvação eterna ou da condenação das pessoas... -, usando e abusando do poder..., até à tragédia da pedofilia, privilégios de toda a ordem...

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Dia Mundial do Livro

Neste Dia Mundial do Livro, 23 de Abril, haveria muito que dizer sobre a importância dos livros e das bibliotecas, como depósitos de saberes e fontes de cultura. A partir deles, calcorreamos caminhos de sonho e magia, encontramos outros povos e culturas, damos asas à nossa imaginação, ocupamos tempos livres, abafamos mágoas, recriamos alegrias.
Os livros são os nossos melhores amigos. Estão à nossa espera e sempre disponíveis, levam-nos a viajar no tempo e no espaço. São, para mim, companheiros fiéis de muitas horas e nunca me cansam.  
Com livros nas estantes nunca estamos sós e imensas vezes nas releituras conseguimos descobrir pormenores que nos haviam escapado. Boas leituras nas horas vagas, nos momentos de descontração, nas alturas de desânimo, nos tempos livres. Leiam e sugiram leituras. 

FM

Mini Feira Popular foi um sucesso

Uma evocação

 Este foi um cartaz da Mini Feira popular que se realizou no salão da nossa Igreja matriz, nos tempos do Pe. Miguel Lencastre. Recordo esses eventos com muita saudade, ao mesmo tempo que lembro esta iniciativa que teve como propósito unir o povo residente nos lugares da freguesia e paróquia da Gafanha da Nazaré: Cale da Vila, Chave, Cambeia, Bebedouro, Marinha Velha, Forte e Barra. Cada fim de semana ficaria responsável por um lugar.  A barraca da quermesse foi desenhada pelo artista Zé Penicheiro, amigo pessoal do Pe. Miguel. Vejam só! Os mais antigos hão de ter agradáveis reações.
Num apontamento que registei no verso deste cartaz diz assim: Podemos contar por sucessos todos os anteriores fins de semana, em que a palavra CONVÍVIO tem sido íman a atrair multidões. Ainda no passado domingo calculámos que se encontravam na sala, a dado momento, nada menos de 600 pessoas, e que teriam passado pela Mini Feira mais de 1200 pessoas nesse dia. 
A atuação do conjunto tem sido sucesso e tem revelado verdadeiros valores regionais da canção. 

Nota: Texto reeditado 

Ruy Belo - A flor da solidão


Vivemos convivemos resistimos
cruzámo-nos nas ruas sob as árvores
fizemos porventura algum ruído
traçámos pelo ar tímidos gestos
e no entanto por que palavras dizer
que nosso era um coração solitário silencioso
silencioso profundamente silencioso
e afinal o nosso olhar olhava
como os olhos que olham nas florestas
No centro da cidade tumultuosa
no ângulo visível das múltiplas arestas
a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa
Nós tínhamos um nome para isto
mas o tempo dos homens impiedoso
matou-nos quem morria até aqui
E neste coração ambicioso
sozinho como um homem morre cristo
Que nome dar agora ao vazio
que mana irresistível como um rio?
Ele nasce engrossa e vai desaguar
e entre tantos gestos é um mar
Vivemos convivemos resistimos
sem bem saber que em tudo um pouco nós morremos

Chamados a seguir o Bom Pastor

Reflexão de Georgino Rocha para o domingo do Bom Pastor



“É isto mesmo que as vocações tendem a fazer: gerar e regenerar vidas todos os dias. O Senhor deseja moldar corações de pais, corações de mães, corações abertos, corações capazes de grandes ímpetos, generosos na doação, compassivos para consolar as angústias e firmes para fortalecer as esperanças”. 

Papa Francisco

O domingo IV da Páscoa é também conhecido pelo domingo do Bom Pastor, domingo em que a Igreja celebra o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, domingo em que cada um/a de nós é convidado/a a rever a sua relação com Jesus, o Belo Pastor que nos encanta pela bondade e pelo exemplo, domingo que nos faz ver “em pano de fundo” a atitude de figuras que exercem a autoridade pública e religiosa.
João, o autor que faz a narrativa da parábola com grande mestria, lança mão de recursos vários para apresentar a identidade de Jesus. Após a cura do cego de nascença e do diálogo tenso que o envolve, pressente-se a necessidade de uma afirmação clara, de uma interpelação forte dos interlocutores, as autoridades dos judeus. E recorre à parábola do rebanho que tem pastores mercenários e um apenas que o não é. Jo 10, 11-18.
“Os cristãos da Igreja primitiva popularizaram a figura de Jesus na imagem do Bom Pastor com uma ovelha aos ombros. Preferiam representar assim o seu Senhor, antes que crucificado. O Bom Pastor era para eles uma imagem amiga, símbolo da bondade, da solicitude amorosa do amor a toda a prova e assim chegou até nós. Que acertada imagem para um mundo que caminha sem rumo e sem guia!” Homilética.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Dia Mundial da Terra - O que fazemos de concreto?

paisagem açoriana 

O Dia Mundial da Terra celebra-se hoje, 22 de Abril, tendo sido criado em 1970 para sensibilizar todo o mundo para a defesa de um planeta sem poluição, como garantia de um ambiente onde os seres vivos possam usufruir de melhores e mais dignas condições de felicidade. Ano após ano refletimos sobre esta questão, mas logo depois vem outro dia com outras questões ou não questões que nos fazem mudar de rumo. A nossa mãe Terra fica presa ao calendário com os nossos votos de que passe bem e até pró ano.
Outros Dias Mundiais virão, pelo menos um para cada dia dos 365 que regista o calendário. E as nossas preocupações fundamentais, as que se ligam concretamente ao planeta que habitamos, caem no limbo do esquecimento
Os cientistas e investigadores, bem apoiados por ativistas, não tantos quantos seriam necessários, continuam a alertar-nos para os perigos do aumento da temperatura global da Terra, da extinção de espécies animais, da crescente subida de nível dos oceanos e da cada vez maior escassez da água potável. Nem se esquecem de lembrar as catástrofes naturais, as tempestades, as secas e ondas de calor.
Tenho escrito que o planeta Terra, a casa comum que habitamos, como têm alertado os Papas da minha geração, precisa mais do que nunca dos nossos cuidados e dos nossos carinhos. E o que fazemos de concreto, individual ou comunitariamente? 

F. M. 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Estamos a destruir o planeta

‘Estamos a destruir o planeta e o egoísmo de cada geração não se preocupa em perguntar como é que vão viver os que virão depois (...)’

Saramago

No PÚBLICO de hoje

terça-feira, 20 de abril de 2021

Gafanha da Nazaré - Rua Professor Filipe

Manuel Filipe Fernandes nasceu na Gafanha da Nazaré, a 18 de dezembro de 1899. Filho de Duarte Filipe e Ana de Jesus Caleiro.
No ano de 1919 obteve o seu Diploma na Escola de Ensino Normal de Aveiro, tendo exercido a sua profissão de professor primário na Escola Primária da Cale da Vila por mais de 50 anos.
A 9 de abril de 1928 contraiu matrimónio com Maria da Luz Carlos, também professora primária na Gafanha da Nazaré. Deste casamento nasceram dois filhos, Juvenal, oficial da Marinha Mercante, e Hermengarda [professora].
O Professor Filipe era um pessoa muito preocupada com o desenvolvimento da Gafanha e além do seu papel como educador, em 1938 torna-se o sócio n.º1 da Cooperativa Elétrica da Gafanha e o primeiro Presidente da Direção desta instituição.
A Cooperativa Elétrica da Gafanha tinha como objetivo a aquisição e fornecimento de corrente elétrica de forma a alimentar a iluminação pública e de particulares que desejassem associar-se. Entre os fundadores encontramos o Mestre Mónica e João Maria Vilarinho.
A 2 de junho de1969 foi agraciado com a Medalha da Ordem da Instrução e nesse mesmo ano, recebe uma homenagem por parte dos seus colegas de profissão.
Faleceu a 22 de janeiro de 1986, com 86 anos.

Informação Memorial sobre o Topónimo

O professor Filipe foi um cidadão muito respeitado na Gafanha da Nazaré, tanto como professor da escola da Cale da Vila, onde foi mestre de algumas gerações, como na comunidade, envolvendo-se, direta ou indiretamente, na defesa dos interesses da nossa terra. Homem de trato simples e afável, modesto no viver e simpático por natureza na conversa com toda a gente, marcou muitos dos que tiveram o privilégio de o ter por amigo. Com a maior naturalidade, deslocava-se de bicicleta na Gafanha da Nazaré e quando ia a Ílhavo e Aveiro. Depois de aposentado, por limite de idade (70 anos), colaborou nos serviços da paróquia, no registo de batizados, casamentos e óbitos, usando uma caligrafia muito personalizada. 
Permitam-me que destaque neste curto memorial o gosto que ele tinha pelas flores que cultivava no seu quintal, com talhões feitos a régua e esquadro, flores que se destinavam, julgo que fundamentalmente, a enfeitar a campa de sua esposa, falecida em 20 de Abril de 1950. Todos os domingos, antes da missa da 11 horas, ia ao cemitério depositar o ramo de flores que amorosamente colhia no seu jardim

Informação Histórica do Topónimo

1 - Trabalho elaborado pelo CDI (Centro de Documentação de Ílhavo) da CMI;
2 - Na Gafanha da Nazaré, encontramos a Rua Prof. Filipe. Este topónimo foi uma proposta apresentada pela Junta da Freguesia da Gafanha da Nazaré a 29 de agosto de 1991 (Ata da JFGN n.º 38/91, de 29 de agosto de 1991).

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