quinta-feira, 16 de julho de 2009

Apreciar a avaliação

1. O recente relatório apresentado pela OCDE sobre a avaliação de professores em Portugal (com 24 equilibradas recomendações) poderá sugerir uma reflexão sempre oportuna sobre a avaliação. A cultura da avaliação será um pressuposto fundamental em todos os quadrantes da vida social. Sem avaliação não se progride em ordem ao justo reconhecer do mérito. “Nem ao mar nem à serra”, mas entende-se a habitual resistência à avaliação, como a resistência à mudança de hábitos. As últimas três décadas portuguesas, também na consolidação das instituições de participação democrática, muitas vezes, geraram o “vício” da avaliação fictícia em que às antiguidades equivaleriam as progressões nas carreiras.
2. Esse hábito de avaliação quase virtual (ou até meramente administrativa), terá sido, há que dizê-lo, um lógico gerador de anticorpos à justa e rigorosa avaliação, quando ela chegasse às práticas comuns de procedimentos regulares habituais. Normalmente é assim: o mau estar instala-se na hora de aplicar critérios de avaliação, também porque ela é mais vista como punitiva que como pedagógica. Em quantas circunstâncias a avaliação, infelizmente, é quase aquele inquisidor-mor mais que uma acção normal e pedagógica em ordem ao (sempre mais) desejado progresso. Os anticorpos em relação à avaliação (outra coisa será a burocracia “do 8 ao 80”…) também demonstra que não estamos à vontade e desfocámos…
3. Sabe-se que, mesmo em tempos de crise e mesmo para além de injustiças que possam reinar em determinados sectores (dos “dois” lados da barricada…), a verdade é que ao bom trabalhador todos o querem, a quem se aplica querendo aprender mais cada dia todos o procuram, a quem alia conhecimento à inovação não faltam propostas…Ou seja, também apreciarmos a avaliação e sermos avaliadores de nós próprios poderá gerar aquela força e determinação que da crise e da tempestade sabe gerar horizontes de bonança…
Alexandre Cruz

Igreja altera regras nas missas para prevenir contágio da gripe

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A nossa gente: Joana Pontes

Joana Pontes
EXEMPLO DE PERSEVERANÇA
Neste mês de Julho, em que a Câmara Municipal de Ílhavo promove, entre os dias 17 e 25, mais uma edição da Semana Jovem, dedicamos a rubrica “A Nossa Gente” a Joana Raquel Rodrigues Pontes. Nascida a 6 de Abril de 1984, em São Salvador, Município de Ílhavo, esta jovem munícipe frequentou a Escola Primária da Cale da Vila e realizou o Ciclo Preparatório na EB 2,3 da Gafanha da Nazaré. No Verão de 1996, com apenas doze anos, constituiu e dirigiu o “Clube da Leitura”, projecto que teve lugar no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré e que visava uma melhor e mais saudável ocupação dos tempos livres de crianças e jovens com carências económicas. Concluído o Curso Tecnológico de Animação Sociocultural (Ensino Secundário), ingressou, em 2004, no Instituto Superior Politécnico Gaya para se licenciar em Intervenção Social e Comunitária. Por iniciativa própria e na qualidade de sócia da Associação Tampa Amiga, Joana Pontes desenvolveu o Projecto “Vamos pôr esta ideia a Andar”, alimentado pela recolha de tampas de plástico para aquisição de Ajudas Técnicas para Instituições do Município de Ílhavo. Esta notável e meritória iniciativa, à qual a Câmara Municipal de Ílhavo se associou, e na qual colaboraram dezenas de pessoas anónimas, estabelecimentos comerciais, Escolas e outras instituições do Município e também de fora dele, deu os seus primeiros frutos quando, em Janeiro de 2008, Joana Pontes, após a recolha de cinco toneladas de tampas para reciclar, conseguiu assegurar a entrega de duas cadeiras de rodas à Fundação Prior Sardo e ao CASCI. Mas, Joana Pontes abraçou ainda outras causas: em Dezembro de 2005 dinamizou uma Campanha de Recolha de Brinquedos e VHS para o Hospital Pediátrico de Coimbra e para a Pediatria do IPO do Porto e, em Dezembro de 2006, colaborou na campanha “Vamos aprender a semear sorrisinhos” em beneficência da Associação Porta Aberta (Palmela). Licenciada em Serviço Social desde Novembro de 2008, Joana Pontes encontra-se, actualmente, a realizar o Curso de Mediadora EFA no Instituto Português da Juventude de Aveiro e prepara-se para frequentar o Curso de Formadora na mesma instituição, assim como a Pós-Graduação em Psicogerontologia Social no ISCIA – Aveiro. Durante o seu percurso de vida, esta jovem enfrenta um Raquitismo Hipofosfatémico, já ultrapassou uma Tuberculose e uma Anorexia, mas a sua perseverança e o seu dinamismo nunca a impediram de concretizar os seus sonhos, fazendo dela um exemplo de coragem que a motivam para intervir no âmbito social sempre com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos que a rodeiam.
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In Viver em... da CMI

Férias: Um poema de José Tolentino Mendonça

Oração pelas férias Dá-nos, Senhor, depois de todas as fadigas um tempo verdadeiro de paz. Dá-nos, depois de tantas palavras o dom do silêncio que purifica e recria. Dá-nos, depois das insatisfações que travam a alegria como um barco nítido. Dá-nos, a possibilidade de viver sem pressa, deslumbrados com a surpresa que os dias trazem pela mão. Dá-nos a capacidade de viver de olhos abertos, de viver intensamente. Dá-nos de novo a graça do canto, do assobio que imita a felicidade aérea dos pássaros, das imagens reencontradas, do riso partilhado. Dá-nos a força de impedir que a dura necessidade esmague em nós o desejo e a espuma branca dos sonhos se dissipe. Faz-nos peregrinos que no visível escutam a melodia secreta do invisível. José Tolentino Mendonça

Da urgência ao planeamento

1. Diz o povo que «homem prevenido vale por dois». A sábia afirmação não entra numa lógica da quantidade mas procura ajudar a entender que a prevenção é o único caminho do futuro. Quantos “acidentes” provêm de descuidos, desleixos, distracção, facilitação. De quando em quando discorre-se sobre a capacidade lusitana para o improviso (grandes obras assim o demonstram), mas também de um défice de planeamento sistemático, metódico e rigoroso. No mundo que corre, onde todas as coisas estão ligadas e onde a complexidade de tudo obriga ao reconhecimento das redes de ligação entre diferentes quadrantes, planear será evitar que se ande dois passos para a frente e um para trás.
2. Aquela imagem pacata e resignada em que numa estrada pública vem um sector de cada vez (água, saneamento, gás, cabo…), e em que cada um abre e fecha a própria rua durando a obra anos a fio e sendo um interminável incómodo para os utentes… ou aquela obra de estrada realizada em pleno dia, ao calor do sol abrasador para os trabalhadores (porque não de noite?), a que se junta a incómoda paragem e confusão de trânsito, mau para os trabalhadores, mau para os utilizadores da via pública… aquela imagem… Os exemplos poderiam não terminar, num claro apresentar as desvantagens do não planear e do não assumir a equipa como o centro das decisões/acções.
3. É certo que muitas vezes tem de se apagar o fogo, correr para um SOS de urgência, mas esta terá de ser a excepção. A regra tem de ser um planeamento capaz de envolver todos os ângulos em causa... Não se fala só da obra física, mas da obra humana e comunitária. Esta aprendizagem – DA URGÊNCIA AO PLANEAMENTO – continua a ser um défice e por isso uma necessidade premente na cultura e filosofia de vida de nós, os portugueses. Quantas vantagens no planeamento estratégico e aglutinador dos vários actores em jogo! Quanta desvantagem gera a desorganização, a falta de método, o desleixo que multiplica as urgências da corrida desnorteada!
Alexandre Cruz

Um soneto de Domingos Cardoso

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Retrato incompleto
Gente que lavra a água igual ao chão Penteando os seus cabelos de moliço É o povo que mantendo a tradição, Dá vida ao moliceiro e ao seu feitiço. Gente ousada na dura emigração, Voltando à terra, findo o compromisso, É o povo que, p’ra ter mais farto o pão, Deixou, p’l mundo, a juventude e o viço. Tomando em suas mãos o seu destino A si mesmo se fez, desde menino, Este povo de história tão grandiosa. Peito aberto à saudade do futuro, De coração honrado e gesto puro, É gente boa, é gente da Murtosa! Domingos Freire Cardoso

Crónica de um Professor

Mesmo em férias, o professor
não se demite das suas funções


Mesmo em férias, o Professor não se demite das suas funções! A sua veia pedagógica nunca o abandona! Continua a incentivar, reprovar, avaliar... situações, actos, contextos! Deambulava num destes dias ensolarados, à beira ria, nesta terra, abençoada por Deus e bela por natureza, sentindo o cheiro salgado a maresia! Neste cenário relaxante, tão libertador da mente, dá consigo a meditar na evolução que a língua tem sofrido ao longo dos tempos.
No domínio das relações humanas, profundas alterações se têm dado. Há palavras que na sua polissemia adquiriram outros significados, novos, estranhos, na sua análise de pessoa oriunda do século passado. A primeira que lhe veio, à mente, foi a palavra camarada, que o seu pai tantas vezes utilizou, para se referir aos colegas, na instituição das forças de segurança, na qual trabalhou um grande período da sua vida.
Os seus camaradas, aqueles cujas vidas o tinham marcado, pela boa camaradagem partilhada, eram os seus colegas e amigos de mister. Hoje, volvidos 35 anos após a revolução de Abril, o significado da palavra afunilou, perdeu a amplidão, ganhou uma conotação restrita e muito politizada. Perdeu... a seu ver! Companheiro/a, no seu tempo era o amigo da escola, o colega de carteira, num contexto restrito e bem claro! Hoje, no final da primeira década do século XXI, companheiro adquiriu uma enorme amplitude!
De simples colega, compincha de escola, adquiriu uma conotação nova. Não recorda outra palavra que tenha feito uma viragem de tanta abrangência! Companheiro de jornada... ainda que numa 2ª ou 3º via! Nunca como nos dias de hoje, se ouviu proferir, com tanta frequência, “o meu/minha companheiro/a”! Noutros tempos a palavra marido/mulher tinham peso, numa sociedade que privilegiava os valores da fidelidade, da integridade, em suma, da instituição família! Hoje, a cada dia que passa, ficam mais restritos no seu campo de aplicação! A este ritmo......qualquer dia, os..... cônjuges, ficarão circunscritos à sua condição de arcaísmos!!!
Conservadora como é, a teacher, continua a fazer jus aos seu código linguístico anquilosado, arcaico (!?), sem sequer ter aderido ao acordo ortográfico! Assim, nesta senda linguística, continua a ser fiel ao seu antigo léxico e a chamar, com toda a propriedade, companheiro de caminhada... ou até de maratona, ao seu cannis de estimação, que não trocaria por nenhum substituto, qualquer que fosse o nome pomposo que lhe atribuíssem! Deve dizer, a título de curiosidade, que o recíproco também é verdadeiro!
Os amigos de verdade, são pérolas preciosas nas relações humanas, tão conturbadas, dos dias de hoje! E... a propósito de amizade, emerge do torpor morno em que se encontrava, um termo quase esquecido na gaveta do léxico, nos bons velhos tempos da outra senhora!
Agora, mercê das Novas Oportunidades desta efervescente e promissora democracia, (!?) subiu à ribalta, revigorado, cheio de novas nuances conotativas e de um largo espectro semântico – amigos do alheio! Sem se perder em elucubrações sobre o tópico... deixa aos nossos governantes e aos especialistas em Linguística, a análise e (de)composição da palavra! Bom exercício gramatical!


Mª Donzília Almeida 1


5 de Julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

A nossa gente: João Teixeira Filipe

João Teixeira Filipe
João Zagalo, um doryman aguerrido - I
Na semana passada, marquei um encontro na seca com João Teixeira Filipe, homem de boa têmpera, trabalhador fiel de Testa & Cunhas, durante 59 anos, desde 1943 até 2002.
João Zagalo (alcunha), seu nome de guerra, nasceu na Gafanha da Nazaré, a 28 de Agosto de 1924. Foi no início e crepúsculo da vida, carpinteiro naval, mas, no seu auge, foi um grande pescador do bacalhau, um audacioso, sabedor e afortunado homem do dóri. Tem um certo orgulho nas categorias que teve a bordo e no apreço que capitães, colegas e empresa nutriam por ele.
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Ana Maria Lopes
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Nota: Texto e foto de Marintimidades

Uma Encíclica que irrita

Lembro-me muitas vezes da banda-desenhada cheia de humor de Quino, em que a irrequieta e incisiva Mafalda está com um ar abstracto e imperscrutável e diz que está a parecer-se com uma Encíclica Papal. É uma forma engraçada de pôr o dedo na ferida, pois o grande risco é, de facto, o da recepção "abstracta e imperscrutável"que fazemos de textos que são afinal de uma impressionante concretude, agudeza e profecia. Por vezes sinto que fazemos das "Encíclicas Papais" um género literário, altamente respeitável, mas inofensivo. A vida continua a correr com o pragmatismo do costume, indiferente quanto baste ao horizonte ideal que a tradição cristã nos aponta. Talvez por isso, me apeteça saudar um pequeno texto de Henrique Raposo, que me incomodou muito, mas que, não posso negar, me tornou mais atento no acolhimento da Encíclica ("Expresso" -11/07/2009). Diz o seguinte: «Não tenho problemas com o Papa, e até gosto de católicos. Mas há uma coisa que me irrita no Papa: é quando ele se põe a trazer Marx para o Evangelho. Aquilo que o Papa tem dito sobre a - suposta - falta de ética do capitalismo não ficaria mal na colectânea dos Summer hits de Francisco Louçã. Não vou aqui desconstruir a falácia antiliberal que está presente na Igreja Católica. Deixo somente uma pergunta: no "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" qual é a parte que o Papa não entende?». É evidente que este autor entende muito pouco do cristianismo. Em vez de Marx, ele deveria perceber que o Papa liga-se à tradição bíblica e Evangélica mais genuínas, aos Padres da Igreja e a todo o extraordinário património de pensamento e acção no campo da solidariedade humana de que a Doutrina Social da Igreja tem sido esteio. Mas numa coisa Henrique Raposo tem razão: Bento XVI irrita e esta sua encíclica, "Caridade na Verdade" é um texto altamente irritante. É isso mesmo: um manual para o desassossego. José Tolentino Mendonça

17 maneiras de rezar

Ouvir música Ouvir música A Missa em Si menor de Bach, por exemplo, especialmente Incarnatus, Crucifixus, Resurrexit ou então outra coisa não necessariamente música religiosa mas escutar na profundidade escutar o canto do novo Orfeu presente em toda a música humana incarnação, crucifixão, jubilação Se pudermos cantar nós mesmos e tocar um instrumento, é ainda melhor! Ler mais aqui

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