segunda-feira, 8 de junho de 2015

As aulas de EMRC, um projeto de vida

Nota Pastoral do Bispo de Aveiro



«A tarefa da educação é missão específica da Família, por isso, lançamos o desafio aos pais para que não prescindam e desperdicem este tempo e este espaço da aula de EMRC, que é, sem dúvida, um excelente complemento à educação recebida em casa e na comunidade paroquial. Com a mesma sistematização e métodos dos outros saberes escolares, a disciplina de EMRC entra em diálogo com as demais aprendizagens e fornece ao aluno instrumentos para melhor compreender a realidade pessoal e social, e para nela intervir com comportamentos éticos e morais que o dignificam como pessoa.»



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Na morte pode haver vida



Mesmo na morte pode haver vida. Como é o caso destes pedaços de árvore, ressequidos, cortados e para ali atirados, ao acaso, à espera de outro destino. Fui a tempo de os ver partir para a espera do inverno, onde terão de alegrar a nossa existência com o calor reconfortante.

domingo, 7 de junho de 2015

RETIRO II


«Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.»

Canto  IX dos Lusíadas


1. A literatura de fim de semana está cheia de propostas para dias bem passados. Porque descontrair é preciso, que a azáfama da vida é por demais cansativa e stressante. Os jornalistas especializados da área do lazer e cultura, que os temos de muito nível, brindam os seus leitores com propostas aliciantes que nos arrebatam. 
Leio com gosto o que escrevem e aprecio as ilustrações que acompanham os textos, embora saiba que muito do que apregoam não se adequa à minha bolsa, nem à do comum cidadão. Contudo, consola-me conhecer o que vai pelo mundo de belo e original. Ouvindo Camões, no canto IX, dou-me por satisfeito:
"Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo."

RETIRO



Hoje, domingo, estou em retiro. Frequentemente preciso de estar em silêncio. Mas os meus retiros não são muito exigente, ou talvez sejam. Não preciso de me recolher em conventos ou em casas criadas para isso. Basta-me o aconchego de um recanto com natureza à vista. O resto sai da minha sensibilidade. 
Está um dia maravilhoso. Sol quanto baste, o arvoredo que tenho por companhia reforça o oxigénio puro de que preciso e o arrulhar das rolas e o chilrear da passarada garantem-me a sinfonia que tranquiliza. 
A cadeira em que me recosto, oferta da minha Lita, permite-me a posição adequada para o repouso na hora própria. Umas leituras para não perder o hábito que em mim se instalou há muitos anos, ainda miúdo, completam o esquema que durante a noite idealizei. Que mais quero eu? 
Se me aprouver, de algumas coisitas darei nota durante o dia. Bom domingo.

ESPÍRITO CRIADOR

Crónica de Frei Bento Domingues 

Frei Bento Domingues


1. Há pessoas que fazem profissão de optimismo. Olham sempre, ou fingem olhar, para o “lado positivo” de tudo e, perante qualquer desgraça, repetem: ainda podia ter sido muito pior! São capazes de recuar até à pedra lascada para mostrar que agora estamos no melhor dos mundos. Se alguém, mais sensível à questão social, por exemplo, observa que 20% da população detém 80% dos recursos mundiais, a resposta já está pronta: as desigualdades são a principal fonte de progresso para todos.
Quem não quer ser acusado de negativista refugia-se no prestigiado casamento do pessimismo da inteligência com o optimismo da vontade. Por não apreciar esses tranquilizantes, o filósofo espanhol, Xavier Zubiri, apressa-se a declarar que durante toda a sua vida só conheceu a emoção do puroproblematismo.
Um dos alimentos principais da filosofia são as interrogações. Mas a problematização contínua é o luxo de quem não tem que decidir. As decisões não podem esperar ver todas as dúvidas resolvidas. A concepção aristotélica da prudência – virtude da decisão bem ponderada – recomenda-se tanto aos “tontos com iniciativa”, como aos eternos hesitantes.

sábado, 6 de junho de 2015

A grande evasão

Crónica de Vasco Pulido Valente

"O futebol, a obsessão com a cozinha e os concertos de música popular são três maneiras de resistir à realidade doméstica e ao desespero a que ela nos reduziu"




A geoestratégia de Deus

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges

Na sequência dos trágicos acontecimentos de Paris, o jornal australiano Weekend Australian publicou um desenho com humor sábio. Intitula-se "Rezemos". Jesus segura o Alcorão e diz a Maomé: "Já te disse que o Alcorão precisa de um segundo volume, como nós temos o Antigo Testamento seguido do Novo Testamento." Maomé, que segura um jornal declarando em letras garrafais: "O mundo em guerra", atira a Jesus: "Ir lá abaixo, à Terra, escrever o segundo volume? Seria crucificado."

No contexto do meu livro Deus ainda Tem Futuro?, realizei recentemente, no Porto, um debate, com a participação do general Ramalho Eanes e do eurodeputado Paulo Rangel, sobre o tema em epígrafe: "A geoestratégia de Deus".
A geoestratégia de Deus pode ser vista no enquadramento do genitivo subjectivo, isto é, no sentido de perceber qual é a geoestratégia que Deus tem. Ora, olhando para o Novo Testamento, percebe-se que essa geoestratégia, a partir de Deus, é o amor, a compreensão universal entre todos, na justiça e na paz, a plena realização da humanidade, o Reino de Deus.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

FESTA DO CORPO DE DEUS

Reflexão de Georgino Rocha



TOMAI E COMEI O PÃO DA VIDA


A ceia pascal de Jesus com os seus discípulos é narrada por Marcos de modo sóbrio e substancioso. Mc 14, 12-16 e 22-26. Nada a mais é dito que possa distrair do seu núcleo central e dos seus gestos significativos, bem como da disposição radical do seu único protagonista. Tudo se conjuga e converge na entrega do corpo e no derrame do sangue feitos generosamente por Jesus em prol de um mundo novo, fruto de uma nova aliança. Tudo se centra no pão que é partido e repartido e no vinho que é tomado e bebido. Pão e vinho, frutos da terra e do trabalho humano que, pela força do Espírito Santo, se convertem no corpo e no sangue do Senhor Jesus. Que maravilha de simplicidade e clareza! Que beleza de atitudes e sentimentos! Que riqueza de sentido intencional e de discreta presença amorosa!

quarta-feira, 3 de junho de 2015

UMA JANELA PARA O SAL

Um livro de Ana Maria Lopes|Etelvina Almeida
|Paulo Godinho – Fotografia




UMA JANELA PARA O SAL é um livro de Ana Maria Lopes|Etelvina Almeida|Paulo Godinho – fotografia que se lê com muito prazer. Pelas informações que presta, pelo que nos leva a recordar, pelo texto e pelas fotos «recolhidas nos anos 80». Mas o texto, em prosa poética de muita sensibilidade, só próprio de quem sente de modo muito especial a Ria de Aveiro, a nossa serena laguna, esse merece ser lido e relido para dele extrairmos as cores, os cheiros, os gestos, as alegrias e as dores dos que viveram a safra salgada. 
As janelas que nos mostram o sal, quais vitrais multicoloridos bem definidos, espelham o céu que se mistura com os cristais salinos, refletindo na  região aveirense uma paisagem única com montes pontiagudos feitos à custa de esforço e arte de marnotos e moços. Há anos, antes da morte do salgado, nunca nos cansávamos de contemplar os cones de sal, como riqueza para alguns à custa de canseiras sobre-humanas para muitos.
Tudo ou quase tudo se foi. Porém, se não houvesse estudiosos de vários quadrantes e apaixonados pelas nossas culturas, esse património que faz parte integrante das raízes lagunares aveirenses perder-se-ia para sempre. Mas afinal temos quem nos ofereça marcas indeléveis desse património, que pode ser lido, recordado e mantido à tona das agradáveis memórias de quem nasceu à borda-d’água e não só.
O poema, como o classifiquei no início deste modesto texto, sai enriquecido em todo o livro, desde a abertura até à Nota final e ainda ao glossário sucinto, pelo que me dispenso de retirar dele alguma frase ou expressão. É que nele se incluem, nos vinte capítulos, palavras, expressões, notas históricas e termos técnicos, tudo a condizer com a safra do sal que nos tempera a nossa identidade.
Os meus parabéns aos autores.

Como isco dirigido aos meus amigos ou para abrir o apetite a toda a gente, aqui deixo um curto poema que ilustra no livro a foto que  encima este meu escrito:



Mãos de moço-homem és, rasoila!

E é com ele que, todos os dias mergulhas na moira, e te arrastas por essas praias de sal num vaivém interminável.
São ambos matéria que se curte e entranha em duro ambiente, entre elementos de água, sol e vento — entre o sal.
Ai moço, quão belo, mas cruel é esse salgado que te rouba a inocência, que te corrói o corpo e a alma, mas que te dá o pão da vida e te faz homem — são as «chagas da vida», dizem…
Ao tempo, com o tempo, curtes a tua cútis, endureces-te e moldas-te ao sal — só assim sararão essas feridas, que agora tingem de vermelho o branco sal.
É esse sal, que escorre entre teus pés, que te tempera, te corta, te marca, te retesa essa pele de tenro menino e a enruga antes do tempo, curtindo-a de bronze salgado.
A seu tempo, moço, «homem de sal» serás!


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NOTA: Este livro vai ser lançado em Aveiro, na quinta-feira, à noite, dia 4, pelas 21 horas  e trinta, no edifício da antiga Capitania.

António Marujo na Feira do Livro de Aveiro

No próximo sábado, pelas 21.30 horas
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Ruas com obras na Gafanha da Nazaré


Quem vive ou passa pela Gafanha da Nazaré sabe bem que há obras em diversas ruas. De muitas pessoas que falam comigo, tenho ouvido comentários pouco agradáveis pelos transtornos que máquinas e pessoal provocam, por impedirem a livre e habitual movimentação de automóveis. Outros tantos vão concordando com as obras, cujos melhoramentos há muito eram esperados. É-se preso por ter cão e por não o ter, em tempos como este em que cada um arranja motivos para as opiniões.
É claro que obras em ruas, ruelas e caminhos são fundamentais ao bem comum, sob pena de não acompanharmos o progresso geral. Têm que ser feitas. Saneamento, gás, redes de comunicação e outros serviços não podem ser feitos pelo ar.
Naturalmente, penso que talvez fosse possível mais agilidade e rapidez nos processos, mas se calhar ainda não chegámos, julgo eu, a esse nível de execução de obras públicas. Contudo, apesar dos transtornos que estes trabalhos provocam, vale a pena algum sofrimento e compreensão dos moradores e visitantes. 

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A nossa Gente: Joana Soeiro

Joana Soeiro

Neste mês de junho, em que a Câmara Municipal de Ílhavo volta a promover o Desportílhavo (dia 11) dedicamos a rubrica a “nossa gente” à jovem atleta Joana Soeiro.
Joana Soeiro nasceu a 24 de janeiro de 1995, na Gafanha da Nazaré, onde estudou até ao 8.º ano de escolaridade, tendo passado por Vagos, Aveiro e Lisboa até finalizar o ensino secundário.
O gosto pelo Basquetebol começou quando Joana, com apenas 6 anos de idade, quis seguir os passos do irmão que jogava no Grupo Desportivo da Gafanha.
Inscrita no G.D. Gafanha na época 2001/2002, esta atleta nunca mais parou. Dia após dia, e depois de dois anos de Centro de Treino, o sucesso começou a chegar e, com este, a vontade de chegar mais longe nesta modalidade. O primeiro título de Joana Soeiro foi o Campeonato Distrital de Sub 14, seguindo-se o Campeonato Distrital de Sub 16, entre outros. Em 2009, foi convocada à Seleção Nacional, jogando como Base em diversos países pela Europa fora.
Desde então, Joana marcou sempre presença nos Campeonatos Europeus do seu escalão (no ano de 2012, realizou dois Campeonatos Europeus no mesmo verão), contribuindo para a subida à melhor Divisão Europeia e para a manutenção da equipa na Divisão A. O seu pico individual foi, sem dúvida, a atribuição do título de Melhor Base do Campeonato da Europa de Sub 16.
Já ao serviço do Sport Algés e Dafundo (desde 2012), realizou a sua primeira época na Liga Feminina e conquistou diversos títulos, sagrando-se campeão nacional pela referida equipa lisboeta.
Depois de vários convites de diversas universidades americanas, com direito a bolsa - Scholarship,
Joana Soeiro ingressou na Universidade de Marian, no Estado de Indiana, Estados Unidos da América, onde joga pela equipa da Universidade e estuda Gestão. 
Deixar a família, os amigos e a Terra que a viu nascer foi o que mais custou a Joana, mas as oportunidades são para se agarrar e Joana seguiu o seu sonho, considerando-se recompensada pelas conquistas alcançadas e pelo fortalecimento da relação que mantém com os seus pais e irmão. 
O Basquetebol é uma paixão que Joana alimenta com muito empenho e dedicação: treina 2 horas diariamente e três vezes por semana tem treinos adicionais, antes de ir para as suas aulas, para aperfeiçoamento de técnicas individuais (lançamento e controlo de bola). 
Com todo o seu esforço e entusiasmo e ciente do trabalho que tem pela frente, Joana Soeiro tenciona atingir a linha máxima do Basquetebol. Já este ano, recebeu o título de Campeã de Conferência pela sua Universidade e foi nomeada para All Freshmen Team (5 atletas mais valiosas da Conferência).
A sua equipa foi apurada para o Campeonato Nacional e bateu mais três recordes históricos: maior número de jogos ganhos em casa (15) e menor número de jogos perdidos (1), bem como o maior número de jogos ganhos numa só época (28). Joana Soeiro continua muito ligada à família, aos amigos e ao G.D. Gafanha, tendo muito recentemente deixado uma mensagem de apoio e carinho, destacando-se aquilo que faz dela um exemplo para todos os jovens do Município: trabalho e dedicação, atitude, responsabilidade e o querer vencer.

Fonte: Agenda “Viver em…” da CMI

NOTA: Sempre apreciei os que ultrapassam dificuldades  e lutam por uma sociedade melhor, apostando com coragem e determinação em projetos pessoais e comunitários. A Joana Soeiro é uma dessas pessoas. Não a conhecendo pessoalmente, embora seja amigo da sua família, tive o gosto de a entrevistar há bom tempo para o nosso jornal Timoneiro. E nessa entrevista, feita por e-mail, que a Joana já estava nos EUA, percebi a força de vontade desta nossa conterrânea e, mais do que isso, a sua personalidade. A Joana sabe mesmo o que quer.
Oportuna é, pois, esta homenagem que a CMI lhe presta, apresentando-a como modelo a seguir à nossa juventude, não tanto,  certamente, aos jovens  que trilham caminhos semelhantes ao seu, mas àqueles que, nada fazendo para si próprios e para a sociedade, passam a vida com futilidades.

Ver entrevista aqui 

FM

domingo, 31 de maio de 2015

O meu irmão


Armando da Rocha Martins (25-10-1941 — 27-3-2007)

Ainda hoje me lembro com saudade do dia em que, empoleirado no muro frontal à nossa casa, encimado por uma rede de arame a que me segurava, o João Edmundo Ramos (primo afastado) me perguntou onde estava o meu menino Jesus. Respondi-lhe que estava a nanar, palavra que me veio de minha mãe, conhecida por Rosita Facica. E a partir daí, tanto quanto consigo recordar, passei a tratar o meu irmão por menino, mais novo do que eu três anos. Ele chamava-me mano. 
Nas conversas que mantivemos, desde sempre e até à sua morte, que ocorreu em 27 de março de 2007, nunca o tratei por Armando, o seu nome, nem ele me chamou Fernando, o meu nome. Menino e Mano ficaram para as nossas vidas, qualquer que fosse a situação em que nos encontrássemos. Para os outros, em geral, ele era o Grilo, apelido da nossa família paterna. Curiosamente, eu nunca fui considerado Grilo ou Facica, o apelido da nossa linha materna.
Três anos nos separavam, tal como os grupos de amigos não coincidiam. Eu prossegui estudos e ele, em determinada altura, optou por trabalhar, depois de o nosso pai lhe perguntar o que é que ele queria na vida. E assim foi.
Depois de algumas experiências profissionais e de uma tentativa de emigração, acertou o passo no comércio e na indústria, onde foi figura preponderante no meio bacalhoeiro, mas não só. 
Casado com a Julita,  com dois filhos, o Miguel e a Carla, ficou encantado com os dois netos, o Martim e o Levi, em quem se revia, contando-nos estórias de que se ria e nos fazia rir. Qualquer episódio, por mais simples que fosse, o meu irmão, o Menino, dramatizava-o com graça e arte, como se estivesse a representar num palco de teatro, estando, contudo, no palco da vida, onde as alegrias têm cabimento garantido, de mistura com algumas dores, próprias da nossa natureza frágil. Jamais esquecerei as suas risadas provocadas pelo Martim, que tinha em criança hábitos de chaveiro. Chaves que estivessem a jeito, bolso com elas. Eram suas e guardava-as bem guardadas para ninguém as descobrir. E contava o meu irmão que tinha de lhe telefonar para ele explicar bem direitinho onde as tinha escondido, porque sem elas não podia abrir as portas. E o Martim lá cedia.
Em 2006, quando tive o enfarte, ele ficava a olhar para mim, quantas vezes sem falar, mas eu notava no seu silêncio a inquietação que lhe ia na alma. Há silêncios que dizem mais que mil palavras. 
Recordo-o todos os dias nas minhas orações matinais, num lote de familiares e amigos que vai crescendo, ultimamente com mais intensidade. Que Deus o guarde no seu regaço maternal, para um dia, quando nos reencontrarmos, cara a cara,  e nos tratarmos como sempre o fizemos, por Menino e Mano, revivermos, com todo o tempo do mundo, os momentos agradáveis da vida terrena, que os desagradáveis não os queremos lá connosco. 

Fernando,  o teu mano

Inconstância

"A inconstância deita tudo a perder, na medida em que não deixa germinar nenhuma semente"

Henri Frédéric Amiel (1821-1881), escritor e filósofo suíço


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Assassinado no altar

Crónica de Frei Bento Domingues 

Óscar Romero


1. Óscar Romero, arcebispo de San Salvador, nasceu a 15 de Agosto de 1917 e foi assassinado, a 24 de Março de 1980, enquanto celebrava a Eucaristia. Antes de ser morto, ainda teve tempo de explicar, durante a homilia, que, apesar das ameaças de morte que lhe eram feitas, estava disposto a continuar a lutar contra a violência e a favor dos mais desprotegidos de El Salvador:Outros continuarão, com mais sabedoria e santidade, os trabalhos da Igreja e do meu país.
G. Gutiérrez, considerado o pai da Teologia da Libertação, sublinha: Romero não buscou o martírio, encontrou-o no caminho da sua fidelidade a Jesus Cristo, na firme atitude de pastor que não se calou perante as injustiças e humilhações quotidianas que vitimavam o seu povo[1].

sábado, 30 de maio de 2015

PADRE LÉ NUM PEDESTAL PARA NOS SAUDAR

Padre Lé
Às vezes faz-nos bem sair dos nossos ambientes habituais e procurar no que nos rodeia, um pouco mais ao largo, um recanto sem pressas. Deixar os caminhos por onde andamos sem engano, de olhos fechados, orientados por uma qualquer bússola misteriosa, qual GPS que nos determina os passos e define trajetos, e saltar desse círculo para outros.
A homenagem que foi hoje prestada ao saudoso Padre Lé, com o descerramento de um busto junto à igreja matriz da Gafanha da Encarnação, foi o mote para esse salto. A homenagem, emoldurada por outras festas e recordações, vai merecer um destaque mais alargado num dia destes, porque foi essa a razão da minha presença na terra irmã da Encarnação.
Fui cedo para me deixar envolver pelos ares festivos e por ali cirandei e me quedei a apreciar rostos da minha geração de que a pressa da vida nos separa. Neles vi-me ao espelho, onde sobressaíram cabelos brancos ou a falta deles, rugas como terras margeadas por bois cansados que ziguezagueavam. Mas os olhos e as vozes, meu Deus, não enganam ninguém. Nomes, não me perguntem. Quase todos se me varreram da memória. Com esforço, brotam alguns. Cumprimentos simpáticos, conversas curtas, silêncios e mais silêncios. E o busto do Padre Lé, que à Gafanha da Encarnação a vida deu com presença de mais de meio século, ali ficou num pedestal, a olhar-nos e a saudar-nos, porém, sem o cabelo agitado pelas ventanias de que as nossas terras são tão férteis.
Até um dia destes, se Deus quiser, que o Padre Lé merece.

Fernando Martins

Visita à Lusa Atenas

Crónica de Maria Donzília Almeida


Serenatas romanescas
Trovas quase orações.
Destas coisas pitorescas
Restam só recordações!

Vagueava eu na plataforma que dá acesso à entrada para o comboio, a fazer horas, quando sou surpreendida por um olhar insistente, perscrutador, num zona resguardada de espera.
Continuei o meu percurso, naquela soalheira manhã de maio, em que me dirigia pela enésima vez à vetusta Lusa Atenas. Longe vão os tempos, na década de setenta do século passado, em que eram recorrentes estas viagens de e para a cidade universitária. O comboio, como meio de transporte mais acessível à bolsa de um estudante, cumpria esta tarefa de unir distâncias. Hoje, com o benefício adquirido pela idade, continua a merecer a minha preferência.
Na velha urbe, para além da formação para a vida e construção do futuro, fazem-se amizades, estreitam-se relações e criam-se laços com lugares e pessoas que povoam os nossos afetos.
Ia a pensar, precisamente na pessoa que iria visitar, nesse dia, quando deparei com aquele olhar meigo que me fitava com curiosidade e interrogação.

Maçonaria, Igreja e segredo

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges



 «homens de "boa vontade" podem reunir-se 
à volta de valores de progresso,
 humanismo, liberdade.»






1. Foi um convite generoso e insistentemente amável da venerável mestra da Loja África, da Grande Loja Feminina de Portugal, que me levou recentemente a uma daquelas sessões brancas da maçonaria nas quais podem participar "profanos". O tema era reflectir sobre a percepção pública da maçonaria.
Comecei por dizer que não sou membro da maçonaria. Tive contactos com maçons. Os primeiros foram com Raul Rêgo, com quem participei em debates. Falei várias vezes com o cardeal Costa Nunes, mas nunca sobre a maçonaria. A convite do então grão-mestre, António Reis, participei num grande encontro sobre as religiões, o diálogo e a paz. Estive uma segunda vez com ele, numa sessão branca, tendo discutido a distinção, que ele aceitou, entre laicidade - o Estado laico, aconfessional, é decisivo para a defesa e salvaguarda da liberdade religiosa de todos - e laicismo, que pretenderia retirar a religião do espaço público, confinando-a ao espaço privado.

Domingo da Santíssima Trindade: Ide e fazei discípulos

Reflexão de Georgino Rocha



«Deus não é um solitário, 
um surdo-mudo fechado em eterno silêncio, 
um ausente distante e indiferente à sorte da humanidade, 
um rival concorrente da autonomia do ser humano»


A missão que Jesus confia aos seus discípulos e, neles, a toda a Igreja, é condensada por Mateus nesta fórmula precisa e operativa: “Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Mt 28, 16-20. É missão a realizar em todos os tempos e culturas. É missão que inicia os candidatos à vida cristã em dois “momentos” mais significativos do seu itinerário para a maturidade: o anúncio jubiloso da novidade de Cristo e a celebração do baptismo. É missão a prosseguir na comunidade eclesial e sociedade civil, em todos os espaços de convivência humana.

Assim, é em nome da Santíssima Trindade que a Igreja desenvolve a sua acção: aprendendo e ensinando, sendo santificada e santificando, deixando-se amar e irradiando o amor. A fonte original é Deus família, é trindade em relação, é cada pessoa em comunhão: O Pai da paz, comprometida e activa, o Filho da justiça que toma partido pelos empobrecidos e excluídos, o Espírito da liberdade tolerante que aceita e respeita as opções de consciência de todos os humanos.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Feira do livro de Aveiro começa amanhã

Mercado Manuel Firmino 
conta com a visita dos amantes dos livros

Mercado Manuel Firmino
A Feira do Livro de Aveiro 2015 vai realizar-se no Mercado Manuel Firmino a partir de amanhã, 29 de maio, prolongando-se até 14 de junho. Trata-se de uma organização da Câmara Municipal de Aveiro (CMA) e conta com a participação dos livreiros de Aveiro, que representam mais de 120 editoras.
Sendo os livros os principais protagonistas, a autarquia preparou um programa cultural paralelo, de que se destacam os dias temáticos, tais como o “Dia da Culinária” e o “Dia da Ciência e Autor”, com Carlos Fiolhais. Haverá ainda o “Dia dos Autores Aveirenses” e o "Dia da Literatura Infantil”, para as famílias reforçarem o gosto pela leitura das crianças, bem como o “Dia da Poesia”, que realça o maior género literário da identidade de Portugal. 
Entretanto, estão garantidos ateliês de leitura, conversas com ilustradores dos livros, concertos e teatro, exposição ao vivo de Artes e Ofícios, entre outras ações que contribuirão para que os visitantes possam usufruir a Feira do Livro.
Ocorrerá ainda a participação de A Barrica – Associação de Artesãos da Região de Aveiro, Oficina de Música de Aveiro – OMA, ArteRiso, EFTA, Fábrica Ciência Viva, Grupo Poesia da Beira Ria e Grupo Poético de Aveiro.
Patente no Mercado Manuel Firmino e com entrada livre, a Feira do Livro estará de portas abertas de segunda a quinta-feira, das 15h00 às 22h00, às sextas-feiras das 15h00 às 24h00, sábados das 10h00 às 24h00 e aos domingos das 10h00 às 20h00 (interrompe na hora de almoço).
O programa completo poderá ser consultado na página oficial www.cm-aveiro.pt.

Fonte: CMA

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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Tráfico de Seres Humanos



Por iniciativa do Grupo Cáritas Paroquial da Gafanha da Nazaré, vai realizar-se um encontro de reflexão, no próximo dia 5 de junho, pelas 14 horas, no auditório da igreja matriz, tendo em vista sensibilizar os participantes para o fenómeno do tráfico de seres humanos. Pretende-se, fundamentalmente, facultar conhecimentos e fornecer ferramentas para sinalizar potenciais vítimas, informa aquela organização de expressão católica.
O Grupo Cáritas convida à participação de todas as pessoas interessadas por estes pertinentes assuntos, lembrando que a inscrição é gratuita. Contudo, sugere aos participantes a partilha de  bens alimentares, que serão canalizados para os cabazes de apoio a famílias carenciadas da Gafanha da Nazaré.


Vento e Tempestade


"As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade"

Victor Hugo (1802-1885)

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O vento


Tronco com heras

Não gosto do vento. Nunca gostei. Eu sei que as nossas terras são ventosas, ou não fossem elas do litoral. Todo o litoral português é marcado pelo vento, exceto o algarvio. E se o vento vem carregado de chuva ou humidade, muito menos. Do vento de inverno nem falar, por tão agreste ser. 
Talvez por ter nascido à sombra do vento, que se não está logo virá, fujo dele como o diabo da cruz, por mais brando que ele seja. Nem em esplanadas em pleno verão consigo aceitá-lo, mesmo em tempo de canícula. Se ele sopra, mesmo de mansinho, escapo-me sorrateiro para sítio abrigado. Sou assim.
No alpendre da minha residência costumo gozar o silêncio que me permite ler e escrever tranquilamente, contemplando a relva e o arvoredo que o envolve. Que me envolve. A natureza ajuda-me a experimentar a alegria da paz. O cão e a cadela comungam do meu prazer. Deitam-se e dormitam. Depois levantam-se quando desafiados por algum pássaro que ousa aproximar-se. Umas corridas e voltam aos  meus silêncios. 
De repente, traiçoeiramente, o vento surge para incomodar. E vai crescendo de agressividade. Não tanto como há anos que me derrubou um pinheiro alto e possante, de que ficou parte do tronco que a minha Lita envolveu com heras. Arte no relvado. E então volto à luta contra ele, escolhendo recanto para continuar no contato com a natureza-mãe. Como acontece frequentemente. 


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terça-feira, 26 de maio de 2015

Portugal é dos países mais pobres e desiguais

"O fosso entre ricos e pobres diminuiu, mas Portugal continua entre os países mais desiguais e com maiores níveis de pobreza consolidada da OCDE, segundo um relatório que analisa a evolução da desigualdade de rendimentos nos últimos anos."


Li aqui

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O vinho guarda-se na memória


"O vinho além de se guardar no estômago, guarda-se na memória"

Li no PÚBLICO

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