sexta-feira, 5 de junho de 2015

FESTA DO CORPO DE DEUS

Reflexão de Georgino Rocha



TOMAI E COMEI O PÃO DA VIDA


A ceia pascal de Jesus com os seus discípulos é narrada por Marcos de modo sóbrio e substancioso. Mc 14, 12-16 e 22-26. Nada a mais é dito que possa distrair do seu núcleo central e dos seus gestos significativos, bem como da disposição radical do seu único protagonista. Tudo se conjuga e converge na entrega do corpo e no derrame do sangue feitos generosamente por Jesus em prol de um mundo novo, fruto de uma nova aliança. Tudo se centra no pão que é partido e repartido e no vinho que é tomado e bebido. Pão e vinho, frutos da terra e do trabalho humano que, pela força do Espírito Santo, se convertem no corpo e no sangue do Senhor Jesus. Que maravilha de simplicidade e clareza! Que beleza de atitudes e sentimentos! Que riqueza de sentido intencional e de discreta presença amorosa!

“Onde queres que façamos os preparativos?” – indagam os discípulos para saberem o que fazer. Pergunta sensata, pois os habitantes de Jerusalém, por ocasião da festa da Páscoa, costumavam disponibilizar espaços das suas casas para os peregrinos se alojar e celebrar a ceia em família ou com os amigos. Pergunta que fica para sempre a marcar o coração humano, a família de sangue, a comunidade cristã e a outros espaços de vida em sociedade sensível a estes valores. “Onde queres?”

“Ide à cidade” – responde Jesus, mostrando claramente a sua vontade. É na cidade dos homens que quer celebrar. É pela cidade que se vai doar. É com a cidade que quer cantar os salmos de louvor. É para a cidade que encaminha os discípulos à procura de quem manifeste os sinais indicados: vir ao encontro, trazer uma bilha de água, estar a caminho de casa. A identificação resulta em cheio. O caminho está aberto e o local encontrado. “O Mestre pergunta: onde está a sala?” – dizem ao dono da casa. Sobem e preparam tudo o que era necessário, segundo o ritual judaico. Pergunta que continua hoje: “Onde está?”

Jesus que, desde o começo toma a iniciativa da vinda à festa, realiza a ceia memorial de quanto Deus fez pelo seu povo desde a libertação da servidão no Egipto até à posse da terra prometida; ceia memorial da aliança celebrada no Sinai e das condições escritas nas dez palavras/mandamentos da Lei. E introduz um elemento novo: o pão da miséria é agora o pão da vida, o seu corpo entregue por amor; o vinho da aspersão é agora o vinho da salvação, o sangue derramado pelos comensais e por toda a humanidade. Pão e vinho da eucaristia são, desde então, o próprio Jesus, não em forma de símbolo, mas de sacramento; não em presença virtual, mas real; não a “fazer de conta”, a parecer, mas a ser verdadeiramente. Assumindo a substância do pão e do vinho na pobreza da sua consistência, na insignificância da sua visibilidade, no risco da sua fragilidade facilmente deteriorável.

A razão humana, por si mesma, ainda que muito se esforce, não consegue alcançar o que realmente acontece nesta acção admirável de Jesus. Vê gestos, escuta palavras, capta sentimentos, adverte no sentido manifesto, mas detém-se maravilhada e seduzida pelo que está contido no pão e no vinho transformados. Só a fé pode levar-nos ao seio do mistério. Só a confiança filial nos dá garantia da verdade de tão sublime presença. Só a relação fraterna nos abre ao amor da Eucaristia e nos leva a ser coerentes: “o amor com amor se paga”.

A eucaristia do corpo e sangue de Jesus é celebrada na assembleia cristã, sobretudo ao domingo, e conservada em reserva no sacrário. Esta reserva é designada normalmente por Santíssimo Sacramento. É sempre o Senhor que se oferece por nós, está à nossa disposição para nos acolher e alentar, para nos acompanhar nos caminhos da vida e abrir horizontes de futuro definitivo. Por isso, lhe retribuímos com o que somos e temos: atenção agradecida, acolhimento solícito, escuta amorosa, comunhão consciente, adoração ardente, entrega confiante. E damos testemunho público desta força divina que nos anima e encaminha, deste acompanhamento encorajante que nos revigora.

A Igreja celebra, hoje, a festa do Corpo de Deus, como popularmente é conhecida. Avivemos a nossa fé e deixemos que se robusteça a nossa esperança, pois quem parte e reparte o pão da eucaristia é convidado a partir e repartir o pão da mesa, dos recursos económicos, das oportunidades de trabalho, da entreajuda solidária, do sentido humano-divino da vida.

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue