domingo, 18 de outubro de 2015

Sínodo das Famílias ou dos Bispos? (1)

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

 «... mas não serão as famílias 
que vivem experiências de êxitos 
e fracassos matrimoniais 
a poderem apontar caminhos possíveis 
para a felicidade familiar?»

1. Há dias, um amigo dizia-me, com ar sentencioso: a vida de uma pessoa, comparada com a duração do mundo, não é apenas breve, é insignificante. Vós, os católicos, tendes a mania de negar a evidência, inventando a ideia de vida eterna quando, de facto, não passa de um fruto enganador da megalomania do desejo. Para não entrar numa discussão estéril, citei-lhe uma frase de Manuel da Fonseca, mais radical e evidente: isto de estar vivo, ainda vai acabar mal!
A conversa tinha começado pelos rumores em torno do Sínodo dos Bispos. Segundo este amigo, está a preparar-se a primeira grande derrota do Papa Francisco. O seu raciocínio era simples: os bispos de todo o mundo dispõem de um passado e do Direito Canónico que lhes oferece a ilusão - assim como à Cúria vaticana - de mandar no imaginário de uma realidade universal, com uma longa história de muitas configurações culturais e religiosas: a Família. Para eles, as normas contam mais do que a felicidade ou infelicidade das pessoas e dos casais. O Papa Francisco, pelo contrário, acordou para as exigências do humanismo cristão, mas não conseguiu acordar os outros bispos do sono dogmático.

sábado, 17 de outubro de 2015

Os nossos fados

"Dizem que temos valor (os portugueses), mas que nos falta dinheiro e união; e todos nos prognosticam os fados que naturalmente se seguem destas infelizes premissas"

António Vieira (1608-1697), padre e escritor português

Li no PÚBLICO


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Religião, política e saúde

Crónica de Anselmo Borges 

«Há expressões religiosas
Anselmo Borges
 que podem ser prejudiciais: 
aquelas que levam a sentimentos 
de impotência, culpa, vergonha.»


O filósofo Immanuel Kant formulou as tarefas essenciais da filosofia nestas perguntas: "O que posso saber?", "O que devo fazer?", "O que é que me é permitido esperar?" Acrescentou, depois, que estas três perguntas remetem para e reduzem-se a esta quarta: "O que é o Homem?"
Significativamente, Kant escreve que à terceira pergunta responde a religião, melhor, ela é do domínio da religião, porque tem que ver com a esperança da salvação, da felicidade, do sentido último. Deus é um postulado da razão prática, isto é, exige-se moralmente que Deus exista, para dar-se a harmonia entre o dever cumprido e a felicidade. A natureza não faz isso, só Deus.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Totti e a Tita

Animais fiéis 




Permitam-me que vos apresente, hoje e aqui, os nossos fiéis amigos, o Totti (a minha Lita faz questão de escrever com dois tês para não haver confusões, segundo creio) e a Tita, que vivem connosco há uns 14 anos bem medidos. Com esta ideia de falar de um cão e de uma cadela pretendo tão-só sublinhar a sua fidelidade que ultrapassa, em alguns casos, o que seria normal apenas entre seres humanos. Realmente, momento a momento, percebemos o nível de fidelidade destes animais, que  se estende aos demais familiares.
Quando filhos e netos chegam a nossa casa, percebemos bem a alegria que manifestam de tantas formas, com "gritinhos" estridentes, corridas e saltinhos, procurando o afago de quem vem, ao jeito de desafios para umas brincadeiras. 
As idades, já avançadas para as suas vidas, não deixam de nos avisar que, mais ano menos ano, nos vão deixar. E, talvez por isso, sinto a necessidade de partilhar com os meus leitores estas confidências. Afinal, tal como há pessoas que fazem parte das nossas vivências, também há animais que nos envolvem carinhosamente no dia a dia, ficando alegres com a nossa alegria e tristes com a nossa tristeza.

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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Um poema de Manuel Alegre



AS MÃOS

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema ─ e são de terra.
Com mãos se faz a guerra ─ e são a paz.


Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre
"O Canto e as Armas"
Europa-América
1979

Aveiro quer viver a alegria da misericórdia

Para 2015-2018



«Num mundo em constante mudança, em que cada vez mais se acentuam o individualismo e indiferença, apesar dos apelos à intervenção e à renovação, é imperioso que a Igreja, e cada cristão em particular, seja rosto da misericórdia de Deus para os homens do nosso tempo. Misericórdia que é o modo de amar de Deus, o seu autêntico nome, que se humaniza em Jesus Cristo e no estilo de vida que o leva a identificar-se com as pessoas lesadas na sua dignidade. “Abrir o coração à misericórdia é viver «as obras de misericórdia», fazer a experiência do encontro, da ‘peregrinação’ pelas variadas periferias existenciais.”»

António Moiteiro, 
Bispo e Aveiro

Declaração de interesses dos comentadores


Eu sei que poderei ser acusado de ingénuo ao reclamar a todos os comentadores políticos e de outras áreas uma declaração de interesses. Sei, também, que todos se consideram independentes nas suas considerações, críticas ou elogiosas, mas tal não é verdade. A tendência normal, pelo que leio e ouço, é que são críticos benévolos em relação aos seus apaniguados e agrestes quando não comungam dos ideais dos visados nos seus comentários. Apoiam as correntes ideológicas que comungam e criticam as que consideram adversárias. 
Quem os ouve e lê, com regularidade, vai percebendo as suas tendências, quer em relação aos políticos e artistas, quer no que diz respeito a desportistas e religiosos, mas nem sempre se percebe onde querem chegar pelas ambiguidades que usam nas suas intervenções.
Uma coisa é certa: Todos se declaram independentes e imparciais, mas na realidade não o são de forma clara. E afinal, não custava nada. Bastava dizerem, por exemplo, se são, na política, da direita, centro ou esquerda, e o mesmo em relação a outros assuntos. 
Um dia ouvi um conhecido comentador político afirmar que, como benfiquista, nunca consegue ver legalidade numa qualquer grande penalidade contra o seu Benfica. E se procede assim com o futebol, como acreditar que seja  independente nos comentários políticos?

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Bonito exemplo de Ermelinda Garcez e Adelaide Calado

Ermelinda, Adelaide e Fernando Martins

Ermelinda Garcez e Adelaide Calado participaram e animaram a Eucaristia na sexta-feira, 25 de setembro, dia em que visitámos o Lar. Vimos como cantavam, como liam os textos sagrados e como distribuíam água aos participantes idosos ou doentes depois da comunhão, «porque alguns têm dificuldade em engolir a hóstia consagrada», disseram-nos. Depois encaminharam os utentes para as salas de convívio e respondiam às suas questões ou desejos, com palavras ternas para todos.
A celebração foi presidida pelo Padre João Sarrico, atual capelão do Lar Nossa Senhora da Nazaré e vigário paroquial das Gafanhas da Nazaré, Encarnação e Carmo. Depois da missa, foi distribuir a comunhão aos acamados e no final confidenciou-nos que gosta do trabalho que aceitou fazer, tal como gosta de estar e falar com as pessoas. «Toda a vida fui pároco», disse. E acrescentou que, com esta missão, «acaba por dar o seu próprio testemunho», reconhecendo que há utentes mais novos do que ele, embora doentes ou incapacitados.

Ler entrevista aqui

Ares de Outono: ramos secos


Ali, no empedrado geométrico, com raios de sol e sombra, jazem esquecidos e abandonados dois simples ramos de palmeira que os ventos outonais rasgaram do tronco paterno. Se mais vento não vier ou mesmo que venha os depósitos do lixo se encarregarão de lhes dar sepultura que os atire, um dia, para o ciclo da vida que se perpetuará até à eternidade. Que descansem em paz. Amem.

Zonas Costeiras em Congresso na UA

UA recebe VIII Congresso sobre Planeamento 
e Gestão das Zonas Costeiras dos Países 
de Expressão Portuguesa


«Nos dias 14 a 16 de outubro a Universidade de Aveiro vai receber o VIII Congresso sobre Planeamento e Gestão das Zonas Costeiras dos Países de Expressão Portuguesa. Mantendo a tradicional rotatividade da organização deste evento, cujas edições anteriores decorreram em Ponta Delgada (Açores), Recife (Brasil), Maputo (Moçambique), Funchal (Madeira), Itajaí (Brasil), Ilha da Boa Vista (Cabo Verde) e Maputo (Moçambique), a próxima edição decorrerá em Aveiro, pela primeira vez em Portugal continental.»

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Somos uns empatas

Palácio de São Bento
Eu não sei se estou a ver bem o que se passa no nosso país. Anda tudo numa roda-viva, a nível de partidos políticos e do povo que vai atrás deles. Na democracia é assim, eu sei, mas... 
Houve eleições para a Assembleia da República, donde dimana, segundo a nossa Constituição, o novo governo. O Presidente da República, tendo em conta o que reza a nossa lei fundamental, convida para formar o governo um líder partidário, tendo em conta os resultados eleitorais.
Para se conseguir uma governação estável e duradoira, como em tempos o Presidente Cavaco informou o país, será preciso uma maioria com apoio parlamentar. Posto isto, os partidos devem entender-se para não andarmos a brincar às eleições. Porque, se não houver maioria, é certo e sabido que daqui a uns tempos lá voltaremos nós a correr para as urnas. E como somos uns empatas, tão empatas que nem sequer somos capazes de imitar outros países que, de um dia para o outro, fazem eleições, referendos, entendem-se depressa nos parlamentos, formam governos e começam a governar, por cá continuaremos sem rei nem roque. 
Agora, depois das escolhas que fizemos, aqui-d’el-rei que alguns partidos não servem para o governo da nação. Mas então o voto do povo não vale nada? Deixemos governar quem tem o direito democrático para o fazer. Se se portarem mal, nas próximas eleições serão castigados. Não é assim numa democracia madura?
É incrível como em mais de 40 anos de democracia tão pouco aprendemos. Somos o que somos… uns empatas. 

F.M.

domingo, 11 de outubro de 2015

“Somos o Poema de Deus”

Um livro de Manuel Armando



“Somos o Poema de Deus” é o mais recente livro de Manuel Armando Rodrigues Marques, com edição do autor. Saiu em 2015. Manuel Armando é presbítero da Diocese de Aveiro com responsabilidades pastorais sobre Aguada de Baixo e Avelãs de Caminho desde 1990. Paralelamente, desenvolve atividade de palco nas áreas de magia e hipnose teatral. Neste campo é conhecido por Prof. Marcos do Vale.
A abrir este seu trabalho de poesia, declara-se: «Também sou poema de Deus.» Neste texto afirma, enquanto relembra a sua história de vida: «Entre êxitos e desencantos, alegrias e lágrimas, aplausos e incompreensões, convívios e solidão, oração e pecado, esperanças e quase desesperos, olhando a simplicidade das crianças ou dos pobres e a arrogância de quem se alcandora à chefia das coisas e das gentes e outras inumeráveis situações, cinquenta anos são passados, num sacerdócio que é de Jesus Cristo.»

Televisão e Paz

«Se toda a gente exigisse paz 
em vez de mais uma televisão lá em casa, 
então existiria paz»

John Lennon (1940-1980), músico e ativista inglês

Uma profecia em acção

Crónica de Frei Bento Domingues 

«A Laudato Si desenvolve
e integra a convicção
de que tudo está estreitamente 
ligado no mundo.»



1. Compreendo o desejo, manifestado por alguns leitores, de não terem encontrado na crónica do Domingo passado a transcrição integral dos referidos 10 princípios para um novo humanismo de J. Kristeva. Talvez não tenham reparado que deixei, em nota, a forma fácil de recorrer à sua tradução brasileira [i].
Estas crónicas nunca poderão superar o seu carácter fragmentário. A abordagem dos acontecimentos ou dos temas selecionados pretende apenas sugerir que é preciso pensar, questionar e debater se não quisermos ser vítimas dos arsenais mediáticos, mais ou menos sofisticados, vozes diversas do mesmo intuito de dominação. 

sábado, 10 de outubro de 2015

Guilherme d'Oliveira Martins vai para a Gulbenkian

 Guilherme d'Oliveira Martins


Confesso que nutro por Guilherme d'Oliveira Martins grande admiração, apesar de apenas uma vez ter trocado umas curtas impressões com ele, durante uma conferência que proferiu em Aveiro. A minha admiração vem da profunda cultura que ele possui e da postura cívica, política e intelectual que deixa transparecer no que pensa, escreve e diz. É um homem, realmente, de grande capacidade intelectual. Daí a admiração.
Fala com enorme facilidade de qualquer assunto, por mais complexo que seja, quer de natureza política, social, literária, religiosa, filosófica, histórica, artística e nem sei que mais. Dá gosto ouvi-lo.
Há anos, quando foi eleito o Papa Bento XVI, comentou na rádio o acontecimento, em cima da hora, abordando as várias facetas do então cardeal eleito para a cadeira de Pedro. E quando tem que se pronunciar sobre qualquer tema (livro, autor, artista, sábio, político, etc.), mostra à saciedade que está por dentro de tudo. Há anos, Eduardo Prado Coelho, escritor, crítico literário e cronista, enalteceu a espantosa cultura de Guilherme d'Oliveira Martins. 
Deixa agora o Tribunal de Contas, de que foi presidente, para ingressar na administração da Gulbenkian. E que poderemos esperar dele? Que consiga implementar ao máximo o contributo daquela fundação em tantas áreas, no sentido de a levar a todos os recantos do nosso país. A cultura não pode concentrar-se em Lisboa e Porto.

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Porto de Aveiro: Uma boa notícia

APA e IDAD trabalham na execução de medidas
que reduzam efeitos da operação portuária no ambiente



«A Administração do Porto de Aveiro já confirmou oficialmente à Câmara de Ílhavo a intenção de agilizar a construção da barreira eólica que consiga mitigar os efeitos das descargas de petcoke. A APA afirma-se “sensibilizada” e está a trabalhar com o IDAD no sentido de preparar toda a especificação técnica que suporte os procedimentos necessários ao controlo e monitorização de petcoke. A ideia é reduzir em aproximadamente 90% a emissão de partículas. O tema está na agenda de autarquias, APA e da Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré que exigiu a implementação de medidas propostas no Estudo elaborado pelo Instituto de Ambiente e Desenvolvimento (IDAD) com prioridade para a barreira eólica.»


Nota: Depois da luta do povo da Gafanha da Nazaré, dinamizada pela ADIG, foi muito bom saber que a solução para resolver os problemas ambientais está em curso. Desejamos que tudo decorra com a celeridade possível. 




Casamento católico: indissolúvel?

Crónica de Anselmo Borges 

«E a falta de amor, 
quando o casamento 
se torna um inferno?»

1. A família estável, no amor fiel e para sempre, é célula de base da sociedade e da Igreja, valor essencial pelo qual vale a pena bater-se, tanto mais quanto é o espaço ideal para ter filhos e educá-los, porque ali se junta o afecto e a autoridade. A desestruturação da família afunda a sociedade. Mas a vida é o que é. O próprio Papa Francisco, embora evitando a palavra divórcio, veio reconhecer que a separação pode ser "moralmente necessária". No caso da violência doméstica, por exemplo: "Quando se trata de proteger o cônjuge mais frágil ou as crianças das feridas mais graves causadas pela violência."

Jesus olha-nos com ternura

Reflexão de Georgino Rocha

«Ser discípulo é olhar com ternura 
os outros e as suas situações»


A relação de Jesus com as pessoas mostra-se de forma expressiva no seu olhar. Mc 10, 17-27. Olha com ternura o homem que vem a correr para lhe perguntar o que há-de fazer para alcançar a vida eterna. Fita os olhos nos discípulos que ficam espantados pela resposta/comentário dada na sequência da atitude assumida por aquele “peregrino” da verdade. É igualmente expressivo o modo como olha e se compadece das multidões, de Pedro, da mulher adúltera, e de tantos outros que se foram cruzando com ele nos caminhos da missão. Foi assim outrora nas terras por onde passava. É assim agora nas situações em que está presente connosco. Que certeza tão confiante e desafio tão estimulante!

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Alma de joelhos

«Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos.»

Victor Hugo (1802-1885)


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Ílhavos na Grande Guerra



A sessão de encerramento da Exposição “Os Ílhavos na Grande Guerra” está agendada para o próximo dia 30 de outubro (sexta-feira), pelas 18h00, no Centro Cultural de Ílhavo. Trata-se de uma exposição organizada pela CMI, com o objetivo de homenagear quantos participaram e sofreram na primeira Grande Guerra e seus familiares, Alguns faleceram no conflito e outros sofreram danos físicos e psicológicos que os marcaram para a vida, merecendo, por isso, o nosso respeito e admiração.
Se ainda não visitou amostra, ainda está a tempo de o fazer. Aproveite.

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