quinta-feira, 17 de novembro de 2016

GUINÉ — Uma investigação de Armando Tavares da Silva

“A Presença Portuguesa na Guiné 
— História Política e Militar 
— 1878-1926”






“A Presença Portuguesa na Guiné — História Política e Militar — 1878-1926” é um livro de Armando Tavares da Silva, que contou com apoios da Comissão Portuguesa de História Militar, Fundação Lusíada e Direcção de História e Cultura Militar. A edição é da responsabilidade de Caminhos Romanos e do próprio autor. Trata-se de uma obra de 970 páginas, acrescidas de muitos mapas elucidativos, com indispensáveis índices e anexos preciosos e esclarecedores. Edição de muito nível, com ilustrações e gravuras a condizer, página a página com notas de rodapé, o que traduz o empenho e o trabalho que o autor dedicou a este tema que interessa a todos os apaixonados pela nossa história, especialmente, neste caso concreto, pela Guiné, que foi colónia portuguesa.
Quem pega num livro com este peso percebe facilmente que não é um livro vulgar. De peso pelo elevado número de páginas, mas também pelo volume perfeitamente extraordinário dos elementos que o autor nos oferece, com bastantes anos de pesquisas, concatenando imensos acontecimentos que a grande maioria dos portugueses ignora em absoluto.
Confesso que ao debruçar-me sobre a obra fiquei impressionado com o que tinha e ainda tenho para ler, não como quem lê um romance, já que, capítulo a capítulo, num total de trinta e dois, há, inevitavelmente, muito que refletir, que estabelecer ligações, que apreciar fotografias, mapas e demais ilustrações, minuciosamente legendadas e com indicação das origens. 
Armando Tavares da Silva, Professor Catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, neto de oficial da Armada e de administrador colonial, encontrou decerto nestes seus antepassados motivações para abraçar, com paixão e entusiasmo, apesar da serenidade da sua voz e postura, este enormíssimo desafio. Aposentado desde 2002, não se quedou comodamente a ver passar o tempo. Desde essa altura, tem-se dedicado à investigação história, sendo sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Instituto Português de Heráldica e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. 
Em Agradecimentos, o autor manifesta o seu reconhecimento ao Arquivo Histórico Ultramarino e ao Instituto Geográfico do Exército, referindo o apoio recebido de diversas entidades oficiais e demais pessoas que, de uma forma ou outra, contribuíram para a edição desta obra que eu considero monumental, pela riqueza de pormenores e rigor histórico, tanto quanto me é dado ajuizar.
Em Palavras Prévias, Armando Tavares da Silva afirma que «São ainda desconhecidos no nosso País muitos aspectos do que foi a presença de Portugal nas terras da Guiné», realçando a «escassez de estudos sobre essa presença, dando a conhecer a acção governativa portuguesa e a história militar que lhe está associada». 
Adianta que «O presente trabalho tem por fim mostrar de forma objectiva, rigorosa e imparcial, um conjunto de acontecimentos ilustrando o que foi a governação da Guiné pelos portugueses, no decorrer do importante período em que foi sentida maior pressão para a ocupação efectiva do território, em que decorreram as negociações com a França para a sua delimitação e em que se concentraram, na quase totalidade, as chamadas operações de “pacificação”».
Ao garantir que não é objectivo desta obra «fazer a história da Guiné na multiplicidade de aspectos de que se reveste», Armando Tavares da Silva frisa o contributo da administração portuguesa, em especial nas áreas da justiça, educação, fomento e acção missionária e religiosa, «essenciais para o seu progresso». 
No Prefácio, assinado pelo Presidente da Academia de Marinha, Nuno Vieira Matias, lê-se: «A riqueza da extensa investigação dá-nos conta de muitos conflitos verificados, quer entre as etnias locais, quer entre estas e os portugueses, mas também refere inúmeros episódios de bom relacionamento que tivemos com os nativos. Daí se extrapola que a dificuldade de convívio tem sido uma constante, que chega até aos nossos dias.»
Nuno Vieira Matias adianta ainda que «estamos perante um livro que constitui, na verdade, uma notável obra de investigação histórica, produzida com grande rigor científico e que exemplifica bem o gigantesco esforço que um povo pouco numeroso, saído do extremo oeste da Europa, desenvolveu, pioneiramente, pelo mundo fora».
Fernando Martins

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Mais quadras de António Aleixo


P´ra que tentaste subir
tão alto, mulher vaidosa?
quem sobe assim vai cair
na lama mais vergonhosa...

Meu amor, vê se te ajeitas
a usar meias modernas,
dessas meias que são feitas
da pele das próprias pernas.

De te ver fiquei repeso,
em vez de ganhar, perdi;
quis prender-te, fiquei preso,
e não sei se te prendi.

Que feliz destino o meu 
Desde a hora em que te vi; 
Julgo até que estou no céu 
Quando estou ao pé de ti.

Vemos gente bem vestida,
no aspeto desassombrada;
são tudo ilusões da vida,
tudo é miséria dourada.

Para não fazeres ofensas 
E teres dias felizes, 
não digas tudo o que pensas, 
mas pensa tudo o que dizes.

Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei,
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.

Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.

Não me deem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.


António Aleixo

NOTA: Se repararem, aqui ao lado esquerdo há o registo das mensagens mais vistas no meu blogue. Na lista figura, como curiosidade, a procura das quadras de António Aleixo. Por isso, aqui publico mais algumas.

Universidade de Aveiro, uma das mais dinâmicas do país


«A Universidade de Aveiro, onde no passado já orientei teses de mestrado, é hoje uma das mais dinâmicas do país e foi muito curioso constatar que as interrogações que atravessam o seu Conselho Geral refletem a maturidade da reflexão que nela tem vindo a ser empreendida.»

Ler mais aqui

domingo, 13 de novembro de 2016

Rosa amarela...


Uma rosa amarela do nosso jardim para enfeitar o fim de tarde, agora noite, quando a luz permitiu o clique do registo para este tempo. Para este tempo, digo eu, porque ainda é possível contemplar a beleza, apesar das nuvens negras que de vez em quando ameaçam a nossa tranquilidade. De morte e dramas não quero falar hoje, que a beleza da rosa ficaria toldada.
Boa semana para todos.

Uma provocação teológica

Crónica de Frei Bento Domingues 



1. Existe uma comissão nomeada pelo Papa Francisco para estudar a hipótese de as mulheres serem ordenadas diaconisas. Christiana Martins[i] publicou, a esse propósito, uma longa entrevista. Refere que “o Expresso contactou três membros da Comissão de Estudo sobre o Diaconado Feminino: Phyllis Zagano, leiga e teóloga da Universidade de Hofstra, nos EUA; a catalã Nuria Calduch-Benades, da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma; e Mary Melone, a primeira reitora do Instituto Antoniano. Responderam dizendo estar obrigadas ao sigilo e remeteram qualquer comentário para o Arcebispo Luis Ladaria Ferrer, jesuíta, que preside à comissão e é o número dois da Congregação para a Doutrina da Fé”.
A composição da Comissão é saudavelmente paritária: seis homens, bispos e sacerdotes, e seis mulheres, religiosas e leigas. Logo à partida, temos quem actualmente conta e quem pouco vale.
Entretanto, o Papa Francisco, no regresso da sua viagem à Suécia, que tem à frente da própria Igreja uma mulher, foi interrogado por uma jornalista: “que pensa disto? É realista pensar em mulheres-padres também na Igreja Católica, nas próximas décadas? E se não, porquê? Os padres católicos têm medo da concorrência?”
Resposta do Papa Francisco “Quanto à ordenação de mulheres na Igreja Católica, a última palavra clara foi dada por São João Paulo II, e esta palavra permanece”.

sábado, 12 de novembro de 2016

Em Novembro, estórias de amor e morte

Crónica de Anselmo Borges 



Por influência dos celtas e questões de calendário - é Outono a caminho do Inverno, que evoca a noite -, mesmo nas nossas sociedades modernas é no mês de Novembro que os mortos são mais lembrados. Sim. Mesmo nas nossas sociedades que fizeram da morte um tabu - disso não se fala, é de mau gosto e mau tom. Vive-se como se a morte não existisse. É melhor esquecê-la. Mas há este alçapão: ela não se esquecerá de nós. Por isso, em todas as culturas e sociedades, há estórias, mitos, que tentam explicar o inexplicável, esse mistério da morte, a coisa mais natural - como diz a nossa palavra nada, do latim, res nata: tudo o que nasce morre -, mas que não devia ser, a ponto de, segundo os antropólogos, sabermos que na longa história da evolução há seres humanos quando encontramos rituais funerários.
Aí estão algumas dessas belas estórias míticas.

1. A primeira foi o filósofo Manuel Fraijó que ma relembrou. Um antigo mito melanésio conta que no princípio os humanos não morriam. Quando chegavam a uma certa idade, mudavam a pele e ficavam outra vez jovens. Mas, um dia, aconteceu o inesperado: uma mulher aproximou-se de um rio para o rito da mudança de pele; atirou à água a pele velha e regressou rejuvenescida e contente; aconteceu, porém, que o filho a não reconheceu: aquela não era a sua mãe. Desejosa de recuperar o amor do filho, voltou ao rio e voltou a pôr a pele velha, que tinha ficado enredada num arbusto. Desde então, os humanos já não mudam a pele, e morrem. Um belo mito que relaciona a origem da morte com a única força superior a ela: o amor, o amor de mãe.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Leonard Cohen — a minha homenagem



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Poesia de Bocage para estes tempos




O Leão e o Porco

O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.


Bocage, in 'Fábulas'

Nota: Por sugestão do caderno Economia do EXPRESSO

Dar testemunho em nome de Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 

Jesus aproveita um comentário que ouve na esplanada do Templo, em Jerusalém, para abrir a “ponta do véu” sobre as realidades últimas, o sentido da história, o alcance das transformações em curso, os germes do mundo novo a surgir. E sobretudo sobre a atitude dos discípulos face a esses sinais dos tempos, que suscitam perplexidade e exigem atenção e discernimento. Recorre a uma linguagem profética típica de quem fala para iniciados a fim de lhes revelar verdades consoladoras e de os exortar a não perderem a oportunidade de marcar a diferença em relação a quem vive “distraído”.
Exemplo desta atitude é dado pelo Cardeal Parolin, após a eleição do novo presidente dos Estados Unidos da América, ao expressar o voto de que de que Deus o ilumine e o ampare no serviço à pátria e ao bem-estar e à paz no mundo. “Acredito que hoje exista a necessidade de todos trabalharem para mudar a situação mundial, que é uma situação de grave dilaceração, de grave conflito”.
E o secretário de Estado do Vaticano, já havia dito: “Creio que, antes de tudo, tomamos conhecimento com respeito da vontade expressa pelo povo estadunidense neste exercício de democracia que, soube, foi caracterizado também por uma grande afluência às urnas”. Exemplo que revela a sabedoria e a prudência, fruto de contínuo discernimento.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A democracia é isto...

 Goste-se ou não, a vitória de Trump foi limpa. Tive muita dificuldade em compreender o seu triunfo, mas logo me lembrei de que o povo tem sempre razão. É ele quem mais ordena, diz a canção que todos sabemos cantar ou trautear. E a partir daí, teremos que respeitar a decisão de uma democracia madura. 
Estamos a pensar também no que virá aí a reboque das eleições nos Estados Unidos. As forças dos milhões e milhões dos descontentes, dos famintos, dos excluídos, dos sem voz e das vítimas das políticas ultraliberais hão de tentar esbofetear quem governa esquecendo-se das pessoas... 
Na nossa Europa já há sinais do que afirmo... E estou com muita curiosidade em saber o que acontecerá nas próximas eleições na França e na Alemanha, dois países que têm servido de barómetro na comunidade europeia. Digo isto porque o exemplo dos Estados Unidos vai refletir-se em todos os quadrantes. Com a vitória de Trump, o mundo ficará diferente. Estarei enganado? Oxalá.

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