sábado, 22 de outubro de 2016

Utopias, distopias, retrotopia

Crónica de Anselmo Borges 




Coube-me a honra de um convite para participar no magno evento cultural Folio, na bela Óbidos, com uma fala sobre utopias e distopias, a que acrescentei retrotopia, pelas razões que direi.


1. Foi Thomas More que cunhou o termo utopia, com a publicação, há 500 anos, de A Utopia, cujo título em latim é mais longo: De Optimo Reipublicae Statu Deque Nova Insula Utopia (sobre o melhor estado de uma República e sobre a nova ilha da Utopia). Ele sabia do que falava, concretamente do poder, pois foi chanceler. A Igreja canonizou-o em 1935. A Utopia é uma ilha imaginada lá longe no oceano (utopia tem o seu étimo no grego: ou, que se lê u, que significa não) e tópos, com o significado de lugar. Portanto, Utopia é um não lugar; de qualquer forma, um ideal que indica o caminho.
A utopia supõe a distopia (também do grego: dys, que significa mau, duro: portanto, um mau lugar, o oposto a utopia). Assim, na primeira parte, More critica os males que atravessavam a sociedade inglesa, do despotismo e venalidade dos cargos públicos à sede de luxo por parte dos privilegiados e à injustiça e opressão que provocam. Na segunda parte, descreve uma sociedade ideal, que imaginariamente já se encontra realizada na ilha da Utopia. Neste sentido, embora haja vários tipos de utopias, a utopia nasce como eutopia (mais uma vez, do grego: eu- bom, feliz, e tópos, um lugar bom e felicitante, como na palavra Evangelho: eu+angelion, notícia boa, feliz, felicitante).

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Gafanha da Nazaré — Movimento de Schoenstatt

Registos da visita de hoje
 
Um símbolo de acolhimento com a âncora da nossa terra

O Santuário abraçado por árvores, arbustos e flores

Casa José Engling  sempre  florida

As pedras vivas neste arranjo decorativo

Uma explicação oportuna

As flores sempre presentes

Jovem entra no Santuário
Como faço periodicamente, passei hoje com a Lita pelo Santuário de Schoenstatt. Sentimos que ali se respira um ambiente acolhedor, marcado pelo silêncio e pelo culto da natureza. Arvoredo com bons anos, mas com zonas de reflorestação, denotando que alguém sabe que os espaços que nos envolvem precisam de atenção e cuidados. Pouca gente, que a hora era de trabalho para quem trabalha. Mesmo assim, registámos que era constante a passagem de pessoas. Chegavam, olhavam à volta como que a reconfirmar que Schoenstatt se caracteriza por ser um recanto “onde é bom estar”. Entravam... pelo tempo de estada, simplesmente para uma curta e  porventura habitual oração ou meditação, e partiam, a pé, de carro ou de bicicleta.
Esta passagem arrancou do meu subconsciente vidas ligadas a Schoenstatt, umas ainda entre nós e outras que já partiram para o Pai, como a Dona Maria da Luz Rocha, mas também trabalhos e canseiras dados a sorrir, coisa própria de quem se dá por amor. 
Sou do tempo da mata da Gafanha quase sem nada de importante no meio dos pinheiros, que raramente engrossavam, e vi crescer arruamentos para a todos servir, instituições variadas, o casario da Colónia Agrícola e a chegada de Schoenstatt, com muita gente que me habituei a respeitar. 
Hoje valeu a pena ter saído de casa. Aliás, vale sempre a pena sair de casa, nem que seja para um simples passeio.

Algumas datas:

— O Movimento Apostólico de Schoenstatt (MAS) foi fundado em 18 de outubro de 1914, na localidade do mesmo nome, na Alemanha, pelo padre José Kentenich;

— O MAS entrou na Gafanha da Nazaré em 1970, com a vinda do padre Miguel Lencastre para desempenhar as funções de coadjutor, com a concordância do pároco, padre Domingos Rebelo;

— Como é característica fundamental da missão de Schoenstatt, o Movimento necessita de um Santuário, cópia do original, fonte de graças e local de veneração da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt;

— O MAS destina-se a todas as pessoas das várias faixas etárias, de ambos os sexos, mas ainda a sacerdotes regulares e seculares, bem com a Irmãs. Há os Padres de Schoenstatt e as Irmãs de Maria, entre outros consagrados. No fundo, o MAS está aberto a todos os que apostam “num novo homem para uma nova sociedade”

— No dia 22 de maio de 1977, foi inaugurado um nicho;

— Em 25 de março de 1979, foi inaugurada a Casa das Irmãs de Maria e dada a primeira pazada do futuro Santuário em terras da Diocese de Aveiro, por D. Manuel de Almeida Trindade;

— No dia 1 de maio do mesmo, foram iniciadas as obras de construção do Santuário, de que foram impulsionadores a Irmã Custódia, os padres Miguel Lencastre e António Maria Borges e Vasco Lagarto;

— Em 20 de maio de 1979, foi benzida a pedra angular do futuro Santuário;

— A 21 de outubro de 1979, foi inaugurado o "Santuário Tabor Matris Ecclesiae" por D. Manuel de Almeida Trindade; 

— A 21 de setembro de 1993, o Santuário de Schoenstatt é declarado, por D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, Santuário Diocesano;

— A Casa José Engling foi sonho nascido em 1980, graças à inspiração do padre Rúbens Severino, então pároco da Gafanha da Nazaré, e da Juventude Masculina de Schoenstatt. Foi inaugurado em 29 de janeiro de 1985.

— No Santuário cultivam-se as graças do acolhimento, da transformação interior e do envio apostólico. A espiritualidade do MAS assenta no vínculo à Aliança de Amor com Nossa Senhora, na ligação ao Santuário por visita assídua e adoração ao Santíssimo Sacramento, e na atenção aos ensinamentos o fundador, Padre José Kentenich.

Fernando Martins

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

MANIFESTO-ME NA ORAÇÃO QUE FAÇO

Reflexão de Georgino Rocha


O  Fariseu e o Publicano (Abadia de Ottobeuren)
O olhar de Jesus centra-se nas atitudes das pessoas e nas formas do seu relacionamento. Adverte em “coisas” que contradizem o projecto de salvação que vem anunciando. Dá conta de que há quem se considere justo e despreze os outros; de quem aproveite a oração no Templo para se exibir e fazer comparações humanas depreciativas; de quem está cheio de si e das suas obras e não deixa espaço para Deus nem para os demais; de quem apenas reconhece a situação em que se encontra proveniente da sua profissão odiada, “pecadora”.
Adverte e quer repor a verdade. Recorre à parábola do fariseu e do publicano que vão ao templo, como era hábito dos judeus, para orar. Cada um leva o que tem no coração, santuário da nossa realidade mais profunda. Cada um faz oração a seu jeito e manifesta-se tal como é.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Andanças com ria à vista - 1

Comecei por aqui, mas não comprei flor de sal. Ficará para a próxima

O reflexo é mais nítido do que o original
Sei pouco de passarada, mas percebi que estas aves posaram para a fotografia
Porto de Pesca Longínqua com poucos navios. Bem visível está o Santa Maria Manuela com os seus quatro mastros
Do outro lado da ria. Do longe se faz perto
De vez em quando é preciso sair de casa, mesmo com dificuldades no andar. Mas vale a pena o sacrifício pelo prazer de manter animada a memória cheia de imagens de tantas décadas de vida. Hoje por aqui, depois ainda à volta da laguna aveirense. A seguir outros recantos, que a região está cheia de desafios. Curiosamente, senti que toda a vida estive muito alheio ao outro lado da ria. Sem barco à mão, ficamos analfabetos, ou quase, em relação a certas margens. Bem ouço que é preciso passar às periferias, mas temo as caminhadas. 

D. João Evangelista ordena inquérito aos acontecimentos de Fátima

1917 — 19 de outubro

«O ilustre aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal, então arcebispo de Mitilene e governador do Patriarcado de Lisboa, ordenou que se procedesse a um inquérito sobre os acontecimentos extraordinários de Fátima, iniciando assim o processo canónico das aparições da Virgem Maria às três crianças (João Gonçalves Gaspar, Lima Vidal no seu Tempo, II, pg. 80) – A.»

“Calendário Histórico de Aveiro”
de António Christo e João Gonçalves Gaspar


NOTA: É curioso verificar como não me lembrava desta efeméride em que esteve envolvido D. João Evangelista de Lima Vidal, apesar de ter lido o livro escrito por Mons. João Gaspar. Aquele que veio a ser o primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro afinal também esteve ligado ao processo das aparições de Fátima. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não haverá salvação?

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO de domingo



«A devoção que retém as pessoas nas igrejas, nas sacristias, 
está a opor-se a um Jesus em viagem para as periferias sociais e culturais.
 Foi isto que o papa Francisco veio lembrar: só vale uma Igreja de saída!»


1. Por causa do texto do passado domingo, recebi um telefonema longo, tentando mostrar-me que já não existem deuses, homens ou mulheres que nos possam salvar. O mundo está irremediavelmente perdido. Os cristãos são os mais culpados pela enganosa ideia de salvação. Depois da derrota de Jesus de Nazaré, inventaram a fé na impossível ressurreição. Não havendo remédio contra a morte, só ela nos pode livrar do mal de existir.
Depois desta metafísica veio uma sumária lição sobre a responsabilidade europeia no actual desconcerto do mundo. No séc. XIX, a filha da civilização das Luzes cegou-se com o alargamento das suas zonas de dominação. Duas guerras mundiais, de horrorosos extermínios, tornaram a memória do século XX numa vergonha sem nome.
Das ruínas surgiu a ideia de construir uma Europa como nunca tinha existido. Num momento de lucidez, alguns dirigentes de partidos democratas-cristãos e sociais-democratas consentiram em criar as condições para a sua união. Não previram que os sucessores iriam desprezar as boas regras da cooperação e do funcionamento democrático das instituições. Com desníveis económicos tão acentuados e sem o desenvolvimento de uma cultura de diálogo intercultural — a partir da família, da escola e das relações de trabalho — os velhos demónios do nacionalismo populista voltaram a agitar-se.
Os eurocépticos passaram a queixar-se do casamento e a calcular as vantagens e inconvenientes de um divórcio. O outro europeu está a tornar-se um adversário e os acossados pela guerra e pela fome que lhe batem à porta são seleccionados conforme o contributo que possam representar para os seus interesses e necessidades.

sábado, 15 de outubro de 2016

Ílhavo, Terra Milenar — Uma exposição a não perder

Exposição no Centro Cultural de Ílhavo 

“Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, 
segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, 
porque o presente é futuro do passado, 
e o mesmo presente é o passado do futuro.”

Pe. António Vieira


Fernando Caçoilo e Paulo Costa

Fernando Caçoilo e Maria Isabel Ribeiro


Eliana Fidalgo na visita guiada







Com o jogo de palavras simples e sabiamente ordenado pelo Pe. António Vieira, foi inaugurada hoje,  15 de outubro, no Centro Cultural de Ílhavo, pelas 17 horas, a Exposição “Ílhavo, Terra Milenar”. Vai ficar patente até 17 de abril de 2017, sendo certo que durante um ano será, garantidamente, enriquecida, graças ao contributo dos munícipes, mas não só. Aliás, este foi o desafio lançado a todos os presentes pelos autarcas e demais responsáveis da equipa que coordena o projeto — CIEMar-Ílhavo —, que abarca o estudo do passado e do presente, rumo ao futuro.
Fernando Caçoilo, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, sublinha que deu luz verde a este projeto na convicção de que a nossa história é importante e merece ser mais conhecida. «Pode haver muito conhecimento, mas se não for partilhado pela comunidade, se ficar guardado na gaveta, não serve absolutamente para nada», disse. Refere ainda, entre outras considerações, que «o passado nos dá força e conhecimento para percebermos o que devemos fazer para o futuro das nossas gerações». 
Paulo Costa, vereador da Cultura e dinamizador deste aliciante trabalho, que considera «ambicioso», frisa a importância de todos conhecermos melhor a nossa história «mais sistematizada». Adianta que nos próximos seis meses serão desenvolvidas diversas iniciativas, de forma regular, nomeadamente, conversas, colóquios e debates, dirigidas a vários públicos. 
Admite que a partir deste trabalho-base haverá trabalhos mais intensos, com investigação mais profunda, estando em preparação uma monografia do município «a várias mãos». Salienta que a história do povo «nunca está escrita» porque precisa constantemente de ser «reescrita». Nessa linha, Paulo Costa está certo de que esta exposição «deverá ser um incentivo para conversar e para discutir», no sentido de «conhecermos o passado para prepararmos o futuro». Garantiu, também, que o projeto “Ílhavo, Terra Milenar” vai chegar às escolas.
Maria Isabel Ribeiro, da equipa do Prof. Saul Gomes, responsável científico desta ação da autarquia, valoriza a presença de representantes das universidades de Coimbra e Aveiro e o trabalho dos investigadores voluntários, afirmando que «a história nunca está acabada». «Este é um trabalho organizado, coordenado e metódico, que se apoia em pesquisas, incluindo a investigação arqueológica».
Garante que o Foral Manuelino de Ílhavo, cujo estudo foi já publicado pela autarquia ilhavense, «foi um momento marcante», e sobre a mostra patente no Centro Cultural lembra que «há trabalhos que não têm a visibilidade de uma exposição». «O conhecimento não pode ficar fechado numa biblioteca; serve se servir aos cidadãos».

Fernando Martins

O vinho na Bíblia

Crónica de Anselmo Borges 



Em tempo de vindimas e vinho novo, 
fica aí uma alusão ao vinho na Bíblia.


1. O vinho é tão importante, com funções tão significativas no convívio social e na vida toda, que os antigos até pensavam que ele era uma criação dos deuses. Dioniso - Baco para os romanos - era o deus do vinho, que ensinou aos homens a arte do cultivo da videira e da preparação do vinho. Ele é de tal modo exaltante que, na leitura dos clássicos, da grande literatura, como belos poemas, grandes tragédias, romances geniais, dizemos que ficamos "inebriados". Diante do esplendor da beleza - o maior exemplo, para mim, é sempre a música, a grande música -, há quem exclame: "Uma bebedeira de beleza!" Num dos mais extraordinários diálogos filosóficos de sempre sobre o amor - o Banquete (Simpósio), de Platão -, lá está o vinho. Na Bíblia, as referências ao vinho são muitas. Tanto no Antigo como no Novo Testamento.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Clube de Vela Costa Nova


O Clube de Vela Costa Nova 
é um dos mais antigos clubes náuticos 
da zona do estuário 
da Ria de Aveiro 




O Clube de Vela Costa Nova é um dos mais antigos clubes náuticos da zona do estuário da Ria de Aveiro. 
Localizado na bonita e singular Praia da Costa Nova do Prado, a cerca de 10 minutos das cidades de Ílhavo e de Aveiro, o Clube de Vela Costa Nova promove a náutica de recreio nesta zona da Ria. 
Fundado em 1981 e dotado do estatuto de Associação de Utilidade Pública, o Clube de Vela Costa Nova tem na Vela Ligeira e de Cruzeiro o seu principal foco de atividade, tendo-se constituído, ao longo dos seus mais de 35 anos de atividade, como referência na formação de jovens velejadores e na divulgação das classes de vela mais tradicionais. As suas escolas de Vela e de Náutica de Recreio, ambas certificadas, são hoje em dia uma referência a nível nacional. 
As 4 Horas da Costa Nova associações Clube de Vela Costa Nova constituem uma Regata emblemática organizada anualmente durante o mês de agosto na zona da Ria em frente à Costa Nova. Esta prova, na qual participam anualmente dezenas de barcos, é hoje em dia um evento marcante na promoção da vela e da região, sendo, por si só, um cartaz que atrai à Costa Nova largas centenas de visitantes e adeptos do desporto náutico. 
Com cerca de 900 associados, o CVCN procura ser hoje uma associação virada para o futuro e uma referência entre os maiores e mais modernos Clubes da Região Norte de Portugal. Com um longo historial rico e marcante na promoção da vela e investimentos patrimoniais elevados, o CVCN pretende manter-se como uma instituição de excelência, contribuindo para a valorização dos seus sócios e do meio onde se encontra inserido, bem como promover turística e culturalmente a Costa Nova, o Município de Ílhavo e a Ria de Aveiro.

Principais Atividades 

- Escola de Vela (todo o ano); 
- Escola Náutica de Recreio (cursos de Marinheiro, Patrão Local, Patrão de Costa, Patrão de Alto Mar, Radiotelegrafista Classe A, Radiotelegrafista Geral); 
- Regata 4 Horas da Costa Nova; 
- Circuito da Ria de Cruzeiros; 
- Organização de Campeonatos Nacionais Federados de Vela.

Clube de Vela da Costa Nova

Av. José Estêvão 
3830-453 Costa Nova do Prado

Tel 234 369 300 Telm 963 898 568
www.cvcn.pt cvcn@cvcn.pt

Presidente da Direção

Paulo Ramalheira

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

Nota: Fotos do meu arquivo

A força da oração confiante e persistente

Reflexão de Georgino Rocha
Papa Francisco em Bangui
Uma viúva teimosa e um juiz sem escrúpulos, iníquo, são os protagonistas da parábola que Jesus narra para mostrar aos discípulos a necessidade da oração confiante e persistente. A queixosa não deixa em paz quem lhe pode valer, fazendo justiça. Via-se acossada por um perseguidor que não a largava. Não tinha qualquer outra defesa: familiares ou vizinhos, amigos, crentes praticantes ou indiferentes religiosos. Sentia-se amargurada e só. Certamente lhe ocorrem várias saídas. Escolhe uma, a mais coerente e honesta. Cheia de determinação, dirige-se ao juiz, o encarregado de velar pelo cumprimento do direito. Pede-lhe justiça. Nada mais. Que o adversário deixe de a atormentar. Que possa viver em paz. Que a liberte da amargura e do medo.

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