Todos sabemos que não é fácil viver na mudança com alegria, liberdade interior e com critérios que denunciem sabedoria. Os mais velhos carregam hábitos e preconceitos, uma carga difícil de alijar para ver o que traz de novidade a mudança. Os mais novos, porque as experiências de vida ainda não têm para eles grande expressão, mais correm atrás das emoções que das razões. Os do meio, gente mais ou menos sabida, mas não tanto como julga, vivem, por vezes, para si próprios comportamentos de uma adolescência retardada que as mudanças favorecem, mas enchem-se de autoridade e dureza para com os filhos e os de fora, em relação a exigências correntes. Muita gente acaba por ver, depois das dificuldades surgidas, que afinal andava na corda bamba ou instalada à margem da vida real, sem se aperceber das mudanças e seus desafios.
Aprender a viver na mudança é uma das exigências fundamentais da educação e do crescimento. Quer queiramos ou não, quer gostemos ou critiquemos, a verdade é que as mudanças culturais, rápidas mas com anzóis que prendem, não param mais, nem se compadecem com a nostalgia de quem espera que o tempo volte para trás.
Viver na mudança com decisão e serenidade, aprender a ficar de pé nos solavancos da vida, não enjoar no quebrar dos vagalhões que balanceiam o barco, sentir-se acompanhado por quem enfrenta os mesmos desafios sem desanimar, não perder o sentido do que se pretende e quer, assumir a responsabilidade das decisões nos momentos menos claros, perceber o que se está passando e quem o comanda, é muito importante para cada pessoa viva e que assim quer continuar. Indispensável para conviver na família, no trabalho, na politica, na Igreja, nos divertimentos, em tudo.
Muita gente já vai compreendendo que assim é, e tenta preparar-se, sem se retirar da vida, enfrentando os desafios da mesma. Outros permanecem casmurros, contrariam as mudanças evidentes com juízos redutores, à espera que todos lhe dêem razão, nem se apercebendo que cada dia têm menos gente que os ouça ou lhes peça conselho. Também não falta quem expenda opiniões que agradam e dê conselhos superficiais, sem pensar se fortalecem as raízes do pensar e do agir, ou se apenas se fazem cócegas aos ouvidos.
Preparar para a mudança, um problema grave que atinge também a Igreja, pede no caso uma atenção cuidada para reforçar e motivar a fé dos crentes e das comunidades, de modo a enfrentarem os desafios novos, com discernimento e coragem.
Há dias chamou-me a atenção o artigo de uma revista de fim-de-semana que dava pelo título: “Educação: ajude os seus filhos a compreender as mudanças”. A desilusão veio logo, porque eram duas páginas, com aparato e fotografia, apenas para explicar aos meninos e meninas a sua fisiologia. No fundo, o isco é sempre o mesmo. Tratava-se da publicidade de mais um livro, vindo da Califórnia…Na véspera caíram-me os olhos no ecran do televisor, onde uma psicóloga e uma mestra de horóscopos, falavam com gente nova, mais sabida do que se julgava, e a que não faltava a sondagem de rua para ouvir pais e avós opinarem sobre a altura de filhas e netas quebrarem a virgindade…
Neste procurar perceber as mudanças para responder a novos desafios, não se podem esperar ajudas para voos mais altos, de gente de asas cortadas ou que não sabe voar
Preparar para a mudança é matéria educativa em muitos quadrantes da vida, que não só a sexualidade, por importante que esta seja. Nem esta será bem entendida e vivida, sem se perceberem e assumirem as suas razões mais profundas, que vão muito para além do simples cuidado para evitar consequências indesejáveis e de saber os limites do prazer.
Um exemplo actual. Sondagens fiáveis e recentes concluíam que uma percentagem altíssima de pré adolescentes diz que já não pode passar sem o telemóvel? Certamente que são os pais que lhos carregam. Aprender a responder aos desafios das mudanças é aprender a ser livre, a ser pessoa em sociedade, a não ser escravo de nada, nem ninguém.
António Marcelino