Em Novembro, o País soube que Ana Maria, de 44 anos, tinha uma cervicalgia degenerativa. Não sei bem o que é mas pareceu-me grave na foto. Sim, Ana Maria teve foto nacional: com colar cervical e cinta lombar. Pois apesar disso, a Caixa Geral de Aposentações obrigou-a a voltar ao trabalho - ela era funcionária de uma Junta de Freguesia, em Ponte de Lima - onde não ia há três anos. Uma daquelas histórias que nos fazem abanar a cabeça: só neste País! Agora, ficámos a saber que esta história era ainda mais deste País do que temíamos. Tendo de passar por uma junta médica, que devia pôr a coisa a limpo, Ana Maria foi antes ao Bom Jesus, em Braga. E aí sentiu um daqueles formigueiros que precedem os milagres. É, ficou boa. A Junta de Freguesia deveria convidar Ana Maria a devolver, em dobro, os três anos de salário que recebeu sem trabalhar. Não para repor a justiça, isso temo que Ana Maria não compreenda. Mas, em linguagem que ela entenderia, para pagar uma promessa.
Ferreira Fernandes, no DN
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Uma porta para o Evangelho
O Evangelho nunca entrou, onde quer que fosse, apenas com o tesouro das palavras. Sempre delas precisou para compor a grande Palavra, o Verbo, que desde o princípio estava em Deus e era Deus. Mas logo a seguir acontecia a grande viagem: encarnar e habitar no meio de nós. E assim se estabelece o elo entre o Infinito e o finito, entre Deus e o homem. E assim foi no princípio e pelo tempo fora. Palavra, acto e gesto como que se fizeram um só nesta aproximação de Deus e na habitação com os homens. Em Jesus se reforçou o gesto e o símbolo. A palavra aliou-se à caridade como sendo um só. E o pão foi servido á mesa de Deus e do homem, do corpo e da alma. Desde o início que evangelizar foi dizer que Jesus é o Pão da vida que mata a fome para a vida eterna. Exemplo disso foi a multidão faminta sentada na relva que sentiu saciada a sua fome e entendeu que outras fomes havia a saciar.
A história da missão é a partilha fraterna deste pão eucarístico, na celebração do mistério envolto na partilha do pão da Palavra e das palavras, na mesa de cada lar, na escola de cada comunidade, na urgência de cada hospital, no ensino dos pequenos gestos que constroem e vida das famílias e da sociedade. E na aprendizagem da justiça de Jesus que nunca deixa para o fim os que mais carecem de amor e de pão. Foi esta a glória da Igreja missionária. Longe, nos Continentes abandonados, e aqui, nas cidades, periferias e aldeias mais esquecidas dos poderes. E os gestos de acolher em creches, jardins-de-infância, escolas vocacionadas na atenção a cada um, centros de dia, lares de abandonados pela idade ou doença. A Igreja, com a entrega de tantos voluntários, serviços apoiados pelas comunidades, criou uma escola de caridade onde se aprendeu num compêndio único – o Evangelho – a palavra e a partilha.
Novos tempos se vivem. O Estado cada vez mais ocupa estes espaços e copia este estilo. Que mal há nisso? Nenhum. Se, com isso, não pretender transformar o serviço em poder. Quando na realidade dum dever se trata. Que não sirva para roubar missão e afecto.
António Rego
PONTES DE ENCONTRO
Trabalho: uma afirmação de liberdade e responsabilidade!
A propósito da proposta directiva, aprovada pela União Europeia, em 10 de Junho de 2008, e sobre a qual escrevi um texto de partilha, no passado dia 23 de Junho, com o título “A exploração, a dignidade do trabalho e o lugar do homem”, que permite alargar o limite do horário de trabalho até às 65 horas semanais, já muito se escreveu e disse. Nestes assuntos, que colocam de um lado empresários e do outro lado trabalhadores, a unanimidade é quase impossível, pois os interesses, das duas partes, raramente são os mesmos.
Seria bom que todos estivessem do mesmo lado e ainda não perdi a esperança, sinceramente, de que, um dia, tal objectivo seja atingido, para o bem das empresas, dos empresários, dos trabalhadores e da sociedade em geral.
Sei que não é fácil fazer destes desejos realidades, pelo que muito tem que mudar a nível de mentalidades, atitudes e comportamentos de todos os intervenientes, a não ser que, mais ano menos ano, o desespero tome, de vez, conta do homem, e a selva, em que o mundo se está a transformar, faça sobressair o lado mais negro e sombrio do ser humano, do qual a violência é a expressão mais sinistra e desumanizante!
Contudo, não posso nem devo calar-me perante as palavras de um alto dirigente da sociedade portuguesa, a propósito desta directiva da UE, ao afirmar que os trabalhadores se devem preocupar mais em preservar os seus postos de trabalho do que estarem a pensar em questões de legislação laboral. Sem comentários!
As múltiplas crises que estão espalhadas um pouco por todo o lado dão-nos sinais claros de que o limite da capacidade de compreensão do cidadão comum está a ser atingido. Ora, quando assim é, o passo para a irracionalidade humana é rápido e de consequências imprevisíveis, pelo que tudo tem que ser repensado e refundado, já não só a nível dos conceitos económicos ou das políticas que vão gerindo (mal) o mundo, mas do próprio conceito de liberdade.
As crises são cada vez muito mais profundas (e disso já não vale a pena duvidar) e radicam nos estímulos pessoais e sociais com que avaliamos tudo o que nos cerca, em todos os tempos e lugares. Trata-se, portanto, de uma crise de valores, sejam eles históricos, culturais ou absolutos, ainda que os dois primeiros nunca se devam sobrepor aos valores do próprio individuo (os absolutos), desde que este os exerça no uso pleno e sadio de todas as suas faculdades mentais e tenha como objectivo não só o seu próprio bem, mas igualmente o bem-estar dos outros.
Uma sociedade, qualquer que seja, só é doente na medida em que os homens que mais responsabilidades têm na sua liderança, seja da coisa pública ou não, também padeçam da mesma doença e a transmitem aos seus concidadãos como se de uma epidemia silenciosa se tratasse. Homem saudável é aquele que sabendo que, livremente, pode fazer mal opta, também de forma livre, por fazer o bem, pois esse é o primeiro desejo que ele tem para si mesmo, pelo que ele não se pode contradizer na sua pessoa.
Deste modo, cada homem é, em grande parte, a medida do bem ou do mal dos outros, através da forma como exerce a sua liberdade e a sua responsabilidade em si mesmo e com quem interage activamente.
Infelizmente, não falta por aí quem procure separar a responsabilidade da liberdade, dando mesmo a entender que a primeira limita a segunda.
Nada mais falso e perigoso! O homem deve entender que a responsabilidade não limita a liberdade, antes faz parte dela, na medida em que é através dela que a liberdade não passa de um conjunto de instintos e impulsos incontrolados, ao sabor das circunstâncias e dos caprichos de momento. De outro modo, o risco da manipulação, por parte dos que teimam em propagar as suas próprias doenças aos outros, é constante e, muitas das vezes, uma necessidade para que se julguem ou finjam felizes. E isto já está a acontecer, infelizmente!
Vítor Amorim
terça-feira, 1 de julho de 2008
Um livro de Senos da Fonseca
O LABAREDA
Li, num repente, o último livro de Senos da Fonseca, “O LABAREDA”. Com muito prazer o traguei, página a página, quase sem mastigar. Depois, para saborear ideias e poemas que me fizeram retroceder no tempo, voltava atrás, relia, parava, e o filme corria lento à espera que eu recordasse mais cenas da minha meninice.
Figuras de homens e mulheres, que o autor tão bem retrata, fizeram-me rir, e trouxeram-me saudades que me comoveram. Da ria, da borda d´água, dos mercantéis e moliceiros, do linguajar dos pescadores e peixeiras, dos namoricos, dos jaquinzinhos de escabeche, da barca que na “Bruxa” esperava, pachorrentamente, que passageiros chegassem.
O autor, conhecedor profundo da laguna, das marés e das artes de velas e lemes, ofereceu-nos, com sensibilidade e poesia, a estória de uma mulher d´ Ílhavo, Maria, “símbolo de sacrifício, denodo e perseverança, à volta da qual cirandava todo o agregado familiar, girando em torno dos seus desejos, das suas aspirações e da sua indomável vontade”, que se apaixonou pelo Labareda, um murtoseiro que nestas bandas encontrou amor e novos horizontes.
Senos da Fonseca, apaixonado desde há muito pela nossa terra e pela nossa gente, soube encadear, neste livrinho, nacos dos quotidianos dos ílhavos de antanho com evocações de pessoas que fizeram história, ora ficcionando ora recordando o pouco que se sabe da Joana “Maluca”, que recebia em sua casa o José Estêvão e outros fidalgotes, enquanto fumava o seu charuto.
Uma das riquezas deste livrinho está no registo do linguajar do povo, a cair em desuso. São 356 palavras ou expressões, traduzidas em pé de página, que urge ampliar, em dicionário, para estudo dos povos que deram vida, expressiva, ao concelho de Ílhavo e daqui se espalharam pela costa marinha do país. Para se guardarem como marcas indeléveis do povo que nos deu lições de vida, iletrado mas cheio de humanidade. Também rico de conhecimentos alicerçados na escola do trabalho agreste e que os livros nem sempre sabem dar. “As atracações ‘À LABAREDA’, que todos pretenderam – mesmo depois da sua morte – imitar, ficaram na história da laguna. Ninguém as conseguiu igualar. Tornaram-se lenda na história da Costa Nova no dealbar do Séc. XX, e ainda hoje perdura na rapaziada, o hábito de gabar uma ousada manobra de embarcação, pronunciando: essa foi ‘à Labareda’.”
“O LABAREDA” apresenta-se em edição cuidada, com ilustrações de J. António Paradela, que são uma mais-valia para a obra, num formato A5 deitado, cartonado, em bom papel. Trata-se de uma livro que merece ser divulgado junto de toda a gente, em especial dos jovens. É imperioso estimulá-los, para que busquem as nossas raízes com afinco, amem as nossas tradições e preservem a riqueza da nossa história local.
Fernando Martins
NA LINHA DA UTOPIA
A fasquia dos modelos
1. Falar-se de rigor e exigência são ideias que estão na moda mas num patamar marcadamente económico. É, naturalmente, bem que assim seja, que o proclamado rigor percorra esses caminhos; mas que bom seria que esta fosse a medida padrão de tudo quanto são as relações humanas e sociais. Por vezes parece que um contraditório gritante paira sobre a vida social, em que a lógica do interesse comanda aquilo que são os caminhos diários das sociedades. Exige-se “exigência” economicamente, mas desprestigia-se o rigor ético; quer-se fazer da empresa ou da equipa de futebol uma família para ver se se chega ao triunfo, mas pouco valor parece dar-se efectivamente, como modelo de referência, à “família familiar” na sua essência e verdade.
2. Dos escaparates das revistas de imprensa, de cor de rosa ou de outra cor, os modelos sociais de pessoas e vidas estão aí apresentados, como poder de atracção para as camadas mais jovens. Mas que fasquia de valores eles contêm? Que generosidade de vida e resistência nos princípios apregoam? Será que são publicados porque têm mesmo leitores garantidos que preferem a intriga do “casa / separa” às virtudes para uma vida rica de sentido? Que lugar nessas páginas ocupam as famílias felizes, os filhos amados, os idosos amparados, a generosidade que brota da comunidade (familiar) mais importante do mundo? Com toda essa panóplia e com a péssima ideia (subdesenvolvida) de que tudo o que se diz ou o que vem na revista é verdade…que futuro, efectivamente, queremos para a sociedade em geral.
3. Já são muitos os estudos publicados que demonstram que sem famílias e comunidades enraizadas em valores de pertença a sociedade em geral não tem a sua rede de sustentabilidade. A verdade é que os modelos novelísticos são propostos continuamente e normalmente (no realismo da observação) eles têm pouco de fidelidade e de verdadeira felicidade. Talvez também aqui precisemos de um “choque ético de imprensa” que seleccione e faça a opção pelo que merece ter visibilidade em valores positivos no cumprir da sua missão de “educabilidade” social. Vale a pena salientarmos, neste patamar, o caso excepcional da Revista XIS, que vinha aos sábados com o jornal Público. Fez um caminho de cerca de cinco anos; acabou, já há alguns. Nada de novo e estimulante veio ocupar um lugar popular e social idêntico, nesse esforço de divulgação valorativa dos exemplos de alta fasquia de valores e generosidade.
4. Como em tudo, não são os grandes momentos que educam e transformam. É na simplicidade do dia-a-dia que a mensagem passa (ou não). A fasquia das mensagens dos modelos famosos é, hoje, um verdadeiro espectáculo pobre de valores; falam de um amor que não o é, sem futuro, porque é bem mais interesse que generosidade e abdicação. E é esta a mensagem que, silenciosamente, vai passando… Como também, e essencialmente aqui, despertar o rigor e a exigência como valores gratificantes ao sentido da vida?
Alexandre Cruz
Diocese de Aveiro: cinco anos ao serviço da caridade
A diocese de Aveiro estará nos próximos cinco anos voltada para o serviço da caridade. Este anúncio foi feito por D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro, por ocasião do dia da Igreja Diocesana, que teve lugar no domingo, no Santuário de Santa Maria de Vagos.
O actual ano pastoral foi voltado para “O serviço aos mais pobres é sinal visível e expressivo da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”. Mas porque “servir os pobres com uma solicitude permanente” e caridade “não se esgota nunca”, a igreja de Aveiro sente que “o trabalho pastoral ao longo do ano realizado deve ampliar-se, alargar-se e consolidar-se”.
Na homilia que o Bispo de Aveiro dirigiu aos diocesanos, assinalando também o início do ano Paulino, D. António Francisco dos Santos referiu que a igreja diocesana quer “aprender com Paulo a paixão pelo Ressuscitado, o gosto pela sabedoria do Evangelho, a abertura aos novos caminhos da renovação, a determinação para ir ao encontro de todos na imensa vastidão do mundo a evangelizar”.
“Temos tanto a aprender com estes Apóstolos (Pedro e Paulo) para não fecharmos o anúncio do Evangelho e a missão da Igreja àqueles que já conhecem Deus, que já vivem d’Ele”.
D. António Francisco dos Santos indica que espera “uma sociedade nova a nascer de uma civilização em mudança, onde a procura de Deus é silenciosa e complexa, onde as praças já não têm lugares para o Deus desconhecido, mas onde no coração humano continua a haver espaço para o Deus necessário”.
“Esperam crianças sem baptismo, jovens desejosos de encontrar certezas de fé e razões de esperança, famílias que querem ver o seu amor abençoado e os seus filhos a crescer com critérios de dignidade e de valor, idosos a braços com provações trazidas pelo peso da idade, pela doença e pela solidão”, pois são muitos os que aguardam “sinais concretos de acolhimento da Igreja” para regressar a uma descoberta da fé, numa missão confiada a todos.
“Todos somos chamados e convocados para a missão: bispo, presbíteros, diáconos, consagrados(as) e leigos(as)”.
Fonte: Ecclesia
QUANDO FALAR...
Quando falar...
sobre amor,
finja nada conhecer,
para absorver cada frase que
brote do coração.
Quando falar...
sobre a dor,
deixe abertas as janelas da alma
para compreender que amor e dor
são tão parecidos que até os confundimos,
ao vê-los bem de pertinho.
Quando falar...
sobre a paz,
faça-o no rumor da guerra,
para ser ouvido na mais alta voz.
Quando falar...
sobre sonhos,
acorde para vivê-los na melhor
lucidez do seu dia.
Quando falar...
de amizade,
estenda a mão aos seus inimigos,
para que possa provar a si mesmo
aquilo que gosta de dizer aos outros.
Quando falar...
de fome,
faça um minuto de jejum,
para lembrar daqueles que jejuam
todos os dias, mesmo sem querer...
Quando falar...
de frio,
abrace alguém.
Quando falar...
de calor,
estenda a mão.
Quando falar...
de felicidade,
acredite nela.
Quando falar...
de fé,
cerre os olhos para encontrar
a razão daquilo em que crê.
Quando falar...
de DEUS,
faça-o
pelo silêncio
do seu testemunho.
Quando falar...
de si mesmo,
aprenda a calar,
para entender o amor,
a dor,
a paz,
os sonhos...
Glácia Daibert
Poema enviado pelo João Marçal
segunda-feira, 30 de junho de 2008
NA LINHA DA UTOPIA
A mitologia do futebol
1. Se no final, com realismo absoluto, se fizessem contas à vida, muitos clubes e selecções já teriam fechado as suas portas. Só a equipa Espanha, justa vitoriosa do Euro 2008, teria totais razões para sorrir e sentir os frutos do investimento realizado. Mas há muito tempo que as razões foram vencidas, fazendo deste desporto colectivo mais popular do mundo um autêntico caudal de expectativas e representações. Mitologicamente, a aposta do futebol é mesmo essa, encontra-se sempre assente fora da realidade, está no futuro expectante e poucas vezes se tiram, até às últimas consequências, as lições das práticas presentes. Quantas avaliações objectivas não são feitas no mundo do futebol? E se se comparasse o futebol com uma empresa…? Quantas vedetas desiludem e quantos os que se deixam iludir? Quantos nomes famosos nas camisolas representam bem mais o ir à boleia de feitos passados que o empenho dedicado no presente? Estas e tantas outras perguntas pouco se fazem e pouco se respondem…, pois o facto de só um poder ser o vencedor até justifica todas as apostas no futebol muito acima das quatro linhas: publicidade, TV’s, apoios públicos, que parecem superar todas as crises.
2. Segundo registo histórico, tudo começou a 26 de Outubro de 1863, numa reunião entre representantes de 21 clubes, em Londres, tendo sido criado a Football Association. A universidade, instituição secular europeia, esteve na origem da organização do futebol: foram as regras da Universidade de Cambrigde a primeira base de estruturação do futebol. Ebenezer Cobb Morley foi o idealista da Football Association, entidade a que presidiu entre 1867 e 1874. O fenómeno foi-se estendendo; a primeira partida internacional foi entre Inglaterra e Escócia. Na expansão crescente, e contra a visão inglesa que pretendia ter e manter o formato da gestão do futebol, um grupo de países europeus criou, em 1904, a FIFA, Fédération Internationale de Football Association. Com esta organização o futebol popularizou-se e, com “amor à camisola”, começou a difundir-se pelo mundo, tendo sido a África do Sul o primeiro país não europeu a aderir ao novo desporto de equipa em 1909. Depois aderiram a Argentina e Chile (1912) e os Estados Unidos e Canadá em 1913.
3. O crescimento foi tal e continua a ser que ao futebol tudo se junta: moda, canção, política, a par de uma publicidade férrea (como diz Lipovetsky). Uma futebolização social tornou-se, pelo menos na Europa, uma nova espécie de “religiosidade” laica: tudo se escalpeliza, tudo se analisa, tudo se prepara, tudo se agita e grita, festeja ou sofre, numa catarse que por vezes se manifesta até como risco e violência pública. Mesmo nos tempos de crise sócio-económica, a mágica mitológica que contém já o futebol faz com que não pare o seu crescimento. O saldo positivo para a UEFA do Euro 2008 é ainda bem superior ao do Euro 2004 realizado em Portugal. Até onde irá a força dominante do futebol (que ao longo do ano consegue condicionar noites de semana que baralham por completo as agendas da desejada participação social e cultural)? As coisas são como são! Contra factos não há argumentos. A “coisa” cresce, e de que maneira… Os caminhos da Europa andam à volta do estádio, parece que tem que se jogar mesmo com a bola! O que era só entretenimento está tornado a vida colectiva?
Figueira da Foz: Forte e Capela de Santa Catarina
Capela de Santa Catarina em estado de abandono
Comentei ontem, aqui, a traços largos, alguns eventos culturais levados a cabo na Figueira da Foz, para celebrar a intervenção dos figueirenses e povos vizinhos na tomada do Forte, então ocupada pelas tropas napoleónicas, há dois séculos. Disse, também, que dentro do Forte havia uma capela dedicada a Santa Catarina.
Volto hoje ao assunto porque me parece oportuno sugerir que a capela seja recuperada, podendo, muito bem, proporcionar momentos de reflexão a quem chega para conhecer a terra, de praias famosas.
No domingo, ao visitar, no Forte, uma exposição evocativa dos acontecimentos à sua volta vividos há 200 anos, alguém segredava a amigos que seria muito importante que aquele espaço fosse mantido aberto com regularidade, para oferecer aos visitantes páginas da história local. Concordo inteiramente, embora reconheça que, neste país de burocracias, não hão-de faltar complicações que obstem à intervenção no Forte.
De qualquer forma, penso que vale a pena equacionar a questão, no sentido de tornar útil aquele património, símbolo de glórias passadas.
A capela estava fechada e com sinais evidentes de abandono e degradação por fora. Julgo que por dentro estará no mesmo estado lastimável.
Dizem os folhetos turísticos que “a capela, de planta centrada e cúpula de nervuras, dedicada a Santa Catarina de Ribamar”, se deve ao arquitecto Mateus Rodrigues, nos finais do séc. XVI. Ainda se diz que em 1645 serviu como tribunal da Inquisição.
Não ficaria bem, nos espaços anexos à capela, um pólo museológico do Museu Municipal, dedicado à inquisição? Com capela restaurada e funcional, mais pólo museológico, a Figueira da Foz teria ali mais um motivo de interesse para quem chega.
FM
Comentei ontem, aqui, a traços largos, alguns eventos culturais levados a cabo na Figueira da Foz, para celebrar a intervenção dos figueirenses e povos vizinhos na tomada do Forte, então ocupada pelas tropas napoleónicas, há dois séculos. Disse, também, que dentro do Forte havia uma capela dedicada a Santa Catarina.
Volto hoje ao assunto porque me parece oportuno sugerir que a capela seja recuperada, podendo, muito bem, proporcionar momentos de reflexão a quem chega para conhecer a terra, de praias famosas.
No domingo, ao visitar, no Forte, uma exposição evocativa dos acontecimentos à sua volta vividos há 200 anos, alguém segredava a amigos que seria muito importante que aquele espaço fosse mantido aberto com regularidade, para oferecer aos visitantes páginas da história local. Concordo inteiramente, embora reconheça que, neste país de burocracias, não hão-de faltar complicações que obstem à intervenção no Forte.
De qualquer forma, penso que vale a pena equacionar a questão, no sentido de tornar útil aquele património, símbolo de glórias passadas.
A capela estava fechada e com sinais evidentes de abandono e degradação por fora. Julgo que por dentro estará no mesmo estado lastimável.
Dizem os folhetos turísticos que “a capela, de planta centrada e cúpula de nervuras, dedicada a Santa Catarina de Ribamar”, se deve ao arquitecto Mateus Rodrigues, nos finais do séc. XVI. Ainda se diz que em 1645 serviu como tribunal da Inquisição.
Não ficaria bem, nos espaços anexos à capela, um pólo museológico do Museu Municipal, dedicado à inquisição? Com capela restaurada e funcional, mais pólo museológico, a Figueira da Foz teria ali mais um motivo de interesse para quem chega.
FM
Shabab no Porto de Aveiro
O veleiro Shabab Oman acostou ao Porto de Aveiro na passada sexta-feira. Proveniente de Omã, a embarcação participará na Tall Ship Race, no próximo mês de Setembro. A passagem pelo Porto de Aveiro destinou-se a conhecer melhor o porto e a região. Partiu já para Rouen, mas vai voltar.
Construído em Buickie, na Escócia, em 1971, o RNOV “Shabab Oman” entrou ao serviço da Armada Real de Oman em 1979, funcionando como navio-escola para a formação de pessoal militar e civil. A tripulação é composta por sete oficiais, sete sub-oficiais de Marinha e 18 marinheiros. Tem capacidade para alojar 26 estudantes com mais de 17 anos. Para além das actividades formativas, o veleiro tem também servido como embaixador de boa vontade do sultanato, com quatro continentes já visitados, escalas em cerca de 100 portos de 43 países diferentes.
Permitam-me que sublinhe a beleza deste veleiro que passou por aqui. Como ele, outros sulcam as nossas águas, quantas vezes sem lhes podermos pôr os olhos em cima. Vale bem a pena, pois, andarmos com mais atenção.
Leia mais aqui
Fonte: Porto de Aveiro
PONTES DE ENCONTRO
Onde estão os medicamentos para a loucura do mundo?
No dia 25 de Junho de 2008, o jornal Público noticiava que o Presidente do INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde, dependente do Ministério da Saúde, que tem a seu cargo, a nível nacional, a regulação, avaliação, autorização, disciplina, inspecção e controlo de produção, distribuição, comercialização e utilização dos medicamentos), Professor Doutor Vasco Maria, reconheceu, num fórum, em Lisboa, que a contrafacção de medicamentos, é um "problema crescente, à escala mundial, grave e com consequências muito importantes."
O Professor Vasco Maria sublinhou que este problema não se passa só nos países pobres, mas também nos países desenvolvidos, exemplificando que, em 2006, nas fronteiras da União Europeia, foram apreendidas mais de 2,7 milhões de unidades de medicamentos, o que se traduz num aumento de 380%, em relação ao ano anterior.
Acrescentou, ainda, que a contrafacção também deixou de estar limitada às áreas tradicionais, como era o caso da impotência sexual e do emagrecimento, para já se ter situado em áreas do suposto tratamento do cancro, das doenças cardiovasculares ou neurológicas. Sendo, "um problema global, só é possível combatê-lo de maneira global, através de todos os agentes envolvidos, como fabricantes, autoridades reguladoras, profissionais de saúde, polícias, magistrados e consumidores", afirmou.
Que o mundo está a caminhar para a loucura, o desnorte e a irresponsabilidade total já não é novidade nenhuma. Os paradoxos instalam-se, a confusão reina, os infractores tornam-se invisíveis e os tentáculos e as redes clandestinas que se vão criando, metodicamente, chegam perfeitamente para alimentarem este e outros negócios que envolvem, à escala mundial, quantias astronómicas de dinheiro. Toda a gente sabe que, à custa do lucro fácil, países como a India ou a China (que não são exemplo para ninguém) passaram a produzir toda uma série de medicamentos, em condições de rigor mais que duvidosas, que, depois, são enviados para a Europa (a Islândia é um dos principais entrepostos europeus), onde ganham o estatuto de credibilidade e de garantia, passando a ter o nome de genéricos. Segundo o INFARMED, no caso português, estes medicamentos são em tudo iguais aos medicamentos originais, seja em qualidade, equivalência, biodisponibilidade e biocompatibilidade. Não sei porquê, mas creio que, não fosse esta alteração, meramente geográfica, todas estas equivalências não seriam aprovadas, de acordo com o rigor científico exigido aos medicamentos originais que lhe deram origem, após terem perdido o prazo da protecção comercial da sua patente.
Não bastavam já estas questões, não tão disparatadas como se possa pensar, e que me criam sérias dúvidas entre optar por medicamentos genéricos ou de marca, quando sou confrontado com esta notícia da contrafacção de medicamentos, onde a India e a China, entre outros países, são apontados como locais de fabrico. Quem apostou neste processo de contrafacção viu que o podia fazer, e uma das condições para tais projectos, à margem da lei, avançarem é darem a certeza de lucro garantido, na medida em que sabem que as autoridades, que têm a seu cargo a fiscalização e o controle de qualidade dos fármacos, não têm condições para uma fiscalização suficientemente eficaz. Mais uma vez, é o lado mais obscuro e louco do mundo a procurar vencer o mundo dos valores e da ética. Porque será? O que está a falhar para esta barbárie não parar?
Ao contrário do que parecem querer fazer passar na notícia, estas vendas não são só feitas via Internet, mas, provavelmente, também numa qualquer respeitável farmácia ao pé da nossa porta. Quem é que pode garantir, honestamente, o contrário? Uma certeza parece óbvia: já, antes, foram abertas as portas e as condições para que tudo isto esteja a suceder. Não é de admirar que este abrir de portas e da criação de condições, que levou à contrafacção de medicamentos, tenha sido iniciada em nome de cortes nas despesas de saúde de um qualquer Estado do globo. Diz-se que o barato sai caro; esperemos que não seja este um exemplo disso mesmo. Resta-nos saber se, ainda, é possível fechar esta caixa de Pandora, pois, se não for, é caso para dizer que pode-se não morrer da doença, mas as probabilidades de morrer da cura vão aumentado, cada vez mais!
No dia 25 de Junho de 2008, o jornal Público noticiava que o Presidente do INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde, dependente do Ministério da Saúde, que tem a seu cargo, a nível nacional, a regulação, avaliação, autorização, disciplina, inspecção e controlo de produção, distribuição, comercialização e utilização dos medicamentos), Professor Doutor Vasco Maria, reconheceu, num fórum, em Lisboa, que a contrafacção de medicamentos, é um "problema crescente, à escala mundial, grave e com consequências muito importantes."
O Professor Vasco Maria sublinhou que este problema não se passa só nos países pobres, mas também nos países desenvolvidos, exemplificando que, em 2006, nas fronteiras da União Europeia, foram apreendidas mais de 2,7 milhões de unidades de medicamentos, o que se traduz num aumento de 380%, em relação ao ano anterior.
Acrescentou, ainda, que a contrafacção também deixou de estar limitada às áreas tradicionais, como era o caso da impotência sexual e do emagrecimento, para já se ter situado em áreas do suposto tratamento do cancro, das doenças cardiovasculares ou neurológicas. Sendo, "um problema global, só é possível combatê-lo de maneira global, através de todos os agentes envolvidos, como fabricantes, autoridades reguladoras, profissionais de saúde, polícias, magistrados e consumidores", afirmou.
Que o mundo está a caminhar para a loucura, o desnorte e a irresponsabilidade total já não é novidade nenhuma. Os paradoxos instalam-se, a confusão reina, os infractores tornam-se invisíveis e os tentáculos e as redes clandestinas que se vão criando, metodicamente, chegam perfeitamente para alimentarem este e outros negócios que envolvem, à escala mundial, quantias astronómicas de dinheiro. Toda a gente sabe que, à custa do lucro fácil, países como a India ou a China (que não são exemplo para ninguém) passaram a produzir toda uma série de medicamentos, em condições de rigor mais que duvidosas, que, depois, são enviados para a Europa (a Islândia é um dos principais entrepostos europeus), onde ganham o estatuto de credibilidade e de garantia, passando a ter o nome de genéricos. Segundo o INFARMED, no caso português, estes medicamentos são em tudo iguais aos medicamentos originais, seja em qualidade, equivalência, biodisponibilidade e biocompatibilidade. Não sei porquê, mas creio que, não fosse esta alteração, meramente geográfica, todas estas equivalências não seriam aprovadas, de acordo com o rigor científico exigido aos medicamentos originais que lhe deram origem, após terem perdido o prazo da protecção comercial da sua patente.
Não bastavam já estas questões, não tão disparatadas como se possa pensar, e que me criam sérias dúvidas entre optar por medicamentos genéricos ou de marca, quando sou confrontado com esta notícia da contrafacção de medicamentos, onde a India e a China, entre outros países, são apontados como locais de fabrico. Quem apostou neste processo de contrafacção viu que o podia fazer, e uma das condições para tais projectos, à margem da lei, avançarem é darem a certeza de lucro garantido, na medida em que sabem que as autoridades, que têm a seu cargo a fiscalização e o controle de qualidade dos fármacos, não têm condições para uma fiscalização suficientemente eficaz. Mais uma vez, é o lado mais obscuro e louco do mundo a procurar vencer o mundo dos valores e da ética. Porque será? O que está a falhar para esta barbárie não parar?
Ao contrário do que parecem querer fazer passar na notícia, estas vendas não são só feitas via Internet, mas, provavelmente, também numa qualquer respeitável farmácia ao pé da nossa porta. Quem é que pode garantir, honestamente, o contrário? Uma certeza parece óbvia: já, antes, foram abertas as portas e as condições para que tudo isto esteja a suceder. Não é de admirar que este abrir de portas e da criação de condições, que levou à contrafacção de medicamentos, tenha sido iniciada em nome de cortes nas despesas de saúde de um qualquer Estado do globo. Diz-se que o barato sai caro; esperemos que não seja este um exemplo disso mesmo. Resta-nos saber se, ainda, é possível fechar esta caixa de Pandora, pois, se não for, é caso para dizer que pode-se não morrer da doença, mas as probabilidades de morrer da cura vão aumentado, cada vez mais!
Vítor Amorim
Tempos de Guerra: A boroa para fazer sopas de café
"Atravessámos a velha ponte de madeira, que ligava o Forte à Barra, e seguimos apressados, porque o João sabia bem que não era chegar e comprar. Tínhamos de esperar numa fila a nossa vez e se não fôssemos lestos, o meu vizinho corria o risco de ficar sem boroa.
Chegámos e a fila estava longa. Saía da padaria e prolongava-se pelo passeio lateral. A fila não era singela, mas compacta, o que levava a responder ao “quem é a seguir?” a dois ou três balconistas, patrão e empregados. Outro patrão andava de porta em porta e vender pão de trigo, numa bicicleta com cesto, de vime sem casca, de duas abas, que pendiam para cada lado do porta-bagagens.
À medida que nos aproximávamos do balcão, começámos a ouvir, com alguma insistência, as recomendações dos atendedores, ditadas maquinalmente, “leve menos, que a boroa não chega para toda a gente”. Mas todos atiravam, receosos, que havia em casa muitas bocas a comer, e nem sempre se via outra coisa na mesa, para além da boroa, que se tragava com café, que mais não era do que água tingida com cevada torrada moída."
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domingo, 29 de junho de 2008
Figueira da Foz: Recriação da Guerra Peninsular – 2
Este fim-de-semana, como referi há dias, foi dedicado na Figueira da Foz às celebrações do Bicentenário do envolvimento desta região na Guerra Peninsular (1807 - 1814), mais conhecida por Invasões Francesas, por ordem de Napoleão Bonaparte.
Ontem, sábado, pude apreciar, na Biblioteca Municipal, uma exposição alusiva ao evento, que deu bem para recordar o que foi esse período em que a Corte Portuguesa se transferiu para o Brasil, assumindo o povo a sua quota parte na defesa da dignidade da Pátria, com os inerentes sofrimentos que isso implicou. Na eucaristia das 19 horas, celebrada na igreja matriz de S. Julião, foram recordadas as vítimas das Invasões Francesas. Participaram nesta cerimónia, que foi animada musicalmente pelo coral David de Sousa, as autoridades políticas e militares.
Hoje, domingo, durante a manhã, também participei no descerramento da Placa Comemorativa do Bicentenário da Tomada do Forte de Santa Catarina, que ocorreu em 27 de Junho de 1808. Diz o folheto distribuído no local que, por força da presença das tropas de Napoleão, “o povo vive à míngua de tudo, [sendo] ameaçado e ultrajado. A revolta popular iniciada no Porto alastra-se. Correm rumores de que a Inglaterra prepara um desembarque de tropas para se aliar ao exército português na luta contra o invasor.
“Para ajudar a alcançar este objectivo, forma-se, em Coimbra, um Batalhão Académico, formado por 40 voluntários, 25 dos quais estudantes, que, sob o comando do sargento de artilharia Bernardo Zagalo, parte em marcha, dia 25 de Junho, rumo à Figueira com a missão de atacar de surpresa os franceses que ocupam a vila e o Forte de Santa Catarina.”
Pelo caminho, muitos populares juntaram-se ao Batalhão, com as suas foices, piques e lanças. Era imperioso vencer os franceses e criar condições para o desembarque das tropas aliadas, comandadas por Wellington. Efectivamente, isso veio a acontecer entre 1 e 5 de Agosto, na Costa de Lavos.
Ora, hoje foi oferecido ao povo a recriação da tomada do Forte, com a consequente substituição da bandeira francesa pela bandeira de Portugal. Depois da vitória, uma salva de artilharia anuncia a libertação da vila e a prisão dos militares franceses, que são levados para Coimbra. A recriação desta passagem histórica foi da responsabilidade da Associação Napoleónica Portuguesa – Grupo de Recriadores Históricos do Município de Almeida.
Muito povo associou-se a esta manifestação cultural, na manhã deste domingo.
Hoje, domingo, durante a manhã, também participei no descerramento da Placa Comemorativa do Bicentenário da Tomada do Forte de Santa Catarina, que ocorreu em 27 de Junho de 1808. Diz o folheto distribuído no local que, por força da presença das tropas de Napoleão, “o povo vive à míngua de tudo, [sendo] ameaçado e ultrajado. A revolta popular iniciada no Porto alastra-se. Correm rumores de que a Inglaterra prepara um desembarque de tropas para se aliar ao exército português na luta contra o invasor.
“Para ajudar a alcançar este objectivo, forma-se, em Coimbra, um Batalhão Académico, formado por 40 voluntários, 25 dos quais estudantes, que, sob o comando do sargento de artilharia Bernardo Zagalo, parte em marcha, dia 25 de Junho, rumo à Figueira com a missão de atacar de surpresa os franceses que ocupam a vila e o Forte de Santa Catarina.”
Pelo caminho, muitos populares juntaram-se ao Batalhão, com as suas foices, piques e lanças. Era imperioso vencer os franceses e criar condições para o desembarque das tropas aliadas, comandadas por Wellington. Efectivamente, isso veio a acontecer entre 1 e 5 de Agosto, na Costa de Lavos.
Ora, hoje foi oferecido ao povo a recriação da tomada do Forte, com a consequente substituição da bandeira francesa pela bandeira de Portugal. Depois da vitória, uma salva de artilharia anuncia a libertação da vila e a prisão dos militares franceses, que são levados para Coimbra. A recriação desta passagem histórica foi da responsabilidade da Associação Napoleónica Portuguesa – Grupo de Recriadores Históricos do Município de Almeida.
Muito povo associou-se a esta manifestação cultural, na manhã deste domingo.
Permitam-me que destaque a importância destas celebrações, num tempo em que tanto se esquece, segundo creio, o passado. Apesar da distribuição de informações sobre o evento, penso que os mais novos pouco ficaram a saber do que aconteceu há 200 anos. Mas nestas situações, os mais velhos têm de assumir as suas responsabilidades, transmitindo aos mais novos, com os seus conhecimentos de história, se é que os têm, o que foi o viver dos nossos avós. Aqui está, pois, o mérito, destas recriações. Cá por mim, confesso que já dei o meu contributo, respondendo a algumas questões que me puseram.
FM
FM
Pão e Vinho
Temos uma área marítima de fazer inveja. Está globalmente subaproveitada, qualquer que seja o ponto de vista: ecológico, económico, científico, energético, de navegação ou turismo. Sem falar nos portos e na construção naval. Portugal tem uma superfície florestal interessante. Tem a maior área do mundo de montado e é o maior produtor de cortiça, mas não se conhece um esforço proporcional dedicado à investigação e ao melhoramento do sobreiro, da azinheira e do sistema de montado. O mesmo pode ser dito do pinheiro, da oliveira e de outras espécies. Portugal não tem clima para a agricultura tradicional, nem para a agricultura europeia. Mas as condições naturais são favoráveis a certos tipos de cultivo, como sejam a floresta, as culturas arbustivas, as plantações permanentes (a vinha, por exemplo), certas pastagens, os prados sob montado e outras espécies, nomeadamente as que podem beneficiar dos Invernos amenos e das Primaveras temporãs. A hortofruticultura tem também, em certos casos, excelentes condições. Nestas áreas, assim como nas do regadio, da correcção de solos, da vinha, da vinificação, da investigação científica, da formação profissional e do processamento industrial, há espaço e necessidade para investimentos colossais, a longo prazo e muito produtivos, sem danificar o ambiente. O ministro Jaime Silva pensa que não. E outros antes dele. Coitados: limitam-se a dizer o que lhes mandam dizer. Em Bruxelas, por causa da política comum. Em Lisboa, por causa das estradas.
António Barreto
In «Retrato da Semana» - «Público» de hoje
NA LINHA DA UTOPIA
Paulo de Tarso, 2000 anos
1. Talvez exista com Paulo de Tarso uma certa injustiça, talvez a primeira fase (perseguidora) de sua vida tenha condicionado a sua aceitação popular. É incontornável que Paulo (conhecido como São Paulo) foi das personalidades mais importantes da história do Cristianismo nascente e, consequentemente, da própria história da humanidade na matriz ocidental. Mas Paulo não caiu no “goto” popular como Santo António, São João Baptista ou o seu contemporâneo São Pedro. Estes, ainda que muitas vezes quase de modo contrário em relação à sua vida de entrega generosa e sacrificial, foram angariando a dimensão popular festiva e afectiva, que o digam as inúmeras tradições e romarias que nestas semanas têm percorrido as vivências comunitárias em Portugal, onde os seus nomes representam encontro, convívio, festa…
2. Já Paulo, uma das personalidades essenciais reconfiguradoras do Cristianismo, não tem assim tantas famas de “festeiro”. Não tem grandes romarias nem muitas tradições, não passou nessa faceta para as gentes, ele que deu mundos e fundos no anúncio da boa mensagem a todas as gentes e como fundador itinerante de comunidades… Será que Paulo não entrou tanto na dimensão popular por ter sido um intelectual da fé? Ou pelo seu confronto de ideias com Pedro? Ou ainda, pela, sua conversão tardia e não se ter libertado da fama de perseguidor? Ou pelas preferências terem sido orientadas mais para a vertente papista de Pedro que para a irreverência da “fé inculturada” de Paulo… Enfim, as perguntas poderiam não mais acabar nesta busca de (compreendendo a sua importância decisiva na Igreja primitiva), reconhecer em Paulo o impulso enérgico que, todavia, não entrou no popular tanto como seria de desejar para um designado dinamismo universalista implementado por ele próprio.
3. Começam nestes dias (28 de Junho 2008 a 29 de Junho 2009) as comemorações do chamado Ano Paulino. Faz 2000 anos do nascimento de Paulo de Tarso. Este incansável líder fundador de comunidades, anunciador de uma mensagem (cristã) na diversidade das gentes e culturas, reinterpretador na origem (abraâmica) da genuína essência do sentido da vida de Jesus, escritor de 13 cartas que continuam a ser dos documentos mais estudados da Escritura, incontornável e decisiva personalidade da história das ideias mesmo sociopolíticas e religiosas… Paulo terá muito a dizer ao nosso tempo. Que o diga a urgência ecuménica, o aprofundado diálogo inter-religioso, a percepção do novo discernimento entre o essencial a aprofundar e os acessórios a actualizar diante dos tempos interpelantes, estimulantes e inadiáveis do séc. XXI. Que nos diria, hoje, Paulo como a sua frescura reinterpretativa e o seu enérgico dinamismo viajante? Este ano, como sempre, pode ser uma oportunidade inédita ou pode ser um pró-forma... Não chega aprofundar modelos dinâmicos de existência (cristã) e…permanecermos na mesma. Os próprios “acessórios” a rever hoje são essenciais. Não é fácil, é preciso mesmo coragem Paulina!
Alexandre Cruz
TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 84
AS ERVILHAS
Caríssima/o:
Veio-me às mãos um velho texto de 1976, publicado em “O Timoneiro”, no Postal do Porto; curiosamente está na linha do que se teceu na última semana e, sendo assim, fica como adenda:
«Naqueles velhos tempos, vínhamos da escola à noitinha, quando o sol desaparecia no horizonte. No regresso ficava-nos a casa mais perto, se atravessássemos os campos. A fome cegava-nos! Surgiu-nos uma terra com apetitosas ervilhas. Estás a ver o que aconteceu ao nosso estômago delicado? Teve de trabalhar ervilhas sem frango.
Que rico manjar! Ficámos tão consolados que só nos apetecia esticar e dormir uma soneca como a lebre da história.
Mas ... de repente, demos às de vila-diogo ... É que, à nossa frente, a apanhar ervilhas tranquilamente para um cesto, andava o dono. Ao ver-nos, não fez um gesto nem deu um grito ... Nós é que não esperámos e fomos tão mal educados que nem lhe agradecemos ...
Agora, garantido: se ele fosse candidato às eleições rumo ao socialismo, o meu voto era para ele, pois provou, sem palavras, que “as ervilhas quando nascem são para todos”.
Isto, porém, é utopia ...
E acredita, até hoje, foram as ervilhas que melhor me souberam e tenho pena de não te poder oferecer.»
Permiti que termine como o fiz então:
Na falta de melhor, aí vai um abraço do
Manuel
De volta...
De volta aos hábitos de todos os dias... Na ausência, aqui estive quando me foi possível. Saudações para todos os meus amigos do ciberespaço.
FM
sábado, 28 de junho de 2008
Mandela: símbolo da liberdade e da tolerância
Assisti ontem, na televisão, a um concerto comemorativo do 90.º aniversário de Nelson Mandela. Para além da música e dos testemunhos de admiração pela figura ímpar de Mandela, este concerto levou-me a reflectir sobre a personalidade do homem, do político, do lutador pela causa da liberdade e da fraternidade universais.
O concerto ostentava um número – 46 664 – , que seria o número de presenças no espectáculo. Mas lembrava, também, o número da cela que Mandela ocupou na cadeia às ordens dos tribunais do “apartheid”, o regime que defendia a segregação racial.
As pressões dos países livres e democráticos levaram o regime a libertá-lo. Depois foram as eleições, a ocupação da cadeira da chefia do Estado e o Prémio Nobel da Paz.
Toda gente minimamente informada conhece a história de vida deste herói universal e o seu exemplo de amor à paz, à fraternidade e à tolerância. Durante a presidência do seu país, a África do Sul, mostrou como soube aproximar-se e dialogar com os que antes o perseguiam e condenavam. Sem rancores nem espírito de vingança.
Mas hoje e aqui também recordo, a propósito deste evento, alguns diálogos que mantive com um amigo, religioso, que acreditava nas virtualidades do “apartheid”. Que era importante para brancos e negros, dizia-me ele. E por mais que eu argumentasse, à luz da fé católica, que todos os homens eram iguais, em direitos e obrigações, independentemente da cor da pele, das opções religiosas e políticas, o meu amigo teimava em acreditar que, na África do Sul, a separação de raças só trazia vantagens. Aceitava, portanto, que houvesse escolas, lugares públicas, hospitais, autocarros, igrejas, etc. etc., para negros e para brancos, separadamente. Morreu o meu amigo sem eu conseguir convencê-lo de que o “apartheid” era a mais estúpida forma de sociedade.
Quando me lembro desta posição de um amigo meu, não posso deixar de pensar que, afinal, ainda perduram nas sociedades democráticas, como a nossa, resquícios destas ideias. Vejam, por exemplo, como as nossas televisões não conseguem contratar apresentadores negros, como o nosso Governo não tem ministros negros, como a nossa Assembleia da República só tem um deputado negro, do CDS, que alguns confundem como um segurança, com todo o respeito que os seguranças nos merecem.
Afinal, ainda temos muito que caminhar para expurgarmos a sociedade de ideias racistas.
FM
O concerto ostentava um número – 46 664 – , que seria o número de presenças no espectáculo. Mas lembrava, também, o número da cela que Mandela ocupou na cadeia às ordens dos tribunais do “apartheid”, o regime que defendia a segregação racial.
As pressões dos países livres e democráticos levaram o regime a libertá-lo. Depois foram as eleições, a ocupação da cadeira da chefia do Estado e o Prémio Nobel da Paz.
Toda gente minimamente informada conhece a história de vida deste herói universal e o seu exemplo de amor à paz, à fraternidade e à tolerância. Durante a presidência do seu país, a África do Sul, mostrou como soube aproximar-se e dialogar com os que antes o perseguiam e condenavam. Sem rancores nem espírito de vingança.
Mas hoje e aqui também recordo, a propósito deste evento, alguns diálogos que mantive com um amigo, religioso, que acreditava nas virtualidades do “apartheid”. Que era importante para brancos e negros, dizia-me ele. E por mais que eu argumentasse, à luz da fé católica, que todos os homens eram iguais, em direitos e obrigações, independentemente da cor da pele, das opções religiosas e políticas, o meu amigo teimava em acreditar que, na África do Sul, a separação de raças só trazia vantagens. Aceitava, portanto, que houvesse escolas, lugares públicas, hospitais, autocarros, igrejas, etc. etc., para negros e para brancos, separadamente. Morreu o meu amigo sem eu conseguir convencê-lo de que o “apartheid” era a mais estúpida forma de sociedade.
Quando me lembro desta posição de um amigo meu, não posso deixar de pensar que, afinal, ainda perduram nas sociedades democráticas, como a nossa, resquícios destas ideias. Vejam, por exemplo, como as nossas televisões não conseguem contratar apresentadores negros, como o nosso Governo não tem ministros negros, como a nossa Assembleia da República só tem um deputado negro, do CDS, que alguns confundem como um segurança, com todo o respeito que os seguranças nos merecem.
Afinal, ainda temos muito que caminhar para expurgarmos a sociedade de ideias racistas.
FM
S. Jacinto sem Ferry-boat
Segundo noticia o Diário de Aveiro, o director-geral da Navalria, Nuno Santos, adiantou que a demora na entrada em funcionamento do “ferry-boat” se deve a um atraso na colocação de um equipamento na casa das máquinas da embarcação.
Os que lêem o Diário de Aveiro ficam a saber que só para a próxima semana terão o ferry-boat a funcionar. Com uma ponte, onde fosse possível, nada disto aconteceria.
Há tempos recebi um convite de pessoa amiga para me deslocar a S. Jacinto. Gostava ela e eu, com minha esposa, de recordar vivências de tempos que já lá vão. Se vier, dizia-me ela, como não há Ferry-boat, por causa de uma avaria, eu arranjarei alguém para o ir buscar à lancha. Prometi que só quando pudesse atravessar com o meu carro poderia aceitar o convite, para não causar transtorno a ninguém.
Nunca, com todo o meu amadorismo, vi bem o ferry-boat. A passagem natural, por meio de ponte, mais a norte ou mais a sul, seria o ideal, para proporcionar outra vida a S. Jacinto e às suas gentes, privados da ligação natural à Gafanha da Nazaré. Mas os nossos políticos, regionais e mesmo nacionais, decidem, muitas vezes, sem olhar às realidades locais. Nuns sítios nascem pontes com a maior das facilidades. Noutros, como aqui, nem sequer equacionam a questão. Depois é isto. A ligação por ferry-boat entre a Gafanha da Nazaré e S. Jacinto está suspensa há muito tempo. Uma simples avaria altera a vida de toda a gente.
FM
Nova barbárie invade a nossa sociedade
As invasões dos bárbaros fustigaram a Europa nos séculos IV e V, ocuparam metade do Império, foram virulentas pelo ódio sanguinário dos vários “átilas”, serenaram com a progressiva instalação em terras espoliadas e a conversão de Clóvis ao cristianismoHistoricamente significaram destruição de vidas, de monumentos históricos, de novas culturas que se enraizavam. Provocaram medo, revolta, desolação de pessoas e de terras, ocupação de cidades habitadas e destruição impiedosa de campos arroteados e cultivados. Os bárbaros destruíram, ocuparam, mataram para se instalarem e dominarem. O seu objectivo residia na satisfação de interesses concretos, de ordem económica e política. Satisfaziam-se, por momentos, com ofertas graúdas que os faziam amainar, mas recrudesciam, em ódio e vingança, quando não chegavam logo ao que procuravam. Valia tudo para conseguir o que se almejava. Todos os meios justificavam os fins. A nossa sociedade está a ser dominada por nova barbárie. A palavra é dura, mas com palavras moles vamos sendo submergidos na avalanche dos que, organizadamente, dão mais atenção ao dinheiro e ao poder que ao serviço digno e dignificante às pessoas. Chegou-se, impunemente, à propaganda da devassidão, como se pode ver numa visita breve aos jornais diários conhecidos e vendidos, a alguns programas de televisão, à enxurrada das revistas banais, expostas em profusão em qualquer quiosque da rua. Alguns exemplos esclarecedores:
O CM publica todos os dias à volta de mil pequenos anúncios, pornograficamente ilustrados, de prostitutas a oferecer os seus serviços. O DN anda normalmente por uma página diária com o mesmo estendal. O JN e o 24 horas não querem ficar atrás na informação de igual mercado. Até o Público dá, diariamente, um cheirinho ao tema. Já nem falo dos jornais da especialidade, que também se vêem por aí, ao alcance de todos.
São ainda frequentes páginas de jornais, nos menos esperados, a enxovalhar o casamento, a denegrir a família, a entrevistar apenas sobre a vida sexual ao nível do irracional. Se passarmos às revistas semanais publicadas, com nomes sonantes, e muitas delas ligadas a jornais diários e a estações de televisão, nelas abundam os casamentos em série, os amores traídos, as devassas à vida pessoal. Tudo cor-de-rosa, mas para muitos com muito sangue oculto. Os heróis deste país estão entre a gente das telenovelas, do teatro, do futebol, dos escândalos diversos, das tendências sexuais à procura de apoiantes e até mesmo de praticantes. E, para estes casos, não faltam jornalistas de opinião e programadores zelosos. Quem sabe se também interessados.
É esta a cultura que se expande e se protege, na qual vai crescendo muita gente nova que já aprendeu com os mais velhos a festejar datas com bebedeiras, a gabar-se de experiências sexuais irresponsáveis, a fazer do “serve-te e deita fora” modo de vida, a fugir aos pais e à família sem medir as consequências dos seus actos. É a cultura das telenovelas, nacionais e brasileiras, cheias de pessoas simpáticas a destilar com arte, do princípio ao fim, o lixo da vida misturado com odores de convidativos manjares.É o pluralismo e cada um é livre para fazer o que lhe apetece ou deseja. Assim se diz.
Desde que se deixou de falar de bem comum e de direitos humanos, desde que se menosprezaram e esqueceram valores espirituais e morais, desde que a família perdeu o valor e se considerou mais um peso que um dom, desde que, impunemente, se deixou que os meios de comunicação social se tornassem os grandes mentores sociais e culturais, ruíram as comportas da seriedade e da vergonha e avançaram os bárbaros, senhores de muitos bens e muitos amigos, fazendo do dinheiro o seu deus e da amoralidade a sua lei. O povo só interessa como produtor incauto de riqueza. Tudo isto pode dar que pensar, já que o futebol, com festa antecipada, acabou tão ingloriamente.
António Marcelino
Pontes de Encontro
São Paulo: bimilenário do nascimento e início do Ano Jubilar
Por proclamação do Papa Bento XVI, inicia-se a partir de hoje, dia 28 de Junho, e até 29 Junho de 2009, o Ano Paulino.
A celebração deste ano jubilar, dedicado ao Apóstolo Paulo, foi anunciada por Bento XVI na Basílica de São Paulo Fora de Muros, em Roma, no dia 28 de Junho de 2007, por ocasião das Vésperas da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo.
Nessa altura, o Papa recordou que Roma é o local privilegiado para a celebração deste ano jubilar, já que a cidade conserva o túmulo de São Paulo, exactamente na Basílica com o seu nome, salientando que durante este período de tempo terão lugar uma série de eventos litúrgicos, culturais, ecuménicos, pastorais e sociais, todos eles associados à espiritualidade paulina.
Contudo, segundo Bento XVI, vai ser dado um destaque especial às peregrinações ao túmulo do Apóstolo dos Gentios e à publicação de textos paulinos, para “fazer conhecer, cada vez melhor, a imensa riqueza dos ensinamentos de São Paulo, verdadeiro património da Humanidade redimida em Cristo”.
Também a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma Nota Pastoral com o título “Ano Paulino, Uma Proposta Pastoral”, na qual se podem encontrar inúmeras orientações que ajudam, e muito, a conhecer, compreender e a viver melhor o espírito e o vigor da acção paulina, não só a nível da dimensão pessoal de cada cristão, mas, não menos importante, no seio da igrejas locais, comunidades e movimentos eclesiais.
O nascimento do Apóstolo Paulo situa-se, segundo os historiadores, entre o ano 7 e o ano 10, depois de Jesus Cristo, a quem não conheceu, pessoalmente, enquanto Ele andou pelos caminhos da Judeia, Galileia, Samaria, até Jerusalém. Este Ano Jubilar coincide, portanto, com o bimilenário do seu nascimento, na cidade de Tarso, da província da Cilícia (cf.:Act 21,39), na actual Turquia.
Do cristianismo primitivo, não há outra pessoa sobre quem se saiba tanto e as fontes para a sua reconstrução biográfica encontram-se, essencialmente, nas cartas paulinas e nos Actos dos Apóstolos. As Cartas de Paulo têm, declaradamente, uma profunda expressão pastoral, através das quais dá orientações doutrinais, faz exortações à fé em Cristo e aconselha as primitivas Comunidades cristãs a ultrapassarem algumas dificuldades porque passavam, tivessem ou não sido fundadas por ele. Os traços autobiográficos são imensos, pois o Apóstolo compromete-se, existencialmente, com a sua pregação, ou seja, ele apenas vive para pregar a Boa-Nova, como ele próprio afirma: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Esta sua forma de viver, testemunhar e evangelizar, “à maneira de Jesus Cristo”, levou-o a estar em diferentes mundos, línguas e culturas, a ser um homem em permanente movimento, à descoberta de novas encruzilhadas, caminhos e desafios. Pertos ou longínquos, esteve nos principais centros do saber e do poder, da civilização urbana e cosmopolita do seu tempo.
Era um verdadeiro corredor de fundo que percorreu milhares e milhares de quilómetros a pregar no que acreditava, no que amava e no que se tinha comprometido.
Atravessou grande parte dos territórios que fazem, presentemente, parte da Grécia e da Turquia. O Mar Mediterrâneo por diversas vezes, fez parte de todo este seu itinerário, estando entre outras, nas ilhas de Creta, Chipre, Rodes, Malta, Sicília e, por fim, termina o seu caminho de evangelizador determinado, de todos os povos e nações, na cidade imperial de Roma, onde veio a morrer, provavelmente no ano 67 d.C., por decapitação.
Diz a Nota Pastoral da CEP que “Paulo protagonizou, na sua experiência de Apóstolo, o alargamento do horizonte dos destinatários do Evangelho”, pelo que o cristianismo tornou-se uma realidade salvífica, fraterna, libertadora, histórica, social e cultural abrindo-o, definitivamente, à universalidade de todos os povos e de todos os tempos.
Vítor Amorim
“Da Janela dos Outros”
Algumas das reacções sobre a directiva da União Europeia, do dia 10 de Junho de 2008, que pretende passar o horário de trabalho até a um máximo de 65 horas semanais: “A Europa pretendia ser um exemplo. Mas isto vem ao arrepio de tudo, copiando o modelo asiático que se deve evitar” Manuel Pires de Lima – sociólogo do ICS “A directiva é um mau sinal dado aos trabalhadores, que ficam mais desprotegidos” João Proença – Secretário-geral da UGT “Estamos a querer criar uma sociedade de escravos”
D. Januário Torgal Ferreira – bispo “O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno, porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele” José Saramago – escritor In jornal Expresso – 21 de Junho de 2008
Vítor Amorim
CONVERSAS NOCTURNAS EM JERUSALÉM
Acaba de aparecer, com o título Jerusalemer Nachtgespräche ("Conversas Nocturnas em Jerusalém"), uma série de diálogos entre dois jesuítas, em Jerusalém, noite dentro: o padre G. Sporschill, austríaco, e o cardeal Carlo Martini, antigo arcebispo de Milão e um dos nomes mais famosos da Igreja, durante anos considerado papabilis (possível Papa), que aos 75 anos se retirou para Jerusalém: "Jerusalém é a minha pátria. Antes da pátria eterna."
"Houve um tempo em que sonhava com uma Igreja que segue o seu caminho na pobreza e na humildade, uma Igreja que não depende dos poderes deste mundo. Sonhei com o extermínio da desconfiança. Com um Igreja que dá espaço às pessoas que pensam mais longe. Com uma Igreja que anima sobretudo aqueles que se sentem pequenos e pecadores. Sonhei com uma Igreja jovem. Hoje já não tenho esses sonhos. Aos 75 anos, decidi-me por rezar pela Igreja. Olho para o futuro. Quando o Reino de Deus chegar, como será? Como será, depois da minha morte, o meu encontro com Cristo, o Ressuscitado?"Significa esta confissão desânimo? De modo nenhum. É certo que o que lhe causa preocupação é "a falta de coragem".
Aliás, a palavra "Mut" (coragem, ânimo) e, consequentemente, "animar", "ter coragem" são expressões constantes e recorrentes. "A Igreja deve ter a coragem de se reformar." "A Igreja precisa permanentemente de reformas." "Porque eu próprio sou tímido, digo a mim mesmo na dúvida: coragem!"A situação da Igreja, sobretudo na Europa, "exige hoje decisões". E lá vem a questão da sexualidade e da comunhão dos divorciados recasados e da ordenação das mulheres e da lei do celibato. Questão essencial são os jovens, apresentando-se, neste domínio, um novo princípio pastoral: "Deixar-se ensinar pela juventude."
Critica a encíclica Humanae Vitae, de 1968, com a proibição da chamada "pílula contraceptiva". "O mais triste é que a encíclica é co-responsável pelo facto de muitos já não tomarem a sério a Igreja como parceira de diálogo e mestra." Confessa que a encíclica Humanae Vitae foi negativa. "Muitos afastaram-se da Igreja e a Igreja afastou-se de muitos. Foi um grande estrago." Mas, após quarenta anos, "poderíamos ter uma nova perspectiva". "Estou perfeitamente convicto de que a direcção da Igreja pode mostrar um caminho melhor do que o da encíclica." Procuramos "um novo caminho" para falar sobre a sexualidade, o casamento, a regulação da natalidade, a procriação medicamente assistida.
Quanto ao preservativo e atendendo à sida, ele próprio diz que acabou por tornar-se o "cardeal da camisinha", como lhe confessou a sorrir um padre do Brasil.
Sobre a juventude e a sexualidade, vai avisando: "Nestas questões profundamente humanas, não se trata de receitas, mas de caminhos." A direcção da Igreja fará melhor ouvir e "familiarizar-se com o diálogo".
Quanto à homossexualidade: "No meu círculo de conhecidos há casais homossexuais, pessoas muito respeitadas e sociais. Nunca ninguém me fez perguntas e também nunca me teria ocorrido condená-las."
É verdade que não poucas mulheres criticam justamente a Igreja porque se sentem discriminadas. Martini reconhece que "a nossa Igreja é um pouco tímida" e que o Novo Testamento trata melhor as mulheres do que a Igreja. A direcção de comunidades por mulheres é bíblica e não pode excluir-se o debate sobre a sua ordenação.
O celibato exige uma verdadeira vocação. Ora, "talvez nem todos os que são chamados ao sacerdócio tenham este carisma." Depois, hoje, com a falta de padres, são confiadas cada vez mais paróquias a um sacerdote ou então dioceses importam padres do exterior. Mas isto, a longo prazo, não é solução. De qualquer modo, é preciso "debater a possibilidade" de ordenar homens casados, de fé reconhecida e provados no trato com os outros.
A Igreja de Cristo é a favor do Homem, da justiça e do Deus vivo. Mas não tem o monopólio de Deus. "Não podes tornar Deus católico." Por isso, a Igreja dialoga com os crentes das outras religiões e igualmente com os não crentes, também para conhecer as suas razões.
Na Linha Da Utopia
Folclore, raiz de identidades
1. São muitos os festivais de folclore que são realizados de norte a sul do país nesta época do ano tão especial em termos de festas populares. E é muita a generosidade que, percorrendo todo o ano neste “amor à camisola” das colectividades, agora se intensifica nas várias preparações para que tudo decorra pelo melhor. Há em Portugal uma multidão de gente heróica que, dedicando uma grande parte do seu tempo, vai conseguindo preservar o que de melhor existe nas culturas locais. Por vezes só em épocas políticas especiais ou em apresentações de embaixadas a entidades sociais é que o folclore surge como efectivo aliado da vida pública, sendo muitas vezes grande parte do tempo deixado na periferia da difícil luta pela sua própria sobrevivência.
2. Quem olha para um rancho é como quem repara num moliceiro. O que no barco da ria são a beleza das pinturas no folclore serão todo o conjunto de artefactos que nos falam das lides mais simples e ancestrais das nossas gentes. Todos os utensílios da terra, do mar, da ria, das fainas agrícola ou piscatória, transportados nos trajes e objectos do folclore querem ser o esforço de manter na raiz das comunidades a alma e a vida das gentes. A isto chamar-se-á o preservar das identidades regionais, algo cada vez mais importante até pela distância afectiva que cresce das novas gerações em relação a toda esta riqueza patrimonial. Chegará o tempo em que essa distância será tanta em relação à sobrevivente “tradição” das culturas que serão feitos estudos sobre cada uma dessas peças que ganharão valor acrescido.
3. Cada região tem as suas gastronomias, os vinhos, doçarias, pratos típicos e as suas bandas filarmónicas de música; dessa tradição, e consoante a área de referência em relação ao mar, aos rios ou à serra, vem também a força das suas ocupações e trabalhos onde o cultivo da terra representa um valor inestimável, no aproveitar das épocas de sol e de chuvas. Mas se muitas vezes estas realidades mesmo do campo são epocais, têm épocas em que existem e noutras não, o folclore procura perpetuar e prolongar no tempo a existência contínua desses bens pelos seus próprios cantos, danças e utensílios. Os ranchos folclóricos de cada localidade acabam por ser um dos mais belos emblemas regionais, diante dos quais talvez nos falte parar, valorizar mais e apreciar a riqueza dos seus ínfimos pormenores…
4. É significativo destacar-se que, na generalidade, essa riqueza traz consigo uma bondade e generosidade dignas de registo. Os ranchos não dão lucro e os apoios, se nunca abundaram, com realismo, na actualidade portuguesa são praticamente insignificantes em relação à sua realidade. Só com grande entrega das gentes é que se conseguem manter vivos e dinâmicos; mesmo remando contra tantas marés o folclore consegue ser um dos brilhantes símbolos da vitalidade cultural da sociedade civil que tem amor em preservar as suas raízes. Até pelo factor turismo, vamos apoiar mais!
Alexandre Cruz
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Figueira da Foz: Centro de Artes e Espectáculos
A frescura do jardim interior do CAE
Quando me encontro na Figueira da Foz, de passagem ou em férias, passo sempre pelo Centro de Artes e Espectáculos (CAE), voltado para o Parque das Abadias, de verde, de vários tons, permanentemente vestido. Estão, nesta altura, a ser recordados os seus primeiros seis anos de existência, com uma exposição fotográfica, que mais não é do que uma “síntese, em imagens”, da sua actividade cultural ao longo destes anos, como se lê no texto de apresentação da mostra, patente ao público até 15 de Julho.
São fotos de arquivo representativas de momentos altos da vida do CAE, mostrando artistas e personalidades, as mais variadas, do mundo da arte, da política e da cultura, nacionais e internacionais.
O CAE mora ao lado do Museu Municipal Dr. Santos Rocha e da Biblioteca Municipal. Trata-se de um edifício bem dimensionado e integrado no espaço envolvente, típico da Arte Contemporânea, projectado pelo arquitecto Luís Marçal Grilo, com espaços para todas as idades e para todos os gostos, de que destaco dois auditórios, salas de exposições, livraria e café-bar, com esplanada para o Parque das Abadias, de onde nos vem um ar fresco, tão apetecível nos dias de calor.
No exterior, para espectáculos de Verão, sobretudo, há um anfiteatro situado num jardim mais intimista.
Se vem de férias à Figueira da Foz, não se esqueça de passar por lá. Leve um livro, um jornal ou uma revista, tome um café e delicie-se com o ar diferente que lhe é oferecido. De graça, claro.
FM
Quando me encontro na Figueira da Foz, de passagem ou em férias, passo sempre pelo Centro de Artes e Espectáculos (CAE), voltado para o Parque das Abadias, de verde, de vários tons, permanentemente vestido. Estão, nesta altura, a ser recordados os seus primeiros seis anos de existência, com uma exposição fotográfica, que mais não é do que uma “síntese, em imagens”, da sua actividade cultural ao longo destes anos, como se lê no texto de apresentação da mostra, patente ao público até 15 de Julho.
São fotos de arquivo representativas de momentos altos da vida do CAE, mostrando artistas e personalidades, as mais variadas, do mundo da arte, da política e da cultura, nacionais e internacionais.
O CAE mora ao lado do Museu Municipal Dr. Santos Rocha e da Biblioteca Municipal. Trata-se de um edifício bem dimensionado e integrado no espaço envolvente, típico da Arte Contemporânea, projectado pelo arquitecto Luís Marçal Grilo, com espaços para todas as idades e para todos os gostos, de que destaco dois auditórios, salas de exposições, livraria e café-bar, com esplanada para o Parque das Abadias, de onde nos vem um ar fresco, tão apetecível nos dias de calor.
No exterior, para espectáculos de Verão, sobretudo, há um anfiteatro situado num jardim mais intimista.
Se vem de férias à Figueira da Foz, não se esqueça de passar por lá. Leve um livro, um jornal ou uma revista, tome um café e delicie-se com o ar diferente que lhe é oferecido. De graça, claro.
FM
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