AS ERVILHAS
Caríssima/o:
Veio-me às mãos um velho texto de 1976, publicado em “O Timoneiro”, no Postal do Porto; curiosamente está na linha do que se teceu na última semana e, sendo assim, fica como adenda:
«Naqueles velhos tempos, vínhamos da escola à noitinha, quando o sol desaparecia no horizonte. No regresso ficava-nos a casa mais perto, se atravessássemos os campos. A fome cegava-nos! Surgiu-nos uma terra com apetitosas ervilhas. Estás a ver o que aconteceu ao nosso estômago delicado? Teve de trabalhar ervilhas sem frango.
Que rico manjar! Ficámos tão consolados que só nos apetecia esticar e dormir uma soneca como a lebre da história.
Mas ... de repente, demos às de vila-diogo ... É que, à nossa frente, a apanhar ervilhas tranquilamente para um cesto, andava o dono. Ao ver-nos, não fez um gesto nem deu um grito ... Nós é que não esperámos e fomos tão mal educados que nem lhe agradecemos ...
Agora, garantido: se ele fosse candidato às eleições rumo ao socialismo, o meu voto era para ele, pois provou, sem palavras, que “as ervilhas quando nascem são para todos”.
Isto, porém, é utopia ...
E acredita, até hoje, foram as ervilhas que melhor me souberam e tenho pena de não te poder oferecer.»
Permiti que termine como o fiz então:
Na falta de melhor, aí vai um abraço do
Manuel