sexta-feira, 14 de março de 2008

Barbosa de Melo no CUFC


Ruído e alarido à volta da justiça


Há muito ruído e alarido à volta da justiça por causa da comunicação social. Os jornalistas acham-se especialistas e difundem erros. Sem autonomia mental, mal pagos e com insegurança no emprego, os jornalistas tendem a prestar um mau serviço. Ao quererem captar a atenção da opinião pública, por exemplo, impedem com frequência que a investigação prossiga o seu caminho.

Leia mais no Correio do Vouga

Sporting salva a noite

Ontem à noite, enquanto lia, alguém se encarregou de procurar na TV o que convinha. As mudanças incidiam sobre Sócrates e Sporting. De Sócrates, o pouco que se viu, não teve interesse. Luís Filipe Menezes, idem. O Sporting, que nos tem dado tantos desgostos, cá em casa, ainda me obrigou a sair da sala e a comentar que a noite estava perdida. Para mim e para ele. A não ser que me virasse de vez para as leituras. Aí tinha muito por onde escolher. Ainda bem.
Estava neste dilema, quando um “miúdo”, o Pereirinha, mostrou a gente mais velha, que ganha uma pipa de massa, como se marca um golo soberbo, dando a vitória merecida ao Sporting. O suficiente para fazer rejubilar os adeptos, deixando o Paulo Bento menos gago.
A noite valeu por isso. E também pelas leituras que se seguiram. Sócrates e Luís Filipe Menezes? Sem interesse.

FM

Prenúncio de Primavera


Quem há por aí que não sonhe já com a Primavera? Quem há por aí que não se delicie com as flores que desabrocham por todos os cantos? Quem há por aí que não aprecie a natureza na sua fase, maravilhosa, de ressurreição? Quem há por aí que não sinta os cheiros frescos e doces deste prenúncio da espação das flores? Há muitos, com certeza. Então, saiam de casa e casem-se com o novo ambiente que nos bate à porta e entra, até nós, por todos os interstícios que nos rodeiam.
FM

Ainda a marcha da indignação

Filomena Mónica

A conhecida socióloga, escritora, investigadora e professora universitária Maria Filomena Mónica participou, a convite da revista SÁBADO, na marcha da indignação. Foi para observar, para depois comentar. O que fez, para a SÁBADO desta semana.
A dado passo das suas considerações, muitas delas pertinentes e justas, disse que “a Educação é o maior falhanço do actual regime”, e que, a seu ver, “as reformas educativas deveriam começar pelo topo, introduzindo-se o numerus clausus nas univeridades”. A seguir referiu que, “diante da pressão das classes médias, o Estado corria o risco de abrir demasiado as portas ao ensino superior”. E acrescentou: “Foi o que aconteceu. As faculdades passaram a receber mais alunos do que os professores doutorados (os únicos competentes para ensinar) tinham capacidade para leccionar. Os resultados viram-se: todos os anos foram lançados no mercado licenciados analfabetos. Entre a multidão reunida no Terreiro do Paço havia provavelmente quem (como a ministra) tivesse sido meu aluno. Apesar do meu esforço em preparar bem as aulas, tenho consciência de que muitos acabaram as suas licenciaturas sem competência para ensinar.”
Tenho dificuldade em aceitar esta generalização. Há muito este hábito entre nós. Por um lado, nada nos garante que só os doutorados é que têm competência para ensinar. Alguns até - admito - podem saber muito e não ter capacidade para transmitir o muito que sabem. Ensinar, se é uma ciência, também é uma arte, a meu ver.
Por outro lado, custa-me aceitar que o nosso mercado de trabalho tenha assim tantos licenciados analfabetos. Acredito, e conheço, licenciados que pouco ou nada lêem, para além do específico da sua profissão, que não vão ao cinema nem a exposições, que não frequentam concertos nem livrarias, que nada sabem, em resumo, do mundo em que se inserem. Mas há outros, com certeza, que se valorizam no dia-a-dia, que lêem e vêem o que possa contribuir para a sua formação integral. Como há licenciados trabalhadores, competentes e esforçados a par de outros que se baldam. Há de tudo, afinal, como em qualquer profissão. Por exemplo, também conheço doutorados que, para além da sua especialidade, não passam de uns ignorantes, direi mesmo analfabetos, sobre muitas expressões culturais, sociais, artísticas e religiosas que existem à sua volta.

FM

quinta-feira, 13 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


Educar “em” Direitos Humanos

1. A Comissão de Solidariedade Social da Associação Académica da Universidade de Aveiro (ORIGAMI), na sua organização do Ciclo de Tertúlias para a Tolerância, levou nestes dias a efeito importante iniciativa sobre «Educação para os Direitos Humanos». Um apelo e um convite fundamental aos estudantes na reflexão continuada sobre as preocupações do mundo em geral (em que continuam a ser tantas as violações dos direitos humanos); mas numa dinâmica da “transferência” dessas preocupações globais para as visões do compromisso diário no âmbito do estudo, investigação e trabalho. A dinamização esteve a cargo da Amnistia Internacional, instância de referência no zelo e promoção dos direitos humanos e na denúncia de situações de seu desumano incumprimento. Conhecer “o que falta” é sempre o primeiro passo para que não falte; a este nível a Amnistia Internacional transfere o “grito” de situações silenciadas para a visibilidade global. Um impulso decisivo em ordem à dignificação da pessoa humana no mundo actual.
2. Felizmente que hoje são muitas as sensibilidades nesta área, no esforço de proporcionar o encontro do «ideal comum a atingir por todos os povos» com às práticas concretas, em todo o tempo e lugar. São também muitas e diversificadas as instâncias e organizações que vivem e promovem esta causa de todos. Também se sublinhe que, hoje, falarmos correntemente de «educação para os direitos humanos» já é por si um sinal de conseguida e múltipla abertura; tanto da educação como tarefa abrangente e por isso que estabelece ponte com as realidades a transformar, como do referencial da Declaração Universal dos Direitos Humanos que quer chegar a todas as áreas do conhecimento (mesmo técnico-científico) para que ele seja e esteja, sempre mais, ao serviço da Humanidade. Este horizonte de diálogo transdisciplinar é, afinal, o caminho que corresponde a concepção plural e inclusiva da dignidade da pessoa humana.
3. Pese, embora, os caminhos já percorridos como eco histórico do dia «10 de Dezembro de 1948» (em que simbolicamente estamos), uma consciência mais efectiva e participada, motivada e sensibilizada está sempre em reconstrução. Enquanto o desejado desenvolvimento humano dos povos continuar a escrever páginas de sangue e indignidade este quadro de referência sócio-educativo não pode esperar. Talvez, nos tempos em que estamos, onde convivemos todos os dias as notícias da miserabilidade correndo o perigo de nos habituarmos, nestes contextos, a aposta decisiva será mesmo na qualidade da proposta como educação «em» direitos humanos, onde estamos totalmente envolvidos naquilo que comunicamos. Felizmente que hoje uma multidão vive este caminho e dá por ele a vida, o tempo, a esperança. Mas ainda falta sempre tanto para este ideal descer ao coração de cada um, e, talvez até mesmo na educação, a começar pelo filme dos brinquedos para crianças (muitos carregados de “guerra”)! O “refrão” dos “direitos humanos”, por si, tem vida curta; para ir mais longe precisa de incluir a “dignidade humana” na sua raiz aberta à Totalidade que cultive e aprecie o que é SER e existir no mundo com os outros. O caminho longo da dignidade!

Alexandre Cruz

Batalha em campo aberto, sem vencedores à vista

O que se está a passar no mundo do ensino e da educação escolar é altamente preocupante. Ministério, professores, pais, cidadãos, porque também estes têm palavra, parece que já ninguém se entende. Todos falam de todos, todos atiram pedras, todos se queixam, todos dizem que não cedem, todos se consideram vencedores numa batalha que, já por si, mais parece de vencidos, antecipados ou a curto prazo.
Se há acção em que toda a gente se deve entender para colaborar sem preconceitos, sendo pressuposto, como é normal e legítimo, o diálogo em que se discutam abertamente os problemas em campo, bem como o modo possível de os ir resolvendo, com mérito e civilidade, é a acção educativa, que se espera da escola e de todos os seus mais directos intervenientes. Neste mundo concreto, o mais importante são os alunos, que querem e têm direito a aprender, com pais, professores, governantes e cidadãos em geral, a preparar-se para a vida e a capacitar-se para serem cidadãos responsáveis, conscientes e participativos. O livro que lhe abrem com toda esta batalha, que podia ser dispensável, não traz lição apetecível que se possa aprender.
Os professores de há muito se vêm desmotivando, por razão das contínuas medidas do Ministério, unilaterais e não admitindo réplica, dando a impressão de que quem governa lá de longe tudo resolve com ordens e papeis, parecendo não ter em conta, nem a natureza do trabalho de quem ensina, nem a realidade de muitas escolas que hoje, em muitos casos, são campo difícil, que só o conhece bem quem vive e actua lá dentro.
Os educadores escolares são agentes necessários na escola e na missão que a esta compete. Há que contar sempre com eles e não entrar em conflitos evitáveis, que deixam muitas vezes marcas difíceis de apagar.
Há, em ligação à escola, problemas urgentes a resolver. Todos o sabemos. Não são sempre boas as condições de trabalho. O ambiente, dentro e fora da escola, deteriorou-se. Em muitos casos, deparamos com gente que está no ensino porque não teve outra saída e se mostra incapaz de criar relações propícias para comunicar vida e saber aos seus alunos e proporcionar boa colaboração aos seus colegas.
Gente que parece ter feito da escola um apêndice do seu dia a dia. Mas, se são estes agentes que o Ministério quer atingir, deve saber que se trata de uma minoria, que não pode constituir motivo ou ocasião para se esquecer a grande maioria dos professores das escolas do Estado, que fazem esforços heróicos para serem fieis à sua missão, gente com direitos adquiridos e vidas organizadas, gente séria, competente e sabedora, que vai marcando vidas e gerações, colegas amigos e fiéis aos outros colegas, profissionais que se gastam, diariamente, numa tarefa que constitui para si uma autêntica paixão. Não o reconhecer, se for o caso, é ser injusto, exacerbar e irritar, por menosprezo, um mundo de gente de que o país precisa. Está na rua e em luta o que nunca deveria ser preciso levar à rua.
O governo assume-se como reformador e, quando há que reformar, está no seu direito e cumpre o seu dever. Nunca, porém, a ditar sozinho do palanque alto e distante do poder. Diz a técnica jurídica que, para que as leis sejam aceites e eficazes, se deve procurar, antes da sua promulgação, que sejam desejadas e esperadas. Isto não se faz sem auscultação aberta e pedagogia adequada. O poder emanado do povo nunca pode dispensar o povo e os que o servem nas bases. A fidelidade de quem faz do governar um serviço, não é simplesmente fidelidade a um programa eleitoral, mas ao serviço a prestar, em cada momento e circunstância, ao conjunto nacional.
Parece urgente acabar-se com esta batalha em campo aberto, entre o Ministério e os professores, com manifestações e contra manifestações. Há batalhas muito graves e urgentes na vida e no agir da escola e no campo da educação. Elas não se podem adiar e aí todos fazem falta. O importante não pode apagar o essencial. Na escola está o futuro.

António Marcelino

quarta-feira, 12 de março de 2008

Professores e educadores decisivos para o futuro

“Os professores e educadores neste país são um grupo decisivo para o futuro, porventura mais decisivo que os políticos, financeiros ou técnicos.” Cardeal-Patriarca de Lisboa

Na Linha Da Utopia


Memória e vida, para que seja Páscoa

1. Muitas vezes ouvimos gente adulta e influente nas sociedades a recordar com nostalgia os tempos idos em que as festividades mobilizavam os lugares, as ruas e as famílias em torno de valores esperançosos e em ordem à renovação de ideais e princípios estimulantes ao bem comum. Naturalmente os tempos são outros, e importará nem ter uma saudade como se antigamente fosse tudo bom, nem simplesmente esquecer o passado como se esse nas suas tradições não tivesse razão de ser. Talvez este seja um dos eixos da encruzilhada da civilização actual, onde se procura dar um “salto em frente” de tal maneira amplo que acabamos por não saber em que se alicerça a própria vida; em contrapartida, verifica-se essa memória gratificante (hoje) das memórias do passado, considerando-se o quanto elas nos constroem na nossa própria identidade. Mas neste contexto a maior interpelação é sentir a completa indiferença de quem tem essas memórias e não vive qualquer preocupação em “passar” um certo testemunho aos seus vindouros, até na preocupação cultural de que vão apreendendo “sentido”em todo o património (e muito dele é religioso) que os rodeia.
2. Não admira, por isso, a dificuldade em fazer passar a mensagem da cultura, da vida e da espiritualidade. Até da própria dimensão pessoal mais básica (diríamos) aconfessional, humana, sem ligação a qualquer igreja ou religião, pois a “menoridade cultural” ou o preconceito ideológico ou, ainda, muito do peso institucional das religiões e igrejas, afastam o ser humano contemporâneo da sua caminhada existencial mais profunda. Ninguém dá o que não tem. E é certo que para ler e partilhar toda a panóplia de significados que as festividades e celebrações comportam como “história viva” e actual é preciso um grande caminho de busca de sentido. A Páscoa (passagem) de há cerca de três milénios para cá, e numa dinâmica aperfeiçoada pessoalmente há 2000 anos, inscreve-se nesta mesma fronteira. Quem a conhece “por dentro” vê nela o centro de referência no qual alicerçar um sentido a dar à vida; quem a lê no imaginário público sente um resto interessante de tradição curiosa com sentido sociabilizante; quem não a conhece, não quer conhecer e não quer que ela se partilhe (esquecendo que dela derivam mesmo os valores sócio-democráticos da tradição judeo-cristã) então vai mesmo procurando apagar da memória colectiva as centelhas da sementeira de significado e sentido…
3. É o tempo das opções, entre um “Algo/Alguém” que nos estimule positivamente ou um “quase-nada” de ausência de fundamentação do sentido da vida. Neste erguer-se-á o “ter”. Até como significado cultural (se já não na essencialidade altíssima do que a Páscoa é enquanto fonte de “vida nova”) torna-se essencial o compreender a memória histórica (e seus valores) que nos precedeu. Será isto importante? Que memória queremos que perdure no coração nos nossos filhos? Serão só as coisas da Páscoa?


Alexandre Cruz

Clube Stella Maris vai celebrar jubileu



Ontem à noite, a direcção do Stella Maris de Aveiro celebrou o segundo aniversário da sua tomada de posse. Foi agradável sentir o empenhamento de quantos, de há dois anos até hoje, têm desenvolvido esforços no sentido de recolocar a Obra do Apostolado do Mar em sintonia com as exigências do nosso tempo, tendo em conta que os marítimos do presente nada têm a ver com os da fundação daquele clube, na Gafanha da Nazaré. Os portos de Aveiro e as políticas das pescas, hoje, são completamente diferentes dos que existiam há um quarto de século, como é sabido.
O porto de Pesca Costeira está instalado no canal de Mira, na zona da Marinha Velha, o porto Comercial está no Forte da Barra, o porto Industrial na Chave e o porto de Pesca Longínqua na Chave e Cale da Vila. Todos, afinal, na Gafanha da Nazaré. Há 25 anos quase tudo se concentrava na zona do porto de Pesca Longínqua. Nessa altura foi lançada a primeira pedra do edifício que ainda se mantém aberto aos homens do mar e suas famílias, bem como a toda a gente, directa ou indirectamente identificada com a ria e com o mar.
D. António Francisco, Bispo de Aveiro, na conversa informal que manteve com a direcção do Stella Maris, sublinhou que durante 2008 importa celebrar este jubileu, em espírito bíblico. Mas logo recordou que 25 anos de trabalho “obrigam-nos a pensar numa celebração que recorde quantos se deram à Obra do Apostolado do Mar”.
Defendeu a implementação de projectos que se estendam “a todas as paróquias ligadas ao mar e à ria”, desenvolvendo uma “pastoral específica”, sem esquecer o “entrosamento com as outras dioceses marítimas do nosso País”.
O Bispo de Aveiro frisou a dedicação, a generosidade e o espírito de comunhão vivenciados pelos dirigentes e seus familiares no Stella Maris, durante os dois anos decorridos, razões principais do equilíbrio financeiro conseguido e das esperanças num futuro melhor.
O encontro serviu ainda para se falar sobre acções a desenvolver nos próximos tempos, em especial sobre uma participação significativa do Stella Maris de Aveiro no Encontro das Praias, a ter lugar em Sines, em 25 de Maio próximo.

FM

Abertura da Barra de Aveiro aconteceu em 3 de Abril de 1808


Barra de Aveiro: Regatas, exposições
e conferência internacional
marcam comemorações dos 200 anos


No próximo dia 3 assinalam-se os 200 anos da Barra de Aveiro, que serão comemorados com a apresentação de um livro e a inauguração de uma exposição cartográfica. As comemorações prosseguem durante o ano, com destaque para uma conferência internacional (Maio), a Regata dos 200 Anos (Junho), e a Tall Ships Race Regata (Setembro).
:
Leia mais em Diário de Aveiro

Entender o silêncio de Deus


Tomando os relatos da Paixão, percebemos que estes mantêm, entre si, linhas fundamentais de continuidade, mas sem abdicar de uma estratégia diferenciada, a ponto de ser reconhecível a voz e o timbre de cada evangelista. Em Marcos, por exemplo, a cruz é o momento da revelação do segredo messiânico de Jesus, mantido ao longo de toda a narrativa. Contudo, o centurião romano que ali declara, «este homem era verdadeiramente filho de Deus», em Lucas profere algo que diz o mesmo e outra coisa: «este homem era verdadeiramente justo». Lucas escreve também para cristãos vindos do paganismo, e aquele «verdadeiramente justo» tem uma duplicidade que visa o seu heterogéneo auditório: Jesus é tanto o inocente, vitimado pelos aparelhos religioso e político, como o «justo sofredor», essa figura atravessada por explícitas referências messiânicas.
Mas, em todos os relatos da Paixão, as palavras culminantes são aquelas que aparecem na boca do próprio Jesus: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem»; «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito»; «Tudo está consumado»; «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (ou «Meu Deus, Meu Deus a que me abandonaste?», como preferem algumas traduções recentes). Claramente, o destinatário das palavras de Jesus não é um confidente qualquer: é o próprio Deus. E o modo como Jesus o evoca, chamando-o «Pai» e «Meu Deus», confere ao diálogo uma densíssima intimidade, tanto mais paradoxal quanto a cruz é vista como maldição e, a sua, uma morte reservada aos infiéis. Jesus afronta, assim, não apenas o silêncio dos homens, mas também o aparente e inexpugnável silêncio por parte de Deus. A cruz desconcerta como uma aporia intransigente. Somos chamados a contemplar o mistério de Deus e o do Homem no mais devastador dos silêncios que o mundo conheceu. Mas desse, precisamente, partirá o “grande levantamento”, a “radical insurreição” pascal.
Já depois de proferidas todas as palavras, os evangelistas Marcos e Mateus contam que Jesus soltou ainda um segundo grito. E que, nesse momento, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. Isto é, o sagrado perdeu a sua reserva e desloca-se agora para o profano mais escandaloso: na carne daquele inocente, no seu lancinante silêncio, reside agora a revelação de Deus.

José Tolentino Mendonça

terça-feira, 11 de março de 2008

As dúvidas de Madre Teresa em livro


O livro “Vem, sê a minha luz” foi lançado no Grémio Literário, estando, portanto, já à venda. Trata-se de uma obra que revela textos dos diários e da correspondência que Madre Teresa de Calcutá endereçou aos seus confessores e superiores, os quais foram compilados em livro pelo Padre Brian Kolodiejchuk.
Nele se revelam as dúvidas e a crise de fé que Madre Teresa viveu ao longo de mais de 60 anos de trabalho em Calcutá, ajudando os mais pobres entre os pobres.
“Onde está a minha fé? – mesmo lá no fundo, aí mesmo, nada existe a não ser vazio e escuridão. (…) São tantas as perguntas sem resposta que vivem dentro de mim – tenho receio de as trazer à luz – por serem blasfemas – se Deus existe – por favor perdoa-me”, diz Madre Teresa numa das suas cartas.
O Padre Brian Kolodiejchuk, que é o postulador da causa de canonização de Madre Teresa e director do Centro Madre Teresa, explica todas as dúvidas que têm surgido, deixando tudo mais claro.
Penso que esta obra, que ainda não conheço, pode até ser estimulante para os crentes, na medida em que mostra que os grandes santos também passam por crises de fé.

Fonte: Renascença

Na Linha Da Utopia


A ética do “tempo”em educação

1. É verdade que muitas das realidades da vida podem ter soluções rápidas e pragmáticas. Assim esta visão instrumental, normalmente, se aplica a uma obra a realizar, uma ponte a construir, um jardim a tratar. Obras relativamente fáceis! Também é certo que muitas soluções hoje têm a matriz tecnológica e informática, numa aceleração eficaz de processos que procura aliar rigor e qualidade que se difundam rapidamente. Mas não podemos correr o perigo de querer transferir aquilo que são processos da ordem técnica e prática para uma grande multidão, pois no “meio”, naturalmente, há sempre muito ruído que obriga o ritmo a ser outro se se quer chegar a bom porto. Faz lembrar coisas tão simples e tão práticas como uma “pista de escuteiros” em que o tempo que leva um preparador a percorrer esse caminho é multiplicado por três na experiência de grupo; ou então diante de uma assembleia de 1000 pessoas a organizar uma iniciativa comum teremos de repetir diferenciada e metodicamente várias vezes as mesmas ideias a ver se fica “tudo em todos” e mesmo assim…! Teremos de redescobrir mais o realismo e a organização do tempo “qb”, como assimilação e sabedoria consistentes, naquilo que querem ser, efectivamente, os projectos comuns.
2. Sendo-se sempre contra todo o imobilismo que paralisa as fundamentais e necessárias renovações, o certo é que o fulgor das “pressas” unilaterais nas reformas, do olhar em frente esquecendo os “lados” que afinal são as bases de sustentabilidade estrutural, esta prática sempre trouxe consigo grandes anticorpos. Tantas vezes a falta de consciência efectiva da realidade de decisores ou a proclamação de decisões a um ritmo inassimilável por quem está no terreno concreto, este facto, coloca-nos diante de dilemas que dividem o que existe de seguro e bom e multiplica a desagregação e instabilidade. Muitos portugueses têm sido autores e vítimas tanto de seu imobilismo como, talvez mais ainda, dos “repentismos” entusiastas da gestão da “coisa” e causa pública. O tempo do dia-a-dia precisa dessa motivação redistribuída harmoniosamente, evitando dessa forma, quanto possível, os solavancos das emoções.
3. Particularmente, nesta problemática, nada nos interessa (politicamente) quem recua, quem avança, quem ganha e quem perde. Um perdedor está garantido: a comunidade e, no fundo, o país. Claro que os discursos vão “torcendo” o que podem para assumir a “gradualidade” no tempo como factor humano; tudo porque tal como não se pode querer um oceano num rio, não será ético pedir às escolas o “repentino” que áreas tão abrangentes como a educação (o ensino, as famílias, os estudantes, as comunidades locais) não podem dar. Educar nunca foi nem será acto instrumental; se fosse seria bem mais fácil mas menos determinante no desenvolvimento dos povos. (Ofereciam-se tecnologias e pronto…!) Os tempos de recuo estratégico que se seguem (chame-se outro nome!) demonstrarão que houve tempo perdido em não compreendermos a grandeza, abrangência e complexidade de tudo o que está em jogo. Um refrão destes dias tem sido que há muitas instituições do país especializadas em Educação e que não foram chamados a construir (n)este processo. Há reflexões e lições educativas de fundo a serem tiradas de tudo o que acontece(u)… Seria um passo de coragem(?!).

Alexandre Cruz

Portugal solidário

As informações que nos são oferecidas diariamente deixam-me às vezes perplexo pelo que vejo. Portugueses humildes de regiões do interior têm de se deslocar mais de 100 quilómetros para serem atendidos por um médico do Serviço Nacional de Saúde. Uns vão de autocarro (mais de duas horas de viagem), outros de ambulância, outros de carro próprio ou de familiares, e outros, ainda, de táxi. São pessoas simples, sem conhecimento dos seus direitos, sem capacidade reivindicativa, normalmente de reformas e rendimentos baixos. Depois, têm de esperar o que é normal e de regressar pelos mesmos caminhos. Um dia inteiro para uma consulta ou exame médico.
Quando vejo estes retratos de Portugal real, o tal País profundo de que muitos falam na altura de férias, fico chocado. Profundamente chocado.
Nós, os do Portugal do litoral, comercial e industrial, de boas vias de comunicação, com tudo ao pé da porta, nem sequer reflectimos sobre as riquezas que possuímos e nem olhamos para estes nossos compatriotas. Os políticos, nas suas secretárias, lá para as bandas de Lisboa, onde não falta nada, fartam-se de fazer planos e até parece que vêem o País como um todo, quando, afinal, ele é uma manta de retalhos, onde há tiras de pano ricas e tiras que se rompem, ao mais pequeno gesto, por estarem puídas com o uso e com o tempo.
Eu penso que a cultura da solidariedade tem de ser incrementada, pondo em prática o princípio da partilha e a obrigação de se repartir com os que precisam o muito que alguns têm. Isto será um absurdo? Talvez. Mas eu continuo a pensar que os serviços de Saúde têm de estar mais próximos das pessoas, doa a quem doer. Por exemplo, nós, aqui, nos concelhos de Aveiro e Ílhavo, e arredores, temos tudo à mão. Mesmo assim, ainda protestamos, porque não temos o médico na nossa sala de estar ou no nosso quarto. Não haverá nestas zonas serviços a mais, num raio de 15 quilómetro, quando outros têm de percorrer mais de 100 quilómetros para uma consulta? Onde está, afinal, o Portugal solidário de que tanto se fala? Temos de pensar nisso!

FM

Monarquia ou República?





No “Prós e Contras” de ontem, na RTP, debateu-se um tema interessante: “Rei ou Presidente?”, ou, melhor dizendo, “Monarquia ou República?”
Para muitos portugueses, este seria um tema sem importância. Para outros, tem sempre importância, ou não devesse Portugal muito aos nossos reis, alguns dos quais foram personalidades de visão global e de futuro.
O debate decorreu com elevação e houve intervenientes que procuraram sublinhar as virtudes da Monarquia e da República. Gente culta e com capacidade para captar simpatias para as suas causas.
Não importa estar agora, a meu ver, a puxar a brasa para esta ou para aquela sardinha. Mas uma coisa quero dizer: a República, em Portugal, assenta nos assassínios do Rei D. Carlos e de seu filho Luís Filipe e numa minoria republicana. Nunca foi referendada pelos portugueses, como seria legítimo aceitar numa democracia. Não o tendo sido logo a seguir, o que considero compreensível, acho que, anos depois, seria bonito proceder-se, por forma referendária, à legitimação do regime.
Pedem-se referendos para isto e para aquilo, no regime em que vivemos, mas, sobre esta questão, o que há, na Constituição da República Portuguesa, é o absurdo de se fechar a porta a qualquer via para alterar o sistema vigente. Ora, eu penso que uma constituição não pode ser redutora. E porque assenta na democracia, tem de ter em conta a liberdade de o povo escolher o que considere ser o melhor, no sentido de construir o seu futuro, para desenvolver uma sociedade mais solidária e respeitadora da nossa identidade cultural e social.
Se me perguntarem se vale a pena levantar a questão e discutir a República, respondo que, por uma questão de liberdade democrática e por princípio intelectual, só excluo caminhos antidemocráticos, totalitários, fascizantes, xenófobos e racistas. Embora não acredite que haja, nas presentes circunstâncias, qualquer hipótese de restaurar a Monarquia, entendo que o povo português deve ter sempre à mão o direito de discutir e de escolher o que quiser, dentro de uma democracia representativa. Ora, para isso, a Constituição da República Portuguesa tem de lhe dar esse direito.

FM

segunda-feira, 10 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


Sarkozy, o feliz e a liderança

1. A popularidade está a cair a pique. Para os franceses desejosos do retorno da França à liderança europeia, o apaixonado Sarkozy faz hoje com que se coloque a pergunta: «Este homem pode ser o presidente da França?» São sondagens, inquéritos, comentários de opinião em torno desta questão após a simbólica “derrota” eleitoral destes dias. A promessa de “Sarko” foi a nova “revolução”. No quadro prévio das sempre naturais insatisfações político-sociais, um designado “efeito Sarkozy” conseguiu convencer a sociedade desejosa de um “dom Sebastião” à francesa. Os franceses acederam, acreditaram nessa promessa. Não estavam era a contar que o presidente fosse tão rápido a passar das promessas eleitorais a um centrar da vida presidencial na sua vida pessoal. Os jornais vão atribuindo os títulos: «Sarkozy, a política sou eu». Começou por ser omnipresente em meia dúzia de assuntos com visibilidade social e libertadora, visando reconciliar uma França credível com a Europa. Diante do pensamento historicamente clássico francês, rapidamente a sua presidência passou a estar centrada na esfera «comportamental». Uma nova revolução; diríamos, (r)evolução a mais para um povo que também aguarda quem restitua a ordem da dignidade política.
2. Em escassos meses o presidente francês foi criando modas e manifestando uma «felicidade» extraordinária. De sua afirmação diz que pode ser-se Presidente da República e ser-se feliz ao mesmo tempo; como ele diz: «Eu sou feliz». Sobre a sua relação com Carla Bruni, do seu gabinete diz-se que «ele embriagou-se de felicidade no momento em que os franceses a perdiam» (Público, 9 de Março). Pretendendo reinventar a França para o século XXI, inicia por recriar a própria imagem de presidente, dessacralizando, sendo tão igual aos franceses que acaba por provocar admiração e «choque». No contexto dos resultados eleitorais do último fim-de-semana, não tanto as políticas mas o político parecem incomodar os franceses. Uns chamam-lhe «vulgar» (comum), outros que seu comportamento é «imaturo», outros, os psicólogos, ainda, que é «narcísico». Diz-se também que alia traços de grande coragem e intuição mas simultaneamente de «egolatria e de uma vaidade sem limites». Panorama complicado para o presidente em que os franceses acreditaram. E ainda agora estamos no princípio da nova felicidade do presidente, chamado há alguns meses de «hiper-presidente». Um nosso professor dizia que quanto maior é a subida, maior é a queda. Até onde chegará o líder Sarkozy e a sua felicidade?

Alexandre Cruz

Os Nossos Emigrantes


Neste mês em que comemoramos o Feriado Municipal de Ílhavo quisemos dedicar a rubrica “A Nossa Gente” aos Emigrantes do nosso Concelho. Eles são, de facto, parte importante da Nossa Gente. Gente de Terra e de Mar, que corajosamente partiu para outras paragens levando consigo o seu “Ílhavo” no coração.
O Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo assumiu publica e formalmente em 1998 que “o Município de Ílhavo existe onde existam Ilhavenses” e a CMI constitui-se como um elemento de apoio à valorização social e política das comunidades de emigrantes do Município de Ílhavo.
Esta é uma homenagem singela e também uma forma de aprofundar o nosso envolvimento na relação com os nossos concidadãos, que por esse mundo fora trabalham com dinamismo e vitalidade, cuidando da promoção dos valores da Nossa Terra com determinação e alegria.
Com eles aprendemos grandes lições de Patriotismo e de Portugalidade. A eles queremos deixar uma palavra de incentivo à construção de boa e activa cidadania no país de acolhimento e de boa e activa cidadania portuguesa, em honra à Terra-mãe, que sempre acompanham e vivem com intensidade.
Ao comemorarmos os 110 anos da Restauração do Município de Ílhavo e neste Feriado Municipal de 2008, apostamos neste gesto de conciliação e opção de fortalecimento de um Município que sempre será grande pela partilha solidária de vida dos seus Homens, onde quer que se encontrem, numa partilha de experiências e de vida, percorrendo um caminho que nos aproxime e fortalece cada vez mais.
O Município de Ílhavo continuará a existir, por força da nossa opção política e do nosso trabalho, em cada um dos quatro cantos do mundo onde existam cidadãos desta nossa terra. Queremos aproveitar o privilégio da Vida, para nos ajudarmos mutuamente a crescer e a realizar desenvolvimento, em prol da Nossa Terra, e muito em especial, da Nossa Gente.
Nos Nossos Municípios Irmãos onde a comunidade emigrante vive e empreende, em Newark, NewBedford, Cuxhavem, e em muitas outras paragens, é a Nossa Terra que cresce a cada dia com a vida os seus Cidadãos.
E aqui fica o convite para uma sempre renovada visita à sua Terra. Esperamos por si de braços abertos!
Fonte: Texto e foto da agenda Viver em..., da CMI

Naide Gomes é campeã mundial de salto em comprimento


SALTO VALE OURO

Naide Gomes dá um salto em comprimento de sete metros que vale ouro. Aconteceu nos Mundiais de Pista Coberta, em Valência, batendo a brasileira Maurren Higa Maggi e a russa Irina Simagina. A nossa atleta, mulher de garra, mostra, assim, que nem tudo é mau em Portugal. Pensando bem, esta foi uma bonita prenda para todas as mulheres portuguesas, recordadas no Dia Internacional da Mulher, que ocorreu ontem. Parabéns para Naide Gomes, com votos de que apareçam outras com coragem para a imitar.


Mesmo com frio, o mar é sempre um desafio para quem se aproxima. Apreciá-lo, do cimo das dunas virgens, produz, certamente, uma extraordinária sensação de liberdade... Experimentem.

Regresso ao essencial

Desejar o bem do país, antes do seu próprio bem, é um princípio que a todos deveria nortear. A isso chama a doutrina social da Igreja (mas não é exclusivo dela) Bem Comum. Claro que dizer que os interesses do país estão em primeiro lugar pode soar a Estado Novo, mas já vai sendo tempo de deixar tais categorias nas prateleiras da história. Como dizia Mário Soares, há uma diferença clara entre ser nacionalista e ser patriota. Ser nacionalista é negativo, mas ser patriota é um dever de todos para com o país que nos viu nascer ou nos acolhe. Querer o Bem Comum antes do bem particular e pôr este em função daquele é uma forma de ser patriota. Vem isto a propósito do mal-estar em que Portugal parece ou está mesmo mergulhado e que ciclicamente faz soar alarmes, como foi o caso do documento da Sedes, referido nesta coluna na semana passada. Como país, não sairemos do pessimismo, da estagnação, mesmo económica, da falta de credibilidade, da ausência de perspectivas de futuro, enquanto o Bem Comum não se sobrepuser ao bem particular, enquanto este princípio não for evidente na actuação dos políticos, mas também dos empresários, dos professores, dos jornalistas, enfim, de qualquer cidadão. J.P.F.

GOVERNO E PROFESSORES NÃO SE ENTENDEM

"Os professores afirmam que são a favor da avaliação, mas contra esta avaliação (declaração da Fenprof de 15 /10/2007). Essa é há séculos precisamente a posição dos alunos. Todos os estudantes são favoráveis às notas e descontentes com a que receberam. Os testes são sempre difíceis, as datas sempre inconvenientes, os professores sempre injustos. Mas é preciso aguentar com cara alegre."
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Concordo com João César das Neves. Entretanto, o tempo passa e os alunos e as famílias não podem sair deste conflito prejudicados. O Governo e os professores têm de pensar nisto. Com urgência.

Bento XVI renova apelos ao diálogo no Médio Oriente

“Encorajo as autoridades israelita e palestiniana no seu propósito de continuarem a construir, através de negociações, um futuro pacífico e justo para os seus povos e a todos peço, em nome de Deus, que abandonem o caminho tortuoso do ódio e da vingança, percorrendo responsavelmente o caminho do diálogo.”
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Como o Papa, tantos e tantos outros líderes têm apelado à paz e concórdia no Médio Oriente. Há imenso tempo que as discórdias entre isrfaelitas e palestinianos deixam marcas profundas naquela zona do mundo. E não há maneira de se entenderem... Será que estes ódios irão perdurar pelos séculos sem fim? Não haverá forma de se resolverem de vez os conflitos? A paz entre aqueles povos é mesmo impossível? Os ódios estarão, realmente, como se diz, no sangue e na alma daquelas gentes que calcorreiam os caminhos de Cristo?

domingo, 9 de março de 2008

Na Linha Da Utopia


A Faixa de Gaza

1. Há pedaços de terra que estão cheios de sangue. Não só da história passada, mas das histórias que se continuam a escrever no presente. E Deus não tem nada a ver com isso. Os homens é que O “usam” como argumento para atingir os seus fins de domínio sobre “o outro”. Os últimos quatro mil anos da história das terras chamadas israelo-árabes espelham, de forma emblemática, esse desconcerto e desentendimento humano, em que a cada século que passa vão-se juntando mais páginas de conflitos, ao que parece, intermináveis. Claro que, de relance, somos pequenos para compreender tanta informação, tantos dados em jogo, tantos cruzamentos de raças, religiões, espaços, locais, sinagogas, mesquitas, igrejas, sentimentos, emoções, razões, cegueiras, justiças, injustiças, verdades, fanatismos… em que cada palmo de terra condensa a luta de uma vida e de muitas vidas. Repetimos, Deus (que é Amor) não tem nada a ver com isto. Ele até tantas vezes sublinhou e reafirma que o único “lugar físico” que “quer” é o “coração” humano, a consciência-ser, «em espírito e verdade».
2. Não compreendendo isso, poderemos nesta geração correr o perigo ignorante de atribuir às religiões e a Deus aquilo que é pura e unicamente obra interesseira e dominadora dos homens, o que resulta que se chame “terra santa” a uma terra nada santa nas incompatibilidades de tanta história em que só mesmo pelo “perdão da memória”, como tanto falava João Paulo II, é que lá iremos ao caminho da paz. A triste história continua e hoje as ONG’s que estão no terreno vêm dizer que se vive na Faixa de Gaza o pior período de crise humanitária desde a guerra de 1967. As culpas da desgraça, “taco a taco” tal como a guerra, vão-se atribuindo reciprocamente entre Israel e o Hamas… No passado recente as razões são que, após os disparos de rockets pelo Hamas em Janeiro, Israel impôs o actual bloqueio a Gaza na data de 17 de Janeiro e raids aéreos frequentes têm feito dezenas de mortos na famosa Faixa de Gaza. Do “bloqueio” de quase-tudo o essencial à vida diária vem um relatório das ONG’s de cenário dramático intitulado «Faixa de Gaza: uma implosão humanitária».
3. Os Estados Unidos, na fronteira da cena internacional e das imagens perturbadoras que vão chegando, pedem um “alívio” do bloqueio para garantir as condições de humanidade. O quarteto de negociadores (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) vai avançando na gestão da mediação do cenário político. As ONG’s no terreno vêem-se e desdenham-se para socorrer não havendo condições de luz eléctrica para fazer intervenções clínicas, água potável para matar a sede, esgotos a irem para o mar, corte de comunicações, tratando-se de uma população bloqueada em que mais de 1,1 milhões dependem da ajuda alimentar. Alguns analistas vão falando de “genocídio”. Os céus de Gaza respiram a pólvora, ar poluído que, independentemente das políticas ou dos grupos atiçados de fanatismo político e/ou religioso, vai mostrando a limitada incapacidade humana. Se a história de séculos o confirma, a história presente continua esse caminho. Nada de novo, porque tudo velho. Nenhuma das razões justifica o injustificável desumano que persiste. Ao menos não sofram as populações. Precisamos de aprofundar o diálogo de civilizações para compreender a história e propor uma nova memória de paz. Ou seguir-se-á indefinidamente a contra-ofensiva?

Alexandre Cruz

Cadernos biográficos no PÚBLICO


Amadeo
Fernando Pessoa

O PÚBLICO iniciou este fim-de-semana a publicação de Cadernos Biográficos, que oferece, aos sábados e domingos, mediante a apresentação de um cupão publicado no dia anterior. Este fim-de-semana, foram publicadas as biografias de Fernando Pessoa e Amadeo de Souza-Cardoso, dois artistas que marcaram o nosso século XX, de forma significativamente original. Lêem-se num fôlego e podemos, assim, recordar ou ficar a conhecer alguns pormenores da vida e obra dos biografados. Seguem-se Natália Correia, Salazar, António Variações, Florbela Espanca, José Carlos Ary dos Santos, Beatriz Costa, Amélia Rey Colaço, José Rodrigues Miguéis, Marcello Caetano, Hermínia Silva, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agostinho da Silva, Guilhermina Suggia e Mário Viegas.
Na apresentação desta colecção, sublinha-se que o denominador comum a estas personagens “é a sua marca distintiva de originalidade”, sendo que “alguns deles foram reconhecidos em vida pelo seu mérito, outros incompreendidos e injustiçados, mesmo marginalizados”.

FM

Portugal desconhecido dos portugueses

“O país não é grande, mas continua muito desconhecido dos próprios portugueses. Não estou a pensar só em paisagens e monumentos. Refiro-me, sobretudo, ao país que se constrói nas famílias, nas escolas, na agricultura, nas empresas, nas fábricas, nas universidades, nos centros de investigação, na criação artística, nos internatos, nos lares para idosos, mas prisões, nas escolas de polícia, nos serviços públicos, etc. Fazer de um telejornal a apresentação minuciosa de acidentes, desastres, polícias, ladrões e jogadores de futebol não é, de certeza, a única informação que interessa. Um país, para se conhecer a si mesmo, precisa, em primeiro lugar, de ser informado acerca do que está a nascer, a crescer e a desenvolver-se, em todos os sectores da vida e da actividade. A melhor pedagogia não é aquela que só sabe mostrar o que está mal, mas a que ajuda a potenciar o que há de melhor nas pessoas, nos grupos, nas instituições. Com inteligência e boa vontade, com os recursos de que os meios de comunicação podem dispor, é possível fazer mais e melhor.”
Bento Domingues, no PÚBLICO de hoje :
NOTA: Faço minhas as palavras de Frei Bento Domingues. Já diversas vezes aqui denunciei esta situação, mas a minha voz não chega tão longe como a deste conhecido colunista do PÚBLICO e padre dominicano. O futebol é rei em Portugal. Tudo quanto diz respeito a clubes e jogadores de topo enche, diariamente, a comunicação social. Tanto nos noticiários como em programas próprios. E quando cheira a mexericos, então há jornalistas que até deliram. O povo, que também gosta destas coisas, vai atrás. Tudo o mais não interessa.

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