Teve lugar no passado fim-de-semana, em Madrid, a nona edição anual do Congresso 'Católicos e Vida Pública'. Com mais de 1500 participantes, o evento decorreu num ambiente de tensão crescente entre o Governo socialista e a Igreja católica. No centro das preocupações dos congressistas esteve a procura de um equilíbrio entre a presença pública da Igreja e o reconhecimento do pluralismo da sociedade espanhola.
George Weigel, o biógrafo norte-americano do Papa João Paulo II, apresentou uma das muitas contribuições interessantes para esta reflexão. Apresentando-se como teólogo católico e cidadão de uma das mais antigas democracias do mundo, Weigel perguntou o que pede a Igreja ao Estado. E respondeu basicamente duas coisas: espaço e abertura intelectual. Nada mais, porque a Igreja não tem uma proposta política, e nada menos, porque ela também não abdica do seu ministério independente da palavra, do sacramento e da caridade.
Exigir espaço - social, legal, político, até psicológico - implica reclamar que o Estado seja uma entidade limitada: pelo costume, ou pelo hábito moral e cultural, e pela lei. Esta limitação do Estado é a primeira condição de uma democracia pluralista. Ao recusar a absolutização da política, o princípio do Governo limitado abre espaço a uma interacção livre, vigorosa e civilizada entre várias propostas de ordenação da vida pública, nenhuma das quais é investida de autoridade última. A democracia é impossível quando a política é absolutizada, porque a política de absolutos é necessariamente a política da coerção.
A segunda coisa que a Igreja pede ao Estado, segundo George Weigel, é que mantenha uma atitude de abertura intelectual. Isto significa em termos gerais, que o Estado não pode adoptar uma filosofia particular, muito menos tentar impô-la aos cidadãos (ou aos seus filhos). Em particular, a Igreja reclama do Estado que ele mantenha uma abertura intelectual relativamente a um aspecto específico: a possibilidade de redenção.
Este é um aspecto curioso, que ilustra a interpretação não jacobina de laicidade. Por um lado, a Igreja recusa a teocracia e a existência de religiões oficiais. Por outro lado, a Igreja recusa que o Estado adopte como sua filosofia a hostilidade contra a religião. Por outras palavras, a Igreja reclama do Estado uma posição de abertura que contenha a possibilidade da verdade da religião.
Em termos práticos, isto significa que as duas principais reclamações dos católicos, segundo George Weigel, devem ser a liberdade religiosa e o respeito pelo pluralismo das instituições intermédias. O resto cabe aos católicos conquistar pela persuasão e pelo testemunho.
João Carlos Espada