sábado, 30 de julho de 2022

FÉRIAS


Respeitando apenas compromissos assumidos, vou fazer uma pausa, em jeito de férias. Retomarei a vida deste meu blogue já em Agosto. 
Obrigado pelo interesse de tantos amigos pelo meu Pela Positiva.

Que futuro para a Igreja?

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Nas sociedades, também na Igreja, o pior é o poder enquanto domínio. Jesus, a pedido deles, ensinou os discípulos a rezar. Ensinou-lhes o "Pai nosso", dirigindo-se a Deus como Pai/Mãe e não como Senhor, Rei ou Imperador, e o seu reino não é um império, mas a Humanidade toda enquanto comunidade de filhos e filhas. A revolução de Jesus está no novo encontro com Deus, omnipotente, mas não com a omnipotência do arbitrário e da dominação, mas enquanto Força infinita de criar e de servir, para que todos se possam realizar plenamente.
E volto a Jean Delumeau, historiador eminente, católico convicto, que deixou obras essenciais sobre o passado do cristianismo, e, como só quem conhece e reflecte sobre o passado pode projectar o futuro, uma, luminosa, sobre o futuro, em 2015: L"avenir de Dieu (O futuro de Deus). E lá está: no contexto da imagem terrífica de Deus, que tem de ser revista, "hoje, os cristãos podem mais seguramente afirmar: ou os homens perdoam uns aos outros ou criaram já muitas vezes e, ai!, criam hoje também o inferno na Terra." Hoje, quando já vivemos numa aldeia planetária, "descobrimos que somos forçosamente solidários uns com os outros e, para não perecermos, estamos condenados a unir-nos e a erguer uma governança mundial que deveria ter os meios de ser obedecida." E indo ao núcleo da questão: qual é o grande mal do cristianismo? A sua ligação ao poder.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

A vida vale mais que todos os bens. Que bom. Aprecia

Reflexão  de Georgino Rocha 
para o Domingo XVIII do Tempo Comum

Jesus continua a viagem para Jerusalém e apresenta a sua mensagem em ensinamentos de vida, tirando partido das ocasiões que provoca ou aproveita. Os autores dos Evangelhos articulam, de forma literária bela, a sequência destes ensinamentos, desvendando o sentido mais profundo da viagem, enquanto escola de discipulado, itinerário de doação e espiritualidade, estágio de acção missionária. Lc 12, 13-21.
Uma das ocasiões surge ao ouvir o pedido de alguém anónimo que queria que ele interviesse numa questão de partilhas da herança familiar entre irmãos. Este pedido mostra que Jesus é reconhecido como rabino e, como tal, podia solucionar legalmente tais questões ( Dt 21, 15-17; Nm 27, 1-11). A resposta parece evasiva, embora afável, e tem a forma de uma interrogação: “Amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?” E a ilustrar a sua recusa, continua o ensinamento sobre o valor da vida que supera todos os bens. Termina com uma exortação: Guardai-vos de toda a cobiça; a vida não depende da abundância dos bens.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Não é Deus que precisa das nossas orações

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Não é Deus que precisa de ser convencido. Nós é que precisamos de rezar para nos abrir ao dom de Deus.

1. A oração faz parte de todas as religiões, de todos os povos e até de pessoas que se dizem sem religião. As formas da atitude religiosa podem oferecer variações de religião para religião, de país para país e de pessoa para pessoa. Os últimos inquéritos sobre a prática religiosa, a nível mundial, mostram que o reconhecimento da transcendência humana continua vivo. Deixo, em nota, algumas dessas abundantes referências [1].
Neste Domingo, muitos cristãos confrontam-se com um dos mais belos, imaginativos e bem-humorados textos do Antigo Testamento. Apresenta Abraão a “negociar” com Deus, que estava indignado com o imenso clamor que lhe chegava de Sodoma e Gomorra. Este Deus não actua por ouvir dizer: “Vou descer, a fim de ver se, na realidade, a conduta deles corresponde ao brado que chegou até mim. E, se não for assim, sabê-lo-ei.”

Histórias de Férias

Caramulo - Nada aprendemos nem saboreámos, porque não abriu

Um bom guia
Às vezes ainda falo de férias, como se tivesse tarefas profissionais com horários a cumprir e contas a dar a superiores hierárquicos. Hábitos que vêm de longe e criaram raízes profundas. Depois, caio em mim e até me rio sozinho. É que, realmente, sou um homem livre de compromissos profissionais, embora tenha assumido outros de livre vontade.
Esta sensação de férias também está relacionada com o tempo. Das férias escolares, no meu tempo de mestre-escola, ficámos ligados às férias do Natal, da Páscoa e depois as chamadas férias grandes do Verão. E estes hábitos, curiosamente, ainda estão instalados no meu cérebro, passados que são tantos anos.
Com a proximidade de Agosto, começo a conjeturar as férias. Há bons anos, o  hábito instalado na família era a certeza da partida de casa no dia 1 de Agosto, com tenda vistoriada e tudo revisto, o essencial e não só, para carregar o carro com a casa às costas. E lá partíamos, de manhã cedo, rumo a um parque de campismo, algures no país, longe de casa para não sermos tentados a visitá-la por esta ou aquela razão. Alguém ficaria encarregado de cuidar das coisas.
Em tempos sem telemóveis, recorríamos ao telefone fixo existente nos parques para os contactos mais urgentes. Usados com parcimónia que as chamadas eram pagas.
A vida ao ar livre era saudável e a roupa que vestíamos era prática. Comíamos numa sombra, fazíamos amigos, convivíamos com conhecidos de anos anteriores, não havia televisão, ouvíamos rádio e líamos o que calhava. O jornal logo de manhã e os livros que levávamos na bagagem. E registávamos histórias para mais tarde recordar. Também saíamos à descoberta dos arredores. Mas disso falarei de quando em vez no mês de Agosto. O mês de férias por excelência.

Fernando Martins

domingo, 24 de julho de 2022

O colorido que se instala no nosso cérebro


 As flores, quando apreciadas com serenidade, envolvem-nos de tal modo que nos deixam extasiados pela  sua beleza. Como podemos ficar indiferentes perante o colorido das suas pétalas que se instala no nosso cérebro?

Coleção RTP vendeu 15 milhões de exemplares

Não há receitas 
que funcionem para sempre



Manuel Alberto Valente, editor e escritor, publica semanalmente, na E (revista do EXPRESSO), uma crónica interessante, que tem por título O outro lado dos livros, cuja leitura não dispenso. Aborda questões obviamente relacionadas com o que se tem editado, o que se editou há anos, mas também conta histórias vivenciadas  com escritores e escritoras com quem se encontrou  ao longo da sua vida de editor.
Na revista de 15 de Julho, Manuel Alberto Valente diz  que a coleção RTP é constituída por cem livros, começando por “Maria Moisés” de Camilo e terminando com “Os Lusíadas” de Camões. Sublinha na sua crónica que “foi um extraordinário sucesso, tendo vendido 15 milhões de exemplares” na década 1970, sendo hoje “impossível de repetir”.
O editor, que conhece bem o mercado dos livros, adianta que, segundo a Pordata, os 15 escudos, preço de cada exemplar, corresponderiam hoje a 5 euros. A venda apoiou-se numa máquina bem montada, com carrinhas e 3500 postos de venda, quando não havia mais de 600 livrarias no país. Refere também, entre outras considerações pertinentes, que “não há receitas que funcionem para sempre”.
Como fui um dos que adquiriram a coleção na altura e como era novo, com saúde e gosto pela leitura, li e guardei a minha primeira coleção de livros que ilustra este texto.

Fernando Martins

sábado, 23 de julho de 2022

Francisco no Canadá em "peregrinação de penitência"

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias


Não se pode duvidar de que o cristianismo foi e é fermento de bondade, de alegria, de fraternidade, de tomada de consciênicia da dignidade infinita de ser ser humano, de esperança e sentido, Sentido último.

1 - Não tenho dúvidas em afirmar que Jesus trouxe ao mundo por palavras e obras a melhor notícia que a Humanidade ouviu e viu. Por isso se chama Evangelho, que vem do grego (notícia boa e felicitante): Deus é bom, Pai/Mãe de todos. Jesus morreu para dar testemunho disso: da Verdade e do Amor.
Esta mensagem deu frutos através dos séculos. Cito Antonio Piñero, agnóstico, grande especialista em cristianismo primitivo. Depois de declarar que Jesus afirmou a igualdade de todos enquanto filhos de Deus, escreve que, a partir deste fermento, "se esperava que mais tarde chegasse a igualdade social. Se compararmos o cristianismo com todas as outras religiões do mundo, vemos que essa igualdade substancial de todos é o que tornou possível que com o tempo se chegasse ao Renascimento, à Revolução Francesa, ao Iluminismo e aos direitos humanos. Isto quer dizer: o Evangelho guarda, em potência, a semente dessa igualdade, que não podia ser realidade na sociedade do século I.

Fome de conhecer o mundo

                            Com a Lita no Algarve

Quando leio, vejo ou oiço descrições de viagens pelo mundo, bem contadas, sou invadido pela tristeza e pela certeza da minha dificuldade em confirmar, in loco, as belezas retratadas. Há pessoas com sorte na vida. Nesse aspeto, embora tenha passado por alguns países da Europa, nunca pude fixar-me em qualquer deles, uns simples dias, para visitar as memórias das grandes cidades. E em Portugal, que conheço um pouco, ainda estou longe de poder apreciar muitos dos seus  recantos com que frequentemente sonho.
Não sei porquê, mas a história e a vida dos grandes burgos, como a pacatez das pequenas povoações, sempre me atraíram. Gosto de me confrontar com hábitos diversos, de apreciar marcas do passado, de ver e ler os feitos dos íncolas, de contemplar as paisagens que nos oferecem cores, formas e cheiros variegados. Gosto de experimentar ares frescos e calores que aquecem realmente, gosto de contemplar gentes no seu casario tradicional, de calcorrear ruas sinuosas e rios cantantes, gosto de ouvir o linguajar do povo e de apreciar serranias e planuras, gosto de me quedar, de olhares nos horizontes, numa qualquer esplanada, mesmo com barulho em redor. Mas como sou vivo, graças a Deus, pode ser que um dia destes possa deambular por aí, nem que seja por aqui à volta, para saciar um pouco esta fome de conhecer o nosso mundo.

Fernando Martins

Nota: Texto reescrito 

sexta-feira, 22 de julho de 2022

PARDILHÓ: Algumas memórias

Igreja Matriz de Pardilhó
 

Busto de Jaime Ferreira da Silva

Casa das Ferreira da Silva

Em tempo de férias para muitos trabalhadores e estudantes, vou lembrando algumas que vivi com a família, um pouco por todo o lado. Diversas vezes assentávamos arraiais em Pardilhó, terra das origens da Lita.
A Igreja Matriz, sempre bem arranjada, limpa e asseada, era frequentada com a assiduidade normal de família assumidamente católica. No largo de Pardilhó, dedicado ao sábio e prémio Nobel da Medicina, Egas Moniz, que por ali viveu na juventude com seu tio abade da paróquia, há o busto de Jaime Ferreira da Silva, médico que foi, entre outros cargos, Governador Civil de Aveiro. Defronte da igreja assinala-se a existência da casa das Ferreiras da Silva, irmãs de um Bispo e de um Monsenhor conhecidos pelos mesmos apelidos. Era passagem obrigatória para umas compras e uns dedos de conversa.

Rezai assim: Pai nosso. Somos irmãos. Temos Pai

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XVII do Tempo Comum

Livra-nos da tentação do comodismo egoísta, da injusta repartição dos bens, da comercialização da vida humana, do desequilíbrio crescente no planeta que cuidamos em vosso nome e gerimos em nome das gerações vindouras

A resposta de Jesus abre novas dimensões ao pedido que o seu discípulo lhe faz para ensinar o grupo a rezar. São dimensões familiares que manifestam o ser de Deus, na sua relação connosco, que o fazem presente nas entranhas filiais de cada humano, que o definem e tornam reconhecido como a fonte de vida comum que gera “um nós” inconfundível e original. Constituem, por isso, a verdade que nos identifica e consolida na existência e a realidade performativa que nos impele a viver, cada vez mais, de acordo com a matriz do nosso ser humano. Lc 11, 1-13.
O Evangelho senta-nos no banco da “escola de oração” de Jesus. Ensina que a oração do crente deve ser um diálogo confiante de uma criança com o seu “papá”. Com Jesus, o crente é convidado a descobrir em Deus “o Pai” e a dialogar frequentemente com Ele acerca desse mundo novo que o Pai/Deus quer oferecer aos homens. Padres Dehonianos.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Serra da Boa Viagem - Pôr do Sol


Por casa, os meus pensamentos não descansam. E os sonhos também. Ontem, tive bem presentes, por companhia, lembranças da Figueira da Foz e da Serra da Boa Viagem.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Dia do Amigo

 

O Dia do Amigo (ou da Amizade?) celebra-se hoje, 29 de Julho, e a sua origem remonta a 1969, data da chegada do homem à Lua, que demonstra a importância da união dos homens para alcançar objetivos. Realmente, todos sabemos que a união faz a força.
Todos temos decerto muitos amigos, mas há uns especiais, aqueles que nos acompanham nas horas boas e menos boas. E ao longo da minha vida tive sempre amigos de coração.
De muitos já perdi o rasto, alguns emigraram e outros tantos já faleceram. Alguns da juventude afastaram-se por razões de casamento ou mudança de residência, mas há sempre uma palavra quando eventualmente nos encontramos. Contudo, vão surgindo muitos amigos nos caminhos da vida.
Para todos, vai um abraço de muita amizade.

Fernando

terça-feira, 19 de julho de 2022

Crianças austríacas na Gafanha da Nazaré

Há anos andei a recolher informações sobre crianças austríacas acolhidas em Portugal depois da guerra 1939-1945. Não descobri muitas... Haverá por cá quem se lembre de algumas?


Fani e France, com a avó, foram duas crianças austríacas que viveram na Gafanha da Nazaré, em casa das "Caçoilas", junto aos semáforos, perto da igreja matriz. Depois, quando foi possível, regressaram à sua pátria e de lá enviaram esta foto, com uma dedicatória no verso. Foi o Leopoldo, leitor assíduo do meu blogue, que ma emprestou, com a informação de que as crianças foram tratadas por sua mãe, Maria, e tia, Aurélia. Penso que ainda será possível encontrar, em qualquer canto das gavetas, fotos de crianças que foram acolhidas por Portugal, depois da segunda grande guerra. Se as tiverem, gostaria de as publicar.

Nota: Publicado em Julho de 2009  num dos meus blogues.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

A vida já é curta


"A vida já é curta, mas nós tornamo-la ainda mais curta, desperdiçando tempo"

Victor Hugo, 
(1802-1885), 
Escritor


As mulheres deste Domingo

Crónica de bento Domingues no PÚBLICO

Marta representa o estatuto subordinado da mulher que não tinha acesso ao conhecimento da Palavra de Deus. Era essa a situação com que Jesus estava sempre confrontado e que não aceita.

1. Quem frequenta a Missa dominical, sabe que, normalmente, se confronta com três textos bíblicos e um Salmo. Quando são lidos com alma e competência, são um regalo. Se, além disso, a música e o canto são de boa qualidade estética, a liturgia é um prazer. Aí começa a transfiguração das comunidades e das pessoas.
Neste Domingo, a passagem do Antigo Testamento é uma bela e misteriosa narrativa do livro Génesis sobre uma visita inesperada de Deus a Abraão junto do célebre carvalho de Mambré [1].

Um poema de Tolentino para começar a semana

 A Fala do rosto

És Tu quem nos espera
nas esquinas da cidade
e ergue lampiões de aviso
mal o dia se veste
de sombra

Teu é o nome que dizemos
se o vento nos fere de temor
e o nosso olhar oscila
pela solidão
dos abismos

Por Ti é que lançamos as sementes
e esperamos o fruto das searas
que se estendem
nas colinas

Por Ti a nossa face se descobre
em alegria
e os nossos olhos parecem feitos
de risos

É verdade que recolhes nossos dias
quando é outono
mas a Tua palavra
é o fio de prata
que guia as folhas
por entre o vento

José Tolentino Mendonça

In A Noite Abre Meus Olhos 
(Poesia reunida)


Nota: O Cardeal Tolentino deu uma entrevista ao PÚBLICO no dia 17

domingo, 17 de julho de 2022

Os fogos florestais mais uma vez



Cumprida a devoção dominical de participar na Eucaristia, devoção e hábito que me veio da meninice, manifesto aqui o desejo de ficar por casa na tranquilidade dos meus recantos preferidos: escritório e sala-biblioteca. Ora a ler e escrever, ora a conversar com a Lita, ora a olhar de soslaio a TV para saber como vai o mundo.
Apesar de otimista, não deixo de reconhecer que o mundo, com tantos motivos de beleza e atitudes de bem, é dominado pelas catástrofes que ferem a sensibilidade de toda a gente. A guerra continua sem fim à vista e os fogos deixam sequelas sem conta em imensos portugueses. Alguns ficaram sem casa e sem haveres. ─ Fiquei com a roupa que tenho vestida, mas graças a Deus estou viva, disse uma senhora.
Tenho lido que os fogos são inevitáveis no Verão de temperaturas muito altas, mas também li que urge estudar as melhores soluções para minimizar estas cíclicas catástrofes. Será que o Estado não tem coragem de seguir os conselhos dos técnicos para de uma vez por todas nos livrarmos dos incêndios florestais? 

F. M. 

sábado, 16 de julho de 2022

Carta do Bispo do Porto a Salazar

António Ferreira Gomes, Bispo do Porto (1952-82), escreveu no dia 13 de julho de 1958 uma carta a Salazar, na sequência das eleições fraudulentas em que concorreu Humberto Delgado.
Na sequência dessa carta, o Bispo do Porto foi impedido de entrar no país, ficando exilado 10 anos (1959-1969) no estrangeiro, mas nunca abdicou do título de bispo da diocese do Porto, que legitimamente lhe havia sido concedido pelo Papa.
Depois da morte do ditador, retomou as  suas funções na diocese portuense.

Pode ler a carta aqui

Prevenção dos Fogos - Ainda há muito por fazer

Entrevista de Luís Braga da Cruz
no PÚBLICO


Se a reposta fosse simples, já toda a gente tinha resolvido essa questão... Na Forestis entendemos que colhemos alguns ensinamentos depois de 2017. Há muito mais consciência do risco e outro aspecto muito positivo foi termos feito uma despolitização do fogo florestal. Valorizou-se mais a informação técnica e o ênfase foi colocado na prevenção e vigilância, e não no combate. Também temos de reconhecer que se melhorou o dispositivo da Protecção Civil, a coordenação de meios, a AGIF começou a ter mais competências, os bombeiros especializaram-se. Na Florestis temos 40% das equipas de sapadores-florestais privadas, que estão a fazer um papel muito importante. Tivemos alterações no planeamento do território e houve avanços na política de limpeza das faixas de introdução de combustível e do cadastro simplificado, embora estejamos muito longe do que é necessário.

Uma nova Constituição para a Igreja

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


O Concílio Vaticano II constituiu uma verdadeira revolução. Em Outubro de 1962, há quarenta e um anos, o Papa João XXIII inaugurou em Roma o II Concílio do Vaticano, um dos acontecimentos maiores e decisivos do século XX.
Há quem pense e diga que o Concílio Vaticano II é responsável pela presente crise da Igreja. Mas não é verdade. É impossível imaginar o que seria a Igreja Católica e, por arrastamento, o mundo, sem o Concílio. Não é, porém, difícil supor que a Igreja se teria tornado um bloco marmóreo a dar guarida a um museu de coisas religiosas. Quem quiser aproximar-se da situação vá ler os manuais de teologia dogmática, de teologia moral, de direito canónico, de liturgia, por onde estudavam os futuros padres antes do Concílio, e pense, por exemplo, que na década de cinquenta do século XX ainda se proibia às freiras a leitura da Bíblia, ou que estava em vigor o Índex ou catálogo dos livros proibidos aos católicos, onde figuravam não apenas os teólogos críticos, mas também Copérnico e Galileu, Descartes e Pascal, Hobbes, Locke e Hume, a Crítica da Razão Pura, de Kant, evidentemente Rousseau e Voltaire, também Comte, os grandes historiadores Condorcet, Ranke, Taine, igualmente Diderot e D"Alembert com a Encyclopédie e os juristas e filósofos do Direito Grotius, Von Pufendorf, Montesquieu, a nata da literatura moderna, de Heine, Vítor Hugo, Lamartine, Dumas pai e filho, Balzac, Flaubert, Zola, a Leopardi e D"Annunzio, entre os mais recentes, Sartre, Simone de Beauvoir, André Gide... Perante isto, quem não mantiver algum humor fica atónito.

Uma flor para este fim de semana

 

Para este fim de semana, aqui fica uma flor na esperança de que todos possam usufruir de um tempo mais agradável e colorido.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Aveiro turístico

Moliceiros na ria

Forum

Hotel Arcada

Arte Nova

Aventurei-me há dias a dar uma voltinha pelo centro de Aveiro para apreciar a azáfama de um dia normal, já marcado pela onda do turismo. Gente de vária línguas, uns com aspeto de reformados e outros muito mais novos. Olhavam para tudo, comentavam, fotografaram, filmaram e também sorriam. Felizes da vida.
Um casal jovem, com bebé no carrinho, comentava em voz alta. Olhando da ponte-praça para o Forum, disseram: ─ “Que bonito!” E lá veio a fotografia para mais tarde recordar. Depois, fixaram-se nos barcos moliceiros que andavam numa roda-viva para responderem a tanto apetite de viajar pelos canais.
Naquela zona, os comerciantes de recordações, talvez com destaque para os Ovos Moles, afadigavam-se no atendimento. E nas casas de petiscos movimento não faltava. Mesas nas ruas estreitas convidavam ao convívio e a uns refrescos.

Abre a porta e recebe Jesus em tua casa

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XVI do Tempo Comum

Escutar e decifrar as mensagens que são transmitidas por palavras e silêncios, por gestos e atitudes. E descobrir neles a pessoa e seu estado anímico e espiritual, o seu drama, a sua aspiração silenciada, o seu sonho adormecido.

Jesus continua a sua caminhada para Jerusalém e aproveita para fazer os seus ensinamentos, ora por gestos e palavras, ora por atitudes e parábolas. Acompanha-o o grupo dos discípulos. Avança por cidades e aldeias. Escolhe o ritmo da viagem. Atende a quem o procura e lhe manifesta um desejo. Toma, também, a iniciativa de ir ao encontro de quem quer. Para visitar amigos e fazer confidências. Para descansar e revigorar forças. Seja qual for a razão, Jesus faz, de cada passo, uma ocasião para dar a conhecer algum detalhe da sua mensagem. Lc 10, 38-42.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Fogos Florestais


Os últimos dias têm sido terríveis com as imagens e notícias que nos chegam sobre os dramas vividos em Portugal provocados pelos fogos florestais. Floresta que desaparece, centenas e centenas de bombeiros e outros operacionais em luta desgastante contra o inimigo implacável, casas comidas pelas chamas, gente desesperada, haveres que jamais serão recuperados. Depois do rescaldo, a vida de todos nós vai continuar. Os que tudo perderam talvez fiquem esquecidos sem conseguirem dormir. 
Nos diversos órgãos de comunicação social, não faltam entendidos a debitarem causas e soluções. E não haverá possibilidades, entre os responsáveis governamentais e os diversos especialistas na matéria das mais variadas áreas da ciência e da experiência, de se reunirem para procurarem soluções capazes de acabar com os fogos florestais  de  uma vez por todas?

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Raul Brandão andou pela Ria de Aveiro

 Neste número do nosso jornal propomos a leitura de um livro de Raul Brandão — Os Pescadores — que visitou e passeou pela Ria de Aveiro em 1922, escrevendo, com sensibilidade e arte, sobre o que viu, sentiu e soube apreciar. Valorizou o trabalho do homem "que junta a terra movediça e a regulariza" e "semeia o milho na ria", sublinhando que "Ninguém aqui vem que não fique seduzido, e noutro país esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado". E acrescenta: "É um sítio para contemplativos e poetas... É um sítio para sonhadores e para os que gostam de se aventurar sobre quatro tábuas, descobrindo motivos imprevistos."
Raul Brandão fala dos campos verdes da Gafanha, das mulheres vestidas de escuro, "com grandes molhos de erva à cabeça" e da Costa Nova com os seus palheiros, mas também da arte xávega e do mar impetuoso que rebenta sobre o areal, com "os homens e bois que saem a correr do vagalhão de espuma... ", acrescentando que "Foi diante de um quadro assim que Ferdinand Denis exclamou, assombrado: — Que estranho país é este onde os bois vão lavrar o próprio oceano?!"
Quando passou na Gafanha conheceu a ti Ana Arneira, "com cuja amizade me honra", como faz questão de sublinhar. "O homem foi para o Brasil há muitos anos (— É o rei dos homes!...), ficou ela e os filhos por criar. Criou-os todos. Netos, doenças, lutos."

Fernando Martins

Nota: Sugestão de leitura para os leitores do TIMONEIRO

Festival da Sardinha na Costa Nova


De 14 a 17 de Julho, vai decorrer, na Costa Nova, o Festival da Sardinha, uma iniciativa da APARA – Associação de Pesca da Região de Aveiro. O evento pretende realçar a pesca da sardinha, que é o ganha-pão de de muita gente das nossas terras ligadas ao mar e à ria.
Fazendo-o acontecer no local onde habita uma das principais comunidades piscatórias da região, brinda-nos com a possibilidade de conhecer os protagonistas da sua captura, as suas embarcações e cais, os mercados e as histórias. E não é verdade que uma boa sardinha assada nesta época sabe sempre bem?

terça-feira, 12 de julho de 2022

O Universo mais próximo de nós


Já chegaram, ontem, as primeiras imagens captadas pelo maior telescópio do mundo. As fotos vão sendo exibidas para podermos assistir aos avanços da tecnologias nestas áreas. E que nos reservará o futuro? Para já, o Universo fica mais próximo de nós.

Ler mais aqui

Rádio Terra Nova nasceu há 36 anos

A Rádio Terra Nova, ainda sob a designação de Rádio Pirata, nasceu há 36 anos. Foi precisamente no dia 12 de Julho de 1986 que começou a emitir música e palavras de circunstância, na sede da antiga Cooperativa Elétrica da Gafanha da Nazaré, entretanto extinta por determinação legal, dando lugar à Cooperativa Cultural.
Esta data precisa de ficar na história da nossa terra e região como símbolo da determinação de um povo que soube e quis apostar no progresso a todos os níveis. E a atual Rádio Terra Nova, dirigida desde a primeira hora pelo Eng. Vasco Lagarto, soube vencer todos os obstáculos, continuando ativa e na linha da frente da informação e da cultura, quando muitas outras soçobraram.
Felicito quem a dirige e nela trabalha, mas ainda os colaboradores e ouvintes que a têm diariamente por companheira solidária.

Beber água, mesmo sem sede


Um amigo teve a amabilidade de me lembrar, há minutos, pelo telemóvel, que devo resguardar-me das temperaturas altas e perigosas que devem estar a chegar: bebe muita água, mesmo sem sede; fecha as janelas e desce as persianas para o calor não entrar; não saias de casa. É o que vou fazer.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Dia de São Bento - Padroeiro da Europa

São Bento
Celebra-se hoje, 11 de Julho, o Dia de São Bento (480-547), padroeiro principal da Europa, por declaração do Papa Paulo VI, em 1964. O Papa teve em conta o seu contributo para a cultura europeia.
A sua festa litúrgica realiza-se todos os anos a 11 de julho, data que assinala a transladação das suas relíquias para a Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire, em França.
Muitos se questionam sobre a importância de um santo do século VI para os nossos dias, mas o Pe. Geraldo Coelho Dia, beneditino, esclarece que  São Bento, que escreveu a regra monástica, deu origem à Ordem dos Monges Beneditinos, a única na Europa Ocidental anterior ao ano mil, que "chegou ativa e viçosa aos tempos modernos".

O Cristianismo na guerra das armas e das ideias

Durante sua histórica visita às cidades bombardeadas de Hiroshima e Nagasaki, em Novembro de 2019, o Papa condenou o uso e a posse de armas nucleares por qualquer Estado.

1. Este título pertence ao ensaio de um teólogo, em plena produção e muito conhecido, Tomáš Halik, publicado pelo 7 Margens (18/5/2022). De facto, não é um autor desconhecido do público português. As Paulinas já editaram vários dos seus livros. Nasceu na Checoslováquia, em 1948, é um convertido e estudou Teologia e foi ordenado Padre na clandestinidade, durante o regime comunista, sendo psicoterapeuta para toxicodependentes e alcoólicos. Com a simbólica queda do muro de Berlim, foi nomeado conselheiro do presidente Václav Havel e, posteriormente, secretário-geral da Conferência Episcopal Checa.
Em 2017, a convite do arcebispo de Luanda e presidente da Conferência Episcopal Católica Angolana, Mons. Filomeno Dias, o teólogo Tomáš Halík participou no congresso de teólogos africanos e europeus, em Luanda, com a conferência A Arte de Ler os Sinais do Tempo. Hermenêutica Teológica da Cultura Contemporânea. Recordo-me de terminar a sua comunicação, pedindo a todos um apoio ao Papa Francisco que, na altura, estava a ser muito contestado.

domingo, 10 de julho de 2022

Festival de Folclore na Gafanha da Nazaré

O Festival decorreu à noite
no Jardim 31 de Agosto




"A nossa terra caracteriza-se por ter gente de trabalho e esta casa-museu é exemplo disso", afirmou Mariana Ramos, vereadora da Câmara de Ílhavo e responsável pela área da cultura, na cerimónia de abertura do XXXVII Festival de Folclore, organizado pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN). A cerimónia decorreu ontem, à tarde, no pátio interior da Casa Gafanhoa, com a participação dos grupos convidados para o festival que se realizou à noite, no Jardim 31 de Agosto.
Para além do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN, o anfitrião, participaram o Rancho Folclórico de São Martinho de Mancelos, Amarante; o Rancho Folclórico "Os Rurais" da Lagoa da Palha, Palmela; o Rancho Folclórico de São Martinho, Castelo de Paiva; e o Grupo Folclórico de Recardães, Águeda.
Mariana Ramos, na sua intervenção, frisou que a Casa Gafanhoa  mostra a nossa "relação com o trabalho" na agricultura e louvou a dedicação do Grupo Etnográfico pelo cuidado e entusiasmo posto no funcionamento desta casa, "exemplo da memória do nosso povo".
Dirigindo-se aos convidados, a vereadora aconselhou-os a fruírem "as belezas da nossa terra, nomeadamente, as nossas praias", garantindo que "estaremos sempre de braços abertos para os acolher", porque essa é uma "característica do nosso povo". "A força das nossas associações está à prova na organização de eventos como este", disse.
Também José Arvins, membro da Junta de Freguesia e em representação do seu presidente, Carlos Rocha, ausente por motivo de férias, afirmou que o GEGN tem trabalhado imenso para "preservar as nossas tradições, desbravando um terreno que não é fácil", equiparando os seus dirigentes e membros  aos primitivos gafanhões "que transformaram estas terras áridas em terras fertilizantes". E convidou os grupos convidados a apreciarem as nossas paisagens, porque na nossa terra há muito para ver.
Da cerimónia, dirigida pelo presidente do Etnográfico, José Manuel Pereira, constou ainda a entrega de lembranças aos grupos e convidados.

F. M.

sábado, 9 de julho de 2022

O humor, o riso e o divino

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

O humor e o riso, repito, são um sinal evidente de inteligência, desdramatizam a vida, permitem viver de modo sadio consigo próprio, fazem bem à saúde, abrem transcendências

Pediram-me uma vez uma reflexão precisamente sobre o tema em epígrafe. Aí fica uma tentativa. Sobre Deus que sabemos nós? Ele é infinito e está para lá de tudo o que possamos pensar ou dizer. O que sabemos dEle sabemo-lo através de Jesus, a sua revelação no mundo.
Através de Jesus, sabemos que Deus é, como se lê na Primeira Carta de São João, Agapê: Amor incondicional. Mas o Evangelho segundo São João também diz que Deus é Logos: Razão, Inteligência e que tudo foi criado pelo Logos. Por isso, Deus tem sentido de humor, pois o humor é sinal de inteligência. Não é o humor fino revelador de uma inteligência fina?
Logo no primeiro livro da Bíblia, o Génesis, há uma passo belíssimo em conexão com o riso. "O Senhor apareceu a Abraão quando ele estava sentado à porta da sua tenda", sob a figura de três homens. "Onde está Sara, tua mulher?" Ele respondeu: "Está aqui na tenda. Um deles disse: Passarei novamente pela tua casa dentro de um ano, nesta mesma época, e Sara, tua mulher, terá já um filho".

O calor abrasador está aí

Praia da Barra com farol à vista

O calor abrasador está aí. Não sei se vem para ficar ou se vem tocado por algum fenómeno meteorológico. Com os 33.º anunciados, os mais idosos têm mesmo de se resguardar. Os mais idosos e os mais novos, que as altas temperaturas poderão ser prejudiciais a todos.
Com o calor anunciado, as praias serão procuradas e as apetecidas sombras estarão disponíveis, mas os corpos necessitam de muitos líquidos, em especial água. Pela minha parte, que gosto do calor mais do que de tempos incertos, garanto que ficarei em casa a ver como param as modas, que motivos não me faltam para me sentir tranquilo. E que fazer num dia destes, sem compromissos profissionais, sociais ou outros? Lembrar que a natureza tem os seus ciclos,  todos fundamentais à vida.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

D. António Francisco nas Bibliotecas do Município de Aveiro

Biblioteca D. António Francisco dos Santos
na Rede de Bibliotecas do Município de Aveiro

D. António Francisco

Segundo informa a autarquia aveirense, o Executivo Municipal deliberou aprovar a celebração do Acordo de Cooperação entre o Seminário Santa Joana Princesa e a Câmara Municipal de Aveiro no sentido de integrar a Biblioteca D. António Francisco dos Santos na Rede de Bibliotecas do Município de Aveiro, potenciando um espólio de elevado interesse histórico e cultural, reconhecendo-se a sua utilidade para fins de gestão patrimonial e de investigação académica.
Congratulo-me com o facto, na convicção de que os amantes da cultura terão muito a ganhar com aquela decisão.

Vai e cura com misericórdia os feridos da vida

Reflexão de Georgino Rocha 
para o domingo XV do Tempo Comum

Vai e faz o mesmo porque o amor de Deus envolve necessariamente aqueles que Deus ama, sem distinção de género ou de raça; percorre os seus caminhos de aproximação e serviço; reveste os seus sentimentos de ternura e misericórdia.

Esta exortação assertiva, clara e interpelante, surge na parábola do samaritano, narrada por Jesus, como resposta ao mestre de leis preocupado com o sentido da vida e com os meios a usar para alcançar a vida eterna; decorre, como consequência lógica e coerente, do amor a Deus e ao próximo, síntese de todos mandamentos, como bem acentua o jurista inquieto e desejoso de acertar na solução do futuro; comporta uma orientação fundada e constitui um guia seguro de atitudes e comportamentos para o relacionamento das pessoas em sociedade, sobretudo em situações de especial necessidade; destaca a importância da rede de cuidados e da cooperação entre os intervenientes; apresenta um dos traços mais fortes da identidade dos discípulos/cristãos e define a marca mais vigorosa do seu testemunho público. Lc 10, 25-37.

Poços de rega nas Gafanhas

Poços de rega 
faziam parte das nossas paisagens


Passei há dias pela Casa Gafanhoa a convite da direção para apreciar mais um motivo de interesse — um poço de rega — que merece ser apresentado a quem nos visita, com o intuito de não deixar cair no limbo do esquecimento uma excelente forma de regar os campos cultivados de solo arenoso, muito permeável à água da chuva ou de outra natureza. Imagino, por isso, os sacrifícios por que terão passado
os nossos ancestrais para evitar que determinadas culturas não morressem de sede, sendo certo que alguns cereais, por natureza, não necessitassem tanto de rega, nomeadamente, o centeio, a cevada, a aveia e o trigo.
O poço ali está nas traseiras da Casa Gafanhoa com engenho que inclui os alcatruzes, de furo na base, para o ar se escapar e deixar entrar a água sem pressão. O precioso líquido, fundamental à vida, caía na caldeira feita de zinco, passando por um tubo até à caneja, rumo aos produtos agrícolas cultivados, sobretudo milheirais com feijoeiros à mistura. Também batatais e hortaliças.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Democracia e regimes autocráticos

"Depois da guerra de Putin, a grande dicotomia entre concepções de sociedade já não é entre a esquerda e a direita, mas entre os defensores da democracia (que existem à esquerda e à direita) e os simpatizantes de regimes autocráticos (que abundam na extrema-direita e na extrema-esquerda)."

Teresa Ribeiro em Delito de Opinião

terça-feira, 5 de julho de 2022

CASA GAFANHOA - Vale a pena recordar

A propósito do Festival de Folclore 
que vai realizar-se no próximo sábado 



Maria Merendeiro - proprietária
A CASA GAFANHOA, pólo museológico do Museu Marítimo de Ílhavo,  foi inaugurada em 11 de Novembro de 2000. Trata-se de um edifício do princípio do século XX, que foi adquirido pela Câmara Municipal de Ílhavo e entregue à administração do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, a entidade que mais lutou por este espaço, que reflecte a vida de um lavrador rico desta região. 
A casa antiga, depois de bem restaurada com todo o respeito pela traça original, mostra um recheio totalmente dominado por móveis e utensílios do princípio do século, num desafio constante à pesquisa e estudo de quanto os primeiros gafanhões nos legaram, mostrando um viver simples, mas prático, que não pode hoje deixar de nos encantar pela simplicidade que se desprende de tudo. 


Recorrendo à minha memória, posso lembrar que nas casas gafanhoas podia ver-se a cozinha com a sua trempe de ferro, panelas de três pés, aparadores, mesa e bancos toscos. Os talheres eram de ferro e alguns de cabo de osso. A um canto havia a cantareira com a respectiva cântara de ir à fonte buscar água, junto à mata da Gafanha, que dava gosto beber pela sua limpidez e frescura (que lhe era dada pela cântara de barro). 

Cozinha com membro do GEGN

Na cozinha de fora, mais modesta, com chão de junco, e na principal, de tudo um pouco ali se encontrava, desde roupa pendurada nos cabides até aos armários com louça e com comida que se não estragasse com o calor. O forno, onde se fabricava a sempre apetecida boroa de milho (e com que apetite era esperada a bola — boroa pequena e achatada — para comer com chouriço ou alguma carne de porco, mesmo gorda), era obrigatório em quase todas as casas gafanhoas. E também a salgadeira que guardava, no sal, o porco, governo de todo o ano. Também ali ficava, a um canto, a barrica com sardinha salgada, bem acamada. 

Quarto com cama de casal

Na CASA GAFANHOA, podem apreciar-se os quartos pequenos, onde mal cabia uma cama e a respectiva mesa-de-cabeceira, com a mala do enxoval da casa, quantas vezes sem guarda-fatos e sem outros móveis, que o dinheiro e os hábitos não davam para mais. Sobre as camas das casas gafanhoas não faltavam as mantas de tiras, que as tecedeiras fabricavam com farrapos e restos de roupa velha, tiras essas cortadas nas noites de Inverno, ao serão, sobretudo pelas mulheres da casa. Mas ainda se hão-de admirar cobertores grosseiros de lã, lençóis de linho churro, e a um canto, o lavatório, normalmente só usado aquando da visita do médico a algum familiar doente. 

Sala do Senhor

A Sala do Senhor, à frente, que se abria na Páscoa ou em dias de casamento ou baptizado, com um crucifixo sobre uma toalha alva, em cima da cómoda, onde se guardavam as roupas brancas e de festa. Havia cadeiras à volta, retratos nas paredes, principalmente dos casamentos, ampliados, que são actualmente grandes e importantes fontes de conhecimento da maneira de vestir e de ser das pessoas dos tempos antigos, sobretudo desde que a fotografia começou a marcar presença e a registar os principais acontecimentos das famílias. Aliás, em cima da cómoda, onde dois castiçais suportavam outras tantas velas para acender em dias de trovoada e, ainda, quando havia a visita das “almas” e quando se velavam os mortos, podiam ver-se algumas fotos de datas marcantes da família, a par das jarras de flores, renovadas semana após semana. 

Currais e arrumos
No pátio interior não faltam as padiolas, os carros de mão e de vacas ou bois, com todos os seus apetrechos, as várias alfaias agrícolas, encabadas com paus toscos, a charrua e o arado, a um canto o galinheiro para as galinhas e galos, sobretudo, se refugiarem à noite, pois que de dia andavam, normalmente, a campo, comendo sementes, restos de comida e bicharada, quando não comiam outras coisas bem piores. E também não falta a retrete, pequena e de tampo de madeira, com o indispensável buraco a meio, que quarto de banho era coisa que não existia. E porque falamos de quarto de banho, o tal que só apareceu muito mais tarde, talvez na década de 50 para o grosso da população, que os mais ricos já o tinham havia algum tempo, se não nos falha a memória, perguntar-se-á onde tomavam banho os gafanhões. Ao que nos têm dito, tomavam-no na cozinha, geralmente ampla e que dava para o viver do dia-a-dia, numa grande bacia de lata, com água aquecida nas panelas de ferro de três pés. 
Forno
A água estava sempre quente, para o que fosse preciso, porque se cozinhava em panelas mais pequenas. Para o que fosse preciso, significa para lavar a loiça e para se lavarem, antes de se deitarem, especialmente os pés, que nem tudo podia ser lavado todos os dias, talvez por falta de hábito. Para o pátio interior ainda davam os currais dos porcos e das vacas ou bois, que sempre berravam acusando a falta da "lavagem", os primeiros, e da erva ou palha seca, de milho, os segundos. O celeiro também tinha uma porta para este pátio e às vezes para o exterior. 
Nos beirais dos telhado viam-se as abóboras a secar e à espera do Natal, para fazer os bilharacos. No pátio de fora não faltava a eira, onde se malhavam e secavam os cereais, cobertos de noite pelo tolde, feito de palha de centeio, a estrumeira (quando não era no pátio interior), para onde se deitava tudo o que pudesse transformar-se com o tempo em esterco, tão necessário à fertilização dos solos, a par do moliço e de mistura com ele. 

Poço de rega
Viam-se as medas de palha e o “cabanéu” (prisma triangular, feito de uma armação de troncos de eucalipto e de ripas, e deitada sobre uma face), onde se arrumavam lateralmente e num dos topos, bem apertadas para não entrar a chuva, as palhas de milho, secas, para no Inverno servirem para alimento do gado. No interior guardavam-se alfaias agrícolas, menos usadas no dia-a-dia, e também ali dormiam, em especial os filhos da família, quando havia milho na eira, para o guardar dos ladrões que às vezes deixavam o lavrador sem nada do que granjeou durante todo o ano agrícola. Claro que não podemos esquecer, o poço, de onde se tirava a água para os usos domésticos, e um outro, o de rega, com o seu engenho puxado por vaca ou boi, que servia para regar o aido. 

Fernando Martins



NOTA: Texto escrito há anos e agora republicado