domingo, 31 de março de 2019

Quem há por aí que não sinta já a primavera?


Quem há por aí que não sinta já a primavera? Quem há por aí que não se delicie com as flores que desabrocham por todos os cantos? Quem há por aí que não aprecie a natureza na sua fase maravilhosa de ressurreição? Quem há por aí que não aprecie os cheiros frescos e doces desta já certeza da estação que nos abre as portas a mais felicidade?
Deliciosa primavera para todos.

FM

Bento Domingues: Confessar-se, pelo menos, uma vez por ano

Bento Domingues

"A queixa actual é contra a obrigação de se confessar antes de comungar. Tanta gente a comungar e tão pouca a confessar-se"

1. O título deste texto pode parecer ridículo por anacrónico. Quem desejar conhecer as posições oficiais da Igreja sobre os Sacramentos deve ler os textos do Vaticano II, o Código de Direito Canónico (1984) e as orientações de reforma da Igreja do Papa Francisco, expressas nos documentos por ele assinados. Se mantenho este título, é porque ele serviu para dar cobertura a uma história de terror, para distorcer a prática sacramental da Igreja e ocultar a própria essência do cristianismo. Por outro lado, a discussão actual, em torno dos ministérios ordenados, não se deve deixar polarizar, apenas, por carências funcionais da pastoral actual da Igreja, embora a situação seja calamitosa. 
O título desta crónica tem uma história. O IV Concílio de Latrão é assim chamado porque foi realizado em Roma, na Basílica de S. João de Latrão, a cátedra do Papa. Aconteceu entre 11 e 30 de Novembro de 1215. 
Esta iniciativa de Inocêncio III teve a maior participação de bispos de toda a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna. É considerado, pelos historiadores, como o ponto mais alto e importante do papado do século XI ao século XIII [1]. 
Compareceram 404 bispos, 71 primazes e metropolitas, 800 abades e priores. Além disso, cada bispo possuía uma numerosa comitiva. Os patriarcas orientais, embora convidados, não compareceram, mas todos os reinos cristãos enviaram representantes. 
Este concílio confirmou as magníficas orientações de reforma da Igreja do grande Papa Inocêncio III; deixou-se, porém, enredar nas obsessões da Quinta Cruzada e das medidas violentas contra os albigenses. Deu, no entanto, amplo espaço à doutrina sobre a Eucaristia e o sacerdócio ministerial, acolhendo o conceito de transubstanciação, cunhado pela primeira escolástica. A obrigação da confissão anual e da comunhão pela Páscoa foram as ordenações mais notadas do concílio e mais duradoiras. 

Anselmo Borges: O que queremos? Ser felizes. Decálogo para a felicidade

Anselmo Borges

1. Agora, há dias de tudo e para tudo. Certamente o dia mais universal é o dia 20 de Março, porque nele se celebra o Dia Mundial da Felicidade. Sim. O que é que verdadeiramente queremos? Não há dúvida sobre isso. Queremos todos ser felizes. O Papa Francisco acaba também de o reconhecer e dizer: “A busca da felicidade é algo comum em todas as pessoas, de todos os tempos e idades”, pois foi Deus que colocou “no coração de todo o homem e mulher um desejo irreprimível da felicidade, da plenitude”. “Os nossos corações estão inquietos e em contínua busca de um bem-estar que possa saciar a nossa sede de infinito”, desejo dAquele que nos criou e que é, Ele mesmo, o amor, a alegria, a paz, a verdade e a beleza. 

2. Precisamente por ocasião desse dia a celebrar a felicidade, Vatican News propôs, a partir de textos e declarações de Francisco, uma espécie de decálogo para a alegria e a felicidade. 

Ficam aí, em síntese, dez pontos sobre o tema, esse Decálogo. 

2. 1. O início da alegria é começar a pensar nos outros 

O caminho da felicidade começa pela necessidade de passar do egoísmo ao pensar nos outros. “Quando a vida interior se encerra nos próprios interesses”, sem “espaço para os outros”, não se goza da “doce alegria” do amor. Não se pode ser “feliz sozinho”. É necessário redescobrir a generosidade, porque, como disse São Paulo aos Coríntios, “Deus ama quem dá com alegria”. Jesus também disse: “Dá mais alegria dar do que receber”. “Se conseguir ajudar uma só pessoa que seja a viver melhor, isso já é suficiente para justificar o dom da minha vida”. 

2. 2. Afastar a melancolia 

Hora de verão já está em função



Hora de verão já está em função. Apesar dos sonhos de alguns, nos quais me revia, a hora do verão continua a marcar os nossos ritmos. Durante uns dias vamos andar com os apetites trocados, mas logo depois tudo entra na normalidade. Ando nisto desde que me conheço como gente de pensar. E nunca, que eu saiba, morreu ninguém por cauda da mudança de hora. 
Bom domingo para todos.

FM;

sexta-feira, 29 de março de 2019

Anselmo Borges em Caminhos para a Liberdade

Feira de Março: E cumpriu-se a tradição…

A Lita prefere os doces...
Eu vou mais para os petiscos
Em maré de ensaios 

Onde saboreámos as farturas
Tendas para todos os gostos 
E cumpriu-se a tradição: Fomos à Feira de Março e comemos farturas. Apreciámos o ambiente e vimos caras conhecidas. Comes e bebes por cada canto, diversões em maré de espera e de ensaios. Sim… de ensaios, porque há equipamentos mecânicos que têm de funcionar com garantias a nível de segurança. Tendas de tudo e mais alguma coisa, da nossa região e de outras. Há gente, naturalmente, que governa a vida nas feiras de forma permanente. Do outro lado da rua, num espaço próprio, assentaram um bairro de “moradias” dos feirantes.
Nos pavilhões, lá estavam os mostruários de indústrias, não apenas do nosso distrito, mas de outros. Ou do nosso distrito que se expandem para além dele. “Passamos a vida nas feiras”, disse um. Vieram de outras regiões, percebemos nós. 
À chegada, foi difícil arrumar o carro perto dos portões de entrada, como aconselhava a nossa idade. E entrámos. Fomos, primeiramente ao que íamos: Ás farturas, está bem de ver. E entrámos no espaço habitual deste doce típico à moda de Lisboa, onde pontificavam rostos na confeção e no serviço que nos eram familiares. E comemos as ditas com apetite… redobrado, que isto é só uma vez por ano. Já agora, peço ao meu médico que me não ralhe por esta confissão livre e espontânea. Quem se confessa, pode contar sempre com a absolvição, porque estes pecadilhos não são mortais. Não passam de veniais, como aprendi na catequese da senhora mestra. 
A Feira de Março, que se prolonga até finais de Abril, tem programação adequada para animar a vida. A folia, com regra, não faz mal a ninguém. Os ensaios e afinações estavam a decorrer e prometia noite para aquecer o ânimo de algumas agruras. À entrada da Feira, quando saímos, já se cobravam os bilhetes de ingresso. Antigamente, lá muito para trás, que me lembre, as entradas eram livres. 
Os nossos olhares fixaram-se em sonhos e em memórias de outros tempos que voltaram à tona como se fora maré viva. Garantida está, se Deus quiser, a próxima visita, em 2020, número redondo, que trará outros prazeres, se a Câmara de Aveiro puder ajudar com algumas inovações, que não sei se tal será possível.
Cumprida a promessa, o regresso foi lesto, que a resistência física, na nossa idade, atingiu os limites. 
Boa Feira de Março para todos. 

Fernando Martins

Farol da Barra de Aveiro à vista


Para nós, os da ria e do mar, o Farol da Barra de Aveiro é uma das nossas grandes referências. E como assim é, julgo que indiscutivelmente, onde quer que estejamos, estaremos sempre com olho nele, tanto quanto for possível. De longe, aqui fica a foto que captei um dia destes, apesar de a minha máquina ter apenas o nível de um amador.

Georgino Rocha: Abraço do Pai acolhe Filho reencontrado



«“O meu filho voltou à vida. Foi reencontrado. Façamos festa”. O símbolo não podia ser mais rico. O rosto de Deus que Jesus anuncia fica bem desenhado. Captemos o seu sentido. Vivamos a sua misericórdia. Deixemo-nos envolver pelo seu abraço de reconciliação sanadora»

A parábola do “filho pródigo” atinge o seu momento mais expressivo no abraço do Pai que, pacientemente esperava o seu regresso. A narração é uma maravilha saída da pena de Lucas. A mensagem é um primor que Rembrandt visualiza de forma magistral. Os protagonistas apresentam traços humanos do rosto de Deus que Jesus insistentemente quer que os seus interlocutores acolham, admirem e apreciem. A Igreja prolonga na história a missão de Jesus e esforça-se por lhe ser fiel e por fazer brilhar em si e nos seus membros a ternura, o calor e a misericórdia que transparecem naquele gesto familiar. Os cristãos ficam constituídos em seus discípulos missionários pelo estilo de vida e pela prática de obras de justiça impregnada de amor de serviço generoso.
Assim o proclama o Papa Francisco que, no passado dia 25, no Santuário de Loreto, na Itália, assinou a exortação pós-sinodal sobre os Jovens e afirma que a preocupação do seu novo texto é ajudar as novas gerações no processo de “escuta da palavra-projeto de Deus”, discernimento e decisão, envolvendo os diversos campos da pastoral da Igreja – juvenil, vocacional e familiar”. E acrescenta: “A família e os jovens não podem ser dois setores paralelos da pastoral das nossas comunidades, mas devem caminhar juntos, porque muitas vezes os jovens são aquilo que uma família lhes deu, no período de crescimento”. Bela e oportuna coincidência!

quinta-feira, 28 de março de 2019

Maria Rueff: «Tenho uma relação de “tu” com Deus»

Maria Rueff com Maria João Avillez
«Tenho uma relação de “tu” com Deus, ou seja, é como se falasse com alguém francamente familiar», afirmou esta quarta-feira Maria Rueff, para quem Ele «é uma presença de todas as horas», «um amigo» que «dá provas e pistas». A atriz foi a primeira convidada da iniciativa “E Deus nisso tudo?”, ciclo de conversas da jornalista Maria João Avillez com personalidades do mundo da arte, política, ciência e economia, acolhido pela paróquia do Campo Grande, em Lisboa. «No meio teatral, embora haja muitos católicos, estamos normalmente rodeados de ateus. E eu lembro-me da pergunta do papa Francisco, «quem sou eu para julgar?», e portanto também não julgo ninguém. E tenho a enorme felicidade de ter muitos amigos à minha volta que não creem, de também não me julgarem.»

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quarta-feira, 27 de março de 2019

Miguel Torga gostou desta terra



In "Para a imagem antiga de Aveiro - O Postal Ilustrado", Catálogo da Exposição 10-24 de Março de 1984, da ADERAV

Mário Sacramento faleceu há 50 anos

Mário Sacramento e esposa

No dia 27 de março de 1969, faz hoje precisamente 50 anos, faleceu o Dr. Mário Emílio Sacramento, natural de Ílhavo, onde nasceu em 1920, tendo exercido em Aveiro a sua profissão de médico competente e atencioso, desde 1957. 
Humanista de formação marxista, desde cedo se afirmou como opositor ao Governo de Salazar, o que o levou várias vezes à prisão. Figura de militância no Partido Comunista Português, esteve sempre presente nos Congressos de Oposição Democrática realizados em Aveiro. 
Temido pela força dos seus escritos, que tantas vezes foram de difícil publicação pela ação controladora da PIDE, ainda assim deixou importantes contributos literários que, em grande parte, só viram a luz do dia após a sua morte. 
Da sua obra, destaco: "Fernando Pessoa - Poeta da hora absurda", "Fernando Namora - O Homem e a obra", "Há uma estética Neo-realista?", "Carta Testamento" e "Frátria - Diálogo com os católicos ou talvez não", de parceria com o Padre Filipe Rocha e Dr. Mário Rocha. 
Após o 25 de Abril, o seu nome emergiu como bandeira da resistência, em diversas homenagens póstumas, figurando hoje na toponímia das cidades de Ílhavo e de Aveiro. 

FM 

Nota: Texto escrito há anos no meu blogue. Reedito-o hoje, com as devidas alterações, em homenagem a um homem que se fixou no meu espírito com a ajuda de sua esposa e minha professora, Cecília Sacramento, de saudosa memória.

Ares de primavera: Ramo de flores na minha tebaida


Ramo de flores num recanto da minha tebaida. Cores alegres, vivas e atraentes. Um ar de primavera para começar o dia. A seca exige a chuva que está a rarear no mundo. Efeitos dos nossos excessos e das nossas ofensas à natureza. Ofensas graves com poluição à vista. Mas temos a primavera para nos fazer renascer, renovando mentalidades que nos abram a um futuro mais esperançoso. E depois virá a preciosa chuva para nos fazer sorrir. 

FM

terça-feira, 26 de março de 2019

Gafanha da Nazaré — aventuras, desportos, jogos e brincadeiras

Júlio Cirino com Dinis Ramos e Manuel Serafim, dois amigos da infância
Grupo Coral da Universidade Sénior
“Gafanha da Nazaré — aventuras, desportos, jogos e brincadeiras” é o mais recente livro de Júlio Cirino. Vem na sequência de “Gafanha da Nazaré — Memória Histórico-Antropológica”, carregado com recordações que, para além do mais, contribuirá para a unidade de um povo com origens diversas. E se no primeiro abordou temas mais voltados para a problemática da formação e ocupação do espaço que habitamos, com riqueza de pormenores relacionados com gentes e costumes, neste segundo trabalho o autor foi à cata de assuntos que dão substrato ao dia a dia dos nossos antepassados até hoje, como está claro no subtítulo do livro. 
Sentimos, com gosto, quanto o Júlio Cirino soube estruturar este trabalho, apoiado na sua intervenção social, cultural e desportiva, denotando tarefas de um sem-número de contactos, pesquisas e achados quase inacessíveis, para mostrar à saciedade aventuras, desportos, jogos e brincadeiras, com uma sensibilidade que chega a comover. E a visão do que viveu, ouviu, leu, aprendeu e ensinou, com as credenciais que advêm do seu envolvimento na área desportiva, como praticante, mas sobretudo como treinador de atletas de expressão regional, nacional e internacional, refletem-se nesta obra.

domingo, 24 de março de 2019

Leonor Xavier: Abusos sexuais e violência doméstica


«Abusos sexuais na Igreja? Pedofilia? Já sabemos. A Comunicação Social anuncia, disserta, desenvolve. A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) já se pronunciou. Alguns bispos evocaram, nos seus documentos quaresmais. O assunto não morreu, o tema ressuscita a cada dia. É mais que universal. Monstruoso. 
Tomando outro enfoque, centro-me na nossa concreta sociedade, em que, sem distinção de classes, a tradição, o costume, a prática de violência doméstica são hoje notícia constante. Os números cortam-me: doze mulheres assassinadas nas primeiras dez semanas do ano. Nas primeiras doze semanas, 131 suspeitos de crimes de violência doméstica por violação, lenocínio, agressão grave. Por dia, duas pessoas, homens e mulheres, detidas por violência doméstica, neste primeiro trimestre do ano. Falam os magistrados em “números negros”, a procuradora-geral da República classifica “este cenário desolador”.»

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Dia Nacional do Estudante - Estarei sempre com eles


O Dia Nacional do Estudante comemora-se anualmente no dia 24 de março, para relembrar as dificuldades que os jovens enfrentaram nas décadas de 60, aquando da crise académica que aconteceu no nosso país. Em princípio, importa preservar a história das lutas travadas em nome de prioridades por cumprir em tempos idos. Contudo, sinto que nos nossos dias e sempre há e haverá justas reivindicações em prol de uma Escola livre, libertadora e capaz de se orientar por princípios de justiça e de integração de todos os estudantes, independentemente das suas origens e condições sociais. 
Sou do tempo em que a Escola era só para alguns, porque a pobreza exigia de todos a luta pelo pão de cada dia. O trabalho infantil, que agora condenamos, ao tempo era o pão nosso de cada dia. Completada a 3.ª ou 4.ª classe, era normal a procura de emprego em trabalhos nada condizentes com as capacidades físicas dos adolescentes. E para alguns, como aconteceu na minha meninice e adolescência, os estudos somente teriam lugar à noite ou muito mais tarde. Felizmente, com o passar das décadas, tudo foi melhorando, paulatinamente, embora subsistam lacunas em pleno séc. XXI. 
Presentemente, os estudantes têm outra visão do mundo e do seu futuro. Sabem o que querem, teimam em lutar contra o status sem horizontes e reivindicam o que consideram justo e lhes é negado por uma sociedade muitas vezes egoísta e castradora. Estou eles neste dia e sempre. 

Fernando Martins

Anselmo Borges - Uma Quaresma para o mundo


«Hoje, sabemos que o jejum e a abstinência contribuem em grande medida para a saúde e até para a beleza. Quanto à espiritualidade, não há dúvida. Significativamente, a sabedoria de todas as religiões esteve sempre aberta ao jejum sadio.»

1. Uma ilustre Catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto entrou em contacto comigo, porque queria saber algo sobre a relação entre o jejum e a espiritualidade. 
Lembrei-me então de que estamos na Quaresma. Ela é mais para os católicos, que durante 40 dias se preparam, pelo menos, deveriam fazê-lo, para a festa que constitui o centro do cristianismo, a Páscoa. De qualquer forma, animam-na ou devem animá-la valores que são universais, de tal modo que poderíamos fazer a pergunta: Como seria o mundo, se tivesse anualmente a sua Quaresma, tendo na sua base esses valores: jejum, abstinência, oração, silêncio, esmola, sacrifício, conversão? 

2. O que se segue é uma breve reflexão que tenta responder a esta pergunta. Começando pela urgência de um retiro. De facto, a Quaresma refere-se aos 40 anos que os judeus passaram no deserto a caminho da Terra Prometida e aos 40 dias que Jesus esteve no deserto, em retiro, preparando-se para a sua vida pública, na qual o centro seria a proclamação, por palavras e obras, do Evangelho, a mensagem da salvação de Deus para todos os homens e mulheres. 
Aí está: retirar-se para meditar e reflectir. O que mais falta faz hoje. Quem se retira para fora do barulho e da confusão do mundo, para meditar e reflectir, ir mais fundo e mais longe, ao essencial? O sentido dos 40 anos e dos 40 dias: a libertação da opressão e da escravidão, a caminho da liberdade e, consequentemente, da dignidade. Para a felicidade, evidentemente. 
Neste contexto, os valores da Quaresma. 

Bento Domingues: Deus não sabia o seu nome?

"O que importa é libertar a catequese,
as homilias, a teologia de rotinas
que impedem a alegria do Evangelho
para os dias de hoje."

1. Se Deus fala, é porque tem boca e diz coisas com sentido. Se tem boca, tem de ter um rosto. Se tem um rosto, tem uma cabeça. Quem já viu essa boca a pronunciar palavras? Numa reunião de catequese, a catequista viu-se surpreendida com essa pergunta de uma criança, já não tão criança. Ela própria ficou tão embaraçada que lhe disse: ó menina, isso não é pergunta que se faça, é uma maneira de dizer. A criança insistiu: mas Deus fala ou não fala?
No ambiente litúrgico e catequético, e até na linguagem corrente, os líderes das comunidades cristãs não se dão conta, pelo hábito de falar sem se explicarem, dando por sabido o que nem eles sabem, de que estão a preparar pessoas para confessar um credo e praticar rituais, mas sem a mínima inteligência do que dizem e fazem. Com o tempo, estão a preparar descrentes.
Já na Idade Média, Tomás de Aquino afirmava que, quando se pretende levar alguém à inteligência da raiz da verdade que confessa, tem muito que investigar para responder à pergunta: como é que é verdade aquilo que confessas ser verdade? Não basta recorrer a argumentos de autoridade. Nesse caso, o ouvinte fica sem ciência nenhuma e vai-se embora de cabeça vazia [1]. Não é boa recomendação a fé ignorante.
No âmbito religioso, estamos tão habituados a um certo uso da linguagem que julgamos estar sempre perante comunidades que merecem o elogio de S. Paulo: “Tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de seres humanos, mas como ela é verdadeiramente: palavra de Deus, a qual também actua em vós que acreditais.” [2]
A criança a que nos referimos diria ao apóstolo: e como é que sabes que é palavra de Deus, se todas essas palavras são humanas, criadas por seres humanos?

sábado, 23 de março de 2019

Santuário de Schoenstatt - O silêncio está à nossa porta



Uma passagem pelo Santuário de Schoenstatt, hoje, sábado, deu para sentir quanto vale o silêncio que ali se respira. Envolvido pelo arvoredo com recantos ajardinados, cuidados e com bom gosto, sem ruídos perturbadores, somos levados à contemplação e à procura do encontro com o divino. 
Entrámos no Santuário e fomos contagiados pelo recolhimento de quem estava em oração, perante o Santíssimo Exposto. Há situações que nos despertam para a procura do transcendente, sem ser necessário procurar longe das nossas portas o que temos de mão beijada ao atravessar da rua. Passem por lá para poderem confirmar.

FM

sexta-feira, 22 de março de 2019

Sinal de Progresso...

"Muitas vezes, o desacordo honesto 
é um bom sinal de progresso"

Mahatma Gandhi,
líder nacionalista indiano (1869-1948)

DIA MUNDIAL DA ÁGUA - PARA PENSAR E AGIR

São Miguel, Açores: a água atrai os nossos olhares
Lita e Aidinha no Luso: a sede era muita
Celebra-se hoje, 22 de março, o Dia Mundial da Água. Todo o mundo consciente sabe que a água é um bem fundamental à vida. Sem ela, tudo morre, mas nem com esta certeza somos capazes de olhar para a realidade nua e crua de que a água é um bem perecível. Falamos e escrevemos sobre a água, cantamos loas aos seus benefícios e gritamos contra os que a desperdiçam e conspurcam, mas não passamos daí. 
Este dia tem a virtude de nos alertar para a escassez deste líquido preciosos, mas logo a seguir nos descuidamos, como se a água não corresse o risco de  faltar. E no entanto, sabemos muito bem que há continentes onde se luta tenazmente para obter um cântaro de água potável. E também sabemos que a abertura de um simples poço, em zonas desertificadas, é motivo de festa para muitos. 
Por estes dias tem sido notícia a falta de água no nosso país por escassez de chuvas nas épocas próprias, insistindo-se na necessidade de a poupar. Os campos ressequidos geram pobreza e fome. O gado não tem pastagens e a poluição ajuda a empobrecer as reservas líquidas nas zonas freáticas. Com a falta de água, diz a lógica primária que os produtos alimentícios se tornam mais caros, mas a vida continua até o povo, que somos nós todos, tomar consciência de que a água é já um bem escasso. 
Sei que estou a dizer coisas banais, mas nem por isso quero deixar de assinalar este dia, na esperança de que saibamos tomar consciência da importância da água no dia a dia de todos. Aqui e no mundo inteiro.

FM

Georgino Rocha: Dar fruto enquanto é tempo

Georgino Rocha
«Há que ‘cuidar do mundo’, cuidando ‘da qualidade de vida dos mais pobres’. A solidariedade não pode permanecer no abstrato. A missão da Cáritas é despertar para esta solidariedade no concreto”.»


Jesus toma conhecimento, por comentário popular, de duas trágicas notícias: a da matança de galileus ordenada por Pilatos e a do esmagamento de vítimas da torre de Siloé. Toma conhecimento e reage de forma estranha, fazendo perguntas e dando sentenças. Não se detém no que tinha ocorrido, mas centra-se na oportunidade que lhe proporciona: lançar um veemente apelo a estar atento ao que acontece, a saber situar-se no tempo, a cultivar a vigilância do espírito, a envolver-se com todas as energias para fazer dar fruto o que parece seco e estéril. A corrigir ideias falsas de Deus, que não é vingativo, mas paciente e misericordioso.
Lucas, o evangelista compositor, situa o diálogo na série de encontros em que Jesus com maior vigor interpela os ouvintes e apela à conversão. “Se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo”. Que impacto teria esta afirmação sentenciosa nos portadores da notícia funesta?! E que admonição deixa aos futuros discípulos persistentes seguidores dos passos de Jesus?! Vamos tentar encontrar alguns elementos que nos ajudem na caminhada quaresmal que estamos a percorrer.
A notícia espalha-se pela rede popular de comentários. É fruto da livre iniciativa de quem vê ou ouve e sente a urgência ou o gosto de transmitir ou propalar. E assim chega longe. Frequentemente reveste a forma do boato ou outro dito, semelhante ao “passe-a-palavra”, tipo “fofoca” ou murmuração. Jesus faz de ouvinte, e, mestre da escuta como é, resolve tirar partido da ocorrência. Deixa que os factos falem por si e o seu eco fique a ressoar para sempre.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Nó rodoviário das praias vai ser inaugurado

Foto da CMI

A Câmara Municipal de Ílhavo vai inaugurar, no próximo sábado, dia 23 de março, pelas 17 horas, o Nó Rodoviário das Praias da Barra e Costa Nova, convidando a população a estar presente nesta cerimónia pública. 

Aquando da construção do nó rodoviário das praias, de que fala o convite dirigido à população, no sentido da participação de todos na cerimónia pública, muito se falou sobre o projeto. Diziam uns que não seria a solução adequada para resolver o problema da fluidez do trânsito, sobretudo no verão. Acrescentavam outros que tudo estaria certo se a ponte suportasse o fluxo oriundo das praias no final do dia, clamando os críticos que essa era outra questão.

Depois da abertura, fui enumeras vezes às praias da Barra e Costa Nova, mas nunca encontrei dificuldades em circular, quer na ida, quer no regresso. Senti, isso sim, problemas no estacionamento na Barra, mas não sei como achar uma solução viável. Agora, fico para ver, se Deus quiser, o que vai acontecer na próxima época balnear. Será o tira-teimas para a fluidez do trânsito. Se tudo correr bem, tudo estará certo, se não houver complicações em circular,  terei de dar a mão à palmatória.

FM

Dia Mundial da Árvore - Um poema de Fernando Pessoa



D. DINIS

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

Fernando Pessoa 

Miguel Esteves Cardoso: Moçambique


Segundo o PÚBLICO “a Unicef estima que sejam precisos 20,3 milhões de dólares para dar resposta à passagem do ciclone Idai”. Dos três países, Moçambique é o mais afectado, “prevendo-se que sejam necessários dez milhões de dólares para recuperar os danos causados”. 
Portugal começou por dizer vergonhosamente que iria ajudar através da União Europeia e da ONU, como se Portugal nada tivesse que ver com Moçambique ou fosse incapaz de ajudar sozinho como país soberano que é. “Portugal vai ajudar Moçambique através da União Europeia, que disponibilizou um financiamento de 3,5 milhões de euros.” Se há 28 países na União Europeia, isto dá uns generosíssimos 125 mil euros por país. 
Felizmente houve respostas de câmaras municipais que avançaram com mais do que esses 125 mil euros. Mesmo assim é preciso dizer o que parece mal referir: 20 milhões de dólares é muito pouco dinheiro para a União Europeia. O dinheiro necessário para reconstruir o que foi destruído em Moçambique pelas cheias também é pouco para Portugal. Podia-se fazer já a transferência. E deveria fazer-se já. 
Deveríamos saber quais foram as organizações que mais ajudaram os moçambicanos no terreno para podermos reforçá-las e apoiá-las. Deveríamos ouvir com a máxima atenção o que nos dizem os moçambicanos. Deveríamos ter mais humildade na maneira como falamos de Moçambique e na facilidade com que a diagnosticamos. Aprendi importantes lições de vida — de dignidade e elevação — graças à sorte que tive de conhecer moçambicanos. 
A altura é de ouvir e ajudar.

Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO

NOTA: Subscrevo e aplaudo.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Notas do meu Diário – Primavera, Vagueira e Lua

Aí estão as flores

Árvore jovem promete

Vagueira ao entardecer 

A lua, eterna sedutora

Primavera — Hoje, senti que o dia era diferente. A primavera deu um sinal auspicioso com sol a brilhar e temperatura a condizer com a nossa fome de bom tempo. O inverno cansa. Deu, então, para me libertar, de algum modo, do excesso de roupa, assumindo a esperança e quase certeza de que a vida nos trará tempos agradáveis, propiciadores de harmonia e encontros com gentes e natureza. 
No meu quintal, registei o renascimento da primavera, com flores a desabrochar e arvoredo a manifestar sinais de que está disponível para nos deliciar com fruta saborosa e sem vestígios de nutrientes artificiais. Assim espero. 

Vagueira — Ao final do dia, rumámos à praia da Vagueira. Um ventinho agreste, que o inverno insiste em ficar mais uns dias. É teimoso, nós sabemos, mas a primavera também possui capacidades mais do que suficientes para se impor entre nós. O sol mergulhava no oceano e nem vivalma topámos nos passadiços. Uma ou outra pessoas, agasalhada quanto baste, ao longe. E nada mais. Mas o sol quis ficar connosco. Seja feita a sua vontade. E aqui fica para mais tarde recordar. 

Lua — No regresso, a lua desafiou-nos. Apreciámos o seu rosto a sobressair entre as sombras das nuvens. Assistimos à sua subida, à nitidez da sua cara, num crescendo interessante e interpelante. E aqui fica ela para testemunhar o cuidado com que olho e contemplo o céu. 

FM 

D. Maurílio de Gouveia já está no regaço maternal de Deus

D. Maurílio de Gouveia faleceu aos 86 anos de idade. Madeirense e Arcebispo de Évora, ultimamente na situação de emérito, merece esta referência no meu blogue pela simplicidade que sempre patenteou quando me encontrei com ele. Em representação da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), foi assistente e responsável pela comunicação social ligada à Igreja Católica, mas também partilhou sentimentos de proximidade com o Movimento Apostólico de Schoenstatt, na Diocese de Aveiro, tendo marcado presença em várias cerimónias. 
Durante um fim de semana, em novembro de 1995, participou, com inusitado interesse, num encontro nacional de diretores e outros responsáveis pela comunicação social de expressão católica, em Bragança, onde tive o prazer de conversar com D. Maurílio sobre assuntos de interesse jornalístico. E dele colhi o conhecimento e a serenidade com que abordava o que então nos preocupava. Essa imagem do seu interesse e reconhecimento da importância dos órgãos de comunicação da Igreja, em tempos vertiginosos de transformações a vários níveis, jamais esquecerei. 

FM 

Nota: A fotografia que apresento foi registada nesse encontro.

Dia Internacional da Felicidade para todo o mundo


Celebra-se hoje, 20 de março, o Dia Internacional da Felicidade. A sugestão veio do Butão, um pequeno reino budista dos Himalaias,  que adota como estatística oficial a “Felicidade Nacional Bruta” (FNB) em vez do Produto Interno Bruto (PIB), conforme li no Google. E será preciso lembrar, realmente, que toda a gente, mesmo a mais cética, aspira e luta pela felicidade? Julgo que não. 
Contudo, penso que, apesar de ser consensual o desejo universal de cada um se postar numa procura permanente da felicidade, é justo admitir que importa lutar e apoiar o esforço de quem ainda está longe dela, por motivos diversos. É claro que não há a felicidade plena em cada ser humano, mas quanto mais perto dela estivermos tanto melhor. 
Normalmente, associamos o conceito de felicidade a uma boa situação económica, mas tenho para mim que será redutor ficarmos por aí. Conheço pessoas ricas (economicamente falando) muito infelizes enquanto outras, com muito menos dinheiro, ostentam uma vida rica de sentimentos e de disponibilidade para os outros, dando-se, diariamente, a quem sofre, cultivando artes e cultura, espalhando harmonia à sua volta, estabelecendo pontes de diálogo e entendimento, promovendo o bem e a justiça social, valorizando a alegria, o bom humor, o otimismo e a esperança em dias melhores. 

FM

Chegou a primavera!


"O que nos faz vibrar na Primavera 
não são as cores garridas, 
os sons da alegria e o ar quente. 
É o espírito silencioso e profético 
de infinitas esperanças, 
a antevisão de muitos dias felizes"

Novalis

terça-feira, 19 de março de 2019

Dia do Porto de Aveiro

Navio-Museu Santo André 
Cenário das Celebrações



O Dia do Porto de Aveiro vai ser celebrado em novo cenário, bem enquadrado no já emblemático Navio-Museu Santo André, ancorado no Jardim Oudinot. A cerimónia inclui, como um dos seus pontos altos, a homenagem aos trabalhadores com mais de 25 anos na empresa.
A esta homenagem associar-se-ão todos os presidentes do Conselho de Administração até à data, e o último presidente da Junta Autónoma do Porto de Aveiro (JAPA).

NOTA: Informação do Porto de Aveiro e Comunidade Portuária.

Lembrança consoladora do meu pai


“Celebra-se hoje o Dia do Pai. Também a Igreja celebra São José. Associo muito o meu pai a São José. Ambos trabalhadores com responsabilidades familiares. Ambos humildes e dados a um certo e normal silêncio. Ambos conscientes dos seus deveres sociais e religiosos. Ambos crentes num Deus Criador. Ambos disponíveis para enfrentarem dificuldades. Ambos com grande capacidade de sacrifício. E ambos sabiam amar muito.
O meu pai faleceu há bastantes anos. Foi nos idos de 75 do século passado. Inesperadamente. De forma apressada e sem hipótese de cura. Nunca o tinha visto doente. Nunca se queixava de qualquer incómodo que nos levasse a pensar num possível enfarte. Era um homem saudável e até brincava com as nossas fraquezas. Mas a primeira doença que teve foi fatal.” 
Partilho estas frases escritas há 10 anos. E não será preciso dizer mais nada, a não ser que o meu pai continua comigo na caminhada da vida. Até um dia, querido pai. 

Fernando Martins

domingo, 17 de março de 2019

Bento Domingues - O impossível pode acontecer

Bento Domingues
"A situação actual dá a impressão de que os europeus se cansaram de 74 anos de paz e, agora, dão passos para barrar os caminhos da cooperação no desenvolvimento de todos. Parecem apostados em regressar, com novos moldes, a uma época de insensatez, em nome de um nacionalismo vesgo"

1. Em Guimarães, de 7 a 12 de Março deste ano, além de outros programas, a Biblioteca Municipal dedicou o Festival Literário, Húmus, a estudar Raul Brandão, uma das suas glórias. Participei, no dia 9, com Alberto S. Silva, numa Mesa de Debate sobre As Cruzadas vistas dos dois lados, moderada por Pedro Vieira. Estava anunciada nestes termos: “Durante séculos, cristãos e muçulmanos lutaram pela posse do território. Da época do Al-Andalus, seguido do período da Reconquista, às Cruzadas dos séculos XI a XIII, estes movimentos influenciaram em muito a história de Portugal e da Península Ibérica. Mas todas as histórias têm dois lados. Como são interpretados os factos históricos dos dois lados da barricada?” 
Esta interrogação envolve séculos de grandes realizações, destruições, confrontos, períodos de entendimentos e muita violência. As religiões foram texto e pretexto para alternadas dominações políticas, económicas e culturais. Não se pode esperar muito de uma mesa de diálogo amistoso com um tempo necessariamente limitado. Mas o tema devia tornar-se incontornável. António Borges Coelho ajudou-me a vencer a minha ignorância [1]. 
Apesar de tudo o que permanece oculto, até os mais cépticos concedem que o passado, quanto mais estudado, mais desmitificado. Esta é a tarefa dos historiadores, com os seus métodos de investigação e interpretação. O proveito é para todos os interessados em saber donde viemos [2]. 
Não podemos deixar que os confrontos entre religiões durmam o sono dos arquivos, memórias de outras épocas enterradas. Somos hoje testemunhas de tragédias que continuam a desenhar mapas de sangue e crueldade. Podemos e devemos admirar castelos, fortalezas e prisões de tempos guerreiros por razões de ordem estética, científica e moral. Mas agrada-me sempre mais ver, nas relações de Portugal com os reinos de Espanha, castelos e fortalezas transformados em pousadas, do que apenas testemunhos de ignorâncias e ressentimentos não resolvidos. 

Anselmo Borges - Seis anos depois: desafios para Francisco

Primeiro contacto com o povo depois da eleição


"Francisco prometeu que todos os acusados serão entregues à justiça. O abuso de menores e adultos vulneráveis é não só um pecado mas também um crime, que é obrigatório denunciar. Já não haverá lugar para os encobridores..."


1. Fez no passado dia 13 seis anos que Francisco, ao anoitecer em Roma, compareceu como novo Papa perante a multidão que o aguardava, saudando-a com um “boa noite” e pedindo-lhe a bênção, antes de ele próprio a abençoar. Que os cardeais o tinham ido buscar ao “fim do mundo”. Pelo nome, Francisco, lembrando Francisco de Assis, a quem Jesus crucificado tinha pedido que restaurasse a sua Igreja em ruínas, pelo novo estilo, pela humildade e simplicidade, ficou a percepção nítida de que iria estar a caminho um modo novo de pontificado papal: nem sequer se chamou Papa, mas Bispo de Roma, e era um pontífice, no sentido etimológico da palavra: alguém que quer estabelecer pontes. E o povo cristão e o mundo não se enganaram. O nome de Deus, foi dizendo Francisco ao longo destes anos, é Misericórdia. É necessário perceber que o princípio primeiro não é o cartesiano “penso, logo existo”, mas outro, mais essencial: “sou amado, logo existo”. E agir em consequência, e Francisco tem estado, por palavras e obras, junto de todos, a começar pelos mais frágeis, pelos abandonados, marginalizados, migrantes, pobres, pelos menos amados ou pura e simplesmente sem amor. Um cristão, que põe no centro Jesus Cristo e o seu Evangelho, notícia boa e felicitante, contra “a globalização da indiferença”. A Igreja não pode entender-se em auto-referencialidade, pois tem de estar permanentemente “em saída”, ao serviço da Humanidade, como “hospital de campanha”. A Igreja “somos nós todos” e, por isso, é preciso que caminhemos juntos, “em sinodalidade”. O poder só se legitima enquanto serviço e, assim, não se cansa de denunciar os bispos “príncipes e de aeroporto”. O clericalismo e o carreirismo são uma “peste” na Igreja, repete permanentemente. A Cúria, cujas doenças gravíssimas denuncia, precisa de uma reforma radical, tal como se impõe a transparência no Banco do Vaticano. A Igreja não pode viver obcecada com o sexo, havendo uma nova orientação neste domínio: pense-se na possibilidade da comunhão para os recasados, na nova atitude face aos homossexuais, na nova compreensão para as novas formas de casamento.

sábado, 16 de março de 2019

Andanças: Vouzela e Paços de Vilharigues

A Lita com ponte ferroviária à vista. Agora pedonal 
Eu em Vouzela à espera que a  Lita disparasse a máquina
Ao longe, a Torre Medieval 
Capela de Santo Amaro



Torre medieval

Inscrição junto à Torre Medieval
Vouzela vista da Torre
Vouzela e Paços de Vilharigues é uma freguesia do concelho de Vouzela. Não é uma freguesia muito povoada, pois tem apenas cerca de dois mil habitantes, mas tem carisma e história, que os meus leitores poderão consultar no ciberespaço. Passei por lá nas minhas andanças por terras sem mar à vista. 
Era um dia normal de trabalho e no centro da vila registava-se algum movimento. Não fomos lá apenas para recordar bons tempos em que acampávamos com a família em Serrazes, muito perto de Vouzela, mas também levávamos em mente comer os célebres pastéis que ostentam o nome da vila e apreciar alguns monumentos. O tempo urgia, mas deu para os saborear no Café  Central e desandar, que se fazia tarde. 
A esse café associávamos duas senhoras de idade, decerto já falecidas, com jeito de proprietárias e de postura senhorial. Não as vimos, mas vimos duas ou três mesas com senhoras um pouco idosas em hora do lanche. Aliás, nós também já não somos muito jovens. 
Numa volta pela vila, apreciámos os monumentos com inscrições esclarecedoras, A certa distância, lá estava a ponte ferroviária, agora pedonal, um ou outro palacete e na memória eu ainda tinha gravada a estória do Alferes Duarte de Almeida, o decepado, herói da batalha de Toro, em 1 de março de 1476, do tempo de D. Afonso V, que se meteu na guerra da sucessão de Castela. 
Rumámos para Vilharigues, graças ao desafio da Torre Medieval, bem cuidada e enquadrada, a mais de 400 metros de altitude, mas de portas fechadas. Havia sinais de utilização cultural, mas nem sequer um cartaz elucidativo havia à vista. Ao lado, a capela de Santo Amaro. Todo o conjunto se apresentava bem tratado. E desandámos para outra etapa, de que falarei um dia destes. 

FM 

sexta-feira, 15 de março de 2019

Georgino Rocha: A nova fisionomia de Jesus

«Escutar Jesus, reconhecendo que a razão humana apesar das suas aspirações legítimas, tem limites e pára às portas do mistério que revela outros horizontes da vida»

Após a crise de Cesareia de Filipe, fruto do diálogo tenso de Jesus com o grupo dos apóstolos, a relação entre eles fica abalada. A opção de Jesus é clara: avançar para Jerusalém, sofresse o que sofresse, mesmo a morte por condenação, enfrentar as autoridades religiosas e civis, reafirmar o amor ao Reino de Deus e à verdade do ser humano, provocar um novo estilo de vida em convivência solidária com todos. A dos discípulos, liderados por Pedro, também é clara: ver Jesus triunfar e ser senhor, partilhando com eles a sua vitória. A discórdia é total e mostra-se sobretudo nos meios a usar, nos passos a dar, no embate final a travar (de que será um símbolo o episódio da espada no Jardim das Oliveiras.
Passaram seis dias, informa Marcos, indicando o tempo decorrido para os discípulos “digerirem” o anúncio da opção de Jesus. Não será tanto a duração temporal que o relator quer realçar, mas a intensidade psicológica e espiritual da experiência vivida. Tempo suficiente para a crise ser digerida. Tempo que termina com um acontecimento excepcional, a Transfiguração, de que fala o evangelho de hoje (Lc 9, 28-36).
Jesus resolve antecipar um vislumbre da sua Ressurreição. Toma consigo Pedro, Tiago e João. Sobe à montanha, o Tabor. Enquanto ora, transfigura-se. Altera o aspecto do rosto e faz brilhar as vestes com brancura inigualável. Conversa com Elias e Moisés que, entretanto, lhe aparecem. É identificado por uma voz que se faz ouvir com autoridade: “Este é o Meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!”.