domingo, 30 de junho de 2019

Anselmo Borges - Confissões do Papa Francisco. 1


1. “O que está em crise são estruturas que formam a Igreja, que têm de cair. Sejamos conscientes. O Estado da Cidade do Vaticano como forma de governo, a Cúria, seja o que for, é a última corte europeia de uma monarquia absoluta. A última. As outras já são monarquias constitucionais, a corte dilui-se, mas aqui há estruturas de corte que são o que tem de cair.” “A reforma não é minha. Foram os cardeais que a pediram”, quando se debatia a sucessão de Bento XVI.
Quem disse isto foi o Papa Francisco numa extensa entrevista à jornalista Valentina Alazraki, de Noticieros Televisa, México. Os temas debatidos, num imenso à-vontade, mesmo quando difíceis e até escaldantes, foram muitos.


2. O que aí fica quer ser um brevíssimo resumo desse longo diálogo leal, onde não faltou o bom humor. 

2. 1. Um tema constante nas preocupações de Francisco: os migrantes e refugiados. Não se pode pretender resolver os problemas erguendo muros, como se “essa fosse a defesa. A defesa é o diálogo, o crescimento, o acolhimento e a educação, a integração ou o limite saudável do ‘não é possível acolher mais’, saudável e humano.” Referindo-se a Trump, disse: “Pode-se defender o território com uma ponte, não com um muro.” 

2. 2. Algo não funciona em relação à economia, que se tornou sobretudo economia da especulação financeira: “Já saímos do mundo da economia, estamos no mundo das finanças. Onde as finanças são gasosas. O concreto da riqueza num mundo de finanças é mínimo.” Então, o mal-estar provém desta constatação: “Cada vez há menos ricos, menos ricos com a maior parte da riqueza do mundo. E cada vez há mais pobres com menos do mínimo para viver.” 
Francisco pronuncia-se contra uma economia neoliberal de mercado. É favorável a “uma economia social de mercado”. 
Aqui, eu acrescentaria: economia social e ecológica de mercado e chamaria a atenção para as tremendas, se não insuperáveis, dificuldades para impô-la, apesar da sua urgência em ordem à sobrevivência. Porquê? Num mundo globalizado, os mercados são globais, mas a política é nacional ou regional. Nesta situação, onde estão as instâncias de regulação dos mercados? Francisco sabe disso e, por isso, acrescenta que é necessário “procurar saídas políticas, eu não as sei dizer, porque não sou político. Não tenho esse ofício. Mas a política é criativa. Não nos esqueçamos que é uma das formas mais altas da caridade, do amor, do amor social.”

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Intolerância ou perseguição?


A intolerância (ou devemos dizer perseguição?) multiplica, de forma assustadora, as suas manifestações. Há uma equipa de futebol feminino do Vaticano. O primeiro encontro internacional, depois da apresentação da equipa em jogo contra a Roma, foi marcado com uma adversária austríaca. Surpresa das surpresas: quando se entoava o hino do Vaticano, as atletas da casa levantaram as suas camisolas para mostrar palavras injuriosas de protesto contra posições católicas ligadas ao aborto e homossexualidade, complementadas por tarjas na assistência do mesmo teor. A equipa do Vaticano retirou-se de campo, antes daquele que teria sido o seu primeiro amigável internacional 
A direção do Mariahilf escreveu um comunicado, publicado na sua página oficial do Facebook, lamentando o incidente. Sincero ou apenas a pretensão de tapar o sol com a peneira? 

Querubim Silva 
Diretor do Correio do Vouga 

Nota: Texto transcrito do Correio do Vouga

Georgino Rocha - Livres para amar. Prontos para servir


Georgino Rocha


Jesus toma a decisão de ir a Jerusalém, centro da vida religiosa e política dos Judeus, dando início a uma nova fase da sua vida. Aqui, quer anunciar a novidade de Deus que suscita uma convivência respeitadora da dignidade humana. Prepara a viagem e envia mensageiros à sua frente. Está determinado a correr todos os riscos. Manifesta o que lhe vai “na alma”, endurecendo os traços da sua fisionomia, sinal antecipado da dureza da sua paixão e da concentração das energias da sua vontade. Lc 9, 51-62.
No caminho, encontra pessoas com diversas pretensões: samaritanos que lhe recusam acolhimento, discípulos que querem vingar-se desta afronta, gente anónima que deseja segui-lo e outra que ele convida, apóstolos que o acompanham. Jesus, em respostas claras e desconcertantes, mostra a necessidade de estarem livres para o seguir e a urgência de fazer o anúncio da novidade de Deus.
Repreende Tiago e João, os mensageiros junto dos samaritanos, por aquele desejo de vingança, repreensão que deixa perceber o respeito pela liberdade de recusa, pela lisura do coração. Que contraste de atitudes: repreensão para os discípulos e silêncio compreensivo para os samaritanos! 
Esclarece, com grande precisão, a quem pretende segui-lo, as novas condições de vida: opção firme, afeição incondicional, desapego dos bens, simplicidade de atitudes, acolhimento do futuro emergente, olhando-o com esperança esforçada. “O seguimento de Jesus, afirma Manicardi, exige também o esforço do quotidiano, do dia após dia: a resolução é necessária para não se deixar bloquear pela banalidade dos dias e dos hábitos, para sustentar a vida do discípulo que está sob o jugo da precariedade e para dar perseverança ao seguimento e não o reduzir à aventura de uma etapa”.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

A política do facto bombástico

Querubim Silva

A política do facto bombástico, que a comunicação social empola e faz questão de deixar na cabeça das pessoas, para, a seguir, vir uma desculpa ou um retrocesso no benefício anunciado, é uma estratégia habitual. E então o "mente-desmente" tornou-se mesmo uma vulgaridade na prática política quotidiana. Nada que nos surpreenda se tivermos memória! 
Vejamos a questão do termo das taxas moderadoras. Anunciou-se o seu fim! E capitalizou-se o êxito eleitoral da medida. 
Mas, afinal, nem sequer eram tantos os beneficiados, nem vai, na realidade, ser implementada (ou será, quando calhar, com regras muito próprias, que não conhecemos). Não sei se no final o resultado não vai ser beneficiar aqueles que têm meios para pagar. 

Querubim Silva 
Diretor do Correio do Vouga

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Os cães também morrem...

Os cães também morrem e alguns deixam saudades. Morreu o Cocas, deixando triste a família que o acolheu. Cristina, Fernando, Filipa e Ricardo recordaram hoje as brincadeiras do Cocas durante uns 13 anos. Também o conhecemos de perto, e com a sua morte evocámos a alegria que ele sentia quando visitava os nossos Totti e Tita. 
Correrias pelo quintal fora, espantados com algum passarito que ousasse aproximar-se. Correr por correr como se em competição andassem. E mais um mimo deste e daquele, uma ordem e um aviso que sabiam perceber e respeitar. E a Lita sempre atenta e oportuna com os seus conselhos e recomendações que todos ouviam e aceitavam. Recomendações que vinham do saber de experiência feito.
Os animais domésticos são assim. Tal como todos os seres vivos, deixam-nos na hora normal da sua raça. Tal como nós, os humanos. Andam bem e de repente surgem os incómodos de saúde. E a morte não perdoa. Depois, fica a lembrança de histórias agradáveis. Tenho para mim que os animais felizes fazem felizes quem deles cuida. 

F.M. 

terça-feira, 25 de junho de 2019

Papa contra o luxo dos Núncios

Nunca a voz lhe doa!



“É feio ver um núncio que busca o luxo no meio de pessoas sem terem o mínimo. É um contra-testemunho. A maior honra para um homem da Igreja é ser servo de todos”, afirmou o Papa Francisco num discurso aos núncios (embaixadores do Vaticano junto dos Estados), no qual acrescentou que“não se pode ser um representante pontifício e criticar o Papa pelas costas, ter blogues ou mesmo unir-se a grupos hostis a ele, à Cúria e à Igreja de Roma”.

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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Praiinha do Oudinot a postos para a época balnear



Passámos pela praiinha do Jardim Oudinot. Fomos servidos com simpatia no bar, com sinais de que está pronto para a época balnear. Gostámos de ver que dois nadadores salvadores com o equipamento adequado estavam a postos para o que der e vier. Segurança e tranquilidade para quem quiser dar um mergulho. Relva aparada e limpa, caixotes do lixo à espera dele. O areal aguardava o pessoal, mas o tempo estava longe do desejado. Mas, cá para nós, a areia talvez ficasse melhor se fosse renovada. Umas pazadas de areia "nova" seria ouro sobre azul. Penso eu, claro.

Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré

Uma aposta na defesa do nosso património etnográfico 



No próximo dia 6 de julho, vai realizar-se o XXXVI Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré, por iniciativa do Grupo Etnográfico da nossa terra. Por conta disso, a organização elaborou, à semelhança dos anos anteriores, uma brochura, onde se reflete o programa, que se estende  a partir das 17h, iniciando-se o festival, propriamente dito,  pelas  22h,  no Jardim 31 de Agosto. Participam ranchos e grupos, nomeadamente: Rancho Típico de Vila Nova de Cernache, Coimbra; Rancho Folclórico Morenitas de Alva, Castro Daire; Rancho Folclórico da Boidobra, Covilhã; As Adufeiras do Rancho Etnográfico de Idanha-a-Nova; e Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN). 
Este XXXVI Festival é o primeiro da nova direção do GEGN, que assume ser seu propósito divulgar o folclore, mostrando, «sobretudo aos menos conhecedores, parte da vida, das tradições e das vivências dos seus e nossos antepassados, cuja preservação tem constituído desde a primeira hora uma das nossas principais missões», como se lê na referida brochura. 
É justo sublinhar  que se apresenta um texto com notas sobre os diversos lugares da Gafanha da Nazaré, entre outros dados estatísticos relacionados com a vida do GEGN, mas também dos grupos convidados. 
Na parte final, os gafanhões e visitantes ficarão a saber, ainda,  que a Festa em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes terá lugar na Forte da Barra,  14 e 15 de setembro, nela se incluindo a já famosa Procissão pela Ria.

F.M. 

domingo, 23 de junho de 2019

Momento mágico



Num dia invernoso, mas já de verão, a tal estação que nos chegou tímida, enfezada e tristonha, como sublinhei há três dias, registei hoje este momento mágico. Eram 21h07. Nem tudo é triste no início do estio.

Bento Domingues - Há boas notícias

Bento Domingues

«Está aberta a discussão sobre a ordenação de homens casados e a revisão dos ministérios das mulheres na Igreja. Este tabu acabou.» 

1. Na última quinta-feira, a Igreja católica celebrou a festa do Corpo de Deus, feriado nacional. As origens desta festa estão envolvidas em histórias de muita fantasia. A chamada Lenda Rigaldina (séc. XIV) é a mais divertida. Estava Santo António a pregar, em Toulouse, sobre a presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, quando um ateu, chamado Bonillo, o enfrentou com um desafio: só acreditaria no que acabava de ouvir se a sua mula se ajoelhasse diante do ostensório eucarístico. Frei António aceitou e ampliou o desafio. Mandou que deixassem o animal sem comer três dias e, no final, lhe fosse apresentado um monte de erva e, ao lado, o ostensório. 
No fim do terceiro dia, a mula esfomeada foi solta e, passando por um monte de feno e aveia, foi ajoelhar-se em frente da Custódia. Esta lenda deu origem a outra: uma freira agostiniana, Juliana de Mont Carnillon, terá conhecido ecos da pregação do Santo e teve visões de que era o próprio Cristo a manifestar-lhe o desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com mais solenidade. Terá revelado esse desejo ao futuro Urbano IV. Entretanto, na cidade de Bolsena, perto de Orvieto, residência do Papa, aconteceu um espantoso milagre: um padre, ao celebrar a Eucaristia e ao partir a Hóstia consagrada, viu cair sobre a toalha gotas de sangue!

Sé de Aveiro


Só no silêncio nos conseguimos ouvir

Anselmo Borges - Fim da lei do celibato dos padres?

Anselmo Borges

"Pessoalmente, estou convicto de que será já no Sínodo sobre a Amazónia, a realizar em Roma em Outubro próximo, que assistiremos, com a ordenação de homens casados, ao fim da lei do celibato obrigatório para os padres." 


1. A Igreja hierárquica, que viveu obcecada com o primado da moral sexual, é cada vez mais confrontada com os escândalos sexuais no seu próprio seio. Primeiro, foi a hecatombe da pedofilia. Mais recentemente, são as “namoradas” de padres que vêm denunciar os abusos de que foram ou são vítimas. 
O “Washington Post” acaba de investigar o drama das mulheres que, sem qualquer apoio, foram obrigadas a viver amores clandestinos e a esconder e a criar sozinhas filhos das suas relações com padres. A Igreja vê-se agora confrontada com esses dramas de mulheres que sofreram a violência sexual, emocional e espiritual do clero. Pam Bond, por exemplo, hoje com 63 anos, contou ao “Washington Post” que teve em 1986 um filho de um padre franciscano a quem tinha recorrido pedindo ajuda para o seu casamento. “Assumo a responsabilidade pelos meus próprios erros, deveria ter sido suficientemente forte para me não colocar naquela situação”, reconhece, mas também afirma que aquela relação não era plenamente consensual, pois havia uma diferença de poder entre o padre e ela. 
Embora seja difícil estabelecer o número de casos no mundo, pensa-se que haverá milhares de mulheres nesta situação, vivendo uma relação sexual abusiva e com filhos mantidos em segredo. Há estudos que concluem que apenas 40% do clero pratica o celibato. Como já aqui dei conta, o sociólogo Javier Elzo, da Universidade jesuíta de Deusto, escreveu que 80%, se não mais, do clero africano, padres e bispos, têm uma vida sexual igual à dos outros africanos. 
Evidentemente, toda esta situação exige reflexão profunda, incluindo o problema das comunidades cristãs que têm direito à celebração da Eucaristia e não o vêem satisfeito por causa da falta de clero. 

sexta-feira, 21 de junho de 2019

O Verão chegou - Que venha em boa hora!




Hoje, 21 de junho, às 16h54, começou o verão. No hemisfério norte, acontece o solstício do verão, que é o dia mais longo do ano. Veio tímido, enfezado, tristonho. Com otimismo, atitude que devemos cultivar, temos a certeza de que melhores dias virão, com o sol a revitalizar o corpo e o espírito de todos nós. 
Sempre senti que o calor que nos dá mais alegria. Os dias tornam-se mais luminosos, e os sorrisos darão guarida ao rejuvenescimento das amizades. Não sejamos, pois, pessimistas, que a autêntica época estival há de levar-nos até a suplicar um tempinho mais fresco de vez em quando. 
Admito que imensas vezes nos tornamos descontentes: Porque está calor e gostaríamos de ares fresquinhos; porque está frio e logo protestamos que nunca houve um verão como este. E até garantimos que tudo (quanto ao tempo, claro) está a mudar. O verão, juramos, é como o da nossa meninice. 
Eu também alinho muitas vezes nessas posições extremas de criticar o tempo que faz e que não faz. No fundo, porém, sei, de certeza certa, que ao longo dos meus 80 anos passei por verões, os mais variados. Em suma, não devemos ser como aqueles que querem sol na eira e chuva no nabal. O que vier, que venha por bem, sem crises que nos atormentem, sem guerras que nos preocupem e nos desgostam, sem tristezas que, realmente, não pagam dívidas. 

Bom verão para todos.

Fernando Martins

Vamos falar de férias... À nossa volta há muito que visitar



A idade é culpada de muita coisa, boa e menos boa. Se olhar bem, penso que o bom sobreleva o menos bom. Ainda bem. 
Neste período de férias, dos muitos que já vivi, este será diferente. Não há férias iguais e a esperança de bons momentos não fugirá dos meus horizontes, tanto mais que reinará o calor até finais de setembro. O que importa é não cair na modorra de que a felicidade é que tem de vir até nós. O melhor é apostar em procurá-la e segui-la. Eu vou optar por esta postura. 
Procurar a felicidade não implica, necessariamente, grandes despesas, grandes deslocações. O melhor, para gente da minha idade, está em gerir o tempo, olhando à volta e visitar com calma o que nunca soubemos apreciar. Descobrir, afinal, o muito que existe na nossa terra.
Nas redes sociais, é frequente clicarmos no “gosto”, com coraçõezinhos ou sem eles, ou comentarmos a beleza de paisagens, que  podem ser vistas da nossa janela, a uns metros de nossa casa. Um desafio simples e barato, ao alcance de todos. E o telemóvel pode substituir a máquina fotográfica. 

Boas férias para todos. 

F.M.

Georgino Rocha - Tomar a cruz e seguir Jesus


Georgino Rocha
"Sabes qual é a maior mentira do mundo?” – pergunta uma jovem, em tom jocoso, ao falar das redes sociais e de algumas páginas da web, e continua: “marcar no quadradinho «aceito as condições e os termos de uso» que normalmente aparecem como requisito para quem queira inscrever-se nas referidas redes e foros de opinião. Coloca a marca sem haver lido essas condições por estarem em letra muito pequena e serem extensas. Mas as pessoas dão-lhes pouca importância porque o que lhes interessa é entrar na rede e formar parte da grande família de cibernautas”.
Esta historieta pode ajudar-nos a captar o centro da mensagem deste domingo. Jesus, após um tempo de missão e em clima de oração, faz um levantamento do que se pensa a seu respeito: primeiro, os comentários que chegam aos discípulos e, depois, a atitude pessoal de cada um deles. Pedro acerta em cheio, identificando-o como o Messias de Deus. Segue-se uma lista de recomendações e de condições que correspondem ao desejo de seguir Jesus. Esta série termina: “quem quiser ser meu discípulo, tome sua cruz e siga-me”. Lc 9, 18-24.
Tomar a cruz implica perseverança e fidelidade. A imagem faz lembrar o condenado no caminho a percorrer no dia da execução. Mas o relato de Lucas alarga o sentido a todos os dias, apontando para a sua dimensão simbólica. “Tomar a cruz todos os dias significa também que a escolha de seguir Cristo, selada de uma vez por todas pelo Batismo, é existencialmente refeita cada dia… É preciso renovar os motivos da escolha à medida que se cresce e se evolui como pessoa, evitando o mito desresponsabilizador da escolha «justa» como escolha que dispensa do esforço de discernir, refletir e arriscar”. Manicardi, 116. 
Seguir Jesus é fruto de uma decisão livre e de uma opção coerente. A princípio, de forma germinal; depois, ao longo do caminhar juntos, de outros envolvimentos da pessoa, que pretende acompanhá-lo até à cruz florida da Páscoa. Por isso, o seguimento não é um passatempo divertido, nem uma devoção clubista. Não é entusiasmo momentâneo, nem festa sazonal. Não é teoria abstrata nem prática rotineira. Não é presente sem futuro, nem memória sem profecia.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Lembrar Sophia, lembrar Maria Cecília Correia...

Texto de Sara Reis da Silva 

Sara Reis da Silva 

Além de uma vida familiar intensa entregaram-se ambas à escrita, a uma escrita singular, dedicada, apurada, harmoniosa e reveladora de uma atenção ao outro, de uma sensibilidade muito pessoal. 

Em boa hora e muito por acaso, encontrei-me com a obra Femmes oubliées dans les arts el les lettres au Portugal (XIXe-XXe siècles) (Indigo & Côté-Femmes éditions, 2016), coordenada por Maria Graciete Besse e Maria Araújo da Silva, volume decorrente do Colóquio Internacional homónimo, realizado em Outubro de 2016, na Universidade Paris-Sorbonne (Paris IV) e na Fundação Calouste Gulbenkian-Paris. Em boa hora, sublinho, pela variedade de olhares aí oferecidos, pelos nomes aí evocados, pelas memórias (contra o esquecimento) que aí se registam e pelas reflexões que, a partir das abordagens coligidas, pude encetar e, pouco a pouco, expandir.

2019 é ano de recordar, de acordar a memória, de homenagear e voltar a ler a obra de duas autoras que, por razões distintas, não foram contempladas nos estudos compilados no volume referido: Sophia de Mello Breyner Andresen (2019–2004) e Maria Cecília Correia (1919-1993). Naturalmente e para contento geral, Sophia, escritora distinguida, por exemplo, em 1992, pelo conjunto da sua obra, com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças e, em 1999, com o Prémio Camões, não é uma das “femmes oubliées”. O mesmo, porém, não sucede com Maria Cecília Correia.

Nascidas em 1919, Sophia e Maria Cecília têm percursos de vida e traços literários algo próximos. Além de uma vida familiar intensa, acompanhando sempre os seus maridos (no caso de Maria Cecília, vivendo até um período em África) e os seus filhos (Sophia foi mãe de cinco filhos e Maria Cecília de seis), entregaram-se ambas à escrita, a uma escrita singular, dedicada, apurada, harmoniosa e reveladora de uma atenção ao outro, de uma sensibilidade muito pessoal.

terça-feira, 18 de junho de 2019

"MARIA" e Porto de Aveiro juntos na defesa do território lagunar




Li hoje, no Newsletter do Porto de Aveiro, que vai haver colaboração de duas entidades ("MARIA" e Porto de Aveiro) para a proteção e defesa do território lagunar. Garante-se que os responsáveis pela área portuária têm «uma grande sensibilidade para alguns dos problemas que emergem em zonas interiores da Ria», estando, por isso, disponíveis para «trabalhar na qualificação de espaços que não têm actividade económica e que são, por isso, zonas de fruição pública». Estas informações foram prestadas pela presidente do Conselho de Administração do Porto de Aveiro, Fátima Alves, durante uma reunião solicitada pelo "MARIA" para apresentação de cumprimentos e para esclarecimento dos principais fundadores daquele Movimento.

Georgino Rocha - Festa do Corpo de Deus



DAI-LHES VÓS DE COMER

Jesus dá esta resposta aos discípulos que, condoídos pelo cansaço e pela fome da multidão, querem ver-se livres dela enviando-a para as aldeias mais próximas. É uma resposta de envolvimento directo na busca de soluções e uma denúncia clara de quem quer afastar problemas de consciência. É uma resposta de provocação pois era deserto o local onde estavam e muito exíguas as provisões. É uma resposta promissora de novas realidades que Jesus queria aproveitar para desvendar e confiar aos que iriam continuar a sua missão. Lc 9, 11b-17.
A multidão encantada e ávida dos ensinamentos de Jesus, segue-O incondicionalmente. Os discípulos ansiosos, recém-chegados da primeira experiência apostólica, solidarizam-se com esta gente e confiam nas capacidades já demonstradas pelo Mestre. O próprio Herodes, segundo a narrativa de Lucas, manifesta o desejo de ver e ouvir Jesus. O ambiente social torna-se propício ao Nazareno, e a sua fama honrada vai crescendo e despertando energias adormecidas e expectativas adiadas. É neste contexto que a narrativa de Lucas apresenta o Evangelho da Festa do Corpo de Deus.
A propósito desta festa, o Missal Popular afirma: “A Igreja de coração inundado ainda pelas alegrias pascais e no fervor do Espírito Santo, dá largas ao seu entusiasmo para celebrar numa atmosfera de louvor e de exultação espiritual o Mistério da presença amorosa e operante de Cristo no meio dos homens”. Celebração que reveste muitas formas: da Eucaristia em assembleia dominical à reserva no Sacrário, da adoração do Santíssimo Sacramento à procissão solene nas ruas, da festa da primeira comunhão ao Viático (a quem está na fase terminal da vida terrena).
Lucas, o narrador do relato, adianta um pormenor significativo. O entusiasmo vivido pelos acompanhantes de Jesus contrasta com a realidade ameaçadora pois “o dia começa a declinar”. E depois? Com o declínio do dia, vem a noite propícia a medos e infortúnios. Os discípulos, inquietos, querem prever uma saída e evitar a confusão. Vão ter com o Mestre que os responsabiliza pela busca de solução.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Pela Positiva - propósito

Texto escrito 
em  17 de junho de 2005 


Pela Positiva é um projecto pessoal que nasceu com optimismo e cheio de boas intenções. É um projecto que aposta num mundo muito melhor, onde cada um tem a obrigação de contribuir, de acordo com as suas capacidades e disponibilidades, mas também em sintonia com valores nobres, para que todos os que nos cercam se sintam mais felizes. 
Certo de que nas nossas mãos e na nossa criatividade estão os alicerces de uma sociedade mais justa e mais fraterna, ficar indiferente aos desafios das novas tecnologias, que nos ajudam a viver na aldeia global em que se tornou o universo, será um sacrilégio de lesa-razão e de lesa-consciência, que eu não quero experimentar. 
Aqui estou, pois, neste espaço que a inteligência inquieta de homens e mulheres nos legou, para me sintonizar com o tempo e para conversar, sempre pela positiva, com todos quantos comungarem dos mesmos ideais e com os que têm projectos de vida diferentes, porque a verdade e o futuro enriquecem-se com o diálogo e com a diversidade. 
Assim, desejo abrir a todos as portas do meu blogue, na esperança de que, de mãos dadas, chegaremos muito mais longe e muito mais alto.

Fernando Martins

Ares da Primavera fugidios


Não gostei da primavera deste ano. É certo que senti as suas marcas nas flores dos canteiros e das árvores do  quintal. E delas, até já brotaram os frutos que no verão saberemos apreciar. Não gostei da primavera pelo frio que senti e pelo vento que tantas vezes  me incomodou. Hoje, até choveu por estas bandas. Ouvi na cobertura do sótão o cantar de uns pingos mais pesados que me lembraram, porventura, as mudanças climáticas que se têm operado no nosso mundo. Ou talvez não... Afinal, sempre houve chuva nas primaveras. 
Não faltará quem garanta o fim das estações do ano. Ou serei eu que estou em maré de viragem? Todos estamos, eu sei. 
O verão já vem a caminho e Deus queira que não nos desiluda... Sol quanto baste, calor que nos permita andar mais leves, odores dos frutos da terra que nos animam, alegria à nossa volta, bondade a rodos e paz entre todos. E o mar e a ria aí estão para nos acalentar... em momentos de canícula. 

F.M.

Luís Gomes de Carvalho faleceu nesta data

Efeméride 
1826 
17 de junho 

Boca da Barra

«Faleceu em Leiria o Engenheiro Luís Gomes de Carvalho que, tendo nascido em 15 de Abril de 1771 na Atalaia—Vila Nova da Barquinha—foi engenheiro da barra e do Porto de Aveiro, que lhe ficaram a dever relevantíssimos serviços. (Arquivo, XIII, pág. 28)» 


“Calendário Histórico de Aveiro” 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Nota: Ler a carta que Luís Gomes de Carvalho enviou ao futuro rei D. João VI, a propósito da abertura da Barra de Aveiro

Bento Domingues: Santo António de todos e para tudo

Que teria este português 
para se tornar o santo universal 
mais querido e mais popular? 


Frei Bento Domingues

Segundo o mito - esse nada que é tudo -, os portugueses tão depressa se julgam os melhores do mundo, como os mais atrasados da Europa. Vivem entre a exaltação e a depressão. Procuraram fazer acreditar que a própria formação de Portugal obedeceu a um desígnio dos céus. Deram mundos ao mundo, uniram o Oriente e o Ocidente, acabando sem mundo nenhum, salvo o da sua língua, que não é pouco. Nunca se esquecem de observar que, na viagem de Colombo, as caravelas e a tripulação eram espanholas, mas quem as comandava era um português, Fernão de Magalhães! 
Como escreveu Fernando Pessoa, em 1923, nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo. Manuel Alegre, em O Canto e as Armas, pede mais realismo: "Porque tiveste o mar nada tiveste./ Não te percas buscando o que perdeste:/ Procura Portugal em Portugal". 
O Presidente da República sabe que, em 2019, estamos numa Europa e num mundo com outros mitos, outras ingenuidades e perigosas ameaças. 
Procurou, no Dia de Portugal deste ano, algum equilíbrio no nosso imaginário: "Não podemos nem devemos esquecer ou minimizar insatisfações, cansaços, indignações, impaciências, corrupções, falências da Justiça, exigências constantes de maior seriedade ou ética na vida pública." No entanto, "é bom que se saiba que não é só um secretário das Nações Unidas ou um presidente do Eurogrupo, ou um director-geral na Organização Internacional das Migrações ou uma equipa vencedora num certame desportivo com maior notoriedade internacional" que merecem destaque. Não nos esgotamos com António Guterres, Mário Centeno, António Vitorino. "São todos os dias, cá dentro e lá fora, líderes sociais, científicos, académicos, culturais ou empresariais, muitos dos quais nós nem sabemos quem são, até que chega a notícia de que um português ganhou um prémio de melhor investigador ou, ainda, que uma portuguesa foi considerada a melhor enfermeira num país estrangeiro ou um artista foi celebrado noutro continente". Contra o conhecido pessimismo, o Presidente tem um aforismo sempre disponível: "Quando somos muito bons, somos dos melhores dos melhores." 

domingo, 16 de junho de 2019

Anselmo Borges - Deus sem mundo, mundo sem Deus


Anselmo Borges

1. Segundo um estudo da Universidade de St. Mary de Londres (2014-2016), em 12 países europeus, a maioria dos jovens entre os 16 e os 29 anos admitem que não são crentes e que nunca ou quase nunca vão à igreja ou rezam. A República Checa é o país menos religioso da Europa: 91% dos jovens confessam não ter qualquer filiação religiosa. Seguem-se a Estónia, a Suécia, os Países Baixos, onde essa percentagem dos sem religião fica entre os 70% e os 80%. Também noutros países se nota a queda rápida da religião: na França, são 64% a admitir não serem crentes, na Espanha, 55% declaram que não confessam qualquer religião. Frente a estes dados, o responsável pelo estudo, Stephen Bullivant, afirmou que “a religião está moribunda” na Europa. 
Na Alemanha e em Portugal, a percentagem de não crentes desce para 45% e 42%, respectivamente. Entre os países mais religiosos, estão a Polónia, onde só 17% se confessam não crentes, seguindo-se a Lituânia com 25%.
Também a prática religiosa está em crise. Só na Polónia, Portugal e Irlanda mais de 10% dos inquiridos admitiram que iam à Missa pelo menos uma vez por semana. Mas no Reino Unido, França, Bélgica e Espanha, entre 56% e 60% disseram que nunca iam à igreja e entre 63% e 66% que nunca rezam. Logicamente, na República Checa, 70% afirmam nunca ter ido a uma celebração religiosa e 80% nunca rezam.

2. Onde se encontram as razões para esta situação que caminha para uma Europa pós-cristã? As explicações são múltiplas. Mas chamo a atenção para a observação que o grande teólogo Yves Congar, primeiro condenado e, mais tarde, feito cardeal, teve já em 1935: “A uma religião sem mundo sucedeu um mundo sem religião.”

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Vamos falar de férias - Costa Nova do Prado



Marginal
Como sugestão de férias acessíveis a toda a gente, avançamos hoje com uma proposta muito simples: a Costa Nova do Prado, mais conhecida simplesmente por Costa Nova, freguesia da Gafanha da Encarnação. Mas se pertence a esta freguesia, a Costa Nova é paróquia desde 16 de julho de 1989, criada por decreto do Bispo de Aveiro, D. António Marcelino. Como padroeira, tem Nossa Senhora da Saúde, cuja romaria atrai muita gente, em setembro, em jeito de encerramento da época balnear. 
Se é verdade que a Praia da Barra é tida como a praia dos gafanhões da Nazaré e gentes de Aveiro, não podemos ignorar que  Praia da Costa Nova é a preferida dos povos de Ílhavo, muitos dos quais têm naquele recanto de mar e ria uma segunda habitação ou residência de férias. E o seu encanto tem corrido mundo com o casario típico, as águas serenas da laguna e o mar com praia ampla e convidativa. 
Para os que mesmo em férias não dispensam o sentido espiritual da vida, na Costa Nova, para além da capelinha dedicada à padroeira, há um templo hexagonal arejado, bem decorado e com ambiente acolhedor, inaugurado em 30 de abril de 2000. 
Falar da Costa Nova, implica falar do célebre Arrais Ançã, com busto voltado para a ria, sendo certo que ele foi mais herói no oceano, salvando vidas, ficando célebre a sua coragem. 
Na Costa Nova, para além de outras instituições, é justo e oportuno destacar o Clube de Vela, fundado em 18 de agosto de 1981, com fins desportivos, culturais, recreativos e de lazer. Tem marina com capacidade para 130 embarcações e dinamiza escolas de vela, enquanto participa e organiza eventos náuticos. 
Restaurantes e bares com esplanadas voltadas para a ria são um desafio para os visitantes e veraneantes que por ali se fixam em tempos de férias, mas não só. 

Fernando Martins 

A Festa de Deus Família




Georgino Rocha 


Jesus, na ceia de despedida, fala abundantemente do Espírito Santo. Atribui-lhe funções de companhia amiga, mestre que faz memória do sucedido e ajuda à sua compreensão, conforto dos discípulos e testemunha qualificada, perante o mundo adverso, luz do coração que discerne a maldade do pecado e a bondade da graça, presentes nas situações de vida, guia seguro para a verdade plena. É sobretudo esta função que mais se destaca na festa da Santíssima Trindade. Jo 16, 12-15.
O pintor crente Roublev faz uma expressiva visualização desta realidade inabarcável pelas capacidades humanas: Um ícone de três pessoas que se entreolham e, no modo como se olham, fazem brilhar o amor de cada uma pelas outras. Traduz, assim, a relação que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito. São um só na comunhão e três pessoas na pluralidade das funções que manifestam ao longo da história da salvação. Todas estão presentes no agir de cada uma que assume o protagonismo. É pelo seu agir em nosso benefício que temos acesso ao mistério insondável da sua existência. É pelo que Jesus promete aos discípulos que podemos sentir a “mão” segura do Espírito Santo a conduzir-nos para esta verdade admirável.
O Papa Francisco, na exortação apostólica pós-Sinodal sobre os Jovens, afirma: “Deus ama-te. Nunca duvides disto na tua vida, aconteça o que acontecer. Em toda e qualquer circunstância, és infinitamente amado. Talvez a experiência de paternidade que tiveste não seja a melhor: o teu pai terreno talvez se tenha mostrado distante e ausente ou, pelo contrário, dominador e possessivo; ou simplesmente não foi o pai que precisavas. Não sei! Mas o que posso dizer-te com certeza é que podes lançar-te, com segurança, nos braços do teu Pai divino, do Deus que te deu a vida e continua a dá-la a cada momento. Sustentar-te-á com firmeza e, ao mesmo tempo, sentirás que Ele respeita completamente a tua liberdade”.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Aveiro quer ser Capital Europeia da Cultura em 2027


«Suportada na energia das suas comunidades, na riqueza do seu património, na vitalidade dos seus criadores e no dinamismo da sua vida científica e empresarial, Aveiro ambiciona ser uma referência internacional pela forma como posiciona a Cultura e a Criatividade no centro da sua vida social, educativa, económica e urbana, abrindo-se à Europa e ao mundo.

Aveiro acredita que este processo, iniciado pelo município, só faz sentido se for partilhado e vivido por toda a comunidade, de forma ativa e participada. Esta plataforma é o primeiro passo desse caminho que iremos fazer em conjunto.

Por uma cidade melhor. Por uma cidadania mais ativa. Por uma Europa da Cultura, das Cidades e dos Cidadãos.»

Nota: É preciso que  todos os aveirenses acreditem e lutem por isso!

Do site da CMA

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Festival de Folclore da Gafanha da Nazaré

Do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

Vai realizar-se XXXVI Festival de Folclore da Gafanha da Nazaré, dia 6 de julho, no Jardim 31 de Agosto, pelas 21 horas, com a participação do grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, o grupo anfitrião; Rancho Folclórico Morenitas de Alba, Castro Daire; Adufeiras do Rancho Etnográfico de Idanha, Castelo Branco; Rancho Típico de Vila Nova de Cernache, Coimbra; e Rancho Folclórico de Boidobra, Covilhã. 
A anteceder o festival, será feita a receção aos grupos convidados na Casa Gafanhoa, pelas 17h30, com sessão de boas-vindas e entrega de lembranças. O jantar oferecido aos grupos convidados terá lugar às 18h45, na Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, e o desfile ocorrerá a partir das 21h, seguindo-se o festival propriamente dito. 

domingo, 9 de junho de 2019

Bento Domingues - Pentecostes: só a muitas vozes!

Frei Bento Domingues
Muitas vezes se contrapôs o mito do Pentecostes ao da Torre de Babel quando, de modo diferente, são ambos a apologia da diversidade.

1. É muito bela a narrativa mítica da Torre de Babel e, a meu ver, muito mal interpretada. A diversidade das línguas e a dificuldade que ela representa, para a chamada comunicação, é um dado da experiência universal. O desejo/sonho de uma só língua, para ser realizado, precisa de um poder dominador universal que elimine todas as outras. No referido mito, é a intervenção de Deus que se opõe a esse imperialismo de destruição da diversidade linguística para a realização de projectos megalómanos [1]. Muitas vezes se contrapôs o mito do Pentecostes [2] ao da Torre de Babel quando, de modo diferente, são ambos a apologia da diversidade. No Pentecostes, cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Estupefactos e surpreendidos diziam: Não são todos galileus, esses que estão a falar? Como é que cada um de nós os ouve na sua própria língua materna?
O universalismo do movimento cristão não é uma razia da diversidade cultural e linguística. O desejo de catecismos universais e de um direito canónico, onde está tudo previsto, são incapazes de se converterem à diversidade na História da Igreja. Apesar do Vaticano II, a unicidade nas expressões da Fé cristã continua a contrariar a pluralidade cultural, mesmo dentro de um só país.

2. Este Pentecostes foi preparado por alguns acontecimentos significativos em relação ao desejado pluralismo.
O célebre historiador José Mattoso, ao receber o Prémio Árvore da Vida, reconheceu que um conjunto de personalidades tem feito da fé cristã o fundamento da sua obra cultural. “Em vez de oporem a fé à racionalidade, inspiram-se nela para produzir cultura. Houve tempos e lugares em que esta associação se considerava impossível. A fé opunha-se à ciência, à razão e à cultura. Hoje o diálogo tornou-se pacífico, e a crença é, para muitos, fonte verdadeira de inspiração cultural.”
Lembrou ainda que “a obsessão uniformizadora do catolicismo quinhentista e seiscentista persistiu durante os séculos seguintes e levou, por exemplo, a proibir a leitura de Erasmo, a condenar Copérnico, a criar a Inquisição, a legitimar a tortura, a proibir a leitura da Bíblia em língua vulgar, a fazer abortar os primeiros ensaios do Liberalismo Católico”.

Anselmo Borges - O Filho de Maria

Anselmo Borges

1. Um dia, num debate, perguntei ao eurodeputado Paulo Rangel sobre a crítica e até hostilidade à Igreja Católica, também no meio político, a nível europeu. Ele respondeu que essa crítica existe e que a hostilidade se estende também à Igreja ortodoxa, menos às Igrejas protestantes. Mas sublinhou: “Nunca ouvi alguém dizer mal de Jesus”. 
Jesus é uma das figuras “decisivas, determinantes”, da História, como sublinhou o grande filósofo Karl Jaspers. Penso mesmo que é, quando se pensa fundo, a figura mais revolucionária. A partir da revelação de que Deus é Amor e de que todos os seres humanos valem para Deus, a ponto de o critério último que decide da salvação definitiva ser determinado pelo que se faz pelos outros nas necessidades mais imediatas, porque é a Deus, mesmo sem o saber, que se faz — “destes-me de comer, de beber, vestistes-me, foste ver-me ao hospital e à cadeia... —, independentemente do sexo, género, religião, cor, etnia, opção filosófica ou política, foi germinando a ideia da igual dignidade de todos. 
Os grandes pensadores tiveram consciência disso. O próprio conceito de pessoa apareceu no contexto dos debates teológicos à volta da compreensão da pessoa de Jesus. Hegel reflectiu bem que a consciência da liberdade, da igualdade e da dignidade veio ao mundo pelo cristianismo. Ouvi o filósofo ateu Ernst Bloch declarar: “Nenhum ser humano pode ser tratado como gado, e isso sabemo-lo pelo cristianismo”. Também escreveu: Jesus agiu como um homem “pura e simplesmente bom, algo que ainda não tinha acontecido”. Jürgen Habermas, o filósofo vivo mais influente, reflectiu que a democracia, que se expressa em eleições livres com igual valor dos votos — “um homem, um voto” —, é a transposição para a política da ideia cristã de que cada homem e cada mulher são filhos de Deus. A liberdade, a igualdade, a fraternidade assentam no Evangelho. Aliás, a consciência dos direitos humanos e a sua proclamação deram-se em contexto judaico-cristão. Onde é que nasceu a Declaração dos Direitos Humanos? Foi na China? Foi na Arábia? Mesmo se, desgraçadamente, foi e vai sendo preciso impô-la também à própria Igreja enquanto instituição... Mahatma Gandhi deixou estas palavras: Jesus “foi um dos maiores mestres da Humanidade.” “Não sei de ninguém que tenha feito mais pela Humanidade do que Jesus. De facto, nada há de mau no cristianismo.” Mas acrescentou: “O problema está em vós, os cristãos, pois não viveis em conformidade com o que ensinais.” E tem razão. 

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Porto de Aveiro alinhado com a Nações Unidas

Aposta na divisa «Monitorizar para Minimizar»

«Por ocasião do Dia Mundial do Ambiente, o Porto de Aveiro anuncia um conjunto adicional de acções que permitam caracterizar com maior detalhe as fontes emissoras de partículas para a atmosfera, sobretudo as fontes com origem na atividade portuária, de modo a permitir agir no sentido da sua minimização.
Este conjunto de medidas insere-se na prática implementada na empresa desde maio de 2016, e que consiste na monitorização em contínuo da qualidade do ar na Gafanha da Nazaré, através de uma estação móvel localizada na Escola Básica 2,3 da cidade. 
“A medição em contínuo da qualidade do ar constitui uma ferramenta que pode ser utilizada não só para o acompanhamento da evolução da qualidade do ar como para, a médio/longo prazo, sustentar políticas municipais e regionais de planeamento, ordenamento e gestão do território” – esclarece o Conselho de Administração, enfatizando o empenho da empresa nesta questão específica:
“Estamos fortemente empenhados em compreender os potenciais impactos decorrentes da atividade portuária, em particular, as emissões atmosféricas que importa controlar e medir no sentido de tomar medidas baseadas em estudos científicos que promovam a melhoria da qualidade do ar da região onde se encontra inserido”.
O Conselho de Administração do Porto de Aveiro detalha o que vai ser feito: “Em concreto, vão ser realizados em 2019-2020 estudos complementares de análise química do material particulado, de monitorização em contínuo com micro sensores, em complemento à monitorização na estação fixa, e um inventário de emissões para a área em estudo, pretendendo-se caracterizar as fontes emissoras e quantificar as respetivas emissões”. 
Recorde-se que o Dia Mundial do Ambiente é celebrado anualmente a 5 de junho, tendo como objetivo alertar para a necessidade de preservar a natureza. O tema de 2019 da Conferência internacional do Dia Mundial do Ambiente é a “Poluição do Ar”, pretendendo incitar governos, indústrias, comunidades e indivíduos a explorar a energia renovável e as tecnologias verdes, bem como a melhorar a qualidade do ar em todas as cidades e regiões do planeta.»

NOTA: Pela sua relevância,  transcrevo na íntegra uma notícia do  Newsletter do Porto de Aveiro sobre questões relacionadas com a qualidade do ar que respiramos. 

Vamos falar de férias - Praia da Barra é a nossa praia


A Praia da Barra é a nossa praia. Nossa e de muita gente um pouco de todos os lados. Digo nossa, porque foi e continua a ser a mais acessível para o povo da Gafanha da Nazaré, ainda antes da criação da freguesia e paróquia. Na altura, aquele lugar era denominado Lugar do Farol, que ali foi inaugurado em 1893 pelo ministro das Obras Públicas da monarquia, Bernardino Machado, o mesmo que veio a exercer o cargo de Presidente da República, uns anos depois.
A Praia da Barra também atraiu os aveirenses, alguns dos quais, os mais abastados, chegaram a possuir, naquele recanto à beira mar, habitação de férias e de fins de semana. Muitos outros, contudo, de vários quadrantes, ali se estabeleceram como residentes fixos, desde o início. Faroleiros, pilotos da barra, funcionários e militares da Base de São Jacinto, mas também dos estaleiros da outra banda, de iniciativa de Carlos Roeder, um homem de vistas largas e abertas ao futuro, com direito a praceta, ao lado da boca da barra.
Depois, a evolução continuou e a Praia da Barra, pertencente à freguesia da Gafanha da Nazaré, foi elevada à categoria de paróquia — Paróquia da Sagrada Família.
Este Postal Ilustrado tem por finalidade honrar todos os que ali residem, mas ainda todos os que assumem aquela praia como sua, sobretudo na época balnear deste ano, que se iniciou no passado 1 de junho, prolongando-se até fins de setembro. Os apoios de praia, dignos da Bandeira Azul, são garantia de boas férias. Mas também não faltam equipamentos hoteleiros, pensões, restaurantes, bares e cafés, mas ainda espaços para reflexão e culto, na igreja matriz e na capelinha de São João. E os acessos, tanto quanto podemos crer, estão mais facilitados com a nova rotunda. Os veraneantes ou visitantes podem subir ao topo do Farol às quartas-feiras, procurando informações no próprio local.

Fernando Martins

Georgino Rocha: O Dom de Deus - Recebei o Espírito Santo


A festa de Pentecostes celebra o acontecimento pascal do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo e por Deus Pai. (Jo 20, 19-23). É acontecimento tipicamente cristão, embora tenha raízes judaicas, designadamente a campanha das colheitas nos campos e a realização da Aliança, a entrega das Tábuas da Lei, a festa do Sinai. Tem como referências singulares o espaço público do Calvário e a casa onde os discípulos se refugiam após os trágicos acontecimentos, em Jerusalém. É seu agente principal Jesus Ressuscitado que, desta forma, cumpre a promessa feita. Pretende desvendar o agir humano do Espírito Santo, fiel companheiro dos discípulos/Igreja no desempenho da missão que lhes é confiada.
“Qual é o homem, interroga-se S. Basílio Magno, bispo do século IV, que ao ouvir os nomes com que é designado o Espírito Santo, não sente levantado o seu ânimo e não eleva o seu pensamento para a natureza divina? (...). Para Ele voltam o seu olhar todos os que buscam a santificação, para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu alento que os revigora e reanima para atingirem o fim próprio e natural para que foram feitos”.
A surpresa do Espírito Santo ocorre no primeiro dia da semana, ao anoitecer, quando os discípulos estão fechados em casa e cheios de medo. Jesus manifesta-se no meio deles, deseja-lhes a paz e mostra-lhes os sinais da paixão. Eles exultam de alegria por verem o Senhor. E neste ambiente cordial e nesta relação pacífica, Jesus faz o seu envio em missão, após lhes ter recordado que é Deus Pai, a fonte do envio missionário. E, enquanto sopra sobre eles, afirma: “Recebei o Espírito Santo” para o perdão dos pecados.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Vamos falar de férias – Venham sugestões

Ribeira Grande - São Miguel - Açores 
Às sextas-feiras, vou tentar falar de férias para gente como eu, que raramente saltei os muros das fronteiras portuguesas para conhecer o mundo e gentes de costumes diversos. Contarei o que vi, o que mais me impressionou, o que me ficou na memória, o que gostaria de voltar a ver e, ainda, o sonho que acalento de andar por aí sem norte traçado e sem pressa cansativa. Devagar se vê mais e melhor. E para não ficar preso ao que penso e digo, atrevo-me a desafiar os meus leitores e amigos para comigo colaborarem nesta empreitada de partilhar sabores e saberes de viagens feitas ou sonhadas. 
Fico à espera. 

Fernando Martins 

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Dia Mundial do Ambiente: É preciso educar para o culto da natureza






Fotos do Jardim Oudinot

Todos os anos, desde 1972, celebra-se, a 5 junho, o Dia Mundial do Ambiente, criado para festejar o início da Conferência das Nações Unidas sobre o planeta que habitamos.  

Todos sabemos que falar é fácil e que somos mais dados à crítica, por vezes mordaz e contundente, do que à prática, concreta, de contribuirmos, no dia a dia, para tornar a natureza mais limpa e asseada, combatendo, pela ação, a poluição. Estou a lembrar-me de um cidadão da nossa praça que, em vez de separar o lixo que de casa trazia em sacos variados, atirou tudo para o lixo doméstico. Eles (os funcionários da autarquia ilhavense) que o separem porque têm mais tempo do que eu, afirmou o homem em jeito de explicações que não lhas pedi. 
É lógico e urgente que reclamemos dos Estados, a começar pelo nosso, que dediquem mais tempo e verbas à procura de soluções que contribuam para erradicar os produtos poluentes, pressionando as indústrias para que cumpram as leis, que as há. Castigando, com multas, os que desrespeitam o que está legislado. Mas isso não chega. É preciso, também, educar para o culto da natureza. 

Ontem, a antecipar o Dia Mundial do Ambiente, passeei pela nosso Jardim Oudinot. O bar estava fechado, talvez por àquela hora, a meio da tarde, não haver clientes, o que me obrigou a dar um salto até à Praia da Barra. Mas no jardim assisti a um gesto que julgava extinto: três jovens chegaram e sentaram-se à beira-ria, alegres e felizes, apreciaram a praiinha cheia de água transparente e convidativa, e num gesto rápido despiram os casacos primaveris, descalçaram-se, e num já... atiraram-se à água vestidos, nadando eufóricos. Depois, molhados e felizes pela aventura, devem ter esperado que o sol, não muito forte, os secasse. 

Permitam-me que confesse que só vi algumas cenas dessas na minha meninice, no esteiro grande, com os rapazes a nadarem de cuecas e as raparigas de vestidos, que na água até pareciam uns balões a quererem subir até ao céu. 

A alegria e a felicidade são muito bonitas. Parabéns aos jovens (um rapaz e duas meninas) pela espontaneidade dos seus gestos.

Não registei a cena em foto para não magoar ninguém. 

F.M.

terça-feira, 4 de junho de 2019

A paz que me envolve





Sou uma pessoa de gostos simples e amante de silêncios. Gosto de estar em casa, no aconchego dos meus livros e músicas, mas também, como não podia deixar de ser, dos meus familiares e de alguns amigos que de quando em vez aqui chegam. 
Depois gosto dos ambientes que me envolvem à roda de casa: as flores que a Lita cuida com enlevo, o relvado fresco e verdejante, o arvoredo purificador, o cantar do galo de pescoço vermelhão, do cacarejar das galinhas, do chilrear ininterrupto da passarada, dos gatos fugidios e caçadores. E sobretudo da paz que me enche a alma e dá vida tranquila ao meu já frágil coração.
Na cadeira que me espera, bem recostado, vou continuar a ler "O poço e a Estrada", em homenagem a Agustina Bessa-Luís, que nos deixou ontem, legando aos amantes da leitura uma obra ímpar, com lugar muito especial no panorama da Literatura Portuguesa e não só.

F.M.

domingo, 2 de junho de 2019

Um comunicado insólito mas oportuno



Vezes sem conta tenho verificado quanta comida é deixada nos pratos para acabar nos caixotes do lixo. Normalmente, como também tenho confirmado, trata-se de gente jovem que se abastece nos espaços de refeiçoar para afinal petiscar umas coisitas, deixando quase tudo no prato. A elegância e o direito a não engordar ditam as suas leis e a comidinha vai quase toda para o lixo. Poderão alegar  que é um direito que lhes assiste:  comer só o que lhes convém. 
Numa época em que a fome incomoda um milhão de portugueses, enquanto outro milhão está no limiar da pobreza, acho que devíamos pensar no que deitamos fora, procurando ser parcimoniosos no que tiramos para o prato, para evitar desperdícios ofensivos da pobreza que alastra pelo mundo e mesmo à nossa porta. 
Daí que louve a atitude do gerente do restaurante que procura, por aquela forma, educar os seus clientes.

F.M.

Bento Domingues: A Despedida Impossível

Bento Domingues

«Este Papa anda sempre a despedir-se sem nunca o conseguir. Fica com as comunidades e as pessoas que visita e, como nos Actos do Apóstolos, conta as suas experiências para semear outras formas de ser Igreja.»

1. Não estamos condenados a repetir os mesmos erros. O Concílio de Florença-Ferrara, de 1442, produziu a seguinte declaração solene: «A Santa Igreja crê, firmemente, confessa e proclama que ninguém, fora da Igreja católica – e não apenas os pagãos, mas também os judeus e os cismáticos – não podem tomar parte na vida eterna, mas irão para o fogo eterno, preparado pelo diabo e os seus anjos (Mt 25-41), a menos que antes do fim da sua vida de novo se lhe tenham unido». Temos, assim, uma instituição dedicada a meter gente no inferno. Esta Igreja estava divorciada de Jesus Cristo. Pensava que mandava em Deus. Este teria de a consultar acerca dos que merecem o céu e dos que já estão condenados.
Vejamos, no entanto, um contraste, que não é o primeiro. No voo de regresso da visita apostólica à Bulgária[1] e à Macedónia, o Papa Francisco começou por frisar o que estes países tiveram de sofrer para se conseguirem constituir como nações, mas esquecemos que o cristianismo entrou no Ocidente pela Macedónia (Act 16, 9). Em ambos os países existem comunidades cristãs, ortodoxas, católicas e muçulmanas. A percentagem ortodoxa é muito alta nos dois países, a dos muçulmanos é menor e a dos católicos é mínima na Macedónia e maior na Bulgária. O Papa ficou muito impressionado com o bom relacionamento entre os diferentes credos, entre as várias crenças. Na Macedónia impressionou-o uma frase do Presidente: «Aqui não há tolerância de religião. Há respeito». Eles respeitam-se! Num mundo onde falta o respeito pelos direitos humanos e por tantas outras coisas, inclusive o respeito pelas crianças e pelos idosos, que o espírito de um país seja o respeito, impressiona!
Passou, depois, ao elogio dos Patriarcas ortodoxos. De todos só soube dizer bem. Dão um grande testemunho. Encontrei neles irmãos e de verdade, em alguns, não quero exagerar, mas quero dizer a palavra, encontrei santos, homens de Deus. Depois existem questões de ordem histórica. Hoje, dizia-me o Presidente da Macedónia: o cisma entre o Oriente e o Ocidente começou aqui, na Macedónia. Agora, pela primeira vez, vem o Papa… para consertar o cisma? Não sei, mas somos irmãos.
Antes de se despedir dos jornalistas, não resistiu a contar duas experiências-limite que muito o impressionaram: uma com os pobres na Macedónia, no Memorial da Madre Teresa. Estavam tantos pobres, mas aquelas irmãs cuidavam deles sem paternalismo, como se fossem seus filhos. Uma capacidade de acariciar os pobres com ternura. Hoje, estamos habituados ao insulto: um político insulta outro, um vizinho faz o mesmo e até nas famílias se insultam entre si. O insulto é uma arma ao alcance da mão, assim como a calúnia e a difamação. Aquelas irmãs cuidavam de cada pessoa como se fossem Jesus. Eram uma igreja-mãe. Depois, pude participar na primeira comunhão de 245 crianças. Eram o futuro da Igreja, o futuro da Bulgária!
Este Papa anda sempre a despedir-se sem nunca o conseguir. Fica com as comunidades e as pessoas que visita e, como nos Actos do Apóstolos, conta as suas experiências para semear outras formas de ser Igreja, que não têm nada a ver com a instituição dos anátemas.

2. Os cristãos celebram hoje a Ascensão, a Festa de todos os equívocos. Cristo para onde foi? Abandonou-nos? Mas, por outro lado, não tinha já declarado: Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos[2]? A confusão é, por vezes, hilariante[3]. O melhor é recorrer ao livro dos Actos, o segundo volume de uma obra mais vasta. São a primeira história da Igreja, embora muito parcial. Vale a pena lembrar o seu propósito: «No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de Jesus, desde o princípio até ao dia em que, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. A eles também apareceu vivo depois da sua paixão e deu-lhes disso numerosas provas com as suas aparições, durante quarenta dias, falando-lhes também a respeito do Reino de Deus. No decurso de uma refeição que partilhava com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o Prometido do Pai, do qual – disse Ele – me ouvistes falar. João baptizava em água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo».
A seguir complica mais as coisas: «Estavam todos reunidos, quando lhe perguntaram: Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo».
O programa estava traçado. O reaparecimento dos mundanos sonhos de dominação política dos discípulos são, de novo e definitivamente, recusados. Parecia que as despedidas estavam feitas. Mas não. «Dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos. E como estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu»[4].


3. Não era fácil a tarefa dos autores das narrativas a seguir ao Domingo de Páscoa.
Fui abordado, várias vezes, com esta pergunta directa: o Crucificado e o Ressuscitado são a mesma pessoa? Com esta pergunta vem outra associada: o que é que sobrevive das pessoas, quando morrem? Mantêm a sua personalidade essencial? Para onde vão? Onde vivem?
Os textos, no referente a Cristo, coincidem todos com a conclusão do extraordinário e atrevido sermão de Pedro no Pentecostes: «Saiba, portanto, toda a casa de Israel, com certeza: Deus constituiu Senhor a Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes»[5].
Tenha-se em conta que a palavra céu, céus, ou reino dos céus significa Deus. Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Deus é a casa do mundo.
Perguntar onde fica o céu é confundir uma metáfora com um lugar. Cristo não se pode despedir do mundo. Pela incarnação é o Emanuel, isto é, Deus connosco. Neste sentido, Cristo é contemporâneo de todos os povos, de todos os tempos e de todos os lugares. Então que significam as suas despedidas impossíveis? É o tema da próxima crónica: o Pentecostes, a recusa de uma despedida.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO de hoje

[1] Iremos publicar esta referência no fim do mail: Papa pede que católicos e ortodoxos caminhem juntos no serviço aos pobres
[2] Mt 28,20
[3] Jo. 16, 5-11
[4] Act 1, 1-10
[5] Act 2, 36