terça-feira, 31 de agosto de 2021

Paróquia da Gafanha da Nazaré - 111 anos de vida

Igreja Matriz - Inaugurada em 14-Jan-1912

Prior Sardo
Por decreto do Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, a nossa paróquia foi criada em 31 de Agosto de 1910, no respeito pelo decreto do Rei D. Manuel II, com data de 23 de Junho do mesmo ano. Nessa altura, com a extinção da Diocese de Aveiro no século XIX, ficámos a pertencer à Diocese de Coimbra até à restauração da diocese aveirense, em 11 de Dezembro de 1938.
Como tem sido largamente sublinhado, o grande dinamizador do processo que levou à criação da paróquia foi o padre João Ferreira Sardo, capelão da nossa terra, mas também, ao tempo, vereador da Câmara Municipal de Ílhavo, onde terá dinamizado o processo para o desmembramento da freguesia de São Salvador em duas paróquias. A nossa terra foi, portanto, elevada à categoria de paróquia, atendendo ao seu desenvolvimento, mas não só.
A aprovação da Câmara, liderada por Alberto Ferreira Pinto Basto, apoiou-se num pormenor curioso, registado em ata de 28 de Março de 1910:

“Considerando que os povos do mesmo lugar se acham separados da sede da atual freguesia por uma grande extensão de areia solta, cuja travessia se torna bastante incómoda; considerando que, sendo este concelho constituído por uma única freguesia, que hoje conta cerca de 15 mil almas, o seu pároco e regedor não conhecem grande número dos seus habitantes, o que sobremaneira embaraça o serviço público; por isso é a mesma Câmara de parecer que deve ser criada uma outra freguesia com sede no mencionado lugar da Cale da Vila d'este concelho.”

Com este parecer, considerado fundamental, D. Manuel II decreta, em 23 de Junho do mesmo ano, apenas três meses depois, a criação da freguesia, abrindo portas à fundação da paróquia, o que aconteceu em 31 de Agosto de 1910, com o decreto do Bispo de Coimbra. O seu primeiro pároco foi, obviamente, o Padre João Ferreira Sardo. 
Passados 111 anos, esta terra,  separada do “mundo” por uma grande extensão de areia solta, cuja travessia se tornava incómoda, tornou-se numa cidade respeitada e conhecida nas mais diversificadas paragens. Há gafanhões nos quatro cantos da terra e por aqui labutam gentes de diversíssimas origens.

Se é verdade que a Gafanha da Nazaré é obra de todos os gafanhões, daqui naturais e residentes que adotaram esta terra como sua, hoje é nosso dever honrar os primeiros habitantes que nela labutaram para transformar as areias soltas em terra fértil.
Não resisto a deixar um reparo para nossa reflexão. Os primitivos gafanhões, que arrotearam as dunas sob sol escaldante e ventos agrestes, não mereceram de nós qualquer símbolo que os perpetuassem como exemplo a seguir. 

Fernando Martins

O dito e o feito


"Qualquer pessoa com bom senso e uma mente perspicaz irá tomar a medida de duas coisas: o que é dito e o que é feito"

S. Heaney, escritor

Publicado em ESCRITO NA PEDRA do PÚBLICO 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Assim foi o nosso Agosto de outras eras

Chaves - Ponte romana


Lita comigo em Chaves
O mês de Agosto aí está na sua reta final. Faltam algumas horas e já pressinto a tristeza de muitos com o adeus a este mês, com tudo o que ele proporcionou de bom. As férias naturais dos portugueses estão de partida, deixando-os livres para o romance da vida. Agosto é mês de férias desde que me conheço. Escolares, as primeiras, em várias fazes da minha vida, seguindo-se as outras, de trabalhos e canseiras. Por fim, as definitivas. Aquelas que nos segredam sem ninguém ouvir: Descansa que trabalhaste bastante.
Bastante? Tanto quanto o necessário, mas garanto que não estou nada arrependido. Se voltasse atrás, talvez percorresse os mesmos caminhos, risonhos, uns, para esquecer, outros. E agora, quando acordo e salto da cama, relógio no pulso sem dele precisar, entro na azáfama de dar corda à roda do dia, que parar é morrer, dizem, decerto com razão. Depois, meses e meses a pensar nas próximas férias, minhas e dos demais, que por contágio mexem comigo.
Tantos Agostos de férias partilhadas, quais saltimbancos com a família. Em campismo, mas não só. Casa às costas, carro sobrecarregado, filhos felizes pela mudança de hábitos, novas amizades, serras calcorreadas, que o mar ficava à nossa disposição quando regressássemos. Novas terras e gentes, amigos que se faziam para a ocasião, que logo perdíamos de vista. Outros permanecem leais. Assim foi o nosso Agosto de outras eras. Agora, recordamos apenas e já nos sentimos muito felizes por isso.

Fernando Martins

domingo, 29 de agosto de 2021

Festa em honra da nossa Padroeira



Com as limitações impostas pela pandemia do Covid-19, a festa em honra de Nossa Senhora da Nazaré ficou circunscrita à Eucaristia. Não houve procissão, que teria passado pelo largo do Cruzeiro com arranjo dignificante, e muito menos foi possível o arraial, com músicas, concerto de banda e foguetório próprios do último domingo de agosto na Gafanha da Nazaré. Contudo, estamos em crer que em 2022 tudo se normalizará, para gáudio do nosso povo.
A Eucaristia festiva foi celebrada às 10h30 pelo nosso prior, Padre César Fernandes, que tinha a ladeá-lo, no espaço do altar-mor, a Irmandade e os mordomos da festa, bem como diversos colaboradores. As autoridades civis, Câmara e Junta de Freguesia, e outras instituições também se associaram, como é habitual. Os cânticos entoados pelo grupo coral estavam em sintonia com a homenagem à nossa Nossa Padroeira. O nosso prior agradeceu a presença de todos e formulou votos de que no futuro possamos congregar todo o povo em torno dos festejos que vêm dos nossos ancestrais. 
Permitam-me sublinhar que as festas em honra dos padroeiros, que aconteciam tradicionalmente no verão, tinham por princípio contribuir, também, para o povo desanuviar dos trabalhos cansativos da agricultura. Nas festas, cantavam, dançavam, encontravam os amigos, recebiam visitas de emigrantes e moradores noutras paragens, mas ainda comiam saborosos assados nos fornos a lenha, tudo regado com vinho da pipa da taberna vizinha.

Fernando Martins

AVEIRO: Artes no Canal


Aveiro é uma cidade bonita. 
Em cada canto há motivos para apreciar e sentir o palpitar dos aveirenses. 
Quem passa a correr jamais a descobrirá na sua plenitude. 


No segundo sábado de cada mês, há Artes no Canal. 
Arte e artesanato variados dão vida ao centro de Aveiro. 
Muita gente para passear, ver e comprar. 
Há de tudo para todos os gostos de ambos os lados do canal central. 
O dia lindo convidava a sair de casa.


Os moinhos da minha meninice e infância ali estavam. 
Como recordo a arte de os fazer! 
Um avô passa com netinho que corre para os moinhos, 
que giravam alimentados pelo ventinho. 
Teve direito a um que ergueu ufano.
 

Para quem se esqueceu do chapéu no carro, 
aquela tenda terá valido a muita gente. 
Eu tive direito a um boné fresquinho para o verão que temos.



A nossa Gafanha não podia faltar. 
João de Mello, quase meu vizinho, que não via há anos, é  artesão por paixão. 
Lá estava com as suas artes. 
Merecerá mais divulgação.


Os moliceiros, táxis na laguna,  andavam apressados. 
Era indubitavelmente necessário aproveitar a maré.
Um guia turístico debitando notas oportunas.


Para animar a festa não faltou a banda musical. 
Não será que as festas ajudam a esquecer mágoas?

Fernando Martins

sábado, 28 de agosto de 2021

CRUZEIRO - Espaço foi dignificado

    Cruzeiro da Gafanha da Nazaré
             
O Cruzeiro da Gafanha da Nazaré, cuja história pode ser lida aqui, beneficiou de um melhoramento significativo. Foi requalificado o espaço com a aquisição de um terreno. Na minha ótica, ficou assim dignificado um espaço com muitas memórias dos nossos maiores. Apenas um reparo: Não seria possível eliminar os fios eléctricos que se cruzam  naquela zona?

O mistério de um rosto, de um olhar, e a burqa

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

(Foto das  redes socias)


A beleza estonteante do riso num rosto nunca será explicada pela física. Penso que a química nunca há-de explicar as lágrimas de alegria, de dor, de horror, de compaixão, que nascem da fonte do olhar e descem por um rosto.

1 - Um rosto é um milagre. Há hoje no mundo quase 8 mil milhões. Nenhum igual a outro: cada rosto é único.
Um rosto é a visita do infinito e a sua manifestação viva no finito. Nunca ninguém viu o seu rosto e o seu olhar a não ser num espelho e sobretudo no olhar de outro rosto.
Para rosto há muitos nomes: rosto, cara, face, aspecto, máscara-pessoa. De um modo ou outro, todos indicam a visibilidade de um alguém. Que é um rosto senão alguém que se mostra na sua aparição? O rosto é a nossa exposição, o nosso estar voltados para os outros e para a frente, para diante.
O que vai na alma vem ao rosto. Há o rosto sereno, ou amargurado, ou severo, ou alegre, ou rancoroso, ou triste, esfarrapado, revoltado, suplicante, pensativo, esfomeado... De homem, criança, mulher. Ah!, e, quando dizemos a alguém que está com óptimo aspecto, possivelmente a resposta será: "Não me queixo do aspecto". Talvez essa pessoa não se queixe. Mas as fortunas que se gastam para se compor e arranjar o aspecto!... Ah!, a aparência, o parecer!

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Correspondência ao mar




Mar dos Açores - São Miguel


Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar,

De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.

Sinto a terra na força dos meus pulsos:
O mais é mar, que o remo indica,
E o bombeado do céu cheio de astros avulsos.

Eu, ali, uma coisa imaginada
Que o Eterno pica,
Vou na onda, de tempo carregada,

E desenrolo…
Sou movimento e terra delineada,
Impulso e sal de pólo a pólo.

Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que só teve em mim ‑
Que onde acaba, o coração começa.

Começa pelo aro das estrelas
A compasso retido em mente pura
E avivado nos vidros das janelas.

Começa pelo peito das baías
A rosar-se e crescer na madrugada
Que lhe passa ao de leve as orlas frias.

E, de assim começar, é abstrato e imenso:
Frio como a evidência ponderada.
Quente como uma lágrima num lenço.

Coração começado pelos peixes,
És o golfo de todo o esquecimento
Na minha lembrança que me deixes,

E a rosa dos Ventos baralhada:
Meu coração, lágrima inchada,
Mais de metade pensamento.

Vitorino Nemésio

Camada de pó e cultura


"Pela grossura da camada de pó que cobre a lombada dos livros de uma biblioteca pública pode medir-se a cultura de um povo"

John Steinbeck, 
EUA, (1902-1968)



Escrito na Pedra 
do PÚBLICO de hoje

Tolentino Mendonça: Rezar de olhos abertos

Tenho andado a ler, sem pressas, mais um livro de José Tolentino Mendonça — REZAR DE OLHOS ABERTOS —, poeta, cronista, ensaísta e cardeal, com edição da QUETZAL. Na minha ótica, trata-se de uma obra que toda a gente pode ler, mesmo os não crentes. Os textos, curtos e expressivos, abordam os temas mais diversos dos nossos quotidianos, levando-nos a refletir sobre a vida, numa perspetiva das nossas relações connosco próprios, com os outros e com Deus. 
“Recebemos a aurora e o verde azulado dos bosques. Recebemos o silêncio intacto dos espaços. Recebemos a música do vento. Mas recebemos igualmente a sofrida marcha da história”, assim nos desperta numa primeira página, em jeito de desafio para iniciarmos a leitura. Textos curtos, uma página para cada um, que são, no fundo, desafios à reflexão e à descoberta da nossa sensibilidade, rumo ao encontro dos outros que podem ser os caminhos de Deus.
Sobre a utilidade de um livro deste género, Tolentino Mendonça diz na apresentação que “Ele foi pensado não como um livro sobre a oração, mas como um caderno de práticas de oração”, que lhe ofereceram “a oportunidade de reunir um conjunto de orações” que foi elaborando. E salienta: “Muito despretensiosamente, a imagem que me vem ao pensamento é a forma como se aprende a nadar. Podemos escutar as teorias más díspares e ficar por muito tempo como espectadores da natação dos outros. Mas a nossa história de nadadores começa apenas quando nos atiramos à água.”
 

O livro apresenta no final:
Índice onomástico de autores e artistas 
Índice onomástico de personagens bíblicas e santos
Índice de obras literárias e artísticas
Índice geral sobre os temas abordados 

Cuidar o coração, viver em sintonia com Jesus

Reflexão de Georgino Rocha  
para o Domingo XXII do Tempo Comum



“Há maneiras de viver a fé que facilitam a abertura do coração aos irmãos, e essa será a garantia de uma autêntica abertura a Deus”.

Jesus é um homem livre entranhavelmente apaixonado por instaurar na terra o reino de Deus. Defende a autêntica tradição de Moisés, anuncia a novidade de que é portador e não teme que o contradigam ou reajam contra. Vive em liberdade interior plena no contacto com os excluídos da sociedade, os pecadores, os impuros legais: leprosos, prostitutas, enfermos, pagãos. Acolhe as oportunidades ou provoca-as para “marcar posição” e anunciar a verdade. É o caso narrado, hoje, no Evangelho, dos fariseus e dos doutores da lei que, mais uma vez, lhe saem ao caminho. - Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23
Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente; os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Amanhã também é dia



Os meus leitores e amigos hão de estranhar a minha pouca participação no ciberespaço, mas compreenderão que a vida tem altos e baixos, sem que isso signifique qualquer incómodo de saúde. Este tempo incerto e morno dá azo a alguma apatia, o que provoca uma certa vontade de nada fazer. Hoje, quando me dispunha a descansar para criar ânimo, encontrei um gatinho vadio no meu lugar, bafejado pela sombra do guarda-sol e pelo cheiro a lenha seca da primeira remessa que nos há de aquecer no Inverno que não tarda aí. E não tive coragem de incomodar o gatinho. Amanhã também é dia.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Pardilhó - Uma referência oportuna

Texto publicado neste meu blogue em 2005

Igreja de São Pedro - Pardilhó

Igreja de São Pedro - Interior 

Painel da Casa das Ferreiras da Silva

Igreja Matriz de Pardilhó 

Construída no Século XIX (1812), substituiu a primeira igreja da freguesia, edificada durante o domínio filipino (1638).
Todo o seu estilo manifesta uma obra de construtores rurais do século XIX, inspirados nos modelos da região, sem pureza de formas. É uma igreja vasta e robusta, acomodada ao grupo paroquial: corpo com parte axial e duas travessas opostas, três janelas de cada lado; capela-mor profunda e duas janelas a cada parte que têm o jeito interno de tribunas; frontaria acompanhada de torre, à esquerda, com porta e alta janela, remate recortado; os cunhais e sub-beirais de cantaria; toda a frente coberta de azulejos modernos, havendo-os na mesma forma na capela-mor e em guarnições. Sacristia e anexos à direita.
São cinco os retábulos, de inspiração dos temas setecentistas. As numerosas esculturas de madeira datam dos séculos XVIII, XIX e XX.A sua recente iluminação, realça o seu volume monumental coroando o amplo Largo Prof. Dr. Egas Moniz, ou Largo da Igreja.

Notas:

1. Esta referência a Pardilhó, terra a que estou ligado por laços familiares, pretende chamar a atenção para o "site" de iniciativa da Junta de Freguesia, com bastantes motivos de interesse. E vem também na linha de um comentário enviado para o meu Blogue, no qual alguém me sugeria que visitasse o "site" da Junta. Passarei a estar atento ao que nele se inserir e a quantos me enviarem comentários semelhantes.
2. Visitámos, há dias, a vila de Pardilhó, terra natal da Lita. Estivemos com familiares e amigos e até desconhecidos, que nos identificaram com relativa facilidade. É curioso sentir como há pessoas com memória viva dos tempos em que por ali passávamos férias. Depois assumi que teria de escrever umas notas para assinalar a nossa passagem recente. Os dias foram passando sem o ter feito. E quando fiz uma busca no meu blogue sobre Pardilhó surgiu este texto com 16 anos de vida. Aqui o reedito pela sua oportunidade.
3. Desta feita, percebemos que as marcas pardilhoenses persistem, mas há inovações. Da loja das Ferreiras da Silva (Irmãs do Bispo Ferreira da Silva e de Mons. Ferreira da Silva), por onde passávamos regularmente, podemos dizer que deu lugar a um moderno estabelecimento comercial. Ficou uma placa a assinalar a mudança. 

F M

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Restauração da Diocese de Aveiro

Efeméride: 24 de Agosto de 1938

"O Papa Pio XI, atendendo às justas solicitações dos aveirenses, pela bula «Omnium Ecclesiarum», houve por bem restaurar e reconstituir a Diocese de Aveiro, nomeando como administrador apostólico o ilustre aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal (João Gonçalves Gaspar, A Diocese de Aveiro - Subsídios para a sua História, págs. 281-283) - J.


Do livro Calendário Histórico de Aveiro 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Segunda-feira com preguiça?

 
Diz um velho ditado que "não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda-feira sem preguiça". Não sei se tem batido certo aos longo dos tempos, mas se houver falhas nem damos por elas. Uma coisa é certa: neste fim de semana senti isso. Vai daí, ontem não tive vontade de visitar o meu blogue, tendo em consideração os meus habituais leitores. A preguiça, pecado venial pregado pela Igreja, ter-me-á dominado e dele me quero redimir, de uma forma muito simples, divulgando hoje painéis coloridos da nossa Igreja Matriz, lado direito da Capela Mor. Tenciono divulgar os outros que deixam entrar a luz de vários cambiantes de ambos os lados do templo, convidando os crentes à meditação. Quando entrarem na igreja, procurem apreciá-los todos. 

NOTA: Esta foi a primeira experiência. Foto registada com telemóvel. 

domingo, 22 de agosto de 2021

Hoje é domingo


Estamos a caminho do final do mês de Agosto, assumido pela sociedade ocidental, decerto por proporcionar temperaturas agradáveis que sugerem praias, banhos e ares sadios, como tempo de férias, sempre desejadas, mas nem sempre sentidas. Caminhamos apressados e talvez cansados para os trabalhos e canseiras do dia a dia, reconfortados apenas pela ausência de horários estabelecidos e metas a alcançar.
Para os aposentados ou idosos, que à partida estão sempre de férias, o mês de Agosto tem a virtude contagiante de os convidar a pensar os dias diferentes, sensibilizados pelos que, realmente, fogem dos hábitos e trabalhos normais.
Hoje, domingo, depois da participação na Eucaristia dominical, que não tem férias, chego a casa onde me espera um convívio familiar limitado, ao ar livre, não vá o diabo tecê-las. Todo o cuidado é pouco.
Vim aqui por momentos apenas para manter o ritmo que impus a mim mesmo de escrevinhar qualquer coisa no dia a dia, não vá dar-se o caso de começar a cair para a indiferença pela vida ativa, coisa que nem quero sonhar. E lá vou para ajudar a pôr a mesa, que os grelhados estão quase prontos. 

Ramo morto com vida


 Até um ramo seco, velho e morto, à partida, pode ser útil e ilustrar o céu azul. Bom domingo. 

sábado, 21 de agosto de 2021

Férias: tempo festivo

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

 É preciso ter tempo para a Família, para os amigos, para ouvir o Silêncio onde se acendem as palavras que iluminam.

1 O ser humano tem como uma das suas características ser laborans (trabalhador). Não apenas para ganhar a vida - uma expressão extraordinária, embora dura: a vida foi-nos dada e, depois, é preciso ganhá-la, e uma das coisas que me têm sido ensinadas pela experiência é que quem nada tem de fazer para ganhar a vida, trabalhando, porque tudo lhe é oferecido, nunca atinge uma adultidade madura -, mas também para se realizar autenticamente em humanidade. De facto, é transformando o mundo que a pessoa se transforma e faz. Isso é dito no étimo de duas palavras: a palavra trabalho vem do latim, tripalium, um instrumento de tortura (trabalhar não é duro?), mas também dizemos de alguém que realizou uma obra e que se vai publicar as obras de alguém (do latim, opera) - em inglês, trabalhar diz-se to work, e, em alemão, Werk é uma obra, sendo o seu étimo érgon, em grego. Ai de quem, à sua maneira, não realiza uma obra, a obra primeira que é a sua própria existência autêntica! Fazendo o que fazemos, o que é que andamos no mundo a fazer? A fazer-nos, e, no final, seria magnífico que o resultado fosse uma obra de arte.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Poesia no meu blogue - João de Deus

João de Deus 

 
De vez em quando dou umas voltas pelos meus blogues. Mero gesto para recordar o que tenho publicado. Hoje, por exemplo, fui visitar o João de Deus, um poeta que tem uma história de vida muito curiosa. Conheço algumas dos livros que tenho lido. E aqui fica uma:

O João de Deus, pelo que se pode deduzir, passava o tempo a escrever e a recitar poemas seus, relegando para segundo plano os estudos na Universidade de Coimbra (UC), pelo que foi adiando a conclusão do curso. Um dia, um seu professor, que havia sido colega do poeta no primeiro ano, perguntou-lhe: - Então, João, quando é que queres acabar o curso? Resposta do poeta: Quando vocês quiserem! E concluiu o curso no fim do décimo ano de frequência da UC.

Já agora, passem pelas Etiquetas, selecionem João de Deus e leiam alguns dos seus poemas.

Bom dia com poesia.

Um soneto de Reinaldo Matos

Reinaldo Matos 


MARÉ ENCHENTE

Salvei
Uma criança
De morrer
No mar.

Avancei
Para as ondas,
Sem saber
Nadar.

Pudera
Lá ficar,
No turbilhão das ondas…

Quem me dera
Morrer
Salvando uma criança!

Nota: O facto é real e passou-se com o poeta
na Praia da Torreira, Murtosa,
em Setembro de 1978.

Em “Sinfonia de Poemas de Reinaldo Matos”

Quereis ir-vos? A quem iremos, Senhor?

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXI do Tempo Comum

A fé e a experiência de quem nos precedeu, acumulada em sabedoria, mostra-nos à evidência que só “Tu tens palavras de vida eterna”, consistentes e definitivas, firmes e credíveis. E testemunha-o o exemplo heroico de tantas pessoas bondosas e de muitos santos e mártires. De todas as condições sociais e étnicas.

O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, após o ensinamento na sinagoga de Cafarnaum, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A preocupação manifesta um receio fundado. A multidão saciada no descampado, os acompanhantes nos caminhos da Galileia, os ouvintes dos seus discursos junto ao mar iam diminuindo. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão pelo resto fiel. A pergunta incisiva e direta, iluminada pelo brilho do olhar, provoca a resposta pronta e eloquente de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Esta decisão de ficar e andar com Jesus, Senhor, terá as suas consequências surpreendentes no futuro. Jo 6, 60-69.
Jesus e Pedro surgem como o rosto pessoal da relação com Deus. Constituem as duas faces da realidade mais profunda da consciência: acolher a oferta, dar-se em liberdade; escutar a palavra, abrir-se à verdade; identificar o dom e fazer-se doação.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Dia Mundial da Fotografia

Fotos do meu arquivo




Celebra-se hoje, 19 de Agosto, o Dia Mundial da Fotografia, para nos alertar para a importância da arte de fotografar nas nossas vidas. Seria preciso? Penso que sim, apesar de saber que nunca se fotografou tanto no mundo como atualmente. Toda a gente fotografa, com ou sem arte, com ou sem sensibilidade. Com máquinas de alto preço e de elevada categoria técnica ou com simples telemóveis, alguns bastante sofisticados.
A fotografia serve para guardar recordações, para contar histórias em imagens, para registar momentos expressivos das nossas vidas e comunidades. Mas ainda para cada um fixar e guardar o seu modo muito pessoal de apreciar o que o rodeia. E dos milhares ou milhões de pessoas que fotografam presentemente nos quatro cantos do globo há sempre quem sobressaia pela oportunidade do registo, pelo ângulo da captação e escolha do enquadramento, pela sensibilidade do pormenor.

Nota: Mensagem  reeditada.

Deliciem-se com Catrin Ana Finch


Catrin Ana Finch é uma harpista, arranjadora e compositora galesa. 

Grupo Foot-Ballista Ilhavense

Efeméride – Futebol em 1894

Realizou-se na Gândara da Oliveirinha do Vouga um desafio de futebol entre o Ginásio Aveirense e o Grupo Foot-Ballista Ilhavense: assistiram as filarmónicas da Vista Alegre, Ilhavense, Aveirense e Amizade, que abrilhantaram o jogo (Campeão das Províncias, 19-8-1894; Almanaque Desportivo do Distrito de Aveiro, 1950 , pg. 50) – J.

In Calendário Histórico de Aveiro
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

NOTA: Este registo merecia umas buscas pelos arquivos. Grupo Foot-Ballista Ilhavense existiu e haverá por aí gente que saiba muito da história desta clube. Diz a nota que assistiram ao jogo quatro bandas de música para animar a festa. Do público não se diz nada. Seriam apenas os músicos? 
Quem souber e quiser partilhar pode fazê-lo. Há espaço no meu blogue para algumas informações. 

Procurei o Verão


Procurei o Verão, mas ainda o não topei em plenitude.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Samos, Caras e Línguas - Um livro para todas as cozinhas



O nosso país, em geral, e a nossa região, em especial, sentiram a falta do Festival do Bacalhau, que teria estado em curso por esta altura, mais dia, menos dia, com milhares de pessoas a saborearem parte das mil maneiras de preparar o fiel amigo, entre outras iguarias, com música e divertimentos, no Jardim Oudinot. A pandemia ditou as suas leis, mas no próximo ano talvez seja possível dar volta à questão, para regalo de todos os gastrónomos.
Este ano, o Município de Ílhavo, para manter viva a chama do entusiasmo que o festival ateou, editou um livro – Samos, Caras e Línguas - A Gastronomia do Festival do Bacalhau – que merece um lugar de destaque nas cozinhas de toda a gente. É que, estando bem à vista, ninguém deixará de sentir curiosidade para ler e levar à prática, ao menos de vez em quando, algumas receitas nele apresentadas.
Na contracapa lê-se que «os samos, as caras e as línguas fazem parte das trinta e oito receitas que podem ser confecionadas em qualquer cozinha, nesta viagem pelos sabores que carregam a história de muitos, a história de todos nós».

Receita da Confraria Gastronómica do Bacalhau






Nota: Outras receitas se seguirão, ao ritmo possível, dando tempo para que sejam confecionadas e saboreadas. 

Gafanha da Nazaré - Prior Sardo


Ler mais sobre o Prior Sardo 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

É um quase nada

 Editorial da diretora d'O Ilhavense

Maria Helena Malaquias 

É muito comum hoje o gosto pelas viagens. Viajar é uma forma de rompermos com a rotina do quotidiano, de conhecermos e experimentarmos novas culturas. Também viajamos para nos conhecermos a nós próprios e compararmos a nossa posição com o resto do mundo. Viajar é conhecermos outras tradições, é enriquecer os nossos horizontes. Viajar é um exercício de tolerância, paciência, audácia, perspicácia e, sobretudo, de compreensão do que existe para além de nós.
E por tudo isto e também porque o melhor sítio para mais rapidamente encontrarmos os testemunhos, as invocações das civilizações, a história, a arte e as vivências que procuramos conhecer, no nosso roteiro de viagem não falta nunca a convocatória para a visita a museus.
Isto é assim. Isto é uma constante de quem sai da sua terra para enriquecer o olhar e o sentir.

NINA - Meiga e serena companheira

 

Pode parecer estranho que venha já com a Nina, em jeito de treino para reiniciar o meu blogue, mas faço-o com a consciência de que há animais domésticos que são serenos companheiros no dia a dia. É óbvio que as pessoas são a mola real da vida de cada um de nós. Mas temos de convir que imensas vezes nos deliciamos com animais como a nossa Nina. Não perturba quem está, não se zanga com ninguém, não barafusta seja com quem for. É  limpa e asseada, meiga e serena companheira. Ali está num lugar que ela já conquistou para dormir as suas sonecas. E desta vez. olhou-me de frente e penso que ficou feliz por me ver. Depois, deu meia-volta e passou a nova soneca.

Costa Nova - Os postes e fios estragam as fotografias

 

A Costa Nova é, realmente, um recanto turístico da nossa região. No Verão, sobretudo, os turistas chegam de todos os lados do nosso país e de outros países. O mar e a ria, com as suas magias, são uma delícia para todos, mas as casas às riscas merecem um destaque especial. Não há turista, ou simples passante, que não guarde como recordação umas bonitas fotos nos telemóveis. E eu não fugi à regra. Uma sugestão, porém, quero aqui deixar: Não seria possível eliminar os postes com fios para tudo entre o casario? É que estragam mesmo  as fotografias!

De regresso

1. Depois de uma semana de férias a nível das redes sociais, estou de volta espicaçado pelas saudades de sentir o palpitar da vida. É bom estar ativo, falar e ouvir, escrever e receber mensagens, apreciar e partilhar imagens, concordar e discordar de opiniões. No fundo, sentir-me partícipe da caminhada dos homens e mulheres deste nosso tempo;

2. Refleti sobre o que tenho feito e sobre a forma de melhorar o que devo fazer. Pensei a forma de facilitar a comunicação, tornando-a mais acessível e direta porque não há tempo para tudo. Veremos de consigo;

3. No meu blogue Pela Positiva, reduzi as Etiquetas apenas a nomes de pessoas das quais colhi algo de interessante e positivo, tarefa que ainda está em curso. As mais de 100 mil entradas no mês de Julho exigem-me mais atenção;

4. Aceito, obviamente, sugestões. Saúdo com fraterna amizade todos os meus amigos e leitores.

Fernando Martins

sábado, 14 de agosto de 2021

Deus morreu? Testemunhos

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Há quase 150 anos (1882), Nietzsche proclamou a morte de Deus. Desde então, o mundo não é o mesmo. É certo que para Nietzsche o cristianismo é que é propriamente uma religião niilista, de tal modo que, com a proclamação da morte de Deus, é o mar infindo das novas possibilidades do sim à vida que se abre. "Quem o matou fomos todos nós, vós mesmos e eu!" "Nunca existiu acto mais grandioso." No entanto, à morte de Deus não se seguiria a morte do Homem e do sentido último de toda a realidade? Nietzsche tem consciência aguda do que se segue: "Para onde vamos nós, agora? Não estaremos a precipitar-nos para todo o sempre? E a precipitar-nos para trás, para a frente, para todos os lados? Será que ainda existe um em cima de um em baixo? Não estará a ser noite para todo o sempre, e cada vez mais noite?"
Segundo Gilles Lipovetsky, "Deus morreu, as grandes finalidades extinguem-se, mas toda a gente se está a lixar para isso. O vazio do sentido, a derrocada dos ideais, não levaram, como se poderia esperar, a mais angústia, a mais absurdo, a mais pessimismo": isto escreveu ele em A Era do Vazio. Os espíritos mais atentos acham, porém, que é necessário dar antes razão a L. Kolakowski, o filósofo polaco agnóstico, quando afirmou que, desde a proclamação da morte de Deus por Nietzsche, nunca mais houve ateus serenos: "Com a segurança da fé desfez-se também a segurança da incredulidade.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Eu te saúdo, ó Maria, mãe do meu Senhor

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Assunção de Nossa Senhora

A liturgia da Igreja celebra neste domingo, 20º do Tempo Comum, a Festa da Assunção de Maria, Mãe de Jesus, festa que a fé cristã foi amadurecendo e Pio XII em 1950 proclamou como dogma, festa que nos faz contemplar Jesus e sua Mãe na glória do Céu, após uma vida de doação sempre crescente ao longo da peregrinação na terra e no tempo. A começar pela visita do anjo Gabriel que a saúda como agraciada de Deus e a convida para ser a mãe de Seu Filho Jesus. Maria fica perturbada, faz perguntas de esclarecimento e dá o seu sim generoso que culmina na festa que hoje celebramos. Entretanto percorre um itinerário histórico, cheio de simbolismo, que fica como via livre e apelativa para todos os discípulos do seu Filho.
A liturgia, quase em linguagem de reportagem, apresenta Maria apressada por montes e vales a caminho da casa de Zacarias para se congratular com Isabel, idosa estéril que vai ser mãe, facto aduzido por Gabriel como sinal de que a Deus tudo é possível. Vamos deter-nos aqui, no encontro destas mulheres, sem qualquer homem presente: Zacarias por estar mudo; José por razões desconhecidas e inexplicáveis. Vamos meditar o diálogo havido entre ambas, e procurar sintonizar com a mensagem do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que ocorre também neste domingo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Uns dias de férias

Cumprindo a tradição, entro de férias para descanso e reflexão a partir de hoje,  sem esquecer os compromissos assumidos. Voltarei em breve com renovado espírito de disponibilidade e partilha para  os meus amigos e leitores. Até um dia destes, se Deus quiser.

Fernando Martins

sábado, 7 de agosto de 2021

Uma flor para os nossos amigos


Uma flor, mesmo que nascida em espaço agreste, é sempre um sinal de beleza e amizade. Hoje, eu e a Lita, oferecemos esta flor do nosso quintal a todos os que, de perto e de longe, nos têm acompanhado ao longo dos 56 anos que levamos de casados, com a sua simpatia, incentivos, conselhos,  compreensão e tolerância.

Lita e Fernando

Gafanha da Nazaré - Aos homens da nossa terra

 


O Cristo pensador

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX, deixou escapar um dia, numa aula, uma daquelas observações que nunca mais se esquecem: na Igreja católica, é obrigatório confessar os pecados graves e mortais, mas ele não estava a ver que algum bispo ou padre ou superior religioso, ministro ou professor católico se tenha alguma vez confessado do pecado grave e, frequentemente, mortal, da ignorância culpada, da incompetência fatal, da inteligência irresponsavelmente menorizada.
Em geral, nas igrejas, faz-se pouco apelo à razão, à reflexão crítica, à pergunta. Como se a fé não tivesse de conviver com a inteligência, com a dúvida e com a pergunta. Os cristãos - mas isso acontece em todas as religiões - parece que ficam tolhidos na sua capacidade de perguntar. No entanto, Jesus morreu a rezar esta pergunta infinita que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?", e o filósofo Martin Heidegger, um dos maiores do século XX, escreveu que "a pergunta é a piedade do pensamento".
Na catequese e nas pregações da Igreja, parte-se, desgraçadamente, de um Cristo definido dogmaticamente e concebido à maneira de um robô, que chegou a este mundo já pré-programado e que não fez senão cumprir esse programa. Por isso, não precisou de pensar, não teve hesitações, não passou por tentações, não teve de decidir ele mesmo o que devia fazer para realizar a vontade de Deus, a quem chamava com ternura Abbá, querido Papá.