segunda-feira, 30 de abril de 2018

João Alberto Roque em entrevista à UA



«Professor do ensino secundário na Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, João Alberto Roque divide o seu tempo entre a docência, que é a sua atividade principal, a escrita, a sua participação cívica e a política local. Autor premiado de textos para a infância, João Roque, antigo aluno da licenciatura em Ensino de Biologia e Geologia na Universidade de Aveiro, também colabora na imprensa local.»

Depois da apresentação do seu currículo, o repórter do site da UA entrevista o nosso conterrâneo e amigo João Roque, sublinhando a sua carreira de escritor várias vezes premiado. Congratulo-me com a divulgação do seu mérito artístico e de docente na nossa terra porque, frequentemente, ignoramos ou esquecemos os que entre nós se distinguem em diversas áreas da cultura.
F. M. 


A partilha o pão


Jesus aceita o convite que lhe é feito e toma a iniciativa. Corresponde à aspiração dos discípulos, mostra como se articula em harmonia admirável a novidade de Deus e a natureza humana. E surpreende pela positiva. “Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e abençoou-o, depois partiu-o e entregou-lho”.

Lucas, o evangelista narrador do episódio, condensa nestes gestos o núcleo da celebração da eucaristia. Gestos que são captados no seu mais profundo significado. Certamente porque os olhos do espírito se abriram, devido a experiências feitas no contacto familiar com Jesus, devido à explicação da Palavra ocorrida durante a caminhada ou a outro factor como a luz do Espírito Santo, o encarregado de fazer descobrir a verdade do que vai acontecendo e ver o que está para lá dos sinais. Pode dizer-se também nestas circunstâncias: “A comida tem memória e é certamente uma ponte para evocarmos quem não está fisicamente presente, mas vive para sempre no nosso meio”.
Que grande estímulo nos dá esta atitude dos discípulos de Emaús?! Nem o cansaço da viagem, nem o medo à noite ou ao que possa ocorrer, nem a incerteza de encontrar quem procuravam para partilhar a alegria da experiência vivida e a novidade surpreendente de Jesus ressuscitado, os impedem de tomar o caminho de regresso à cidade, donde tinham vindo. “Na mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os Onze, reunidos com os outros”. E estes confirmaram: “Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!”.
Belo exemplo para nós que participamos na celebração da Eucaristia e repartimos o pão da Ceia do Senhor. Que alegria ser enviado em missão ao ouvir: “Ide em Paz e o Senhor vos acompanhe”.

Georgino Rocha

domingo, 29 de abril de 2018

A impertinência da evangelização

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

Frei Bento Domingues


1. Encontrei, em várias intervenções de Thierry-Dominique Humbrecht [1] e no título de um dos seus livros, A evangelização impertinente, a sugestão para esta crónica, ainda que com desvios.
O autor referido pretende escrever um guia do cristão nos países pós-modernos.Teve bom acolhimento. Não se conforma com a moleza das expressões da presença cristã em algumas sociedades ocidentais. Não é preciso estar inteiramente de acordo com o seu diagnóstico nem com as suas propostas. É mais importante suscitar um debate do que apresentar soluções para cristãos apressados e preguiçosos.
Th-D. Humbrecht é um investigador da filosofia medieval e já deu provas da sua acutilância analítica. Não se resigna, porém, a viver na sua torre de marfim do passado, nem se conforma com o silêncio dos católicos nos actuais debates que percorrem a sociedade. O cristão parece intimidado, excluído da cultura, dando a impressão de que não se deixa interrogar pela gravidade do que está acontecer. Ao julgar irremediável que o país deixe de ser cristão, não se apercebe que existe uma estratégia, dita pós-moderna, interessada em libertar-se dessa herança. O niilismo exibido esconde, no entanto, um projecto de poder, por vezes, também, uma nostalgia.

Uma vida por um mundo mais humano

Um testemunho de vida: Alfie morreu, 
uma vida por um mundo mais humano

Alfie Evans

Do Vaticano chega a notícia: 

Alfie Evans faleceu durante a última noite. Os pais anunciaram nesta manhã. Uma história dramática que envolveu o Papa Francisco em primeira pessoa.

“O nosso bebê ganhou asas nesta noite às 2h30 da manhã. Estamos com o coração partido. Obrigado a todos pelo seu apoio": com este post no facebook, Kate James anunciou a morte de seu filho, o pequeno Alfie Evans. Ele não chegou a completar dois anos: teria completado no próximo dia 9 de maio. Ao mesmo tempo, o pai Thomas escreveu: "O meu gladiador baixou o seu escudo e ganhou asas às duas e meia de manhã. Totalmente inconsolável. Eu amo você meu menino ". Ele respirou 4 dias sozinho.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

A morte da Tita deixou-nos tristes


A nossa vida está cheia de memórias, agradáveis e desagradáveis, que jamais esqueceremos. As primeiras dão-nos felicidade e as segundas procuramos ignorá-las.  Montes e vales, riachos e rios, as ondas do mar, ora revoltas ora bonançosas, florestas e planícies, monumentos e simples pedras que ornamentam serranias, animais e pessoas fazem parte das nossas recordações, incrustando no nosso espírito a sensibilidade que partilhamos. Hoje, evoco apenas uma cadela, a nossa Tita, que nos deixou minada pela doença e pelo peso da idade. Tudo lhe foi dado pela família, sob a batuta da Lita, que promoveu há anos a sua libertação de um cativeiro onde passou fome, sede e a solidão do abandono. 
A Tita foi durante uns 15 anos a nossa companhia, numa doação marcada, porventura, pelo instinto da gratidão. Obediente com capacidade para nos entender, brincalhona, meiga e amante da natureza,  logo perdia a cabeça quando algum pássaro saltitava de árvore em árvore. A um qualquer ralhete, acomodava-se. Sozinha, porém, no respeito pela força canina caçadora, a sua alegria manifestava-se em exibir a caça, que entregava ao pessoal da casa. 
Com a idade, as doenças foram-se impondo e os medicamentos, com os cuidados meticulosos da Lita, não faltaram. Mas o fim da vida, aproximando-se a passos largos, não perdoou, e hoje a morte roubou-nos a Tita para sempre. A sua fidelidade e alegria de viver ficaram connosco. 

Fernando Martins 

Ler a história da Tita aqui 

Desabafos ético-políticos

Anselmo Borges 



1. O nosso tempo é um tempo cheio de possibilidades, promessas e realizações. Mas é também o tempo de um imenso vazio humano-espiritual. Para isso, duas razões principais. Por um lado, a falta de tempo, quando deveríamos, aparentemente, ter muito mais tempo. A vertigem do correr pelo correr, sem destino nem horizonte de finalidades propriamente humanas, porque é preciso correr, pela simples razão de que não se pode deixar de correr, esvazia a vida, sem tempo para o essencial. Por outro lado, o tsunami de informações, de opiniões, de comentários de comentários - nunca se tinha visto tão vistosa a profissão de comentador -, dispersa a existência, fá-la fragmentada, sem oriente nem norte, que é isso que quer dizer desorientado e desnorteado. Só resta a superfície e o "surfar" por ela, em vaidades fúteis. Para a política, sem estadistas, fica a busca, por todos os meios, do poder e da sua manutenção, em conluios espúrios com interesses outros que não propriamente o bem comum.
Em interpenetração e interdependência com estas razões, há uma terceira, mais funda: a perda do sentido último. Sem a transcendência, já não se espera para lá do tempo e tudo vacila oscilantemente. Sem a ultimidade imanente-transcendente, sem eternidade, fica o imediato, o aqui e agora, e tudo se dissolve em momentos que se devoram. Então, é aqui e agora que se goza, no prazer, no ter, no poder, no consumismo do consumo. Porque, depois, é o nada. Numa sociedade pós-cristã, o que restou é o relativismo e mesmo o niilismo. E aí está a prova: a incapacidade de integrar na existência as contrariedades e as dores que a vida inevitavelmente traz - veja-se a definição idealizada de saúde da OMS: "A saúde é um estado de bem-estar completo, físico, espiritual e social, e não apenas a ausência de doença e enfermidades", e outros propuseram o ideal de saúde como o estado de bem-estar para poder trabalhar e gozar -, e esta é a primeira sociedade na história que não sabe lidar com a morte e que, por isso, teve de fazer dela tabu: disso pura e simplesmente não se fala e é preciso viver como se ela não existisse. Mas com a morte-tabu, já não há distinção, como mostrou atempadamente Martin Heidegger, em Sein und Zeit (Ser e Tempo), entre existência autêntica e existência inautêntica. E, na indistinção de dignidade e indignidade, justiça e injustiça, bem e mal, apagou-se a ética. Se tudo desemboca no nada, já tudo é nada.

Permanecei em mim e dareis muito fruto

Georgino Rocha



Jesus vive momentos decisivos da sua missão pública e de grande tensão interior. A hora da despedida aproxima-se. Os discípulos dão sinais de ainda não haverem entendido os seus gestos mais expressivos como o lava-pés, e as palavras mais claras como a parábola do Bom Pastor. Filipe faz-se porta-voz deste estado de ânimo e diz-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai”. Judas, não o Iscariotes, interroga-o sobre o seu modo de proceder. Pedro promete segui-lo ainda que tenha de morrer, e recebe a resposta aviso: “Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes”. O desnorte parecia claro. A lentidão aliava-se à confusão. E o tempo corre, aproxima-se do fim.
João, o discípulo amado e narrador do ocorrido, apresenta estes e outros sinais no chamado “Livro da Glorificação: O dinamismo da fé e o Amor”. Aqui se encontram a parábola do Bom Pastor e a alegoria da videira, além de discursos vários em que Jesus reafirma a mensagem já várias vezes apresentada. Hoje, a liturgia faz-nos contemplar a originalidade da comunhão de Jesus com Deus Pai e a novidade da relação com os discípulos. E como rostos humanos desta realidade, traz-nos Paulo, o convertido, e a audácia do início da sua missão apostólica; e João no apelo solícito a que amemos com obras e verdade. Rostos humanos que se prolongam em tantos cristãos que o são nos locais de lazer e trabalho, nas horas de aflição e de perturbação.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Depois do 25 de Abril




O PORTUGAL FUTURO 

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

Ruy Belo

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Como ficou a Igreja católica após o 25 de Abril

A opinião de Luís Salgado de Matos



«A Igreja, perante o novo ambiente social e político posterior ao 25 de Abril [revolução ocorrida em 1974], procurou acima de tudo a unidade dos crentes e seguiu uma estratégia defensiva e prudente. Conservou sempre a sua capacidade de enquadramento, adaptando-se com agilidade ao novo ambiente social. Com esta base, enfrentou um novo Estado, potencialmente hostil.
Face à contestação interna, não a combateu frontalmente e cedeu o bastante para isolar os seus autores da maioria dos católicos. Ultrapassado o estigma da culpa na manutenção da ditadura do Estado Novo, a Igreja reforçou as suas estruturas de participação interna. Nos momentos de crise, atenuou o seu perfil nacional em benefício do diocesano, mais flexível. O Santuário de Fátima continuou a ser um polo de irradiação espiritual, tocando pessoalmente milhões de portugueses.
Surgiram em diversos momentos divergências táticas no interior da Igreja institucional. Uns favoreciam o partido e o sindicato católico; outros opunham-se-lhe e vieram a vencer. Alguns queriam um nítido pedido de perdão pelos pecados da Igreja; outros recusavam-no; veio a ser adotada uma solução intermédia. Alguns fizeram as manifestações de rua de apoio ao episcopado no caso da Rádio Renascença; outros opuseram-se-lhe, sem questionarem a sua legitimidade. Estas divergências, porém, nunca impediram que fosse mantida a unidade de ação - interna à Igreja tanto como nas relações com a política.»

Ler mais aqui 

XXII Festival de Folclore Primavera

Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo 
Senhora  dos Campos 
1.º  de maio 
15h30



Grupos participantes:

- Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo
- Rancho Folclórico da Serra do Brunheiro - Chaves
- Rancho Folclórico de Vinhó - Gouveia
- Rancho Folclórico doa Marceneiros de Rebordosa - Paredes
- Rancho Folclórico Sampaense - Oliveira do Hospital
- Rancho da Região de Leiria - Leiria

Evocações



Evoco hoje no meu blogue o 25 de Abril de 1974, data que restituiu a liberdade aos portugueses, com o propósito de descolonizar, democratizar e desenvolver o país. Faço-o para que não caia no esquecimento e para honrar os que tiveram a coragem de avançar há 44 anos.
Evoco também uma figura do nosso município, arrais Gabriel Ançã, um “herói” que ficou na história pelo seu altruísmo. Quando passar pela Costa Nova, não se esqueça de apreciar o seu busto. 
Ainda lembro as origens do espaço que habitamos, sugerindo às gentes que fizeram da nossa terra sua terra também que descubram as nossas raízes. 
No cimo do blogue Pela Positiva, há agora rubricas que procurarei atualizar com a regularidade possível.
Que o espírito de Abril continue a abrir-nos a novos horizontes do bem, do belo, da justiça e da fraternidade.
Bom 25 de Abril para todos. 

Fernando Martins

terça-feira, 24 de abril de 2018

Rumo ao Congresso Eucarístico

ESPERANÇA, EUCARISTIA, MISSÃO 3

Georgino Rocha



A terapia da esperança, fruto da Palavra de Deus

A pedagogia da esperança brilha na atitude de Jesus com os discípulos de Emaús: Faz-se com eles peregrino da aldeia do coração dominado pelo peso da realidade, aproxima-se, sintoniza com o seu passo, dá conta do que falam e mostra o seu interesse, tomando a iniciativa de perguntar: “Que conversais pelo caminho?” E começa um diálogo de libertação interior, uma catequese de iluminação do sucedido, uma nova compreensão da Palavra da Escritura.
“O encontro de Jesus com aqueles dois discípulos parece ser totalmente casual: assemelha-se a uma das numerosas encruzilhadas que se encontram na vida. Os dois discípulos prosseguem pensativos e um desconhecido caminha ao lado deles. É Jesus; mas os seus olhos não são capazes de o reconhecer. E então Jesus começa a sua “terapia da esperança”. O que acontece nesta estrada é uma terapia da esperança. Quem a faz? Jesus”, esclarece o Papa Francisco nas referidas catequeses.
Os discípulos adoptam atitudes marcantes: param, fazem perguntas, dialogam, escutam atentamente, acompanham Jesus na releitura do que aconteceu, revêem critérios, evoluem interiormente “sentindo o coração a arder enquanto nos explicava as Escrituras”, desejam continuar com o peregrino desconhecido, agora amigo, convidam-no com solicitude: “Fica connosco, pois já é tarde e a noite já se aproxima”.

domingo, 22 de abril de 2018

José Estêvão e a estação de Aveiro


NOTA: Aquando da recente e singela homenagem prestada a José Estêvão na estação de Aveiro, realcei, de forma simples, que ele lutou para que a via férrea passasse pela nossa região. Hoje, apresento um texto com alguns pormenores interessantes que vale a pena ficar a conhecer. Texto publicado na revista Arquivo do Distrito de Aveiro.

Arquitectos e memória do futuro

Frei Bento Domingues no PÚBLICO


1. A memória viva nasce da preocupação com o futuro, do desejo de viver, de uma discreta insurreição contra o niilismo. Sem o horizonte do futuro, deixaríamos morrer o passado: foi e acabou. Como já tentei mostrar, várias vezes, nestas crónicas, o ser humano nunca está feito, acabado, é uma realidade aberta, em permanente devir, nostalgia e aventura.
Gostei de ouvir o filósofo Massimo Cacciari, em diálogo com o teólogo Enzo Bianchi, sobre Repensar o humanismo [1], mostrando que é uma quimera procurar definir o “homem”, esquecendo que somos um mundo de possibilidades. Definir é limitar. Estabelecer a lista completa das suas possibilidades, mediante a tecnociência, é o desejo da morte do desejo. É, no entanto, este que a oração acende:
"Conduz-nos, Deus,/ de questão em questão,/ de fogo em fogo,/ sem satisfações que ao tempo bastem/ e a nós assombrem// que passemos da catalogação/ do que julgamos conhecer/ ao poço dos enigmas infindáveis/ onde o rosto é para sempre fundo,/ desmentido, diferido// não nos mure a estrutura em espelho/ que escamoteia a procura da verdade,/ mas que o dom da tua palavra nos visite/ como o cantar do galo,/ a lembrar o dia novo,/ o perdão e a graça." [2]
Em 2015, publiquei aqui uma crónica com o título 800 anos é muito tempo! [3], para evocar o começo das celebrações do Jubileu do VIII Centenário da Ordem dos Pregadores (Dominicanos). Entretanto, em várias cidades do país, foram realizados congressos, conferências e eventos ligados a esta vasta história com os seus altos e baixos.
No dia 14 deste mês, foi lançada, na bela igreja do Alto dos Moinhos, uma obra importante para o conhecimento do percurso dos Dominicanos, desde a sua chegada a Portugal, em 1217, até à actualidade [4].

sábado, 21 de abril de 2018

Ria de águas mansas

Aveiro com salinas à vista (foto da rede global)

Esteiro e Jardim Oudinot (Foto da rede global)



“E voltando-se então, verá as águas mansas da extensíssima ria fulgurando de todos os lados: e, entre elas, as salinas, recticuladas pelos tabuleiros em evaporação, com os seus montes cónicos de sal novo dando a impressão de um largo acampamento de tendas imaculadamente brancas espalhadas a perder de vista pela vastidão dos polders. Para o sul, terá o braço da ria que segue para Ílhavo e Vagos e que margina os pinhais e campos arenosos da Gafanha; a seguir, em sentido inverso, o outro braço que se alonga para as Duas Águas e vai dar à Barra, e donde emergem as mastreações das chalupas e iates ancorados; ao poente, a linha fulva das dunas da costa, vaporizadas pela tremulina; e para o norte a imensa ria da Torreira, onde o arquipélago das ilhas baixas, formadas pelas aluviões, a Testada, o Amoroso, a dos Ovos, a das Gaivotas, Monte Farinha, verdejam nas suas extensas praias de junco. E nessa vastidão de águas tranquilas, nesse gigantesco pólipo fluvial que por todos os lados estende os seus fluídos tentáculos, entre a rede confusa dos esteiros e canais, bordados de tamargueiras e de caniços, velas sem conta, velas às dezenas, às centenas, vão, vêm, bolinando em todos os sentidos, e pondo no verde das terras ou no azul das águas a doçura do seu deslizar silencioso e a graça da silhueta branca.” 

Luís de Magalhães 
“A arte e a natureza em Portugal”, 
citado por Orlando de Oliveira, no seu livro 
"Origens da Ria de Aveiro"

Um poema para o Dia da Terra




MÃE TERRA

Bendigas Terra
os teus filhos,
quais sejam
as suas pátrias,
e que reines tu também
nos nossos corações
tal mãe que ilumina.

Dá-nos a visão
de que todos
aqui neste planeta
são irmãos
diante do Universo
para assim não
prejudicarmos ninguém
para obter
as fontes de água,
energia,
alimento,
enriquecimento
ou pedaço de chão.

Mostra-nos como criar
as ferramentas
materiais,
intelectuais,
emocionais
e virtuais
que derrubem
as nossas diferenças
de origem,
raça ou credo,
podendo assim
olharmos um para o outro
sem outro sentimento
a não ser o de amor.

Amor que distribuis
hoje fartamente
com essas fontes
e que no amanhã
a densidade demográfica,
poluição,
degelo
e tantos outros problemas
nos unam a todos do planeta
num mesmo esforço
ao invés de promover
guerras e desuniões.

Dalila Balekjian


Nota: Poema encontrado na rede global.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A farmácia: Confiança, Respeito, Gratidão



Na farmácia que frequento e que conheço desde que me conheço — Farmácia Morais — está encaixilhado este poema, que leio sempre que posso. Terá sido publicado em alguma revista da especialidade, mas não consegui localizá-lo nas buscas a que procedi. Gosto dele e aqui o deixo para poder ser lido. As marcas do tempo estão bem patentes no papel em que foi publicado. 

A Farmácia Morais está na Gafanha da Nazaré desde 1940, ano em que montaram consultório na nossa terra os doutores Joaquim António Vilão e Maximiano Ribau.

Para longe vá o agoiro!

Portugal em risco de catástrofes iguais ou piores a 2017



O risco de incêndios catastróficos iguais ou piores aos de 2017 é real e tem tendência para aumentar, alertaram hoje peritos norte-americanos que defendem que "não há tempo a perder" em Portugal.
O pior cenário antevisto no relatório apresentado hoje no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, é claro: "sem uma intervenção séria e imediata, Portugal pode esperar uma situação pior do que em 2017".

Li aqui 

NOTA: Todos sabemos que o Governo está a trabalhar, no sentido de todos contribuirmos para limpar a floresta a tempo e horas. O aviso da urgência de nos empenharmos no esforço de darmos as mãos, na luta que é de todos, para evitar mais dramas, terá, certamente, base científica.

O discurso de Macron

Anselmo Borges no DN 

Emmanuel Macron

1 O Collège des Bernardins tornou-se um lugar de cultura para grandes encontros e debates em Paris. Foi lá que, no passado dia 9, o presidente francês, Emmanuel Macron, falou, a convite da Conferência dos Bispos de França, para 400 personalidades representando o mundo católico francês. E fez um discurso inédito, verdadeiramente histórico, sobre a relação da Igreja e do Estado, digno de quem, para lá de toda a sua outra preparação académica, estudou Filosofia com um dos grandes filósofos do século XX, Paul Ricoeur. Um discurso obrigatório para qualquer político que, acima da intriga política e do enredo em estratégias rasteiras de interesses pessoais e partidários, tenha aspiração a estadista. Precisará de conseguir mais de uma hora de silêncio e reflexão, pois o discurso é longo. Uns breves apontamentos.

2 O discurso é perpassado pela necessidade de "reparar" o vínculo entre o Estado e a Igreja que "se deteriorou", o apelo a maior empenhamento dos católicos na política, a reflexão sobre a união do temporal e do espiritual.

2.1. As raízes cristãs da Europa são uma "evidência histórica". Aliás, "não são as raízes que nos importam. O que importa é a seiva", e está "convencido de que a seiva católica deve contribuir ainda e sempre para fazer viver a nossa nação" e a Europa. Aqui, coloca-se a questão nuclear das relações entre a Igreja e o Estado, e Macron foi exemplar: "Eu considero que a laicidade não tem certamente por função negar o espiritual em nome do temporal nem arrancar das nossas sociedades a parte sagrada que alimenta tantos dos nossos concidadãos. Como chefe do Estado, eu sou o garante do direito de crer ou de não crer, mas não sou nem o inventor nem o promotor de uma religião de Estado que substitui a transcendência divina por um credo republicano." Já em Janeiro, na apresentação de cumprimentos às autoridades religiosas, tinha criticado uma concepção de laicidade confundida com laicismo, que pretende uma espécie de "vazio metafísico" e confina a religião à esfera privada: "A República não pede a ninguém que esqueça a sua fé", disse então.

Domingo do Bom Pastor

Georgino Rocha



ESCUTAR E SEGUIR JESUS, COM ALEGRIA CONFIANTE

Jesus ressuscitado quer reafirmar o que já havia dito aos apóstolos sobre a sua relação pessoal com eles e com as gerações seguintes, portanto connosco em Igreja. Recorre a vários tipos de comunicação que, João o narrador da parábola do Bom Pastor, designa por sinais e muitas outras coisas. (Jo 10, 11-18).
Guiados pelo discípulo amado, somos convidados a visitar as terras da Palestina, a percorrer campos e vales, a contemplar rebanhos e pastores; somos convidados a perceber esta linguagem rural, cheia de beleza e encanto. Se não lhe captamos o sentido profundo, reconhecemos que está desajustada à cultura do nosso tempo que privilegia a técnica à sabedoria, a funcionalidade ao afecto humano, o anonimato à identidade pessoal e comunitária. Achamos, porventura, ofensivo ser rebanho, viver “arrebanhado”, ser tosquiado e “barregar”, quando o incómodo é grande ou a necessidade pressiona. Mas deixando-se impregnar pelo seu espírito genuíno, facilmente entramos em sintonia com a mensagem fundamental: a do amor com que somos amados, a da relação que nos faz crescer como pessoas solidárias, a da confiança no futuro que nos bafeja em sementes de esperança, como os campos verdejantes, que o pastor procura para alimentar o seu gado.
Jesus insere-se numa rica tradição bíblica, que retrata Deus como o pastor do seu povo e os reis como agentes em seu nome, quando são fiéis. Sirva de referência o capítulo 34, 1-10 de Ezequiel. O profeta retoma o tema de Jeremias 23, 1-6 e faz uma descrição mordaz da situação do rebanho entregue a si mesmo, ou explorado pelos pastores que assumem atitudes de mercenários assalariados. E surge em realce o rosto dos dirigentes do povo, reis e chefes, responsáveis pela ruína da nação, descrédito da religião. Deus, porém, não dorme e vai intervir.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Flor silvestre para a nossa Gafanha



Ao chegar à bonita idade de 108 anos, que completará daqui a uns meses, vividos numa constante luta pelo progresso e contra adversidades sem conta, a Gafanha da Nazaré, velha senhora rejuvenescida com o título de cidade, que lhe foi justamente atribuído há 17 anos, está em festa. E com razão! Tal idade não merece tudo e muito mais?
Sentimos, os que lhe preparámos a boda, por esta ou por outra qualquer razão, que faltam algumas iguarias na mesa principal, como reflexo, talvez, da crise que se vive. Novos trajos, adornos mais consentâneos com a época que temos o privilégio de viver, comodidades caseiras semelhantes às que possuem outras senhoras, mas também acreditamos que tudo lhe será ofertado em próximos aniversários.
Os seus filhos, porém, dão-lhe hoje o que é possível e com a mesma alegria da criança que, ao passar pelo jardim florido da primavera, colhe uma flor silvestre, pura e simples, não alterada, ainda, pela genética e corre a entregá-la, feliz, à mãe aniversariante, com o beijo de parabéns. Tal como nós, neste aniversário da nossa querida cidade da Gafanha da Nazaré. 

19 de abril, dia da elevação a cidade.

Quando passei pela Bestida


«No velho pontão da Bestida, que as invernias todos os anos despedaçam, dir-se-ia que Portugal acaba. Portugal e a terra na sua solidez física, nos seus costumes mais vulgares, e até nalguns dos elementos mais primordiais da sua vida. É outro mundo, líquido, brumoso, feito de distância azul, isolado do continente por uma ria maravilhosa, paleta de mil cores, tão larga que cabe nela o Tejo, nos seus dois quilómetros de água tranquila e adormecida. 
Fecham-se atrás de nós, como sob o pano de uma ribalta, as terras ribeirinhas da Murtosa, e de Bunheiro, entre pâmpanos virentes, muito tufados, milheirais extensos que ondeiam as suas bandeiras doiradas, pomares cerrados, onde os ramos já nos estendem os frutos maduros, corados de sol, que fendem a casca, pejados de sumo.» 

Artur Portela

Ler mais aqui 

quarta-feira, 18 de abril de 2018

MASTERCLASSES NA CASA DA MÚSICA



E público que a Filarmónica Gafanhense vai proporcionar masterclasses de Clarinete, Saxofone, Trompete e Trombone, dirigidas a alunos e músicos de bandas filarmónicas e orquestras ligeiras.
As masterclasses de Clarinete e Saxofone decorrem no dia 28 de abril de 2018, das 10h às 18h, na Casa da Música da Gafanha da Nazaré, com os professores Tiago Abrantes e João Figueiredo. 
As masterclasses de Trompete e Trombone terão lugar no dia 5 de maio de 2018, das 10h às 18h, no mesmo espaço, com os professores Luís Filipe Granjo e Daniel Dias. 
Os interessados devem inscrever-se quanto antes, porque as vagas são limitadas.

DIA INTERNACIONAL DE MONUMENTOS E SÍTIOS

Castelo de Montemor - o -Velho


Capela de Nossa Senhora de Penha de França  - Vista Alegre

Forte Novo ou Castelo da Gafanha

Ponte romana de Chaves

Farol da Barra de Aveiro

Figueira da Foz

Ribeira Grande - S. Miguel - Açores

Santuário de Schoenstatt

Celebra-se hoje, quarta-feira, 18 de abril, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. É mais um Dia Internacional, dirão alguns, mas a efeméride tem a sua razão de ser, quanto mais não seja, para nos acordar para a pertinência do tema. Pretende-se, afinal, promover a divulgação de monumentos e sítios com relevância história, bem como sensibilizar entidades e pessoas para a sua preservação e proteção. Eu até acrescentaria com relevância sentimental. Haverá, decerto, um pouco por toda a parte, celebrações condignas alusivas à data. 
Quando se fala de monumentos e sítios, julgo que todos se inclinam para edifícios e lugares alusivos à história, mas eu penso que também será pertinente sublinhar aquilo que pessoalmente nos diz respeito, por ocuparem um lugar especial nas nossas memórias. 
Vou indicar alguns monumentos e sítios que, de alguma forma, me marcaram. E sugiro que os meus amigos façam o mesmo ou sigam outro caminho. A indiferença é que não cabe neste capítulo.

NOTA: É claro que não tem conta o número de monumentos e sítios que visitei e me ficaram na memória. Editei apenas estes por razões que todos compreenderão. De muitos monumentos e sítios que me encantaram tenho escrito nos meus blogues. 

Escuteiros celebram São Jorge em Ílhavo




No dia 29 de abril, domingo, cerca de 2300 escuteiros vão celebrar, na cidade de Ílhavo, o seu patrono mundial — S. Jorge —, naquela que é a grande festa do Escutismo da Região de Aveiro do Corpo Nacional de Escutas. 
Diz a nota de divulgação do evento que, recordar S. Jorge, é viver os valores da fé, da coragem e da dedicação ao próximo. 
O S. Jorge 2018 tem início às 9h30, no Jardim Henriqueta Maia, com cerimónia de abertura, à qual se segue uma manhã toda ela dedicada a um conjunto de sete Jogos espalhados por vários pontos do centro da cidade de Ílhavo. 
O almoço está previsto para as 13h, seguido de desfile, às 14h30, partindo do Mercado Municipal de Ílhavo e para o Jardim Henriqueta Maia, onde terá lugar a Eucaristia (15h30), celebrada pelo Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro. 
Por volta das 17h haverá um momento para entrega de prémios e lembranças aos participantes. 
A cerimónia de encerramento contará, entre outras, com as intervenções do Chefe Nacional do CNE, Ch. Ivo Oliveira e do Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Eng. Fernando Caçoilo. 
O S. Jorge 2018 é resultado de uma proposta de organização conjunta dos seis Agrupamentos de Escuteiros do Município de Ílhavo com a participação do Núcleo de Ílhavo da FNA (associação dos antigos escuteiros) que, ao longo dos últimos anos, têm desenvolvido relações mais próximas por trabalharem em conjunto, e em parceria com a Câmara Municipal de Ílhavo, na organização de uma atividade anual – o Acampamento Municipal de Escuteiros de Ílhavo (ACAMUN). 
Sublinhe-se que, durante este ano, se comemoram vários aniversários: 10.ª edição do ACAMUN,  90 anos do Agrupamento 189 - Ílhavo, 40 anos do Agr. 531 – Gafanha do Carmo, 39 anos do Agr. 588 – Gafanha da Nazaré, 30 anos do Agr. 878 - Costa Nova e 25 anos do Agr. 1021 - Praia da Barra e do Agr. 1024 – Gafanha da Encarnação. 

FESTA DO LIVRO EM AVEIRO


terça-feira, 17 de abril de 2018

EÇA DE QUEIRÓS ANDOU POR AQUI

Para não cair no esquecimento



… Filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que mandem ao meu encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido «palheiro de José Estêvão».

Eça de Queirós, “Carta a Oliveira Martins”, 1884

… a Costa Nova — e eu considero esse um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente chalé Magalhães

Eça de Queirós, “Entre os Seus, Cartas Íntimas”, 15 de julho de 1893

Apesar de ter retardado ontem o meu jantar até às nove da noite, não pude desbastar a minha montanha de prosa. Levar as provas para os areais da Costa Nova, não é prático — ó homem prático! Há lá decerto a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha — coisas essenciais para a inspiração — mas falta-me essa outra condição suprema: um quarto isolado com uma mesa de pinho.

Carta a Oliveira Martins, 1884

GAFANHA DA NAZARÉ — CIDADE HÁ 17 ANOS

As celebrações vão ocorrer 
no dia 19 de abril 



No próximo dia 19 de abril, a Gafanha da Nazaré celebra a sua elevação à categoria de cidade, com tudo o que isso possa implicar. Na minha modesta opinião, a elevação a cidade exige dos poderes públicos, mas não só, uma atenção especial, porque nessa qualidade tem de se apresentar com dignidade, perante o contexto das cidades portuguesas. O título, que por justiça lhe foi atribuído, por Decreto-Lei 32/2001, será sempre, por isso, razão mais do que suficiente para festejar a efeméride, por muitas e variadas formas. E não se pense que isso é apenas obrigação das autoridades concelhias e de freguesia, mas de toda a gente que gosta da sua e nossa terra, que tantos obstáculos teve de ultrapassar para chegar à situação em que se encontra. 
Sem deixar de aplaudir o que a Câmara de Ílhavo e a Junta de Freguesia vão promover, quero lembrar que seria muito redutor se as forças vivas da terra ficassem indiferentes à efeméride, como se de nada valesse o esforço de quantos pugnaram pela elevação a cidade há 17 anos. 
Como notas históricas, permitam-me que recorde que o Decreto-Lei n.º 32/2001 foi publicado no Diário da República de 12 de julho do mesmo ano, mas tinha sido aprovado pela Assembleia de República em 19 de abril de 2001. Contudo, recebeu em 7 de junho do referido ano a assinatura do Presidente da República, Jorge Sampaio. 
Curiosamente, o povo fez a festa no dia da aprovação do decreto na Assembleia da República, à qual assistiram muitos gafanhões que a Lisboa se deslocaram propositadamente, para ali saborearem a alegria que o título de cidade proporcionou. E foi esse dia que marcou a efeméride.

Fernando Martins

Ver programa aqui 




ÍLHAVO NA ASSOCIAÇÃO DE CIDADES E VILAS DE CERÂMICA

Ontem, ao noticiar a constituição da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica (APCVC), verificámos que Ílhavo também faz parte da referida associação, o que nos apraz registar. Um leitor amigo e visitante assíduo do meu blogue teve a gentileza de me enviar um texto alusivo ao processo da adesão do nosso município à APCVC. A ilustração é referente à peça que atesta o valor da cerâmica ilhavense, concretamente, da  Oficina da Formiga, de Jorge Saraiva. 

Prato da Abundância 

"O Executivo Municipal deliberou aprovar a adesão do Município de Ílhavo à Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica. O processo de criação desta associação teve início em janeiro de 2016, numa reunião em Mafra, após uma visita em dezembro de 2015, do coordenador europeu e simultaneamente italiano das cidades cerâmicas, acompanhado pelo coordenador espanhol, que executavam uma missão do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial das Cidades Cerâmicas – com vista ao estabelecimento, na maioria dos países europeu, das respetivas associações de cidades cerâmicas. 
Presentemente, este Agrupamento, uma estrutura com peso institucional no seio da União Europeia, já agrega associações de cidades cerâmicas de Itália, Espanha, França, Roménia e Alemanha, contando com mais de uma centena de cidades cerâmicas do continente europeu. O principal objetivo desta associação portuguesa será a defesa, a valorização e a divulgação do património cultural e histórico cerâmico, bem como o intercâmbio de experiências entre os associados, nomeadamente a nível da conservação do património, o estabelecimento de parcerias entre cidades e vila com vínculos tradicionais à cerâmica, seja do tipo produtivo, cultural ou de qualquer outro âmbito. 
Tem ainda por objetivo a promoção da criação artística e a difusão da cerâmica tradicional e contemporânea, bem como o incentivo de relações de cooperação e intercâmbios entre os municípios associados a nível nacional ou na rede europeia. Para a assinatura do protocolo o Município de Ílhavo optou pelo Prato da Abundância da Oficina da Formiga" 

Jorge Saraiva, 
da Oficina da Formiga



 PRATO DA ABUNDÂNCIA 

Ficha técnica:

Material: Prato Ø36x5,5 cm em faiança calcária 
Pintura: No centro, peixe em postas e faca e garfo, com pintas azuis e reticulado em castanho. Na beira, vegetalista, motivo floral e uvas. Filete no bordo do prato e na caldeira uma serpente em castanho claro. Usado o método de estampilhagem e pintura livre. 
Autoria: Mestre João Marques de Oliveira, conhecido no mundo da cerâmica artística e da azulejaria aveirense por João Lavado – Aveiro - 1945 a 1975 


Historial:

Prato em faiança tradicional portuguesa outrora oferecido aos noivos, simbolizando os votos de abundância de alimento, de dinheiro, de trabalho, de harmonia, de fertilidade e também lembrando que a tentação existe. 
O peixe às postas simboliza o milagre bíblico da partilha e da multiplicação. As pintas azuis, o dinheiro que surgiu por milagre bíblico na boca do peixe quando foi pescado, mas também, como o resultado do trabalho na pesca (simbolizado pela redes pintadas), ou do trabalho no campo. Para que nunca falte o trabalho e o dinheiro em casa dos noivos. 
Na beira do prato, as sete composições (correspondente aos sete dias da semana), cada uma com a espiga de trigo, cacho de uvas e uma flor (papoila), representando a satisfação das necessidades diárias de pão (que dá vida ao mundo), de vinho (sangue da vida), da fertilidade e felicidade. 
A serpente simboliza a tentação e o pecado, para lembrar que existe e que a devem evitar.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

PÚBLICO entrevistou TOLENTINO MENDONÇA

Entrevista conduzida por António Marujo 




Elogio da Sede foi o tema que o padre José Tolentino Mendonça propôs ao Papa Francisco, quando este o convidou a orientar os exercícios espirituais da Quaresma para os responsáveis da Cúria Romana – a primeira vez de um padre português. Com o mesmo título, foi anteontem posto à venda o livro (ed. Quetzal) que reúne os textos das meditações que o também poeta e exegeta bíblico propôs ao Papa e aos seus mais directos colaboradores.
No tempo litúrgico que antecede e prepara a Páscoa, os cristãos são chamados a repensar a sua vida à luz da fé que professam. Esse desafio pode assumir a forma de um encontro de reflexão ou meditação, muitas vezes chamado de “exercícios espirituais”, adoptando a expressão cunhada por Inácio de Loiola, fundador dos jesuítas. “Um exercício espiritual é, sobretudo, um momento de encontro, uma viagem ao interior de si, uma abertura ao que pode ser a voz de Deus, um balanço da própria vida”, explicaria Tolentino Mendonça, nesta entrevista.
Foi isso que, durante cinco dias, entre 18 e 23 de Fevereiro, aconteceu em Ariccia, perto de Roma: duas meditações diárias, e o resto do tempo em silêncio, para cada pessoa se confrontar com a reflexão proposta. “O silêncio com que vivemos este retiro podia interpretar-se como uma sede”, acrescentava o padre português.
No livro A Nuvem do Não-Saber, de final do século XIV – que muitos historiadores da matéria consideram “um dos mais belos textos místicos de todos os tempos”, como recordava José Mattoso na edição portuguesa (ed. Assírio & Alvim) –, o autor anónimo escreve: “[À] pergunta: ‘Que buscas? Que desejas?’, responde que era a Deus que desejavas ter: ‘É só a Ele que eu cobiço, é só a Ele que busco e nada mais senão Ele’. E se te perguntar quem é esse Deus, responde que é o Deus que te criou e redimiu, e por sua graça te chamou ao seu amor. Insiste que acerca d’Ele tu nada sabes.”
Foi sobre essa busca e sobre tactear na procura de Deus que, nas suas dez meditações, Tolentino Mendonça se debruçou, mesclando a investigação dos textos bíblicos com as inspirações literárias e artísticas que marcam também a sua obra poética e ensaística. E é essa intersecção permanente que transparece no seu livro. Que tem um único risco: o de se tornar, também ele, uma das grandes obras da mística. A par de obras como A Imitação de Cristo ou o já citado A Nuvem do Não-Saber. Ou a par de nomes como Hildegarda de Bingen, Juliana de Norwich, São João da Cruz, Teresa d’Ávila, Etty Hillesum, Dietrich Bonhoeffer, o irmão Roger de Taizé...

LER TODA A ENTREVISTA NO CADERNO P2 DO PÚBLICO

NOTA: Sugiro a leitura desta entrevista feita por António Marujo, um jornalista especialista em temas religiosos, mas não só, ao padre, poeta, ensaísta, biblista e cronista, por ter a certeza de que o seu conteúdo é profundamente enriquecedor para quem o ler, em especial para os crentes, mas também para todos os que amam a cultura, em geral. 

F.M.

Aveiro e Ílhavo: Cidades e Vilas cerâmicas


Amanhã, terça-feira, em Mafra, vai acontecer a cerimónia de constituição da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas (AptCC), da qual a Câmara Municipal de Aveiro (CMA) faz parte integrante do grupo fundador. 
O ato solene ocorre durante a Assembleia Geral do Agrupamento Europeu das Cidades Cerâmicas, que se realiza no Palácio Nacional de Mafra, esta segunda e terça-feira (16 e 17 de abril). O grupo fundador é composto pelas Cidades e Vilas de Alcobaça, Aveiro, Barcelos, Batalha, Caldas da Rainha, Ílhavo, Mafra, Montemor-o-Novo, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Tondela, Viana do Alentejo, Viana do Castelo e Vila Nova de Poiares, ficando a sede instalada nas Caldas da Rainha e estando consensualmente definido que, neste primeiro mandato, a presidência da Associação é assumida por Mafra. 
A escritura pública da Associação Portuguesa, a ser assinada pelas 14 Câmaras Municipais – que inicialmente se organizaram para promover e preservar a cerâmica portuguesa – permitirá a Portugal ter assento no Agrupamento Europeu de Cidades Cerâmicas (AeuCC), uma estrutura criada em 2014, com peso institucional junto da Comissão e do Parlamento Europeu e que está a preparar e a desenvolver outros projetos culturais e económicos, patrocinados por várias organizações internacionais, incluindo a UNESCO.

Esta integração na Associação das Cidade e Vilas Cerâmicas permitirá, sem dúvida, contribuir para uma mais ampla divulgação das artes ligadas à cerâmica artística. E aí, Aveiro e Ílhavo, com toda uma tradição riquíssima, sairão valorizados, no que podem aprender e ensinar, sendo certo que as cidades e vilas terão a sua especificidade muito própria.

Fonte: CMA.

Nota: Alterei título e o último parágrafo, hoje, 17 de abril, às 14h50


Visualizações do meu blogue

Mais de um milhão 


O meu blogue Pela Positiva começou, em 2004, sem qualquer contador que me indicasse o número de visitantes. Tempos depois, optei por um usado por outros blogues, que começou, entretanto, a ter problemas. Resolvi instalar outro que, do mesmo modo, resolveu fechar portas. Posto isto, desliguei-me deles e aceitei o que era oferecido pelo Blogger. Entretanto dei um salto para o Sapo, mas regressei à base. Hoje, verifiquei que cheguei ao bonito e significativo número de 1 001 942 visualizações, apesar dos anos perdidos sem contadores. Isto significa que terei de continuar. Os meus leitores e amigos merecem.
Uma saudação fraterna para todos. 

Fernando Martins

“AS VELHAS" DA ILHA TERCEIRA — AÇORES



Volto hoje aos Açores por mor de um comentário que me foi enviado do Brasil sobre “As Velhas” da Ilha Terceira. O autor, que se apresenta como Silo Lírico, tece algumas considerações com base histórica alusivas àquela tradição exclusiva da Ilha Terceira, conotada com as cantigas trovadorescas de escárnio e maldizer. E veio à baila com o comentário no seguimento do que há tempos o nosso conterrâneo Júlio Cirino, radicado na Terceira, escreveu sobre o assunto em crónica que publicou no meu blogue. Tenho de o convencer a voltar à liça. Mas o melhor é ler, para já, o blogger brasileiro:

«Segundo dados colhidos, cantar As Velhas é uma poética de exclusividade da Ilha Terceira. Conceito que se assemelha às cantigas trovadorescas de escárnio e maldizer, com base no improviso, entre dois cantadores, ao som musical de uma viola, entre as de evidências, estão, a viola da terra com 12 cordas e viola da Terceira 18 cordas, todas de arame. Embora diferente do canto ao desafio, alguns estudiosos defendem, que nas velhas há a situação risível, em qual o cantador tem por objetivo apresentar uma resposta ou réplica mais original e melhor, da apresentada pelo seu oponente, sem o desafiar.
O fenômeno da insularidade deixou marcas no espírito dos açorianos. Cinco séculos de isolamento físico, e de contato permanente com o mar de horizontes finitos, passando por cataclismos vulcânicos, o povo caldeou uma religiosidade gerada, precisamente, no terror sagrado de sismos e vulcões, que foram fatores que marcaram e moldaram o modo de ser, de pensar e de agir do açoriano português.»

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