domingo, 30 de setembro de 2018

Não varrer a casa ao diabo (2)

Bento Domingues
"Evoco esse passado por uma simples razão: os tormentos chegaram ao fim com a eleição do Papa João XXIII, o milagre maior que eu já vivi. Por dificuldades em Portugal, tive a graça de, antes e durante o Concílio, poder frequentar, devotamente, as suas audiências públicas. Vi, pela primeira vez, um papa que parecia o avô de toda a gente. Podíamos verificar que ele gostava de nós todos, os que estavam lá e os que não estavam, crentes e não crentes, porque todos acreditávamos que ele era a voz da humanidade à procura de paz e de esperança. Este João era a alegria bem-humorada. Chegou a dizer que se lembrou de convocar o Concílio quando estava a fazer a barba. Veio o Concílio. Abriu portas e janelas, acreditando que as correntes de liberdade mais contrastadas ajudavam a encontrar novos caminhos."

1. Estaremos no bom caminho? Parece-me que sim. Digo isto com toda a convicção, mas nada está garantido, à partida. A história da Igreja não é, nunca foi, nem pode ser, desenhada como uma auto-estrada de santidade. Quando certa apologética infantil, ignorante ou perversa falava da história admirável da Igreja, como uma procissão de heróis, santos, mártires, doutores e místicos, ilustrada nas pinturas e esculturas das igrejas e capelas, faltava lá o reverso da medalha: a lista das vítimas dos inquisidores, dos criminosos e perversos em nome da santa vontade de Deus. Em defesa da revelação divina e da sua verdade contida nas escrituras, nos concílios ecuménicos, no magistério ordinário e extraordinário dos Papas, decretaram-se condenações e excomunhões odiosas.
Na preparação da entrada no Terceiro Milénio [1] manifestou-se, em alguns sectores da Igreja, a vontade de confessar, publicamente, os crimes e os pecados do passado, fazendo propósitos de emenda em relação a determinados processos e instituições que se tinham tornado prática odiosa e corrente. Basta lembrar o texto de João Paulo II: “Muitos motivos convergem, com frequência, na criação de premissas de intolerância, alimentando uma atmosfera passional, à qual só os grandes espíritos, verdadeiramente livres e cheios de Deus, conseguiram, de algum modo, subtrair-se. No entanto, a consideração das circunstâncias atenuantes não dispensa a Igreja do dever de lamentar, profundamente, as debilidades de tantos dos seus filhos que desfiguraram o seu rosto, impedindo-o de reflectir, plenamente, a imagem do seu Senhor crucificado, testemunha insuperável do amor paciente e manso. Destes traços dolorosos do passado, emerge uma lição para o futuro, que deve levar todo o cristão a ter em conta, o princípio de ouro proclamado pelo Concílio Vaticano II: A verdade só se impõe pela força dessa mesma verdade, que penetra nas almas, com suavidade e firmeza.”

sábado, 29 de setembro de 2018

Os melões e o BORDA D'ÁGUA


“Mão amiga” trouxe-me, um dia destes, O BORDA D’ÁGUA. Começo assim este texto por sugestão do amigo que se lembrou de mim para me oferecer ”O Verdadeiro Almanaque”, no 90.º ano da sua publicação.

Todos nós temos tiques e nem damos por eles. A oferta, com um certo sorriso “malandro”, como que a lembrar que é preciso ter cuidado com a Língua Portuguesa, nossa matriz de aprendizagem e comunicação, fez-me sorrir. E aqui fica a promessa de que não volto (se calhar…) a repetir a gracinha de “Mão amiga…”

Há dias, face às ervas daninhas que infestam o nosso quintal, eu garanti à Lita que uma solução seria ocupar um bom espaço com um meloal. Na minha lógica, quando os melões começassem a crescer, com a folhagem rastejante e invasora, não ficaria lugar  para as ervas daninhas. E quando é que hei de fazer a sementeira? A dúvida fez-me lembrar o BORDA D’ÁGUA que traz todas as informações sobre sementeiras, plantações e colheitas, entre muitas outras recomendações, pacientemente aperfeiçoadas ao longo de 90 anos. Tenho para mim que alguém terá ouvido as minhas incertezas.

Consultado o “O Verdadeiro Almanaque”, posso informar os meus leitores, mais dados à horticultura, que os melões podem ser semeados em Março. E hoje, como se pode comprovar, já aprendi alguma coisa. Resta-me esperar, com paciência, o dia certo, é que as luas também contam. Será que me não vou esquecer até lá?

Fernando Martins

Um poema de Aida Viegas para este tempo













TUDO PASSA

Tudo passa nesta vida
Nos caminhos e nos ventos
Nas correntes de água turva
Na mente nos pensamentos.
Passa a mágoa com o tempo
Passa a dor e passa a vida
Passa a paz e a alegria
Passa a noite, passa o dia.

Há passantes, há passado
Há o passo a procissão.
Uns seguem pelos caminhos
Outros param na ilusão.
Há quem esteja a ver passar
Há quem vá de escantilhão
Outros seguem arrastados
No meio da multidão.
Há passivos, pacientes
E quem vá só de empurrão
Os perdidos vão seguindo
Caminhos de escuridão.
Passam luas sem luar
Dias sem sol e sem luz
Há quem passe derreado
Carregando sua cruz.

Tudo passa
A fome, a guerra
Passa a banda, a procissão
Passa o ódio e o amor
Passa o luto e a paixão.
Passa o vento, passa o rio
O Outono e o Inverno.
Passa o calor, passa o frio
Só não passa o que é eterno.

Aida Viegas

 Nota Um poema para pensar neste domingo soalheiro com uma saudação à autora.

Três grandes feridas contemporâneas


Anselmo Borges

Devo este título e alguma inspiração para esta crónica a J. M. Rodríguez Olaizola, no seu livro Bailar con la Soledad, já aqui citado na semana passada. Quais são as três feridas?

1. A do amor. O que é que todos procuramos? A felicidade, e elemento constitutivo da felicidade é o amor, um amor sólido, estável e fiel. Mas isso hoje está como se sabe: na sociedade líquida, também o amor é líquido, para ir a Z. Bauman. Só para dar o exemplo do amor conjugal: Portugal é o país da Europa com mais divórcios, 70 por cento dos casamentos terminam em divórcio. Aí está G. Lipovetsky, em Da Leveza: "Publicidade, proliferação de formas de empregar o tempo livre, animações, jogos, modas: todo o nosso mundo quotidiano vibra com cantos à distracção, aos prazeres do corpo e dos sentidos, à ligeireza de viver. Com o culto do bem-estar, da diversão, da felicidade aqui e agora, triunfa um ideal de vida ligeiro, hedonista e lúdico." 

Então, a contradição é esta: num tempo de incerteza, do zapping, do provisório, do usar e deitar fora até nas relações humanas, o amor sólido e fiel, inabalável, deveria ser a pedra angular da vida, e é isso que se procura idealmente, mas, ao mesmo tempo, pretende-se viver numa união sem compromisso, na abertura ao consumo do "poliamor", numa liberdade à deriva, incapaz de sacrificar-se pelo que mais vale. E lá está outra vez Z. Bauman, em Amor Líquido: "Automóveis, computadores ou telefones celulares em bom estado e que funcionam relativamente bem vão engrossar o monte de resíduos, com pouco ou nenhum escrúpulo, no momento em que 'versões novas e melhoradas' aparecem no mercado. Há alguma razão para que as relações de casal sejam uma excepção à regra?" 

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Diz Jesus: Quem faz o bem, age em meu nome


Georgino Rocha

"É preciso um novo olhar e uma nova compreensão. Gente anónima faz muito bem, realiza a solidariedade activa na vizinhança e nas grandes causas da humanidade, especialmente quando se abate a tormenta fustigante. Os discípulos, que somos também nós, estão chamados a reconhecer esta onda de generosidade anónima e de a promover e iluminar com o sentido de um são humanismo redimensionado pela fé cristã."

João, o amigo de Jesus, aproxima-se d’Ele e faz uma declaração realista seguida de um pedido urgente. De facto, estava queixoso, bem como o grupo de discípulos, seus companheiros. No andar pelos caminhos da Galileia, deparam-se com o impensável: Gente estranha e desconhecida a agir em nome de Jesus e a expulsar demónios, Era demais para o seu modo normal de pensar, pois a eles estava confiado tal serviço. (Mc, 6, 6-13). Se outros o fizessem, sem andar na escola do Mestre, seriam igualados em tais práticas e privados daquilo que consideravam seu exclusivo. Por isso, havia que tomar posição: nada menos do que uma proibição formal, sem apelo nem agravo.

Marcos, autor do relato, refere em estilo claro e sem rodeios: “Mestre, nós vimos um homem a expulsar demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco”. (Mc 9, 38-48). João recorre a Jesus, porque os discípulos não tinham sido capazes de fazer valer a sua pretensão e sentiam uma certa frustração. Estavam incomodados e tecem comentários. E o exorcista anónimo continuava a exercer a sua função na prática do bem, de libertação de males diabólicos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Notas do Meu Diário — Senhora de Vagos




No próximo dia 5 de outubro, vai realizar-se a romagem à Senhora de Vagos, como lhe chama o povo, mas o seu verdadeiro título é Santa Maria de Vagos, como bem lembrou, há anos, o Pe. Carvalhais, prior de Vagos, com obra publicada sobre o tema. A dinamização da romagem é da responsabilidade da ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré), presentemente liderada pelo Humberto Rocha, um familiar e amigo cujo dinamismo bastante aprecio. 
O programa da romaria está no blogue da Paróquia de Nossa Senhora da Nazaré e precisa de ser lido, sobretudo por quem quer e pode participar, até porque há fortes motivos que justificam a visita, em grupo, a Santa Maria de Vagos, onde não falta espaço para o convívio, para a festa, para o piquenique e até para a meditação. 
Esta Nota do meu Diário, dedicada ao tema, visa lembrar a importância de cultivarmos as nossas tradições, homenageando, de forma simbólica, os nossos antepassados, originários, há séculos, de terras de Vagos, como pode ser confirmado por pesquisas genealógicas e ainda pelos apelidos e alcunhas que perduram até aos nossos dias. 
É certo que a Gafanha da Nazaré (como as demais Gafanhas) acolheu, ao longo dos tempos, gentes das mais variegadas paragens, que nos cumpre honrar, pois também foram construtores da nossa sociedade e alicerces do nosso progresso a vários níveis.
Os meus parabéns pela iniciativa com votos de sucesso.

Fernando Martins

O Google está em festa: Parabéns

Timor-Leste passa a Estado-membro da ONU

Xanana Gusmão, um herói da
independência de Timor-Leste

No dia 27 de setembro de 2002, Timor-Leste foi admitido como Estado-membro da ONU. Já lá vão 16 anos e os mais velhos recordam, como se fosse hoje, o nascimento de um Estado, que Nação já o era há muito, com a sua identidade própria, marcadamente cristã. 
Passados estes anos, é justo lembrar os que se bateram, em Timor-Leste e em Portugal, pelo direito de um povo a ser dono do seu futuro, depois de um longo período de séculos sob a bandeira portuguesa, com o estatuto de colónia. 
Não importa tanto falar hoje dos políticos e outras organizações, mas também dos heróis timorenses que lutaram, por todas as formas, pela independência da sua pátria. Permitam-me citar a dignidade e operacionalidade possíveis e impossíveis da Igreja Católica, que sempre apoiou, com a fé indesmentível dos timorenses, a libertação daquele povo sofredor.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

PALABRAS CO BENTO NO LEBA de Domingos Cardoso

Um livro para todas as famílias de Ílhavo, e não só 


Domingos Cardoso dedica ao Povo de Ílhavo e aos seus familiares, “passados e atuais”, da boca de quem ouviu, “muitas destas palavras e expressões que o Tempo ainda não levou” da sua memória 


Palabras co bento no leba é o mais recente livro do ilhavense Domingos Freire Cardoso. É um livro que nos brinda com um trabalho excelente, muito diferente dos que tem por costume oferecer-nos. Dele já conhecemos a sua poesia, que muito apreciamos, em várias edições, marcadamente no tom dos sonetos camonianos, que cultiva com esmero. Não foi por acaso que exerceu funções como responsável pelo pelouro da cultura da Confraria Camoniana de Ílhavo. E para além da poesia, brindou-nos a todos com uma outra obra — Pedras sem Tempo do Cemitério de Ílhavo —, onde levou à prática a sua rara sensibilidade, em estudo meticuloso e cuidado que o engrandece pela riqueza do conteúdo que legou aos seus concidadãos, e não só. 
Desta feita, Domingos Cardoso dedica ao Povo de Ílhavo e aos seus familiares, “passados e atuais”, da boca de quem ouviu “muitas destas palavras e expressões que o Tempo ainda não levou” da sua memória, como se lê na Dedicatória. Palavras e expressões das gentes de Ílhavo que são um desafio a todos, para que não deixemos cair no saco do esquecimento o legado riquíssimo do linguajar dos nossos ancestrais. 
No Prefácio, assinado por Augusto Nunes, lê-se que “Escrever um livro é uma forma de amar… de amar a vida e o que a rodeia”, garantindo que tem a certeza de que não leu “uma única linha que não fosse escrita com paixão”. E acrescenta: “O livro é uma maravilha de erudição, fruto decerto do seu labor intenso e apaixonado”. 
Augusto Nunes ficou fascinado com a leitura desta obra, porque Domingos Cardoso fez as palavras “lidarem com as vozes, aquelas vozas tão castiças dos nossos avoengos… aquela divina oralidade que já não volta mais”.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Notas do Meu Diário – O Porto

A Aidinha no terraço da sua  casa no Porto

Ontem, passei pelo Porto, a correr, que o destino era a festa de aniversário da minha filha Aidinha. Uns percalços, com avaria no carro, ensombraram a nossa pressa de chegar ao “Parabéns a você nesta data festiva”. A gentileza dos convidados que nos aguardaram tranquilamente mostrou o sentido de proximidade que nos une. Mas chegámos e saboreámos a alegria da aniversariante, da família e amigos. À volta da mesa, os percalços foram atirados para trás das costas. Pena foi, sentida por todos, a ausência do nosso Fernando, que teve de regressar a casa com o reboque da Assistência em viagem, para assinar a declaração da entrega do veículo na Gafanha da Nazaré. Obrigado, Fernando, pela tua boa disposição, posta à prova na hora própria, sem hesitações. Na próxima vez, se é que haverá uma próxima vez (para longe vá o agoiro!), sou eu quem se sentará ao lado do condutor para, no final da corrida, assinar o documento de entrega do carro no sítio certo. 
Nos intervalos dos comes e bebes e das conversas normais nestes casos, onde a boa disposição reinou, saltaram do meu subconsciente os anos que vivi no Porto, na juventude, com ruas e ruelas calcorreadas nas horas vagas. Gente que corre, conversa, ri e trabalha, e que fala do seu Porto, o FCP, com paixão. De cada canto se via a Torre dos Clérigos, a Câmara ao fundo da larga avenida. A Estação de São Bento, o trânsito, a meus olhos caótico, sem nunca registar qualquer acidente.  E os cinemas de tantos e tão variados filmes, e o Coliseu de grandes espetáculos, e os concertos para a juventude dirigidos pelo maestro Silva Pereira, e as livrarias modernas, e os alfarrabistas que visitava regularmente, e a Ponte da Arrábida a cujo fecho do arco assisti espantado, com manobras de alto risco sob comando de um aveirense, o Eng. Zagalo. 
O Porto onde encontrei grandes amigos que o tempo fez esmorecer. O Porto de sonhos, o Porto do São João, em cuja noitada nem tempo há para dormir. Na única festa em que participei, sentei-me, esgotado ao máximo, na soleira de uma porta. Meio acordado meio a dormir assisti ao entusiasmo do povo com o alho-porro para acariciar cabeças loiras ou morenas, penteados de risco-ao-lado ou carecas, sem zangas que incomodassem o Santo Popular do Porto e de outras bandas. 
Vejam lá o que uma simples passagem pela Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta cidade do Porto me fez recordar. 

Fernando Martins 

24 de setembro de 2018

domingo, 23 de setembro de 2018

Não varrer a casa ao diabo (1)


"O Papa não é o diabo como os tradicionalistas pensam, 
nem vai deixar o diabo à solta na Igreja, como desejam."

1. As narrativas do Novo Testamento insistem em dizer que a linguagem que o Nazareno preferia era a das parábolas. É muito incómoda porque não se lhe pode fixar um sentido único. Muitos cristãos lamentaram, e ainda lamentam, que os autores dos textos dos Evangelhos tenham perdido tempo com histórias enigmáticas. Seria preferível um catecismo, com uma mensagem bem precisa e um catálogo de deveres e proibições, válidos para todos os tempos e lugares. A história da Igreja seria construída de forma linear, sem altos nem baixos, serena como uma pedra. O zero seria o seu único número.
Não foi assim que aconteceu. Jesus abriu uma nova Era de criatividade. Não fechou a história dos povos e das culturas. As parábolas são contra a clausura do sentido dos gestos e das palavras. Todas, porém, encerram inesgotáveis possibilidades de construir a vida humana, individual e social, no horizonte da busca da felicidade, encontrando-a não só na alegria que se recebe, mas, sobretudo, na que se dá. Os Actos dos Apóstolos atribuíram a Jesus uma expressão incrível: há mais alegria em dar do que em receber. Nos Evangelhos já existia uma lei paradoxal: quem ganha (à custa dos outros), perde e quem perde para que os outros possam viver, ganha.

OUTONO


Na tranquila tarde do outono seco
e pardacento
viajam meus olhos ao encontro
de encontros esquecidos

Vi então no rumorejar dos pinheiros
o sussurro
de amizades não perdidas
no ar quente da vida

Senti na planura da ria serena
a alegria partilhada
por tantos… tantos…
embalados no meu espírito

Reconheci no corre-corre
dos dias agitados
marcas vibrantes de sonhos floridos
nas tardes que brilham

Compreendi na ternura cálida
que todos se sentam tranquilos
para o bate-papo
no banco da minha memória

Fernando Martins

sábado, 22 de setembro de 2018

"Likai-vos" uns aos outros

Anselmo Borges

«Outra ameaça do virtual é a busca desenfreada da popularidade nas redes sociais, através da pressão de obter uma chusma de likes e seguidores.., com as consequentes ilusões e desilusões»

Quem nunca assistiu, num restaurante, por exemplo, a esta cena de estátuas: o pai a dedar num smartphone, a mãe a dedar noutro smartphone e cada um dos filhos pequenos a fazer o mesmo, eventualmente até a mandar mensagens uns aos outros? É nisto que estamos... Por isso, fiquei muito contente quando, há dias, num jantar em casa de um casal amigo, reparei que, à mesa, está proibido o dedar, porque aí não há telemóvel; às refeições, os miúdos adolescentes falam e contam histórias e estórias, e desabafam, e os pais riem-se com eles, e vão dizendo o que pode ser sumamente útil para a vida de todos... Se há visitas de outros miúdos, são avisados... de que ali os telemóveis ficam à distância... 
Vou constatando que, na sociedade da comunicação, há imensa incomunicação. Porque uma coisa é a comunicação formal instrumental e outra coisa é a comunicação na presença, com as suas emoções: a emoção da palavra nas suas tonalidades, o sorriso, as lágrimas, o toque, os silêncios... 

Dia Europeu Sem Carros


O Dia Europeu Sem Carros celebra-se todos os anos no dia 22 de setembro. Os objetivos desta celebração são claros: pretende-se sensibilizar a população e as autoridades para a necessidade de reduzir o tráfego rodoviário dentro das cidades, tendo em vista aumentar a qualidade de vida das pessoas e a sustentabilidade dos recursos naturais, optando por alternativas de transportes menos poluentes como os transportes públicos e as bicicletas.Se fizéssemos esta experiência, talvez conseguíssemos dar um contributo mais concreto para a implementação do alargamento dos dias sem carros, sem estarmos à espera do dia 22 de setembro. Mas não… estamos tão habituados às comodidades do carro, que nem sequer ousamos fazer qualquer esforço no sentido de optarmos pelos transportes alternativos. E a humanidade, sobretudo nos países ricos e ou industrializados é que sofre. Ao menos hoje, deixe o carro a descansar em casa. Ele também precisa. 

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Notas do meu diário – Liberdade pura


Tenho andado muito ocupado. Sou um tanto ou quanto desarrumado e de repente atiro-me ao trabalho para pôr ordem nas coisas que me rodeiam. Leva tempo, porque encho sacos da papelada inútil… depois começa o tira e põe, sem nunca acertar devidamente com o sítio certo. 
Nesse tira e põe dou de caras com livros e livretos que já tinham fugido da minha memória. Interrompo a ordenação e limpezas e ponho-me a ler ou reler. O tempo passa e assim tenho saboreado os últimos tempos, sem incomodar ninguém. Gosto deste cirandar e gosto imenso de estar em casa a falar com o meu passado e sem grandes preocupações com o futuro. Chamo a isto a liberdade pura. 
Eu sei que tenho de estar no mundo com as pessoas de casa, da família, dos amigos. Gosto de sentir o palpitar da vida, com todas as nuances. Gosto de conversar como os meus botões e com quem está ou chega. 
Quando editar pouco nos meus blogues, o que acontece frequentemente, não estranhem. Estou a descansar trabalhando. 
Bom fim de semana. Está mesmo a chegar. Usufruam a vida que eu por cá vou fazendo o mesmo. E estou a pensar no Acordo Ortográfico. Continuo com ele ou volto ao antigo? Ando a remoer a coisa. Há tempos estive a conversar com uma jovem amiga, docente universitária, que escreveu um texto para o PÚBLICO com a seguinte nota: "Por vontade expressa da sua autora, este texto encontra-se escrito segundo a norma ortográfica da Língua Portuguesa anterior ao Novo Acordo Ortográfico." E garantiu-me que não o segue, dizendo claramente: “Nem que me matem."

Fernando Martins

21 de setembro 

O Fim das Redes Sociais

Uma reflexão de Miguel Oliveira Panão

Miguel Panão

«A Europa foi pioneira na resposta aos excessos das redes sociais com o novo regulamento de protecção de dados, dando aos utilizadores mais controlo sobre a informação que os sites recolhem sobre eles. Mas isso não substitui uma aprendizagem ao auto-domínio, pois, além de regular os nossos dados, mais importante ainda é regular a nossa vida.
As redes sociais, tal como as conhecemos hoje, estão a morrer porque não nos ajudam a viver. Quando encontrarmos o modo justo de as usar, no desapego, e sem desviar a atenção plena sobre o olhar daqueles que estão diante de nós, talvez uma outra revolução aconteça. Qual?»

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Dia Internacional da Paz



Celebra-se hoje, 21 de setembro, o Dia Internacional da Paz (DIP), instituído pelas Nações Unidas, em 1981, mas comemorado pela primeira vez em setembro de 1982.
A celebração do DIP visa sensibilizar as pessoas, dos vários quadrantes do globo, para a necessidade de toda a gente contribuir, por palavras e gestos, para a instauração da paz no mundo. 
Fundamentalmente, pretende-se que cada pessoa, seja qual for a sua condição ou situação, faça algo, nesse dia, pela paz sobre a terra. Também pode participar em colóquios, conferências, espetáculos ou cerimónias que visem valorizar o esforço na luta pela paz.
No dia 1 de janeiro celebra-se também o Dia Mundial da Paz, criado pela Igreja Católica.

Ser o maior, legítimo desejo humano

Georgino Rocha

“Hoje, 17 de Setembro de 2018, informa a Ecclesia, agência noticiosa da Igreja em Portugal, é o dia em que o ano letivo começa verdadeiramente. Depois do acolhimento e apresentações da passada semana, milhares de alunos começam ou retomam um itinerário educativo que se espera, forneça as capacidades científicas e técnicas mas também, valores e capacidade para humanizar sempre mais uma sociedade que facilmente resvala para o individualismo e o utilitarismo. Novidade, o projecto de flexibilidade curricular, onde 25% da carga letiva pode ser redirecionado para formas alternativas de aprendizagem que motivem e envolvam os alunos de forma mais eficaz”.


Jesus anda com os discípulos pelos caminhos da Galileia, terra exposta a influências religiosas de outros povos e considerada com desdém na Judeia e sobretudo em Jerusalém. Sirva de referência a resposta a Nicodemos dada pelos doutores da Lei que pretendiam prender Jesus. De facto o entusiasmo popular por Jesus era enorme, tal a sintonia dos seus ensinamentos com as aspirações daquela gente. “Também tu és galileu? Estuda e verás que da Galileia não sai nenhum profeta” (Jo 7, 52). Resposta que procurava “entalar” o mestre fariseu que tinha ido de noite falar com Jesus. e procurava a sua defesa pois a Lei não permitia julgar “alguém antes de ouvir e saber o que ele faz”.
É nesta região que decorre a maior parte da missão de Jesus. E daqui avança para Jerusalém, fazendo um caminho não apenas geográfico, mas evangelizador e catequético, de progressiva revelação da novidade de Deus que brilha nas suas mensagens e atitudes de ousadia corajosa em todas as situações vividas, sobretudo degradantes da dignidade humana e da adulteração das práticas religiosas e respectivas justificações.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

A hipocrisia ataca a Igreja, diz o Papa Francisco


Segundo a Agência Ecclesia, o Papa Francisco alertou hoje no Vaticano para a “hipocrisia” que ataca a Igreja, de dentro e de fora, por causa dos que se escandalizam com o perdão e a misericórdia de Deus.
Realmente, nunca pensei chegar a viver na Igreja a que sempre pertenci uma situação como esta, com denúncia de crimes hediondos levados a cabo por clérigos a vários níveis, muitos deles próximos da cátedra de Pedro. Mas também me choca, profundamente, o silêncio (cúmplice, envergonhado ou comprometido?) de tantos servidores do Povo de Deus, notório no mundo.
Conforme pode ser comprovado na crónica de Frei Bento Domingues, que publico semanalmente há vários anos, o primeiro bispo português a declarar apoio incondicional ao Papa Francisco foi, precisamente, o Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro. Diz Frei Bento: «Em Portugal, mas não só, era estranha a atitude de distância de padres e bispos em relação ao Papa caluniado. Era o cisma do silêncio, de surdos e mudos. De repente, a partir do comunicado exemplar do bispo de Aveiro, António Manuel Moiteiro Ramos, incentivando toda a diocese a um apoio explícito ao papa Francisco, assim como várias cartas de leigos à própria Conferência Episcopal, esta sentiu que não podia continuar alheia à calúnia. Tarde, mas lá cumpriu o seu dever.»
Desde muito novo, aprendi que o cristão deve orientar-se pelas leis do amor fraterno e solidário em prol de quem mais sofre, mas ainda da verdade, da justiça e da paz. Nunca admiti que a covardia fosse apanágio de qualquer crente.

Fernando Martins